Um espaço para reinventar Portugal como nação de todo o Mundo, que estabeleça pontes, mediações e diálogos entre todos os povos, culturas e civilizações e promova os valores mais universalistas, conforme o símbolo da Esfera Armilar. Há que visar o melhor possível para todos, uma cultura da paz, da compreensão e da fraternidade à escala planetária, orientada não só para o bem da espécie humana, mas também para a preservação da natureza e o bem-estar de todas as formas de vida sencientes.

"Nós, Portugal, o poder ser"

- Fernando Pessoa, Mensagem.

Cultivar a Paz numa Juventude em Guerra

Apesar de estar inserida no grupo da saúde, vou atrever-me a escrever umas linhas sobre a educação da nossa juventude, até porque, como já tive oportunidade de referir, penso que a fronteira entre aquilo que é saúde e aquilo que é educação, muitas vezes se dilui tornando-se uma única coisa.
Daquilo que posso apreender do trabalho directo com uma parte dessa juventude, uma parte de alguma forma perturbada pela necessidade compulsiva de passar ao acto, geralmente de forma violenta para com os outros, não é fácil implementar formas alternativas de pensamento mais pacíficas, saudáveis e que guardem em si um maior conhecimento e respeito com o próprio e com os outros... tenho tentado, mas confesso que não tenho conseguido!

Tenho, por isso também, acompanhado com muita atenção todas as contribuições dos membros relacionadas com o tema, no entanto, tenho verificado que todas as medidas pensadas para estruturar o raciocínio compassivo se destina a uma população mais jovem... fiquei pensando em como poderia adapta-las para jovens mais velhos (10- 16 anos).... seria muito interessante conseguir fazê-lo!

Verifico, no meu grupo de jovens, que a dinâmica se regula muito pelo medo... se um jovem não faz parte do grupo de amigos "certos", então é sistematicamente abusado. Por outro lado, mesmo um jovem que não tenha tanta necessidade de se sobrepor aos outros, muitas vezes é posto à prova pelo grupo, sendo obrigado a fazer o que até certo ponto acha errado em prol do "ser respeitado" pelos amigos.

Como quebrar este ciclo? Como "forçar" a introspecção e a reflexão acerca dos fenómenos, dos sentimentos e das acções?

... não faço ideia! Mas não desisto de procurar!

Por isso, fico a aguardar vossos comentários a este meu post, que é mais um pedido de ajuda...

Obrigada!

3 comentários:

paula disse...

Olá Cleo
Eu também lido com jovens dessa idade e tenho sempre a "sorte cármica" de trabalhar em escolas problemáticas, ditas de "intervenção prioritária". Apesar de pensar sobre educação e escola (ou educação sem escola!!), confesso que não leio muito sobre o tema. Só posso compartilhar consigo a minha experiência.
Tenho aprendido a tratar esses jovens com muito respeito; se sou agressiva com eles gera-se imensa violência, sentem imediatamente as injustiças - somos obrigados a reconhecer de imediato que falhamos. Eles desmascaram as habituais manipulações, hipocrisias e autoritarismo que nós, os professores, sempre utilizamos até agora. É difícil vermo-nos ao espelho nu e cru.
Sou muito afectiva com eles, toco nos seus ombros, dou mimos, reconheco neles a sua humanidade e as suas muitas profundas dores. Converso muito com eles, escuto-os. Comovo-me muitas vezes. Às vezes perco a cabeça. Às vezes perco mesmo muito a cabeça e eles não gostam de me ver assim. Acham que eu sou muito calma e eu que tantas vezes perco a cabeça com eles espanto-me e imagino a que gritos estão eles habituados para me acharem paciente. Sou sempre sincera. Assumo as minhas dificuldades. Defendo as minhas convicções nem que tenha de perder muito tempo em explicá-las. Partilho com eles a minha fé na humanidade e o amor pela natureza.
Não me procupo muito com os contéudos programáticos, eles não gostam de aprender aquelas matérias. Se se interessam, é fantástico pois é visível neles! Dou boas notas.
Entretanto esforço-me por me manter em equilíbrio, em seguir um caminho pessoal de auto-aperfeicoamente contínuo, praticando ancestrais filosofias que me recordam diariamente o que venho aqui fazer.
Acredito que a sua presença junto a esses jovens seja benéfica para eles e para si. Não desespere. Respire profundamente e volte a tentar!
Um abraço

Anónimo disse...

Obrigada pelo apoio, paula! Seria bom que existissem mais professores sensíveis a estes aspectos como tu!...
Não estou propriamente desesperada, mas também não me encontro numa situação tão delicada como é, neste momento, a de um professor numa sala de aula de uma turma complicada....
Para além do trabalho que desempenho junto de grávidas e famílias como doula, sou também psicologa num centro de ocupação de tempos livres para jovens, onde eles entram e saiem sem obrigação de cumprir horários ou marcação de faltas. Eles vêm cá porque gostam de vir!
Por isso eu penso que estou numa posição priveligiada para trabalhar com eles de uma forma mais consistente os aspectos da "humanidade" que referiste e que deveriam ser acessíveis a todos... mas que de facto não são.
Tudo o que referiste é de facto aquilo que tenho vindo a fazer.... mas sinto que falta qualquer coisa... sinto que poderia fazer algo mais.... só não sei o quê!
Alguém conhece projectos ou estudos realizados acerca destas temáticas com jovens destas idades e com estas caracteristicas em que eu me pudesse basear para "inventar" alguma coisa que dê resposta a este vazio que sinto?

Cristina Castro disse...

Olá Cleo e Paula! Compreendo-vos perfeitamente!
Subscrevo inteiramente o que a Paula escreveu! Tenho uma filhota de 15 anos e percebo muito bem o que queres dizer Cléo! Partilho aqui convosco também algo que aprendi no ensino a jovens mais velhos (dos 50 em diante! =)). Dou aulas a pessoas nessas faixas etárias e nomeadamente em bairros sociais (projecto Alkantara). Senti tudo isso! Já lhes dou aulas há 3 anos! Todos os dias me encho de paciência! ( e esse é o maior bem que aquelas pessoas me fazem! E estou-lhes muito grata por isso!)E se fosse só isso... Torram-me a paciência e até me fazem rir, quando já muito zangada, expludo e me lembram que devo ficar serena! Há bem pouco tempo começaram a ficar tranquilas na aula! A tomar atenção! A inter-ajudarem-se! Estou tão contente! Funciona!
Como uma semente que plantámos, temos de cuidar todos os dias! Vai crescer Cléo! Não desistas!
Todos nós sentimos, e mesmo que não estejam ainda a agir, acredita que está a ficar lá!
Espero ter podido ajudar um bocadinho! Se precisares, tenho o meu mail cristina.om.castro@gmail.com, fica à vontade!

Enviar um comentário

Cultivar a Paz numa Juventude em Guerra

Apesar de estar inserida no grupo da saúde, vou atrever-me a escrever umas linhas sobre a educação da nossa juventude, até porque, como já tive oportunidade de referir, penso que a fronteira entre aquilo que é saúde e aquilo que é educação, muitas vezes se dilui tornando-se uma única coisa.
Daquilo que posso apreender do trabalho directo com uma parte dessa juventude, uma parte de alguma forma perturbada pela necessidade compulsiva de passar ao acto, geralmente de forma violenta para com os outros, não é fácil implementar formas alternativas de pensamento mais pacíficas, saudáveis e que guardem em si um maior conhecimento e respeito com o próprio e com os outros... tenho tentado, mas confesso que não tenho conseguido!

Tenho, por isso também, acompanhado com muita atenção todas as contribuições dos membros relacionadas com o tema, no entanto, tenho verificado que todas as medidas pensadas para estruturar o raciocínio compassivo se destina a uma população mais jovem... fiquei pensando em como poderia adapta-las para jovens mais velhos (10- 16 anos).... seria muito interessante conseguir fazê-lo!

Verifico, no meu grupo de jovens, que a dinâmica se regula muito pelo medo... se um jovem não faz parte do grupo de amigos "certos", então é sistematicamente abusado. Por outro lado, mesmo um jovem que não tenha tanta necessidade de se sobrepor aos outros, muitas vezes é posto à prova pelo grupo, sendo obrigado a fazer o que até certo ponto acha errado em prol do "ser respeitado" pelos amigos.

Como quebrar este ciclo? Como "forçar" a introspecção e a reflexão acerca dos fenómenos, dos sentimentos e das acções?

... não faço ideia! Mas não desisto de procurar!

Por isso, fico a aguardar vossos comentários a este meu post, que é mais um pedido de ajuda...

Obrigada!

3 comentários:

paula disse...

Olá Cleo
Eu também lido com jovens dessa idade e tenho sempre a "sorte cármica" de trabalhar em escolas problemáticas, ditas de "intervenção prioritária". Apesar de pensar sobre educação e escola (ou educação sem escola!!), confesso que não leio muito sobre o tema. Só posso compartilhar consigo a minha experiência.
Tenho aprendido a tratar esses jovens com muito respeito; se sou agressiva com eles gera-se imensa violência, sentem imediatamente as injustiças - somos obrigados a reconhecer de imediato que falhamos. Eles desmascaram as habituais manipulações, hipocrisias e autoritarismo que nós, os professores, sempre utilizamos até agora. É difícil vermo-nos ao espelho nu e cru.
Sou muito afectiva com eles, toco nos seus ombros, dou mimos, reconheco neles a sua humanidade e as suas muitas profundas dores. Converso muito com eles, escuto-os. Comovo-me muitas vezes. Às vezes perco a cabeça. Às vezes perco mesmo muito a cabeça e eles não gostam de me ver assim. Acham que eu sou muito calma e eu que tantas vezes perco a cabeça com eles espanto-me e imagino a que gritos estão eles habituados para me acharem paciente. Sou sempre sincera. Assumo as minhas dificuldades. Defendo as minhas convicções nem que tenha de perder muito tempo em explicá-las. Partilho com eles a minha fé na humanidade e o amor pela natureza.
Não me procupo muito com os contéudos programáticos, eles não gostam de aprender aquelas matérias. Se se interessam, é fantástico pois é visível neles! Dou boas notas.
Entretanto esforço-me por me manter em equilíbrio, em seguir um caminho pessoal de auto-aperfeicoamente contínuo, praticando ancestrais filosofias que me recordam diariamente o que venho aqui fazer.
Acredito que a sua presença junto a esses jovens seja benéfica para eles e para si. Não desespere. Respire profundamente e volte a tentar!
Um abraço

Anónimo disse...

Obrigada pelo apoio, paula! Seria bom que existissem mais professores sensíveis a estes aspectos como tu!...
Não estou propriamente desesperada, mas também não me encontro numa situação tão delicada como é, neste momento, a de um professor numa sala de aula de uma turma complicada....
Para além do trabalho que desempenho junto de grávidas e famílias como doula, sou também psicologa num centro de ocupação de tempos livres para jovens, onde eles entram e saiem sem obrigação de cumprir horários ou marcação de faltas. Eles vêm cá porque gostam de vir!
Por isso eu penso que estou numa posição priveligiada para trabalhar com eles de uma forma mais consistente os aspectos da "humanidade" que referiste e que deveriam ser acessíveis a todos... mas que de facto não são.
Tudo o que referiste é de facto aquilo que tenho vindo a fazer.... mas sinto que falta qualquer coisa... sinto que poderia fazer algo mais.... só não sei o quê!
Alguém conhece projectos ou estudos realizados acerca destas temáticas com jovens destas idades e com estas caracteristicas em que eu me pudesse basear para "inventar" alguma coisa que dê resposta a este vazio que sinto?

Cristina Castro disse...

Olá Cleo e Paula! Compreendo-vos perfeitamente!
Subscrevo inteiramente o que a Paula escreveu! Tenho uma filhota de 15 anos e percebo muito bem o que queres dizer Cléo! Partilho aqui convosco também algo que aprendi no ensino a jovens mais velhos (dos 50 em diante! =)). Dou aulas a pessoas nessas faixas etárias e nomeadamente em bairros sociais (projecto Alkantara). Senti tudo isso! Já lhes dou aulas há 3 anos! Todos os dias me encho de paciência! ( e esse é o maior bem que aquelas pessoas me fazem! E estou-lhes muito grata por isso!)E se fosse só isso... Torram-me a paciência e até me fazem rir, quando já muito zangada, expludo e me lembram que devo ficar serena! Há bem pouco tempo começaram a ficar tranquilas na aula! A tomar atenção! A inter-ajudarem-se! Estou tão contente! Funciona!
Como uma semente que plantámos, temos de cuidar todos os dias! Vai crescer Cléo! Não desistas!
Todos nós sentimos, e mesmo que não estejam ainda a agir, acredita que está a ficar lá!
Espero ter podido ajudar um bocadinho! Se precisares, tenho o meu mail cristina.om.castro@gmail.com, fica à vontade!

Enviar um comentário