Um espaço para reinventar Portugal como nação de todo o Mundo, que estabeleça pontes, mediações e diálogos entre todos os povos, culturas e civilizações e promova os valores mais universalistas, conforme o símbolo da Esfera Armilar. Há que visar o melhor possível para todos, uma cultura da paz, da compreensão e da fraternidade à escala planetária, orientada não só para o bem da espécie humana, mas também para a preservação da natureza e o bem-estar de todas as formas de vida sencientes.

"Nós, Portugal, o poder ser"

- Fernando Pessoa, Mensagem.

Vejam antes que retirem do YouTube

Religious harmony is still very much alive in India. So rest of the world must learn that.

Dharamsala, HP, India, 27 November 2009 (http://www.phayul.com/

His Holiness the Dalai Lama attended the 18th annual National Conference of the Vitreo-Retinal Society Thursday in Palampur, some 40 kms from here, after concluding a 3 day teaching and initiation for Russian Buddhists yesterday.

Speaking at the conference, His Holiness the Dalai Lama said the world should learn religious harmony from India.

“Religious harmony is still very much alive in India. So rest of the world must learn that.”

His Holiness the Dalai Lama spoke highly of India saying that the concept of Non Violence or “Ahimsa” was an ancient Indian philosophy and that he was only a messenger conveying the principles of Non-Violence everywhere he travels. [...]

fonte:  http://www.dalailama.com/news.491.htm

A Escola que temos é a escola que queremos?

A Escola Portuguesa

o rosto com que fita


Portugal, Europa e Ocidente: o enigma do "olhar esfíngico e fatal" e o rapto de Europa



Ticiano, O rapto de Europa

“A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.

O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.

Fita, com olhar esfíngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.

O rosto com que fita é Portugal”

- Fernando Pessoa, “O dos Castelos”, Mensagem.

É com este poema que Fernando Pessoa abre a Mensagem, cujo nome cifra o dizer latino: Mens ag(itat) (mol)em – o pensamento/a inteligência/a mente impele/põe em movimento a massa(matéria)/multidão. O presente poema deve pois ser considerado como o primeiro momento disso que todo o livro pretende e anuncia ser: mover e orientar numa determinada direcção a massa passiva e inconsciente das coisas e/ou da mole humana, o que supõe nesta a potencialidade de deixar de o ser, despertando do sono que a equipara à matéria e pondo-se a caminho de um estado superior de consciência.

De quem fala o poema e o que diz? O poema fala da Europa, figurada, de acordo com as sugestões do seu mapa, como um ser, decerto feminino, que “de Oriente a Ocidente” se deita, apoiado “nos cotovelos”, “fitando”, ou seja, olhando fixamente para um alvo diante de si. Um dos cotovelos pousa na Itália e o outro na Inglaterra, sendo este que sustenta a mão “em que se apoia o rosto”, onde a moldura romântica dos cabelos evoca “olhos gregos”. Esse rosto, “o rosto com que fita”, “é Portugal”, o finistérreo extremo-ocidente europeu, voltado para o Oceano.

Recordemos a mitologia acerca de Europa, mulher fenícia de Tiro, cujo nome, do grego, sugere etimologicamente a imagem de um rosto ou visão amplos (ευρυ-, largo, amplo, e οπ-, olho(s), rosto). Nas duas versões acerca do seu destino, na mais conhecida é seduzida por Zeus transformado em touro, o qual, após haver conquistado a sua confiança, subitamente a rapta e leva pelo mar para Creta, onde se une com ela. Dessa união nascerá o rei Minos. Noutra versão, narrada por Heródoto, Europa é sequestrada pelos minóicos e levada igualmente para Creta.

Notemos que a Europa é, curiosamente, uma figura não indo-europeia, pois os fenícios, segundo Heródoto, provêm do Oceano Índico, enquanto que, segundo a moderna historiografia, procedem de uma região entre o Mar Morto e o Mar Vermelho. O seu nome significa em grego “vermelho” e pode provir da cor da sua pele (Agostinho da Silva refere-os como os “pele-vermelhas”. Foram uma grande potência marítima, um povo de viajantes, que fez um trânsito de Oriente para Ocidente. Quanto ao mito do rapto de Europa, sugere-nos a essência do seu destino como o de ser seduzida, descentrada, arrebatada ao seu lugar original por uma potência divina que a fecunda. Isto em Creta, lugar de mediação entre Oriente e Ocidente, entre as raízes arcaicas, matriarcais e não indo-europeias da futura cultura europeia, e o seu futuro bélico prefigurado nos invasores aqueus indo-europeus. Creta, lugar perigoso do labirinto, da errância por várias possibilidades de destino, mas com uma única saída salvadora. Lugar do risco de se ser devorado pelo Minotauro e da possibilidade de saída libertadora pelo encontro do fio de Ariana.

Portugal, com a sua larga costa voltada para o Oceano, sugerindo um perfil contemplando o infinito, é assim na verdade não apenas o rosto da Europa, mas esse mesmo “rosto” ou “visão” amplos que diz o nome Europa. Portugal é a essência da Europa, a essência que em si contêm e encerra as complexas possibilidades que no mito se entrecruzam e entremostram: a ponte e mediação entre Oriente e Ocidente, entre o arcaico e o novo, a sedução pela alteridade, o rapto, o arrebatamento e a fecundação pelo divino, a labiríntica errância entre perdição e salvação e o rosto/visão ampla que é, simultaneamente, limite e limiar, limite que se pode converter em limiar.

O que fita então esse rosto-Portugal/Europa e como o fitam os seus “olhos gregos”, que agora supomos serem cretenses? O seu “olhar esfíngico e fatal” fita “o Ocidente, futuro do passado”. Uma esfinge é um monstro, com um corpo misto de vários animais e rosto humano, como no Egipto e na Grécia, enquanto um “olhar esfíngico e fatal” é um olhar que expressa um enigma sempre letal, pois estrangula (sphingo) e devora quem não o decifrar, ao mesmo tempo que se suicida caso a decifração aconteça, como no Édipo Rei, de Sófocles. A mulher fenícia é então uma Esfinge e Portugal o rosto humano desse monstro, que se estende de Oriente a Ocidente contemplando fixamente o Ocidente/Oceano. O Ocidente, do latim occidens, entis, é o particípio presente do verbo occidere, o qual, se for intransitivo, significa morrer e, se for transitivo, significa matar. O Ocidente é assim o lugar onde se morre ou se é morto, como acontece com o sol que aparentemente aí declina e desaparece. Esse lugar é também o Oceano, o Okeanos que os gregos visionavam como o grande rio caótico e turbilhonante que corria circularmente em torno do mundo. Em qualquer dos casos, o Ocidente e o Oceano, para além da sua determinação geográfica, assinalam o aparente limite da terra firme do conhecimento e da vida, figurado na linha igualmente aparente do horizonte, cuja etimologia grega (orizón) designa “o que limita”. É isso o “futuro do passado” e é isso que a Europa-Esfinge, que “jaz […] / De Oriente a Ocidente”, amplamente “fita” com o rosto-Portugal.

Este confronto configura uma situação-limite, na qual uma das instâncias do confronto – Portugal, rosto-essência da Europa, e o Ocidente/Oceano, “futuro do passado” – não pode sobreviver. O rosto-Portugal fita, ou seja, foca unidireccionadamente, concentrando toda a energia do desejo numa visão intensa, isso que está diante de si, esse Ocidente/Oceano/Horizonte ignoto que é o “futuro” desse “passado”-Europa que Portugal ainda é, porém já na condição anfíbia de finistérrea ponta extrema, lançada para o alvo da alteridade absoluta, irredutível a qualquer identidade europeia, ocidental ou outra. Rosto humano da monstruosa Esfinge-Europa, que aqui pode figurar todo o próprio “passado” euroasiático da história do mundo, ou tudo o que ela mesma aspira a ultra-passar em si, Portugal figura o descentramento da história, da vida e da consciência europeia, e/ou da própria consciência, para o desenlace crucial do morrer ou matar que no Oceano/Ocidente se simboliza. Portugal incarna, no rosto/visão amplos descentrados para a alteridade infinita, a própria essência da Europa, ou seja, a sua sedução, rapto e arrebatamento jamais terminados e apaziguados, a própria condição da sua divina fecundação e criatividade.

Não esqueçamos que neste quadro da Europa que abre a Mensagem se destacam explícita e implicitamente os quatro momentos-figuras histórico-civilizacionais que Pessoa identifica nos quatro impérios “passados” e perecíveis cuja superação o Quinto Império simboliza: “E assim, passados os quatro / Tempos do ser que sonhou, / A terra será teatro / Do dia claro, que no atro / Da erma noite começou. // Grécia, Roma, Cristandade, / Europa – os quatro se vão / para onde vai toda idade. / Quem vem viver a verdade / Que morreu D. Sebastião?” (“O Quinto Império”). No poema inaugural da Mensagem, a Grécia está representada pelos “olhos gregos”, Roma e a Cristandade pela Itália e a Europa por si mesma e pela Inglaterra, que personifica o quarto império noutros textos, em prosa, de Pessoa.

O mais fundo enigma reside, contudo, no facto de Portugal ser o “rosto”-“olhar esfíngico e fatal” com que a Europa fita o Ocidente. O que quer dizer que o enigma mortal não está propriamente diante, no Ocidente/Oceano, mas antes nesse que os fita. Portugal, como rosto-essência da Europa, é o próprio esfíngico enigma que, numa inesperada inversão da situação aparente, é suposto ser também contemplado pelo Ocidente/Oceano. Quem levará quem à morte? Paralisará e devorará Portugal, rosto-essência da Europa, o Ocidente/Oceano, caso este não decifre o enigma que transporta? Porá Portugal, rosto-essência da Europa, fim à vida, caso o Ocidente-Oceano o decifre? Morrerá o futuro e a alteridade às mãos do passado e do mesmo ou serão antes estes a perecer perante aqueles?

Toda a lógica e intencionalidade da Mensagem e do pensamento pessoano apontam para a segunda possibilidade. E tudo se esclarece se considerarmos que em Portugal se figura a impossível coexistência das duas figuras e a encruzilhada crucial na qual uma tem de ser sacrificada. Talvez seja precisamente esse o enigma. Tudo depende do que vai predominar em Portugal - que Pessoa vê como a quinta-essência do complexo de possibilidades que é a própria Europa - e, a um nível mais fundo, na possibilidade universal do homem e da consciência que Portugal aqui figura (como Israel, a Cristandade ou o Islão nas respectivas culturas): ou a asfixia e deglutição da adveniente alteridade pela monstruosa mesmidade passada ou o autocolapso desta no desentranhamento e desvendamento do secreto fito a que no mais íntimo aspira - morrer e devir, autotranscender-se trespassando a linha do horizonte e revelando a sua mera aparência, converter e revelar o limite como limiar. Ou o quarto ou o Quinto Império, como consumação do íntimo fito da consciência europeia e da própria consciência, tanto mais comprovado quanto mais aparente e visceralmente o rejeita: ser, agora e sempre, divinamente seduzida, raptada, arrebatada e enfim fecundada.

Labirinto que é, talvez só nesse rapto, só nesse abandono e entrega à alteridade absoluta, possa encontrar o fio de Ariana que a resgate de morrer devorada pelo Minotauro, ou seja, autodevorada pelo próprio medo e desejo de segurança agressivos que este, tal como a Esfinge, personificam.

(texto em elaboração)

Blogue, fórum e movimento Refundar Portugal/Outro Portugal

O blogue, fórum e movimento Refundar Portugal/Outro Portugal é um projecto de dar voz às nossas melhores aspirações a um país melhor para todos, em que a primazia seja dada não ao combate contra os outros, mas à assunção da nossa responsabilidade por sermos a diferença que julgamos faltar a Portugal e ao mundo e, ao mesmo tempo, por concebermos e propormos as transformações que julgamos necessárias para que a nossa comunidade mais imediata se torne mais consciente, solidária e feliz.

Este projecto visa dar voz às ideias dos cidadãos acerca do melhor sentido a dar à nossa vida colectiva, livres de compromissos partidários e dos grupos em luta pelo poder político-económico. Independentemente de qual for o resultado desta iniciativa, o simples facto de ela existir é já o seu triunfo, pois significa que não passámos pela vida indiferentes e distraídos da nossa vocação a enriquecermos a existência com conhecimento e amor.

Divulguemos esta iniciativa e saiamos da passividade e conformismo em que andamos. A esfera armilar é o símbolo de um Portugal-Universo, aberto a tudo e a todos, a uma cidadania planetária e cósmica.

Saudações

Alguns blogs e sites que divulgaram o Manifesto

Pode ser consultado no fórum. Vou tentar manter o mais actualizado que conseguir.


arronches 1


Do homem honesto e do homem vulgar

"O homem honesto considera o bem universal e não a vantagem particular, enquanto que o homem vulgar não vê senão a vantagem particular e não o bem universal"

- Confúcio, Analectos, II, 14.

4ª Conferência Internacional sobre o FIB: discurso do 1º Ministro do Butão, Lyongpo Jigme Thinley

Canadá, Outubro de 2008.


(...)Neste meu mandato, começamos a nossa ardente jornada de combinar democracia e FIB. Estamos nos comprometendo a assegurar que a confiança dos nossos reis no seu povo, e a confiança do povo em nós, os eleitos, não seja traída. Fizemos a promessa de consolidar e fortalecer as condições que irão possibilitar que cada cidadão encontre a felicidade.

Vocês aqui chegaram logo após a coroação de sua majestade o Rei Jigme Khesar, como o quinto Druk Gyalpo. A coroação de sua majestade tem um especial significado para o FIB, pois sua majestade e o seu reino personificam o FIB. O Rei enfatizou a promoção do FIB como sendo sua responsabilidade e prioridade, como tornou isso claro no seu discurso de coroação,
“..... quaisquer que sejam as metas que tenhamos – e não importa o quanto essas metas mudem neste cambiante mundo – em última instância, sem paz, segurança, e felicidade, nada temos. Essa é a essência da filosofia da Felicidade Interna Bruta. Eu também rezo para que, enquanto for o rei de uma pequena nação no Himalaia, possa, durante o meu reinado, fazer muito para promover o maior bem-estar e felicidade de todas as pessoas neste mundo – de todos os seres sencientes”.

Felicidade Interna Bruta enquanto meta e propósito do desenvolvimento é fruto da sabedoria de sua majestade o quarto Rei, nascida da sua dedicação de entender, articular e preencher os desejos mais profundos dos seu povo. O FIB serviu como o principal motivador e base para todas as políticas e ações durante o seu glorioso reinado de 34 anos. Na medida em que a realidade do nosso insustentável e incompleto modo de vida se torna ominosamente, e de fato, devastadoramente clara no nosso problemático mundo, acredito que o FIB, visto como um paradigma alternativo de desenvolvimento, se tornou mais relevante do que nunca.

Para a organização de todas as conferências sobre o FIB o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) foi um parceiro excepcionalmente generoso e disponível. A vocês, do PNUD, vai o crédito de do interesse cada vez mais amplo pelo FIB, e a crescente convicção da urgente necessidade de se encontrar uma alternativa para o nosso ganancioso, explorador, e insaciável estilo de vida, ditado pela nossa fé na infalibilidade das forças do mercado, as quais, por sua vez, extraem seu poder da ambrosia do consumismo.

É muito encorajador observar como que aspectos do FIB estão sendo implementados de baixo para cima, de uma forma não centralizada, em muitas comunidades locais ao redor do mundo. Grandes mudanças de governos em prol do reconhecimento daquilo que seja o verdadeiro progresso, e de como este deve ser medido, podem de fato somente acontecer quando cidadãos e organizações, dispersos como são, agem em uníssono e convergentes, impulsionados por uma nova consciência. Tais ações estão sendo estimuladas pelas colaborativas atividades de instituições de pesquisa de vanguarda pelo mundo, as quais estão sendo respaldadas por pessoas e líderes iluminados.

Sem ser complacente, seria benéfico que intensificássemos a colaboração internacional nas mensurações, enquanto enfatizássemos a necessidade de se manter o foco na formulação de aplicações práticas em termos de projetos e programas enraizados nos locais onde o verdadeiro povo se encontra, e onde as genuínas e significativas mudanças de base devam acontecer. Nesse sentido, parece que é mais fácil desenvolver medidas ou indicadores de progresso para o FIB do que formular abordagens que possam de fato reformar ações de políticas públicas.
A questão com todas as tentativas de se medir o desenvolvimento holístico é a de persuadir a reconfiguração das políticas públicas, a reestruturação ou a reorientação das instituições, e a transformação do comportamento humano.

Para esse fim, talvez até que tenhamos que ser suficientemente corajosos para sugerir alternativas às políticas concorrentes, através das quais os propósitos comuns e as visões são freqüentemente derrotadas pelas convencionais divisões de esquerda versus direita, a favor-do-mercado versus socialismo, cálculos eleitorais versus interesses de longo prazo. Enquanto que todos reconhecem a globalização e a realidade da "aldeia global", as políticas públicas em todos os níveis precisam transcender as perspectivas paroquiais, nacionais e regionais para responder aos problemas globais, tais como a exaustão dos compartilhados recursos naturais e a erosão da consciência ética e moral. Mesmo que aceitemos as democracias como parte da solução, precisamos nos dar conta daquilo que a filósofa Onora O'Neill disse: "A democracia pode nos mostrar aquilo que é politicamente legítimo; não pode mostrar o que é eticamente justificável".

Eu ouso até dizer que o vocabulário e a arquitetura contemporâneos da governança não estão em perfeita harmonia com a governança para o FIB. Práticas baseadas nas mensurações do FIB irão, tenho certeza, requerer alterações nas estruturas tradicionais de governo, nos objetivos e normas administrativas. Para começar, as ferramentas e os critérios para a seleção dos projetos e dos programas devem estar alinhados com o FIB. Em seguida, vem a questão dos critérios decisórios quanto a como se usar o orçamento público, visando o bem público. Esses critérios necessitam de uma revisão, bem como o que é que se entende por "bem público". Parece que a felicidade, enquanto bem público, não consta como sendo o resultado intentado da maioria dos gastos públicos. Todavia, o que então não irá mudar é o desafio de política pública que vise melhorar o bem-estar do indivíduo sem comprometer o bem-estar do coletivo e vice-versa. Mas como se obtém esse judicioso equilíbrio entre os dois? Haverá aí uma dicotomia?

Enquanto que essa augusta reunião discute o tema da prática e da mensuração do FIB, eu convido vocês para que ponderem as muitas perguntas que me assombram. Como que se pode criar uma sociedade iluminada na qual os cidadãos sabem que a felicidade individual é fruto da felicidade e ação coletivas -- que a duradoura felicidade está condicionada pela felicidade dos indivíduos à sua volta -- e que se esforçar pela felicidade dos outros é o caminho mais seguro para se desfrutar de experiências gratificantes que trazem a verdadeira e duradoura felicidade? Como poderemos persuadir as pessoas para que adotem um novo paradigma ético que rejeite o consumismo? Como poderemos convencê-las de que o paradigma de crescimento ilimitado num mundo finito não é apenas insustentável e injusto com as futuras gerações, mas também espreme para fora as nossas buscas sociais, culturais, estéticas e espirituais?

Até mesmo a justificativa para crescimento econômico visando mitigar a pobreza soa demasiado dúbia, a menos que radicalmente melhoremos a distribuição de renda. Vergonhosamente pouco da mitigação da pobreza vem da enorme riqueza gerada na economia global agregada. O mesmo se aplica ao argumento de que precisamos crescer de modo que haja dinheiro para consertar os problemas ambientais. Acreditar nisso é acreditar em matar o paciente para curar a doença. Evidências de que precisamos crescer economicamente para sermos coletivamente mais felizes são até mais escassas nos países ricos. Bem, então como se pode advogar um novo conceito de produtividade, riqueza, prosperidade e plenitude, que têm pouco a ver com possessões materiais e com a marginalização dos mais frágeis, e mais a ver com o bem-estar social, psicológico e emocional?

Será que é suficiente sabermos como medir a felicidade, e esperar que isso irá influenciar a formulação de políticas públicas? Será suficiente formular políticas públicas baseadas no FIB? E o que dizer da vontade e capacidade políticas, considerando o fato que esses aspectos, numa democracia, são respostas condicionadas por demandas e aspirações populares? Logo, se as pessoas não forem capazes de compreender e favorecer as políticas públicas baseadas em FIB, será que os políticos ousarão? E se eles ousarem, será que serão bem sucedidos? Como podemos começar esse processo? Como podemos internalizar, além do questionamento intelectual e das declarações, os valores dos quais falamos? Como que nós, enquanto acadêmicos, pensadores, cientistas, líderes e responsáveis cidadãos, podemos mudar nosso modo de vida e comportamento?

Estou chegando agora ao final do meu humilde discurso. A sabedoria tradicional nos diz que novas idéias e novos pensamentos emergem do caos e da devastação. Se o FIB precisa ser a nova ordem, então a antiga ordem parece estar sucumbindo, conforme se manifestam as múltiplas crises que estão testando a relevância e a sustentabilidade da ordem prevalecente. As crises financeira, energética e alimentícia, bem como as calamidades naturais com magnitudes e freqüências jamais vistas, creio eu, soam os sinais de alarme para nos avisar que devemos nos afastar do modo de vida que temos até agora adotado.

Grato pela paciência.

Tashi Delek! – Que prevaleça o melhor do melhor.


Fonte:
http://felicidadeinternabruta.blogspot.com/

FIB em vez de PIB: o Reino Budista do Butão apresenta ao mundo a mais genial criação político-social dos nossos tempos.

Fonte:http://www.felicidadeinternabruta.org.br/

FELICIDADE INTERNA BRUTA (FIB) é um indicador sistêmico desenvolvido no Butão, um pequeno país do Himalaia. O conceito nasceu em 1972, elaborado pelo rei butanês Jigme Singya Wangchuck. Desde então, o reino de Butão, com o apoio do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), começou a colocar esse conceito em prática, e atraiu a atenção do resto do mundo com sua nova fórmula para medir o progresso de uma comunidade ou nação. Assim, o cálculo da “riqueza” deve considerar outros aspectos além do desenvolvimento econômico, como a conservação do meio ambiente e a qualidade da vida das pessoas.

FIB é baseado na premissa de que o objetivo principal de uma sociedade não deveria ser somente o crescimento econômico, mas a integração do desenvolvimento material com o psicológico, o cultural e o espiritual – sempre em harmonia com a Terra.

As nove dimensões do FIB são:

1) BEM-ESTAR PSICOLÓGICO

Avalia o grau de satisfação e de otimismo que cada indivíduo tem em relação a sua própria vida. Os indicadores incluem a prevalência de taxas de emoções tanto positivas quanto negativas, e analisam a auto-estima, sensação de competência, estresse, e atividades espirituais.

2) SAÚDE

Mede a eficâcia das políticas de saúde, com critérios como auto-avaliação da saúde, invalidez, padrões de comportamento arriscados, exercício, sono, nutrição, etc.

3) USO DO TEMPO

O uso do tempo é um dos mais significativos fatores na qualidade de vida, especialmente o tempo para lazer e socialização com família e amigos. A gestão equilibrada do tempo é avaliada, incluindo tempo no trânsito, no trabalho, nas atividades educacionais, etc.

4) VITALIDADE COMUNITÁRIA

Foca nos relacionamentos e interações nas comunidades. Examina o nível de confiança, a sensação de pertencimento, a vitalidade dos relacionamentos afetivos, a segurança em casa e na comunidade, a prática de doação e de voluntariado.

5) EDUCAÇÃO

Leva em conta vários fatores como participação em educação formal e informal, competências, envolvimento na educação dos filhos, valores em educação, educação ambiental, etc.

6) CULTURA

Avalia as tradições locais, festivais, valores nucleares, partipação em eventos culturais, oportunidades de desenvolver capacidades artísticas, e discriminação por causa de religião, raça ou gênero.

7) MEIO AMBIENTE

Mede a percepção das cidadãos quanto a qualidade da água, do ar, do solo, e da biodiversidade. Os indicadores incluem acesso a áreas verdes, sistema de coleta de lixo, etc.

8) GOVERNANÇA

Avalia como a população enxerga o governo, a mídia, o judiciário, o sistema eletoral, e a segurança pública, em termos de responsibilidade, honestidade e transparência. Também mede a cidadania e o envolvimento dos cidadãos com as decisões e processos políticos.

9) PADRÃO DE VIDA

Avalia a renda individual e familiar, a segurança financeira, o nível de dívidas, a qualidade das habitações, etc.

Publicado por João Read Beato em:

umoutroportugal.blogspot.com

O melhor serviço que se pode prestar a Portugal e à comunidade lusófona

O melhor serviço que se pode prestar a uma pátria ou espaço linguístico-cultural, o melhor serviço que se pode prestar a Portugal e à comunidade lusófona, não é mantê-los nos seus limites e promovê-los narcisisticamente, mas antes alargar os seus horizontes, aprofundando e criando pontes e mediações com todos os povos e pátrias, com todas as línguas e culturas.

É assim que se acede a uma dimensão civilizacional e é assim que se faz de uma pátria e de uma cultura um suporte e não um obstáculo para a evolução mental dos indivíduos e da sociedade. Essa é hoje a tarefa de um patriotismo universalista, que seja um abraço armilar ao mundo e ao universo, humano e não-humano.

Esse é hoje o rumo de um Outro Portugal.

Notas sobre Política Cultural Urbana 2


Neste sentido, a cultura deixa de ser considerada um luxo apenas de alguns, para proclamar-se como um direito de todos: cultura cívica. Proclamação cuja real existência requer uma atenta intervenção pública, pois não basta dizer ou escrever que “a cultura é para todos”. É imperativo analisar-se, por exemplo, quem são os utentes dos equipamentos culturais, de modo a verificar que segmentos sociais efectivamente os frequentam ou não, tendo em consideração a composição social da população. E, consequentemente, delinear as estratégias que permitam corrigir essas mesmas assimetrias e diminuir a selectividade social dos públicos da cultura, promovendo a inclusão daqueles que pouco ou nada têm usufruído dos seus direitos humanos e dos seus direitos culturais.
De facto cultura, cidade e sociedade são dimensões em constante interdependência. Não há cidade, nem sociedade sem cultura(s). Por conseguinte, pode dizer-se que cultura e sociedade são mutuamente constitutivas do todo social. A qualidade de uma afecta a plenitude da outra e vice-versa.


É nossa convicção que a arte é por si mesma uma fonte inspiradora de visões do mundo polémicas e não consensuais, pelo que a intervenção em políticas públicas de cultura se deve abster de a programar.  
Umas das finalidades fundamentais das políticas públicas de cultura é a de desenvolver o protagonismo cultural da sociedade civil, das populações, dos artistas e criadores, dos grupos amadores, das associações, das indústrias culturais e criativas, na sua potencial diversidade e riqueza de conteúdos. Reduzindo o mais possível o protagonismo do Estado/Governo enquanto “produtor de cultura”, pois este defeito confunde-se na maioria das vezes com a instrumentalização da cultura para fins eleitorais.


Nenhuma política cultural se desenvolve no vazio, nem a partir do vazio. As cidades têm um passado, um presente e um futuro, têm ideias, têm imaginários, têm pessoas e grupos com identidades culturais variadas. As cidades são isso mesmo, a materialização das ideias ao longo do tempo, em ambientes mais ou menos criativos. As cidades devem ser o produto das suas culturas (sempre no plural: culturas), do debate das suas ideias e dos seus valores humanos.
As cidades não podem ser meras máquinas artificiais e administrativas capturadas pelos fluxos globais de hegemonização, da informação e do financiamento. Nem produtos “prontos-a-consumir” enclausuradas numa cultura burocrática.
E quanto a isto não tenhamos ilusões, ou as cidades conseguem mobilizar-se colectivamente e criar dinâmicas adequadas aos novos tempos, ou não. Por todo o mundo, por toda a Europa e em Portugal, o panorama é idêntico: há cidades genuinamente reflexivas e criativas, e há cidades em declínio mais ou menos acentuado.O mesmo vale para os países, claro!
 

 

Como participar no fórum

O objectivo do fórum Um Outro Portugal é, por um lado, ser uma base de dados de recursos para os diferentes grupos e, por outro, permitir uma fácil e transparente leitura dos trabalhos do movimento.

Pode participar colaborando num dos grupos, pode participar igualmente com contribuições de sites, textos, legislação, informação sobre o que se passa no mundo sobre os temas relevantes e multimédia para a base de dados, ou com pensamentos e reflexões de pensadores e filósofos.

Pode participar também com os seus pensamentos, reflexões, conhecimentos e recursos próprios ou ainda discutindo os tópicos que lá são colocados; tudo isto é considerado uma mais valia.

Enquanto que no blog a discussão é mais livre e espontânea, pretende-se que no fórum seja mais sistematizada e organizada. As ideias nascem no blog e são depois colocadas no fórum, já sob uma forma consistente.

Para mim, os animais importam

Fonte: Biosofia

A Campanha “Para Mim Os Animais Importam”

A Campanha “Para Mim Os Animais Importam” (Animals Matter to Me) representa a maior iniciativa global realizada até hoje, unindo todos os movimentos pelo bem-estar dos animais sob um objectivo estratégico – o reconhecimento em todo o mundo de que os animais são seres sencientes, capazes de sentir dor e de sofrer.

Mais de um milhão de pessoas do mundo inteiro pensam e sentem que o bem-estar animal merece reconhecimento internacional, e mostraram o seu apoio à Declaração Universal de Bem-Estar Animal. Todos os 192 países estão agora representados neste abaixo-assinado.

Só com a sua ajuda conseguiremos atingir as 10 milhões de assinaturas! Faça circular esta petição entre amigos, familiares, colegas de trabalho e de escola ou a qualquer pessoa que, junto connosco, queira construir um mundo melhor para todos os animais.

Ajude-nos a atingir o reconhecimento mundial que os animais merecem; eles podem sentir dor, podem sofrer, e nós temos a responsabilidade em pôr um ponto final nesta crueldade em todo o mundo. Estamos tentando recolher 10 milhões de assinaturas para que os governos tomem conhecimento de que estamos verdadeiramente empenhados em conseguir uma Declaração Universal do Bem-estar dos Animais nas Nações Unidas.

Aceda a www.animalsmatter.org e deixe o seu precioso contributo – a sua voz, o seu voto, a favor desta causa.

Novo e-mail

Pode inscrever-se, caso deseje participar, enviando um e-mail para refundarportugal@gmail.com, indicando o seu nome e o(s) grupo(s) em que deseja colaborar.

Caso não se sinta à vontade para contribuir via blog ou fórum, pode igualmente enviar as suas contribuições para este email.

Continuem a deixar nesta caixa de comentários os contactos de mail, por favor

Ou, caso não o pretendam divulgar publicamente, podem agora enviar o vosso endereço de e-mail para refundarportugal@gmail.com.

Neste momento quem recebe estes e-mails é o Paulo Borges e a Sofia Costa Madeira.

Actualização dos Grupos de Trabalho do Manifesto "Refundar Portugal"

Grupo 1 – Comunicação



Sofia Costa Madeira (coordenadora)
Luís Resina
Ana Sofia Costa
Sílvia Neto
Helena Andrade
Ana Paula Germano
Ethel Feldman
Paulo Borges

Grupo 2 – Reconhecimento constitucional da senciência dos animais

Pedro Taborda de Oliveira
Rui Almeida
Vera Fonseca

Grupo 3 - Economia, Ecologia e Energias alternativas

Carlos Ramos
João Bolila
David Amaral
Maribel Sobreira
Rui Almeida

Grupo 4 - Política

David Amaral
Mário Nuno Neves


Grupo 5 - Educação e Cultura

Luís Resina
Aldora Amaral
José Serrão
Fernando Emídio
Helena Carla Gonçalo Ferreira
Sílvia Neto
Teresa Petrini Reis
Manuel Fúria
Luís Santos
Henrique Areias
Maribel Sobreira
Cristina Moura
Mário Nuno Neves
Cristina Castro
Paulo Feitais
Fernanda Gil
Zé Leonel
Joana dos Espíritos
Duarte Soares
Manuel João Croca
Paulo Borges

Grupo 6 - Saúde

Luís Resina
Sílvia Neto
Helena Andrade
Ana Paula Germano
Yara-Cléo Bueno
Maria da Conceição Pinho
Cristina Castro
Paulo Antunes

Grupo 7 - Portugal, Lusofonia, diálogo entre culturas e religiões


Ana Filipa Teles
Ethel Feldman
Cristina Moura
Paulo Borges - mais coordenação geral (junto com os coordenadores de cada grupo)

"Para um novo universalismo baseado na interculturalidade": François Jullien

Publico aqui, apesar da extensão, uma entrevista a um dos mais influentes pensadores contemporâneos, François Jullien, feita pelo investigador brasileiro Gunter Axt e publicada na edição deste mês da revista Cult. Jullien repensa toda a tradição filosófica ocidental a partir do seu conhecimento profundo do pensamento chinês. Mantenho a versão brasileira e agradeço a Rui Lopo o conhecimento deste texto, que introduz a alguns aspectos fundamentais de um pensador que leio desde há uns anos, incontornável para a compreensão do nosso tempo e do sentido do diálogo intercultural. Nesse domínio, está a par de Raimon Pannikar.
Como habitualmente, em Portugal não há um único livro traduzido deste autor, ao contrário do que acontece nas principais nações europeias. Já o tenho proposto a vários editores...

....

"Por um novo universalismo baseado na interculturalidade": íntegra da entrevista com o filósofo François Jullien.

François Jullien é um dos filósofos franceses mais em evidência na atualidade. Especializou-se em pensamento chinês e afirmou-se como um importante teórico do diálogo intercultural no contexto do mundo globalizado.
É professor na Universidade Denis Diderot, Paris VII, onde dirige o Instituto do Pensamento Contemporâneo. É membro sênior do Instituto Universitário da França, já presidiu o Colégio Internacional de Filosofia e a Associação Francesa de Estudos Chineses. Ele dirige atualmente a revista Agenda do Pensamento Contemporâneo, editada pela Flammarion. Desempenha também papel de consultor para empresas ocidentais que desejam se instalar na China. Seus livros estão traduzidos em uma vintena de países, inclusive no Brasil.
Nesta entrevista, concedida em Paris, François Jullien discute a sua opção por estudar a China, problematiza a diferença entre alteridade e exterioridade, entre universal, uniforme e comum, conceitos que considera fundamentais para compreender a dinâmica do diálogo entre as culturas. Jullien fala ainda sobre o pensamento chinês como um modo de coerência com características próprias e debate a China contemporânea, a Comunidade Comum Européia, o Brasil e o papel do intelectual na atualidade. Repensa, ainda, os limites dos Direitos Humanos e defende a necessidade de construção de um novo universalismo, baseado na diferença, mas refratário ao relativismo cultural.

Por que a China, por que fazer da China o sujeito de seu trabalho?

No início, fui helenista. Mas fui interessando-me pela China porque ela se constitui em uma exterioridade particularmente marcante em face da cultura européia. Exterioridade de língua, já que o chinês não pertence à grande tradição indo-européia; de História, já que os contatos da Europa com a China tornaram-se mais freqüentes apenas a partir do século XVI, na esteira das missões de evangelização, ganhando intensidade na segunda metade do século XIX, como desdobramento do processo colonial moderno. Apesar das diferenças, ambas, Europa e China, são comparáveis. Não se trata de buscar o exotismo da China, mas de se evidenciar o quanto ela é um caso particularmente tipificado e com forte exterioridade com relação à cultura européia. Minha abordagem é filosófica. Trabalho sobre um pensamento constituído e explicitado, com o objetivo de re-interrogar o pensamento europeu a partir de fora.
Qual é a diferença entre a exterioridade e a alteridade?
Sim, eu mencionei exterioridade e não alteridade. Por que a exterioridade é algo dado pela geografia, pela língua, pela História - se constata. Por sua vez, a alteridade é uma construção cultural. A China está alhures; mas em que medida ela se constitui em um outro? É o que Foucault chamava literalmente, em "As palavras e as coisas", de heterotopia da China, distinguida da utopia: as utopias confortam, as heterotopias inquietam.
Mais do que a diferença do pensamento extremo-oriental com relação ao europeu há uma indiferença nutrida tradicionalmente entre estes termos. O primeiro desafio é sair desta indiferença mútua, de maneira a que um possa visualizar o outro, numa mudança de enfoque que suscita o pensar.

Existem modos possíveis de coerência no mundo contemporâneo em paralelo à tradição judaico-cristã e ao racionalismo ocidental?

Contrariamente ao que pretende a história ocidental da filosofia, o Extremo Oriente não ficou em estado pré-filosófico. Ele inventou os seus marcos de abstração, conheceu uma diversidade de escolas e explorou outras fontes de inteligibilidade.
Há um benefício duplo deste percurso intelectual pela China. Além da descoberta de uma outra inteligibilidade, sonda-se até onde pode ir esta deterritorialização do pensamento. Mas este deslocamento implica também num retorno. A partir deste ponto de vista da exterioridade, trata-se de retornar aos pressupostos a partir dos quais se desenvolve a razão européia, pressupostos ocultos, não explicitados, que o pensamento europeu veicula como uma evidência. O objetivo aqui é remontar ao impensado do pensamento, captando a razão européia ao inverso, a partir de sua exterioridade.
Pensar na China é justamente sair deste grande movimento pendular entre Atenas e Jerusalém encarnado pela filosofia européia.
Na sua percepção, os chineses possuem noções do Ser, da Verdade e do Tempo diferentes daquelas consolidadas pela tradição ocidental?
Consideremos a noção de "Ser" a partir da qual, sabe-se, a Europa baseou seu pensamento, desde os gregos (desde Homero). "Ser" ou "Não Ser", no pensamento europeu, forma a alternativa dramática básica; do mesmo modo que a oposição entre o "Ser" e o "Devir" constitui nele a linha de separação a partir da qual se desenvolveu a Ontologia, o caminho expresso para a Filosofia. Ora, ao mesmo tempo em que não podemos pensar fora dessa dupla oposição do "Ser" (nossa mente se articula nela), estamos conscientes de que o termo "Ser" é empregado com "diversos sentidos", primeiramente os de "existência" e "qualificação" (ser isto ou aquilo, ou de certo modo). Convergem esses significados para uma só unidade, onde permanecem estranhos um ao outro, dando, por isso, margem a confusões? Mas, tornando precisa a questão, tratar-se-ia exatamente da "raça humana" e, sobretudo, não de algo grego, que "nós" herdamos na Europa? Quanto ao pensamento chinês clássico, diferencia ele entre o "existir" (you) e o "o estar" (wei) ou o "existir-estar", "existência-subsistência" (on he on), admitindo também a função da "cópula" (ye), isto é, o verbo que une o sujeito ao nome predicativo do sujeito. Mas entre eles, não se diz (não se pensa) em "Ser" como um absoluto: o "Ser" como um fenômeno do qual todos os outros devem participar para que se diga que "existam"; e tampouco a idéia do "Ser" como "Ser como Estar" (on he on), à qual devemos desde Aristóteles que a Filosofia se tenha feito Ciência. Ao pensamento chinês, portanto, não se colocou - ou não pôde se colocar - a questão que para nós, contudo, até aqui parece inevitável, a do ti esti, ou seja, "do que se trata"?
Para os gregos, uma relação entre o conhecimento e o "Ser" funda a filosofia, ao passo que na China não há qualquer Ontologia. Não se pretendeu construir uma aparência onde possamos viver, mas busca-se encontrar a diversidade de pontos de vista e sua anulação mútua, o que constitui o "caminho" comum da imanência (o tao).
A China pensou a "adequação" circunstancial, mas porque ela não a pôde apoiar no Ser, não a pôde estabelecer sob um plano de eternidade, não a pôde sustentar por um projeto puro de conhecimento (que tendeu como entre os gregos a assimilar a sabedoria à ciência, a sophia à epistémé), ela não produziu a Verdade, como visão maior da filosofia - não pôde visto aqui não como a expressão de uma falha, mas mais como a abertura para um outro possível. O termo em chinês antigo que melhor podemos traduzir por "verdadeiro" significa antes "autêntico" (zhen: no sentido dos sentimentos ou de uma natureza verdadeiros; o "homem verdadeiro" zhen ren é, notadamente no taoísmo, aquele que ascendeu a uma perfeita disponibilidade interior e não conhece mais os entraves ao desabrochar de sua existência). Os chineses manejaram bem o julgamento disjuntivo, mas eles cedo se desafiaram, desde a formação de suas escolas de pensamento, na antiguidade, sobre a perda fatalmente ocasionada - do ponto de vista da globalidade da sabedoria - do conflito (estéril) de posições. Isto significa que não necessariamente os chineses são incapazes de distinguir o verdadeiro e o falso, mas que não é sobre este ângulo, da pesquisa e da busca da verdade, que eles desenvolveram suas concepções. Enfim, os chineses não produziram uma fixação sobre a Verdade.
Noções que acreditamos serem gerais e invariantes, universais, não necessariamente se repetem na China. Para entrar no pensamento chinês, é preciso acompanhar o desenvolvimento de suas noções e de seus questionamentos internos, sem pressupor que seus modos de coerência concordam de golpe com os dos europeus.
Isto acontece também com a noção de tempo. Os chineses pensaram a temporada, o instante (momento - ocasião - circunstância: shi) e a duração (jiu), mas não a noção de tempo homogêneo e abstrato, destacado do curso dos processos, tal qual os gregos a pensaram a partir de uma física do movimento dos corpos e de seu deslocamento no espaço (Aristóteles), de uma ruptura metafísica com a eternidade do Ser (Platão-Plotino) ou de Deus (Santo Agostinho); e tal que nós a flexionamos de ordinário na conjugação dos diferentes tempos verbais - a língua chinesa não conjuga.
O tempo europeu é divisível em diversos tempos, mas as divisões não existem efetivamente: o presente não é mais do que um ponto de passagem, sem extensão, portanto, sem existência, entre o passado, que não é mais, e o futuro, que ainda não é. Quando os chineses e os japoneses encontraram a noção ocidental de tempo, ao final do século XIX, ao se defrontaram com o pensamento e a ciência ocidentais, a traduziram por "entre-momentos" (shi-jian, em chinês, e ji-kan, em japonês).
Restemos, portanto, vigilantes quando nos depararmos, em uma tradução do chinês clássico para uma língua européia, com termos como Verdade, Ser, tempo, ideal, etc...: uma assimilação já se consumou ali, bem intencionada, até, mas gerando indevidamente a ilusão da universalidade.

Quais são as conseqüências dessa sua compreensão para a percepção da China contemporânea?

Eu proponho a noção de "potencial de situação" para compreender a concepção chinesa de eficácia. Apanho-a aos estrategistas da Antiguidade, como Sun Zi e Sun Bin. Mais do que modelar uma fórmula ideal colocando-a como uma meta, o que implica em forçar a impregnação desta meta na realidade, aquilo que vem a ser eficácia na China se aplica a demarcar, a detectar, os fatores favoráveis existentes no seio da situação abordada. A idéia é fazer evoluir continuamente a situação em função dos fatores que podem ser revelados, de maneira que é da situação mesma que decorre o efeito. Assim, se hoje não é favorável, é preferível esperar, mais do que se destroçar enfrentando uma situação adversa. É por isto que prefiro para a China o termo "eficiência", mais do que "eficácia", pois permite compreender a continuidade de um desdobramento, ao mesmo tempo que a arte de captar sua imanência, sem evidenciar a imposição de um projeto.

Donde decorre uma segunda noção: a de "transformação silenciosa". Ora, diferentemente do herói europeu, que não apenas se estabelece uma meta, como ainda age de maneira a propiciar a forma ideal que traçou, um dos temas mais marcantes do pensamento chinês é o não agir, que não deve de forma alguma ser compreendido no sentido de passividade ou de ausência de engajamento. Se o estratego não age, ele transforma, faz lentamente evoluir a situação no sentido desejado, por influência. Enfim, a transformação se manifesta como o contrário da ação. Enquanto esta é local, momentânea e ligada a um sujeito específico, a outra é global e progressiva. Nós não a vemos, mas ela acontece. Como o envelhecimento de uma pessoa, que percebemos quando a comparamos com uma fotografia sua de vinte anos atrás. O pensamento chinês dissolve a individualidade do evento no processo.
A China, ainda hoje em dia, não me parece estar projetando um plano sobre o devir, perseguindo um fim dado ou divisado, mesmo imperialista; mas sim parece estar explorando da melhor maneira possível, dia após dia, seu potencial de situação. Quer dizer, tirar partido dos fatores favoráveis, seja no domínio econômico, no político, no internacional e em qualquer que seja a ocasião. É apenas agora que começamos, um tanto estupefatos, a constatar os resultados: que em alguns decênios ela se converteu na usina do mundo e nos próximos anos seu potencial crescerá inelutavelmente. E isto, sem um grande evento, ou ruptura. Deng Xiaoping, o "pequeno timoneiro", foi este grande transformador silencioso da China. Ele empurrou gradualmente a sociedade chinesa, alternando liberalização e repressão, do regime socialista ao hiper-capitalismo, sem jamais ter declarado uma ruptura franca entre os dois.
Vejamos, por exemplo, a imigração chinesa na França. Ela se estende de um bairro a outro, com cada recém-chegado trazendo, um após o outro, todos os seus primos. As celebrações chinesas ganham ano a ano mais importância. Mas esta transição é tão contínua que nós não a percebemos e não a barramos.
São necessárias ferramentas teóricas específicas para compreender a China contemporânea, com este regime hiper-capitalista sob uma redoma comunista apoiada em uma estrutura hierárquico-burocrática. O Partido Comunista Chinês já se transformou muito. A China renovou suas elites, de uma geração à outra, graças às temporadas de estudo e estágios no exterior. Mas ele permanece a estrutura de poder. Uma das minhas grandes admirações é perceber que a China jamais conheceu um outro regime que não a monarquia. Fala-se na China apenas do bom ou do mau príncipe, da ordem ou da desordem. E, mesmo, considera-se que um mau príncipe é melhor do que a anarquia. Há sim momentos em que o poder chinês fracassa, mas eu jamais vi aparecer o ideal de política, no senso das formas-modelo, que vemos sendo debatido por Platão, Aristóteles ou Montesquieu: que constituem regimes distintos, cujas qualidades intrínsecas nós cotejamos.

Como o senhor caracteriza e diferencia os conceitos de universal, de comum e de uniforme?

O universal exprime-se um conceito da razão, emergindo da tradição européia, e se reclama como uma necessidade à priori, confundindo-se com a elevação do pensamento e com a própria ciência. Assinala, assim, uma intransigência inegociável.
O uniforme é um conceito da produção, que se projeta não por necessidade, mas por uma comodidade. A única racionalidade que pode ser atribuída ao uniforme é a da gestão e a da economia. Enquanto o universal apóia-se na ordem da lógica e do prescritivo, o uniforme repousa sobre a imitação. Assim, se o universal suscita ostensivamente a rebelião, aquela da singularidade, o uniforme se contenta em acalmar as resistências ao seu redor e se funde à paisagem. Sua potência é cumulativa: quanto mais ele se propaga, mais ele se impõe. O uniforme produz a estandartização e, assim como o universal, pode ofender o individual ou o singular, chocando-se com a diferença.
O comum é político. Diz respeito àquilo que se compartilha. O comum não é o parecido. Ele é dado por uma noção de pertencenimento, que conforma comunidade, e pode se legitimar em progressão, por extensão gradual, como que delineando níveis sucessivos de comunidade aos quais um indivíduo ou grupo pode ser integrado. Trata-se, portanto, de um termo de dupla face, ao mesmo tempo inclusivo e exclusivo, pois ao incluir determinado perfil, ele pode excluir outro, por negação. A tendência histórico-filosófica do comum é mais forte no sentido de se descerrar do que de se fechar. O comum evolui de um espaço de inclusão e de convergência para um local onde as particularidades se diluem, onde os interesses privados e específicos brandem suas contradições em igualdade de condições, com transparência, possibilitando a emergência do diálogo e da política.

A Declaração dos Direitos do Homem está no plano do universal? Em sua opinião, quais as conseqüências disso?


É o universal que se afirma na Declaração dos Direitos do Homem. O Ocidente tenta impô-la a todos os povos do mundo, independente de sua cultura, como um dever, exigindo subscrição incondicional, padrão que já foi anteriormente forçado goela abaixo dos próprios europeus. A fabricação do "universal" foi excêntrica, nascendo de múltiplos projetos que culminaram na Declaração dos Direitos do Homem de 1789. Objeto de intermináveis negociações e compromissos, o texto final é uma associação de fragmentos, que ignorou os pontos de disputa. Apesar da pressa com que foi feito, alçou-se a um estatuto ideal e necessário, revestindo-se de aura mítica. Mas o fato de ter sido constantemente reescrito, da Constituição francesa de 1793 à Declaração da ONU de 1948, já mostra que a sua suposta universalidade não é um fato consumado. Impostos na época moderna, os Direitos do Homem promovem uma dupla abstração, tipicamente ocidental, que é fonte de contradição: dos "direitos" e do "homem". Ela isola o sujeito, privilegiando a emancipação, consagrada como fonte da liberdade, e, além disso, isola o Homem de seu contexto vital, estabelecendo as dimensões social e política como dependentes de uma construção posterior que garanta sua existência. A ereção do universal desvincula o humano de seu mundo, estabelecendo uma dramática contradição.
Na Índia, por exemplo, não se concebe uma ordem natural da qual o ser humano não faça parte. A integração é estabelecida até a partir dos animais, que para os indianos são dotados do poder de compreensão e de conhecimento e podem já ter sido homens antes de renascerem como bichos. Ali, o homem é tão pouco excepcional que sua vida e morte carecem de significado, sendo destinadas a se repetirem indefinidamente. Não se evidencia um princípio de autoconstituição política a partir das quais os direitos do homem devam ser declarados. Enquanto para o pensamento europeu a liberdade é a última palavra, para o Extremo-Oriente é a harmonia. E sob esse aspecto, a Índia se comunica efetivamente com a China por meio do budismo. Lá, é o Ocidente que produz uma exceção ao introduzir a ruptura que isola o Homem. E, no Islã, o medo do Juízo Final, elemento primeiro da fé, reduz os direitos humanos à insignificância. Claro que hoje a noção ocidental dos direitos humanos existe em países orientais como "enxerto" estrangeiro. Afinal, quando os jovens chineses da Praça da Paz Celestial mobilizam-se, sabem que tipo de mensagem estão transmitindo para o Ocidente. Mas por que os orientais foram praticamente forçados a aprender esse significado e os ocidentais, por sua vez, não compreendem a visão dos orientais?

A Comunidade Comum Européia está no plano do comum ou do uniforme?

Bruxelas é uma máquina de uniformização. Para começar, qual será a língua que falaremos na Europa? Como a Europa será inovadora se ela não levar em conta que boa parte de sua inventividade se deve à pluralidade das suas línguas e culturas? Foi por não cessar de se reinterpretar, de uma língua à outra, começando pelo grego e pelo latim, que a Europa se fecundou e se renovou. Pois este esforço permitiu não apenas a expansão de conceitos, como ainda a relativização de pressupostos de uma cultura a partir de uma externalidade. Foi assim que a filosofia, por exemplo, ganhou uma natureza translinguística, mas também teve acicatada sua criticidade. Na Europa, pensar é também traduzir. Se os filósofos são gregos, a filosofia nasce em Roma. A dispersão das línguas na Europa possibilitou à filosofia uma capacidade de auto-reflexão.
A uniformização, entre outros simulacros, produziu aqueles da concórdia e da paz. Acreditamos nela, porque ela silencia as divergências. Mas não nos enganemos sobre a sua verdadeira natureza: quando a uniformização não responde a fins de pura rentabilidade, é burocrática, absorvida por medidas anônimas, muito mais do que efetivamente democráticas. Uma Europa feita pela uniformização e pela redução das diferenças será estéril e incapaz de se mobilizar. Como empresa de homogeneização, ela relega à heterogeneização as forças mais pobres, menos fecundas, quais sejam, as dobras identitárias e as recusas teimosas daquilo que já não mais aparece como construção incontestável, como construção comum, como uma lógica da História.
Cada época tem a sua forma de resistência, ostensiva ou discreta. Definamos a nossa: o deslocamento, a diferenciação, é o conceito de uma resistência cultural ao mesmo tempo ética e política.
É possível a construção de um novo universalismo capaz de contemplar a diferença, mas sem se diluir na miragem do relativismo cultural?
Sim, e isto pode se dar pela inter-culturalidade, pelo diálogo efetivo entre as culturas. A chance de escapar à pretensão de universalismo aplastante, de um lado, e, de outro, ao abandono relativista das diversas culturas às suas próprias perspectivas singulares e aos seus destinos únicos, é a grande oportunidade da época em que vivemos. Somos a primeira geração à qual a mundialização permitiu viajar mais livremente entre as culturas, no sentido, justamente - em oposição à uniformização estéril -, de poder circular por inteligibilidades diversas para promover, através delas, uma inteligência comum - coisa que não tem nada a ver, bem entendido, com uma cultura única.
Voltemos, como exemplo, aos direitos humanos. Como conceito, como abstração separada da sua cultura de origem, eles podem ser comunicados aos outros povos. Como abstração, os conceitos podem ser manejáveis, identificáveis e transferíveis, tornando-se um instrumento privilegiado de diálogo. A radicalidade conceitual dos direitos humanos está em se apropriar do humano em seu estágio fundamental, enquanto recém-nascido. Esta concepção é transversal e emerge em outras culturas.
O filósofo chinês Mêncio estabelece a consciência da "piedade" como essencial ao humano. Qual homem assiste indiferente à cena na qual uma fera arranca dos braços da mãe uma criança de colo? Na piedade, um indivíduo identifica-se com o seu semelhante. Aqui, ao invés de intersubjetividade, existe transindividualidade, no sentido de que todos os indivíduos estão ligados a uma essência. Para todo o homem, portanto, existe alguma coisa que ele não faz e que ele não pode suportar que aconteça aos outros.
Conhecer o Outro é humanizar e ampliar a moral, restabelecendo a possibilidade de sua refundação e permitindo buscar uma moral que admite a crítica da suspeita.
Assim, como ferramenta de protesto, como instrumento insurrecional, os direitos humanos alcançam uma utilidade mais ampla, abrindo brechas numa totalidade satisfeita, acendendo ou reacendendo nela uma aspiração, dimensão que pode gozar grande utilidade para todas as culturas. Por esta razão, valeria a pena abrir mão da pretensão universal dada em benefício de uma perspectiva universalizante, que sinaliza para a idéia de que o universal está em curso e pode operar como agente promotor, adaptando-se às especificidades culturais. Assim, se deslocaria a questão do teórico para o prático, da verdade para o recurso.
Enfim, um humano desviado por suas diferenças e estabelecido na auto-reflexão não corre, ao contrário do que se poderia imaginar, riscos de se decompor. Pois se permitirá a emergência de um universal liberado dos universalismos instalados aos quais costumamos nos render, destravado das totalidades dadas, desfeito de seus revestimentos ideológicos. Um universal que não cessará de desimpedir renovadamente as condições de possibilidade de um comum sempre ameaçado pelo estreitamento. E, assim, o senso de humano não conhecerá mais limites para crescer e se desenvolver.

Como se processa o diálogo intercultural?

É sobre o plano cultural, mesmo entre os Estados-nação, que se jogam doravante os principais confrontos. A pretensão do Ocidente à universalidade o leva cada vez mais a entrar em conflito com outras civilizações, em particular o Islã e a China. O diálogo emerge aqui como opção e em oposição ao choque. Não se trata, portanto, de afirmar a noção de "identidade cultural" fundada sobre a diferença, e, sobretudo, sobre uma concepção simplista e reducionista que caracteriza as culturas com base em seus traços mais óbvios, o que é inevitável fonte de antagonismos, mas de reconhecer a fecundidade dos distanciamentos e das diferenciações culturais como fonte a ser explorada.
Samuel Huntington, assim, se vale de instrumentos rudimentares de determinismo cultural para alcançar conclusões reacionárias. Por que fundar, por exemplo, a pretensão de uma tradição européia sobre o Cristianismo e não, também, sobre o ateísmo?
Ao contrário, o pensamento contemporâneo está precisamente engajado num dispositivo de auto-reflexão do humano. O humano se reflete - no sentido de se visualizar e de se meditar - quando confrontado ao diverso. Ele se descobre por meio das facetas iluminadas e desdobradas pelas múltiplas culturas, na tradução de sentidos entre uma língua de partida e uma língua de chegada, na des- e na re-categorização de tradições de pensamento.
O diálogo é uma estrutura eficiente e operante que obriga cada uma das partes a re-elaborar suas concepções. Mas em qual língua se daria este diálogo? Digo, sem temer o paradoxo: cada um dialoga na sua língua de origem, mas traduzindo à outra. A tradução obriga a re-elaborar conceitos do Outro no seio de sua própria língua, portanto a reconsiderar seus próprios implícitos, para torná-los disponíveis à eventualidade de um sentido alternativo. Longe de ser uma deficiência, como obstáculo e fonte de opacidade, é a necessidade de traduzir que faz trabalhar as culturas entre elas mesmas. A tradução, a meu ver, é a única ética possível do mundo global que vem aí. É por isso que penso serem os tradutores profissionais-chave no mundo que estamos construindo.

Uma sociedade pode erguer-se a partir da espinha da inter-culturalidade?

Talvez o Brasil seja um país que não apenas faz permanentemente um diálogo intercultural com o exterior, como ainda tenha efetuado um diálogo intercultural interno. Ali as fronteiras entre a cultura popular e a cultura erudita parecem ser tênues. Da mesma forma, o país parece estabelecer pouca resistência às influências culturais exógenas, o que não implica numa descaracterização local ou numa vassalagem. Estímulos internos e externos parecem estar em permanente estado de fusão.

Qual a função do intelectual na sociedade contemporânea?

Na era da mundialização, o engajamento do intelectual não é mais o do posicionamento extremado, em busca de uma radicalidade de princípios, que conduz ao antagonismo de posições. Mas consiste em revelar por quais vias aquilo que parece ruim, ou mau, aquilo que conforma a alteridade, encerra fontes inexploradas ou invisíveis para a descoberta de uma fecundidade possível e cooperativa. E, ainda, num movimento inverso e complementar, em incentivar a diferenciação do pensamento, rearranjando as possibilidades do dissenso de forma a trabalhar ao encontro do consenso, no qual o pensamento, quando não inquirido, está sempre ameaçado de adormecer e de se estiolar.

....

Gunter Axt nasceu em Porto Alegre, em 1969. Bacharelou-se em História pela UFRGS, onde também defendeu dissertação de mestrado, em 1995. Doutorou-se em História Social pela USP, em 2001. Desenvolveu pós-doutorado junto ao CPDOC da FGV-RJ e foi professor visitante na Université Paris VII, Denis Diderot. Foi consultor de várias instituições, dentre as quais o Poder Judiciário e o Ministério Público do RS, o Conselho da Justiça Federal e o Supremo Tribunal Federal. É pesquisador associado do Laboratório de Estudos da Intolerância (LEI), da USP. Escreve regularmente em revistas de cultura e política, de São Paulo e de Porto Alegre. Entre artigos, livros e capítulos de livros, publicou diversos títulos, tendo se especializado gestão cultural e em história política, econômica, judiciária e cultural do Brasil.

www.gunteraxt.com

No Reino

[...] no Reino [de Deus na Terra] não haverá problemas económicos, todos hão-de ser como as flores que não fiam nem tecem e andam com os vestuários mais belos do que os de Salomão ou como as aves ligeiras que sempre encontram alimento e lugar para um ninho; no Reino, que se abrirá a todos, sem distinção de nações, de raças, de classes ou de castas, não haverá violências, mesmo as de defesa, nem juramentos, nem posse de bens materiais, nem o homem terá de ser previdente, no contínuo temor da velhice, da doença, da morte; no Reino ninguém terá que trabalhar, o que significa certamente que ninguém terá de se sujeitar  a tarefas que vão contra as suas tendências íntimas, ou abatem a saúde ou são puras formas de escravatura; no Reino se poderá ter o desprezo pelo dinheiro, dado que exista; no Reino não haverá a menor ideia de organização familiar, que Jesus lia, decididamente, a um certo estádio de evolução económica e moral; no Reino não haverá Estado, com príncipes que oprimam os cidadãos; antes cada um será, voluntariamente, por amor e interesse do espírito, o servidor dos outros; no Reino não haverá processos, nem tribunais, nem juízes; no Reino não haverá senão bondade, amor, fervor espiritual, contemplação de ideias, profunda, segura, inabalável felicidade.

Agostinho da Silva, in «Cristianismo»

Fórum

Foi criado um fórum para este grupo: http://umoutroportugal.lefora.com/. O fórum permitirá um melhor acompanhamento quando se iniciarem os trabalhos de cada grupo mas, se quiserem, podem inscrever-se já. Cada membro de cada grupo poderá facilmente ver o que está a acontecer na sua área.

Futuramente e, enquanto não temos um site, também podemos redireccionar a imprensa para lá, pois toda a informação no fórum será de fácil consulta.

Durante a semana que vem vão ser enviados convites aos membros que já facultaram os seus emails.


Uma última nota: o fórum tem publicidade porque é gratuito. Os resultados dessa publicidade revertem todos a favor do Lefora e de nenhum membro deste grupo, como se pode verificar em www.lefora.com.

Um bem-haja para todos e saudações.

Notas sobre Política Cultural Urbana

É fundamental que a política cultural construa uma unidade interna, com vários fios condutores explícitos e publicamente reconhecíveis por todos. Pois, consideramos que programações culturais desconexas, acções avulsas ou agendas ocultas não são sustentáveis em políticas públicas.
Não confundimos cultura com a indústria do entretenimento tão em voga. A cultura é uma capacidade individual e colectiva numa dinâmica de desenvolvimento e integrada num projecto colectivo para o nosso território. 
Enquanto que o entretenimento tende a ser uma consolação anestesiante e cómoda perante as perplexidades complexas do mundo actual, e cuja perspectiva implica exclusivamente a visão do cidadão como mero consumidor («o idiota feliz»). Uma política pública no séc. XXI não pode conformar-se com esta visão hiper-consumista e hiper-individualista:uma cidade não é igual a um supermercado.
 Ao poder político que administra uma cidade e um território exige-se uma posição clara e pró-activa sobre as actuais condições de vida, neste aspecto assumir uma posição neutra é ficar refém dos movimentos e das modas que atravessam os fluxos globais da confusão planetária.

Em nosso entender, é necessário combater o exacerbado individualismo neo-liberal cujos desastrosos resultados estão bem patentes na actual crise e cuja meta foi a de criar hiper-consumidores endividados, e suscitar uma nova dinâmica que promova a criação de capital social, novas conexões sociais capazes que regenerar o ânimo, a confiança e a intersubjectividade criativa entre cidadãos que partilham o mesmo território e alguns os mesmos objectivos e interesses. 
O que de fundamental uma política cultural ao nível municipal deve propor é uma Cultura Cívica, a cultura promovida com os cidadãos, sempre no plural. A tónica no pluralismo é uma preocupação central, pois não se pode reduzir a produção cultural de uma sociedade à hegemonia ou ao pensamento único. Aliás, como refere a UNESCO, a diversidade cultural é o maior tesouro da humanidade, pelo que deve ser protegido e valorizado. 
A cultura é cada vez mais o centro das políticas locais, pela importância que vem revelando no contexto de um paradigma de desenvolvimento humano integral. Para além da atenção que lhe é dirigida graças à sua intima conexão a factores de índole económica, social e urbana; a sua relevância deve-se essencialmente às relações intrínsecas que mantém com as questões da identidade, da memória, da criatividade, da ciência e do pensamento e conhecimento crítico.


A dimensão cultural das cidades contemporâneas deve contribuir para a mobilização de todos os actores sociais individuais e colectivos em torno de um projecto de cidade, naturalmente complexo e aberto às problemáticas do Séc. XXI, justamente considerado o século das cidades.
Num mundo globalizado, as cidades são hoje o lugar onde as expectativas das nações melhor se posicionam. É nas cidades que o desenvolvimento económico futuro se posicionará, na conjugação dos seus capitais culturais e criativos, e na geração de conhecimento e inovação.
Neste sentido, a cultura – enquanto dimensão de política pública – não pode continuar a ser entendida como mero sinónimo de entretenimento ou diversão, mas antes como uma capacidade activa de cidadania: como conjunto de ferramentas simbólicas e conceptuais que os membros de uma comunidade necessitam para lidar com a realidade difusa do mundo contemporâneo e para elaborar novas estratégias de vida colectiva.

O Nascimento do Homem num Portugal Renascido

Penso que é urgente (re)pensarmos a forma como se nasce no nosso país e se estamos, de facto, a seguir o melhor caminho.... apesar de serem referidas estatísticas confortantes, que colocam Portugal na fila da frente dos países com menor número de mortalidade de mães e bebés no momento do parto, há que reflectir sobre o que este número exactamente quer dizer, assim como o que está por trás dele.

Não me interpretem mal; eu acho excelente sermos exemplo de boas práticas médicas que garantem a mães e bebés uma vida saudável! O que sinto é que este facto não pode ser desculpa para fecharmos os olhos ao rol de procedimentos que actualmente são executados, e que marcam negativamente a auto-estima e a auto-confiança de muitas mulheres, assim como a integridade física e psicológica dessas mulheres e de seus bebés recém-nascidos.

A recente experiência que a humanidade tem em partos hospitalares (recente, porque só perto de 2 a 3 gerações de mulheres vêm recorrendo a hospitais, de forma massiva, para o efeito) foi suficiente para que a Organização Mundial de Saúde concluísse que grande parte das práticas realizadas em hospitais para "fazer" nascer bebés em gravidezes de baixo risco, são utilizadas de forma inapropriada, sendo outras altamente desaconselhadas. Podem ler toda a lista (incluindo as práticas aconselhadas) no seguinte link: http://www.humpar.org/recomendacoes_oms

O conhecimento científico refere que, na altura do parto, entram em jogo potentes hormonas que têm um importante papel não só no desenrolar fisiológico do próprio parto, como também no vínculo que a mãe irá estabelecer com o seu filho recém nascido. Agir no sentido de "quebrar" este delicado equilíbrio biológico pode ter consequências devastadoras, por exemplo, no impulso protector da mãe em relação ao seu filho.... que serão tanto mais graves quanto menos desejada e planeada tiver sido essa criança e quanto mais jovem e socialmente desprotegida for a mulher.

Paralelamente a um tratamento frio e excessivamente técnico que a mulher com gravidez de baixo risco pode encontrar no hospital, verificamos um numero crescente de mulheres que recorrem a cesarianas pedidas, sendo este procedimento cirúrgico encarado quase como uma operação estética. Acontece que, independentemente de todos os riscos implicados no procedimento cirúrgico em si, a mulher que se coloca na posição de "operar" o nascimento do seu filho está a aceitar também os riscos para o bebé que tem no ventre. Estes riscos são altos e poucas mulheres têm consciência disto!

Em Portugal existem enfermeiros obstetras que realizam partos no domicílio, com toda a segurança e profissionalismo que a situação exige, e que são altamente descriminados e marginalizados por seus pares profissionais. Isto não pode acontecer! De acordo com as directrizes da OMS (incluídas no link atrás referido), a grávida de baixo risco tem o direito de optar pelo local e pela forma como vai parir, devendo ser respeitada a sua escolha consciente por todas as pessoas envolvidas na assistência ao seu parto. Desproteger o enfermeiro que opta apoiar a mulher que escolhe, em consciência, ter o seu bebé em casa, é desproteger a mulher da segurança a que ela tem direito!

Inverter este ciclo não implica quase nada... no Brasil, existe um Hospital Público que desenvolve um projecto de partos humanizados (ISEA) onde com praticamente nenhum investimento financeiro em recursos materiais e uma boa formação a todos os técnicos (médicos, enfermeiros, auxiliares, etc), foram conseguidos resultados extraordinários, como por exemplo uma reduzidissima taxa de cesarianas (7.7% !... o que é ainda mais baixo do que os 15% sugeridos pela OMS; de notar que antes do projecto, no mesmo hospital, existiam 39,2% de cesarianas). No projecto citado, são referidos os seguintes números: em 181 grávidas atendidas, realizaram-se 185 nascimentos (4 nascimentos gemelares), dos quais 167 partos foram vaginais (158 espontâneos e 9 com recurso a forceps), com nenhuma episiotomia (84 períneos perfeitamente íntegros) e apenas 14 cesareanas se verificaram realmente indispensáveis .
Este projecto brasileiro (ISEA)é só um exemplo, pois um pouco por todo o mundo existem já muitos hospitais e países que praticam uma política de nascimento mais humana e centrada na mulher.

O que estou a sugerir para o novo Portugal, não é nada de muito complicado, nem nada de muito dispendioso. Trata-se apenas de uma mudança de mentalidades, com o respeito pelo outro e pelas escolhas informadas que o outro pode e deve efectuar. Trata-se de compreender que o parto é, acima de tudo, um fenómeno natural e biológico, que se desenrola dentro do corpo da mulher, pelo que é incontornável a necessidade de se olhar para a mulher no seu todo para poder ajudar com eficiência o nascimento de um novo ser. Trata-se de compreender que, se nascer fosse assim tão complicado quanto as aparatosas técnicas hospitalares actuais sugerem, provavelmente a humanidade já tinha sido extinta, muito antes de ter havido tempo para levar as parturientes para os hospitais.


Se pensarmos bem, humanizar o parto é no fundo humanizar o Sistema Nacional de Saúde, realizando uma abordagem do ser humano como um todo, assim como é realizado em tantas outras culturas. Para mim, faz todo o sentido revolucionar o Sistema Nacional de Saúde e garantir, entre outras coisas, Partos Humanizados para todas as mães e bebés que nascem!

"A Arte de Viver Hoje"

"Ser outro, parecer diferente,
Não falar como outra gente,
Louvar tudo, tudo aceitar,
Mentir sempre e bem ficar,
A todo o vento dar pano,
Servir bons, maus, mano a mano,
Fazer tudo, tudo inventar
Com vista a sempre ganhar:
Quem dominar esta arte,
Na política hoje tem sorte"

- Friedrich von Logau (1604-1655), in O Cardo e a Rosa - Poesia do Barroco Alemão (tradução de João Barrento).

Parabéns pelo excelente trabalho

Muito obrigada por aceitar a minha participação, e aproveito para lhe endereçar os meus sinceros parabéns pelo excelente trabalho que tem vindo a desenvolver.
Fernanda

“Comecemos de hoje em diante a viver, como quereríamos ter vivido na hora da morte. Vive assim como quiseras ter vivido quando morras”

- Padre António Vieira, Sermoens, 1 (editio princeps).

Agostinho da Silva: O Professor como Mestre

Não me basta o professor honesto e cumpridor dos seus deveres; a sua norma é burocrática e vejo-o como pouco mais fazendo do que exercer a sua profissão; estou pronto a conceder-lhe todas as qualidades, uma relativa inteligência e aquele saber que lhe assegura superioridade ante a classe; acho-o digno dos louvores oficiais e das atenções das pessoas mais sérias; creio mesmo que tal distinção foi expressamente criada para ele e seus pares. De resto, é sempre possível a comparação com tipos inferiores de humanidade; e ante eles o professor exemplar aparece cheio de mérito. Simplesmente, notaremos que o ser mestre não é de modo algum um emprego e que a sua actividade se não pode aferir pelos métodos correntes; ganhar a vida é no professor um acréscimo e não o alvo; e o que importa, no seu juízo final, não é a ideia que fazem dele os homens do tempo; o que verdadeiramente há-de pesar na balança é a pedra que lançou para os alicerces do futuro.
A sua contribuição terá sido mínima se o não moveu a tomar o caminho de mestre um imenso amor da humanidade e a clara inteligência dos destinos a que o espírito o chama; errou o que se fez professor e desconfia dos homens, se defende deles, evita ir ao seu encontro de coração aberto, paga falta com falta e se mantém na moral da luta; esse jamais tornará melhores os seus alunos; poderão ser excelentes as palavras que profere; mas o moço que o escuta vai rindo por dentro porque só o exemplo o abala. Outros há que fazem da marcha do homem sobre a Terra uma estranha concepção; vêem-no girando perpetuamente nos batidos caminhos; e, julgando o mundo por si, não descobrem em volta mais que uma eterna condenação à maldade, à cegueira e à miséria; bem no fundo da alma nenhuma luz que os alumie e solicite; porque não acreditam em progresso nenhuma vontade de melhorar; são os que troçam daquilo a que chamam «a pedagogia moderna»; são os que se riem de certos loucos que pensam o contrário.
Ora o mestre não se fez para rir; é de facto um mestre aquele de que os outros se riem, aquele de que troçam todos os prudentes e todos os bem estabelecidos; pertence-lhe ser extravagante, defender os ideais absurdos, acreditar num futuro de generosidade e de justiça, despojar-se ele próprio de comodidades e de bens, viver incerta vida, ser junto dos irmãos homens e da irmã Natureza inteligência e piedade; a ninguém terá rancor, saberá compreender todas as cóleras e todos os desprezos, pagará o mal com o bem, num esforço obstinado para que o ódio desapareça do mundo; não verá no aluno um inimigo natural, mas o mais belo dom que lhe poderiam conceder; perante ele e os outros nenhum desejo de domínio; o mestre é o homem que não manda; aconselha e canaliza, apazigua e abranda; não é a palavra que incendeia, é a palavra que faz renascer o canto alegre do pastor depois da tempestade; não o interessa vencer, nem ficar em boa posição; tornar alguém melhor — eis todo o seu programa; para si mesmo, a dádiva contínua, a humildade e o amor do próximo.


Agostinho da Silva, in Considerações

Actualização dos grupos de trabalho

Grupo 1 – Comunicação



Sofia Costa Madeira (coordenadora)
Luís Resina
Ana Sofia Costa
Sílvia Neto
Helena Andrade
Ana Paula Germano
Ethel Feldman
Paulo Borges

Grupo 2 – Reconhecimento constitucional da senciência dos animais

Pedro Taborda de Oliveira
Rui Almeida
Vera Fonseca

Grupo 3 - Economia, Ecologia e Energias alternativas

Carlos Ramos
João Bolila
David Amaral
Maribel Sobreira
Rui Almeida

Grupo 4 - Política

David Amaral
Mário Nuno Neves


Grupo 5 - Educação e Cultura

Luís Resina
Aldora Amaral
José Serrão
Fernando Emídio
Helena Carla Gonçalo Ferreira
Sílvia Neto
Teresa Petrini Reis
Manuel Fúria
Luís Santos
Henrique Areias
Maribel Sobreira
Cristina Moura
Mário Nuno Neves
Cristina Castro
Paulo Feitais
Fernanda Gil
Zé Leonel
Joana dos Espíritos
Duarte Soares
Paulo Borges

Grupo 6 - Saúde

Luís Resina
Sílvia Neto
Helena Andrade
Ana Paula Germano
Yara-Cléo Bueno
Maria da Conceição Pinho
Cristina Castro

Grupo 7 - Portugal, Lusofonia, diálogo entre culturas e religiões


Ana Filipa Teles
Ethel Feldman
Cristina Moura
Paulo Borges - mais coordenação geral (junto com os coordenadores de cada grupo)

Deixem na caixa de comentários os contactos de mail, por favor.

Grupos de trabalho

Car@s Amig@s

Proponho que todos indiquem aqui os seus contactos de mail e que os membros de cada grupo se ponham em contacto para desenvolverem os seus respectivos temas, elegendo um coordenador que integrará a Comissão Coordenadora geral e que ficará responsável pela apresentação do texto final de cada grupo, até ao final de Janeiro.

Proponho também que os membros de cada grupo vão apresentando aqui, de forma sumária, as suas ideias, de modo a poderem ser discutidas por todos e pelos leitores do blogue.

Solicitei à Sofia Costa Madeira, co-administradora deste blogue e particularmente empenhada neste projecto, que coordene o grupo 1, da Comunicação. Ela está também a ver a possibilidade de um Forum ou Site. Se houver um web designer disponível para trabalhar em regime de voluntariado, digam.

Passem a notícia desta iniciativa aos vossos contactos de modo a criarmos o efeito "bola de neve". Sinto que podemos e devemos ir longe com este projecto.

Saudações

Verifiquem as vossas inscrições: são apenas sete grupos!

Peço que verifiquem as inscrições feitas e que vierem a fazer: são apenas 7 grupos de trabalho, que abrangem os 12 temas do Manifesto.

inverno português

impressão de viagem

Grupos de trabalho do Manifesto "Refundar Portugal"

Está constituída a lista provisória de inscritos nos grupos de trabalho do Manifesto "Refundar Portugal", ainda aberta a quem o desejar. Podem consultar também a página do grupo no facebook

http://www.facebook.com/topic.php?uid=161502509390&topic=11768#/group.php?gid=161502509390&ref=ts

Quem desejar colaborar nos grupos e no blogue envie um mail para pauloaeborges@gmail.com

Recordo que o objectivo é que cada grupo elabore um documento sintético (2 páginas) onde resuma as propostas essenciais em cada área e os meios da sua implementação. Daí surgirá um texto conjunto que será apresentado em público à comunicação social, como plataforma de um movimento de intervenção cívica e cultural a lançar no início de 2010.

Saudações Amigas

.....

Luís Resina - 1, 5, 6
Sofia Costa Madeira - 1
Aldora Amaral - 5
José Serrão - 5
Fernando Emídio - 5
Ana Sofia Costa - 1
Helena Carla Gonçalo Ferreira - 5
Pedro Taborda de Oliveira - 2
Sílvia Neto - 1, 5, 6
Teresa Petrini Reis - 5
Helena Andrade - 1, 6
Carlos Ramos - 3
João Bolila - 3
Ana Paula Germano - 1, 6
Manuel Fúria - 5
Luís Santos - 5
Henrique Areias - 5
Ana Filipa Teles - 7
Yara-Cléo Bueno - 6
Paulo Borges - 1, 7, coordenação geral (junto com os coordenadores de cada grupo)


Por grupo:

Grupo 1 – Comunicação

Luís Resina
Sofia Costa Madeira
Ana Sofia Costa
Sílvia Neto
Helena Andrade
Ana Paula Germano
Ethel Feldman
Paulo Borges

Grupo 2 – Reconhecimento constitucional da senciência dos animais

Pedro Taborda de Oliveira
Rui Almeida

Grupo 3 - Economia, Ecologia e Energias alternativas

Carlos Ramos
João Bolila
David Amaral
Maribel Sobreira
Rui Almeida

Grupo 4 - Política

David Amaral
Mário Nuno Neves


Grupo 5 - Educação e Cultura

Luís Resina
Aldora Amaral
José Serrão
Fernando Emídio
Helena Carla Gonçalo Ferreira
Sílvia Neto
Teresa Petrini Reis
Manuel Fúria
Luís Santos
Henrique Areias
Maribel Sobreira
Cristina Moura
Mário Nuno Neves
Cristina Castro
Paulo Borges

Grupo 6 - Saúde

Luís Resina
Sílvia Neto
Helena Andrade
Ana Paula Germano
Yara-Cléo Bueno
Maria da Conceição Pinho
Cristina Castro

Grupo 7 - Portugal, Lusofonia, diálogo entre culturas e religiões

Ana Filipa Teles
Ethel Feldman
Cristina Moura
Paulo Borges - mais coordenação geral (junto com os coordenadores de cada grupo)

Síntese das propostas fundamentais do Manifesto "Refundar Portugal" e grupos de trabalho

Caras Amigas e Amigos,

Aqui se apresentam as propostas fundamentais do Manifesto "Refundar Portugal" e a proposta de constituição de grupos de trabalho. O esquema é um ponto de partida, sujeito a alterações em função das vossas contribuições. O objectivo é a constituição de uma proposta mais desenvolvida, que se materialize num documento a ser publicado e apresentado publicamente, como suporte de um movimento de intervenção cívica e cultural a ser igualmente apresentado no início de 2010.

Peço-vos que digam em que grupos de trabalho se inscrevem, indicando os vossos nomes e contactos, e procurando outras pessoas competentes para esta iniciativa. Para outros esclarecimentos, podem contactar-me em:

pauloaeborges@gmail.com

Isto não é para ficar, como tantas outras coisas, no plano das intenções e das palavras, mas, para isso, precisa da autoresponsabilização individual de todos e cada um de nós. Temos de assumir o direito e o dever de construirmos o melhor país possível, como contributo para um mundo melhor para todos os seus habitantes.

Temos de ser a diferença que desejamos.

Saudações Amigas

Paulo Borges

....

Síntese dos pontos e propostas do Manifesto “Refundar Portugal”:

1.Desenvolvimento económico sustentável, harmonia ecológica e bem-estar humano e animal. Reconhecimento na Constituição da senciência animal.

2.Modelos de desenvolvimento alternativos, energias alternativas e promoção da sustentabilidade económica do país, desenvolvendo as economias locais.

3.Predomínio da ética e da política sobre a economia, de modo a que a produção e distribuição de riqueza vise a) o bem comum do ecosistema e dos seres vivos e b) o acesso de todos à educação e cultura.

4.Programa pedagógico de redução do consumo.

5.Serviço público de saúde eficiente e acessível, que permita optar, além da medicina convencional, por medicinas alternativas de eficácia comprovada.

6.Reduzir o consumo de carne, pelo efeito nocivo sobre o meio ambiente, a saúde pública e o bem-estar humano e animal. Divulgar dietas alternativas e reduzir os impostos sobre os produtos biológicos.

7.Reorientar o investimento público, privilegiando os domínios da saúde, educação e cultura. Reduzir os salários e reformas mais elevados dos funcionários do Estado e aumentar os impostos sobre os altos rendimentos.

8. Redignificar os professores e os profissionais ligados à educação e à cultura. Praticar um ensino que vise a formação integral da pessoa.
Incorporar disciplinas que informem e sensibilizem para o respeito pela natureza e por todas as formas de vida, bem como para a diversidade de paradigmas culturais e religiosos. Integrar as técnicas de atenção (meditação) nos currículos escolares.
Proteger a vida familiar e aumentar o nível das televisões públicas.

9.Assumir Portugal como nação defensora dos direitos humanos e dos seres vivos.

10.Aprofundamento das relações culturais, económicas e políticas com os países e regiões de língua portuguesa.

11.Promoção da cultura portuguesa e lusófona no mundo e assunção de Portugal e da Lusofonia como um espaço universalista, de diálogo intercultural e inter-religioso.

12.Regeneração da democracia em Portugal, reforma do Estado e do sistema eleitoral. Regionalização e descentralização. Introduzir a ética na política e no tecido empresarial. Mobilizar os absentistas e estimular a consciência e participação cívicas.

Grupos de trabalho específicos:

Indicam-se as grandes áreas de trabalho e as competências necessárias, por parte de pessoas com formação específica ou com conhecimento adquirido por estudo e experiência pessoal, desde que estejam de acordo com a visão geral do Manifesto. Indicam-se os pontos do Manifesto que cada grupo deverá contemplar. Cada grupo elegerá um coordenador e alguém que faça a recruta de mais membros.

1.Comunicação – Informar e sensibilizar para este projecto, na sua globalidade, bem como encontrar as melhores estratégias para o difundir e converter num movimento de opinião eficaz, sem manipulações. Pessoas ligadas à comunicação, jornalistas, marketeers, especialistas em e-marketing e social media, publicitários, escritores, artistas, figuras públicas. Grupo de âmbito geral.

2.Reconhecimento constitucional da senciência dos animais – Zoólogos, etólogos, animalistas, juristas e especialistas de Direito Constitucional (1)

3.Economia, Ecologia e Energias alternativas – Economistas, ecólogos, ambientalistas, biólogos, filósofos, juristas, gestores, engenheiros agrícolas, agricultores e outros especialistas nestes domínios (2, 3 e 4).

4.Política – Filósofos, sociólogos, juristas, cientistas políticos (3, 4, 7, 12).

5.Educação e Cultura – Professores, educadores, pedagogos, pais, psicólogos, filósofos, escritores, artistas, agentes culturais (7, 8, 9, 10, 11).

6.Saúde – Médicos e terapeutas formados na medicina tradicional no Ocidente e em medicinas e terapias alternativas, nutricionistas (5, 6).

7.Portugal, Lusofonia, diálogo entre culturas e religiões – Filósofos, teólogos, religiosos, antropólogos, sociólogos, diplomatas (9,10, 11).

Os coordenadores de cada grupo integrarão uma Comissão Coordenadora desta iniciativa.

Vejam antes que retirem do YouTube

Religious harmony is still very much alive in India. So rest of the world must learn that.

Dharamsala, HP, India, 27 November 2009 (http://www.phayul.com/

His Holiness the Dalai Lama attended the 18th annual National Conference of the Vitreo-Retinal Society Thursday in Palampur, some 40 kms from here, after concluding a 3 day teaching and initiation for Russian Buddhists yesterday.

Speaking at the conference, His Holiness the Dalai Lama said the world should learn religious harmony from India.

“Religious harmony is still very much alive in India. So rest of the world must learn that.”

His Holiness the Dalai Lama spoke highly of India saying that the concept of Non Violence or “Ahimsa” was an ancient Indian philosophy and that he was only a messenger conveying the principles of Non-Violence everywhere he travels. [...]

fonte:  http://www.dalailama.com/news.491.htm

A Escola que temos é a escola que queremos?

A Escola Portuguesa

o rosto com que fita


Portugal, Europa e Ocidente: o enigma do "olhar esfíngico e fatal" e o rapto de Europa



Ticiano, O rapto de Europa

“A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.

O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.

Fita, com olhar esfíngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.

O rosto com que fita é Portugal”

- Fernando Pessoa, “O dos Castelos”, Mensagem.

É com este poema que Fernando Pessoa abre a Mensagem, cujo nome cifra o dizer latino: Mens ag(itat) (mol)em – o pensamento/a inteligência/a mente impele/põe em movimento a massa(matéria)/multidão. O presente poema deve pois ser considerado como o primeiro momento disso que todo o livro pretende e anuncia ser: mover e orientar numa determinada direcção a massa passiva e inconsciente das coisas e/ou da mole humana, o que supõe nesta a potencialidade de deixar de o ser, despertando do sono que a equipara à matéria e pondo-se a caminho de um estado superior de consciência.

De quem fala o poema e o que diz? O poema fala da Europa, figurada, de acordo com as sugestões do seu mapa, como um ser, decerto feminino, que “de Oriente a Ocidente” se deita, apoiado “nos cotovelos”, “fitando”, ou seja, olhando fixamente para um alvo diante de si. Um dos cotovelos pousa na Itália e o outro na Inglaterra, sendo este que sustenta a mão “em que se apoia o rosto”, onde a moldura romântica dos cabelos evoca “olhos gregos”. Esse rosto, “o rosto com que fita”, “é Portugal”, o finistérreo extremo-ocidente europeu, voltado para o Oceano.

Recordemos a mitologia acerca de Europa, mulher fenícia de Tiro, cujo nome, do grego, sugere etimologicamente a imagem de um rosto ou visão amplos (ευρυ-, largo, amplo, e οπ-, olho(s), rosto). Nas duas versões acerca do seu destino, na mais conhecida é seduzida por Zeus transformado em touro, o qual, após haver conquistado a sua confiança, subitamente a rapta e leva pelo mar para Creta, onde se une com ela. Dessa união nascerá o rei Minos. Noutra versão, narrada por Heródoto, Europa é sequestrada pelos minóicos e levada igualmente para Creta.

Notemos que a Europa é, curiosamente, uma figura não indo-europeia, pois os fenícios, segundo Heródoto, provêm do Oceano Índico, enquanto que, segundo a moderna historiografia, procedem de uma região entre o Mar Morto e o Mar Vermelho. O seu nome significa em grego “vermelho” e pode provir da cor da sua pele (Agostinho da Silva refere-os como os “pele-vermelhas”. Foram uma grande potência marítima, um povo de viajantes, que fez um trânsito de Oriente para Ocidente. Quanto ao mito do rapto de Europa, sugere-nos a essência do seu destino como o de ser seduzida, descentrada, arrebatada ao seu lugar original por uma potência divina que a fecunda. Isto em Creta, lugar de mediação entre Oriente e Ocidente, entre as raízes arcaicas, matriarcais e não indo-europeias da futura cultura europeia, e o seu futuro bélico prefigurado nos invasores aqueus indo-europeus. Creta, lugar perigoso do labirinto, da errância por várias possibilidades de destino, mas com uma única saída salvadora. Lugar do risco de se ser devorado pelo Minotauro e da possibilidade de saída libertadora pelo encontro do fio de Ariana.

Portugal, com a sua larga costa voltada para o Oceano, sugerindo um perfil contemplando o infinito, é assim na verdade não apenas o rosto da Europa, mas esse mesmo “rosto” ou “visão” amplos que diz o nome Europa. Portugal é a essência da Europa, a essência que em si contêm e encerra as complexas possibilidades que no mito se entrecruzam e entremostram: a ponte e mediação entre Oriente e Ocidente, entre o arcaico e o novo, a sedução pela alteridade, o rapto, o arrebatamento e a fecundação pelo divino, a labiríntica errância entre perdição e salvação e o rosto/visão ampla que é, simultaneamente, limite e limiar, limite que se pode converter em limiar.

O que fita então esse rosto-Portugal/Europa e como o fitam os seus “olhos gregos”, que agora supomos serem cretenses? O seu “olhar esfíngico e fatal” fita “o Ocidente, futuro do passado”. Uma esfinge é um monstro, com um corpo misto de vários animais e rosto humano, como no Egipto e na Grécia, enquanto um “olhar esfíngico e fatal” é um olhar que expressa um enigma sempre letal, pois estrangula (sphingo) e devora quem não o decifrar, ao mesmo tempo que se suicida caso a decifração aconteça, como no Édipo Rei, de Sófocles. A mulher fenícia é então uma Esfinge e Portugal o rosto humano desse monstro, que se estende de Oriente a Ocidente contemplando fixamente o Ocidente/Oceano. O Ocidente, do latim occidens, entis, é o particípio presente do verbo occidere, o qual, se for intransitivo, significa morrer e, se for transitivo, significa matar. O Ocidente é assim o lugar onde se morre ou se é morto, como acontece com o sol que aparentemente aí declina e desaparece. Esse lugar é também o Oceano, o Okeanos que os gregos visionavam como o grande rio caótico e turbilhonante que corria circularmente em torno do mundo. Em qualquer dos casos, o Ocidente e o Oceano, para além da sua determinação geográfica, assinalam o aparente limite da terra firme do conhecimento e da vida, figurado na linha igualmente aparente do horizonte, cuja etimologia grega (orizón) designa “o que limita”. É isso o “futuro do passado” e é isso que a Europa-Esfinge, que “jaz […] / De Oriente a Ocidente”, amplamente “fita” com o rosto-Portugal.

Este confronto configura uma situação-limite, na qual uma das instâncias do confronto – Portugal, rosto-essência da Europa, e o Ocidente/Oceano, “futuro do passado” – não pode sobreviver. O rosto-Portugal fita, ou seja, foca unidireccionadamente, concentrando toda a energia do desejo numa visão intensa, isso que está diante de si, esse Ocidente/Oceano/Horizonte ignoto que é o “futuro” desse “passado”-Europa que Portugal ainda é, porém já na condição anfíbia de finistérrea ponta extrema, lançada para o alvo da alteridade absoluta, irredutível a qualquer identidade europeia, ocidental ou outra. Rosto humano da monstruosa Esfinge-Europa, que aqui pode figurar todo o próprio “passado” euroasiático da história do mundo, ou tudo o que ela mesma aspira a ultra-passar em si, Portugal figura o descentramento da história, da vida e da consciência europeia, e/ou da própria consciência, para o desenlace crucial do morrer ou matar que no Oceano/Ocidente se simboliza. Portugal incarna, no rosto/visão amplos descentrados para a alteridade infinita, a própria essência da Europa, ou seja, a sua sedução, rapto e arrebatamento jamais terminados e apaziguados, a própria condição da sua divina fecundação e criatividade.

Não esqueçamos que neste quadro da Europa que abre a Mensagem se destacam explícita e implicitamente os quatro momentos-figuras histórico-civilizacionais que Pessoa identifica nos quatro impérios “passados” e perecíveis cuja superação o Quinto Império simboliza: “E assim, passados os quatro / Tempos do ser que sonhou, / A terra será teatro / Do dia claro, que no atro / Da erma noite começou. // Grécia, Roma, Cristandade, / Europa – os quatro se vão / para onde vai toda idade. / Quem vem viver a verdade / Que morreu D. Sebastião?” (“O Quinto Império”). No poema inaugural da Mensagem, a Grécia está representada pelos “olhos gregos”, Roma e a Cristandade pela Itália e a Europa por si mesma e pela Inglaterra, que personifica o quarto império noutros textos, em prosa, de Pessoa.

O mais fundo enigma reside, contudo, no facto de Portugal ser o “rosto”-“olhar esfíngico e fatal” com que a Europa fita o Ocidente. O que quer dizer que o enigma mortal não está propriamente diante, no Ocidente/Oceano, mas antes nesse que os fita. Portugal, como rosto-essência da Europa, é o próprio esfíngico enigma que, numa inesperada inversão da situação aparente, é suposto ser também contemplado pelo Ocidente/Oceano. Quem levará quem à morte? Paralisará e devorará Portugal, rosto-essência da Europa, o Ocidente/Oceano, caso este não decifre o enigma que transporta? Porá Portugal, rosto-essência da Europa, fim à vida, caso o Ocidente-Oceano o decifre? Morrerá o futuro e a alteridade às mãos do passado e do mesmo ou serão antes estes a perecer perante aqueles?

Toda a lógica e intencionalidade da Mensagem e do pensamento pessoano apontam para a segunda possibilidade. E tudo se esclarece se considerarmos que em Portugal se figura a impossível coexistência das duas figuras e a encruzilhada crucial na qual uma tem de ser sacrificada. Talvez seja precisamente esse o enigma. Tudo depende do que vai predominar em Portugal - que Pessoa vê como a quinta-essência do complexo de possibilidades que é a própria Europa - e, a um nível mais fundo, na possibilidade universal do homem e da consciência que Portugal aqui figura (como Israel, a Cristandade ou o Islão nas respectivas culturas): ou a asfixia e deglutição da adveniente alteridade pela monstruosa mesmidade passada ou o autocolapso desta no desentranhamento e desvendamento do secreto fito a que no mais íntimo aspira - morrer e devir, autotranscender-se trespassando a linha do horizonte e revelando a sua mera aparência, converter e revelar o limite como limiar. Ou o quarto ou o Quinto Império, como consumação do íntimo fito da consciência europeia e da própria consciência, tanto mais comprovado quanto mais aparente e visceralmente o rejeita: ser, agora e sempre, divinamente seduzida, raptada, arrebatada e enfim fecundada.

Labirinto que é, talvez só nesse rapto, só nesse abandono e entrega à alteridade absoluta, possa encontrar o fio de Ariana que a resgate de morrer devorada pelo Minotauro, ou seja, autodevorada pelo próprio medo e desejo de segurança agressivos que este, tal como a Esfinge, personificam.

(texto em elaboração)

Blogue, fórum e movimento Refundar Portugal/Outro Portugal

O blogue, fórum e movimento Refundar Portugal/Outro Portugal é um projecto de dar voz às nossas melhores aspirações a um país melhor para todos, em que a primazia seja dada não ao combate contra os outros, mas à assunção da nossa responsabilidade por sermos a diferença que julgamos faltar a Portugal e ao mundo e, ao mesmo tempo, por concebermos e propormos as transformações que julgamos necessárias para que a nossa comunidade mais imediata se torne mais consciente, solidária e feliz.

Este projecto visa dar voz às ideias dos cidadãos acerca do melhor sentido a dar à nossa vida colectiva, livres de compromissos partidários e dos grupos em luta pelo poder político-económico. Independentemente de qual for o resultado desta iniciativa, o simples facto de ela existir é já o seu triunfo, pois significa que não passámos pela vida indiferentes e distraídos da nossa vocação a enriquecermos a existência com conhecimento e amor.

Divulguemos esta iniciativa e saiamos da passividade e conformismo em que andamos. A esfera armilar é o símbolo de um Portugal-Universo, aberto a tudo e a todos, a uma cidadania planetária e cósmica.

Saudações

Alguns blogs e sites que divulgaram o Manifesto

Pode ser consultado no fórum. Vou tentar manter o mais actualizado que conseguir.

arronches 1


Do homem honesto e do homem vulgar

"O homem honesto considera o bem universal e não a vantagem particular, enquanto que o homem vulgar não vê senão a vantagem particular e não o bem universal"

- Confúcio, Analectos, II, 14.

4ª Conferência Internacional sobre o FIB: discurso do 1º Ministro do Butão, Lyongpo Jigme Thinley

Canadá, Outubro de 2008.


(...)Neste meu mandato, começamos a nossa ardente jornada de combinar democracia e FIB. Estamos nos comprometendo a assegurar que a confiança dos nossos reis no seu povo, e a confiança do povo em nós, os eleitos, não seja traída. Fizemos a promessa de consolidar e fortalecer as condições que irão possibilitar que cada cidadão encontre a felicidade.

Vocês aqui chegaram logo após a coroação de sua majestade o Rei Jigme Khesar, como o quinto Druk Gyalpo. A coroação de sua majestade tem um especial significado para o FIB, pois sua majestade e o seu reino personificam o FIB. O Rei enfatizou a promoção do FIB como sendo sua responsabilidade e prioridade, como tornou isso claro no seu discurso de coroação,
“..... quaisquer que sejam as metas que tenhamos – e não importa o quanto essas metas mudem neste cambiante mundo – em última instância, sem paz, segurança, e felicidade, nada temos. Essa é a essência da filosofia da Felicidade Interna Bruta. Eu também rezo para que, enquanto for o rei de uma pequena nação no Himalaia, possa, durante o meu reinado, fazer muito para promover o maior bem-estar e felicidade de todas as pessoas neste mundo – de todos os seres sencientes”.

Felicidade Interna Bruta enquanto meta e propósito do desenvolvimento é fruto da sabedoria de sua majestade o quarto Rei, nascida da sua dedicação de entender, articular e preencher os desejos mais profundos dos seu povo. O FIB serviu como o principal motivador e base para todas as políticas e ações durante o seu glorioso reinado de 34 anos. Na medida em que a realidade do nosso insustentável e incompleto modo de vida se torna ominosamente, e de fato, devastadoramente clara no nosso problemático mundo, acredito que o FIB, visto como um paradigma alternativo de desenvolvimento, se tornou mais relevante do que nunca.

Para a organização de todas as conferências sobre o FIB o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) foi um parceiro excepcionalmente generoso e disponível. A vocês, do PNUD, vai o crédito de do interesse cada vez mais amplo pelo FIB, e a crescente convicção da urgente necessidade de se encontrar uma alternativa para o nosso ganancioso, explorador, e insaciável estilo de vida, ditado pela nossa fé na infalibilidade das forças do mercado, as quais, por sua vez, extraem seu poder da ambrosia do consumismo.

É muito encorajador observar como que aspectos do FIB estão sendo implementados de baixo para cima, de uma forma não centralizada, em muitas comunidades locais ao redor do mundo. Grandes mudanças de governos em prol do reconhecimento daquilo que seja o verdadeiro progresso, e de como este deve ser medido, podem de fato somente acontecer quando cidadãos e organizações, dispersos como são, agem em uníssono e convergentes, impulsionados por uma nova consciência. Tais ações estão sendo estimuladas pelas colaborativas atividades de instituições de pesquisa de vanguarda pelo mundo, as quais estão sendo respaldadas por pessoas e líderes iluminados.

Sem ser complacente, seria benéfico que intensificássemos a colaboração internacional nas mensurações, enquanto enfatizássemos a necessidade de se manter o foco na formulação de aplicações práticas em termos de projetos e programas enraizados nos locais onde o verdadeiro povo se encontra, e onde as genuínas e significativas mudanças de base devam acontecer. Nesse sentido, parece que é mais fácil desenvolver medidas ou indicadores de progresso para o FIB do que formular abordagens que possam de fato reformar ações de políticas públicas.
A questão com todas as tentativas de se medir o desenvolvimento holístico é a de persuadir a reconfiguração das políticas públicas, a reestruturação ou a reorientação das instituições, e a transformação do comportamento humano.

Para esse fim, talvez até que tenhamos que ser suficientemente corajosos para sugerir alternativas às políticas concorrentes, através das quais os propósitos comuns e as visões são freqüentemente derrotadas pelas convencionais divisões de esquerda versus direita, a favor-do-mercado versus socialismo, cálculos eleitorais versus interesses de longo prazo. Enquanto que todos reconhecem a globalização e a realidade da "aldeia global", as políticas públicas em todos os níveis precisam transcender as perspectivas paroquiais, nacionais e regionais para responder aos problemas globais, tais como a exaustão dos compartilhados recursos naturais e a erosão da consciência ética e moral. Mesmo que aceitemos as democracias como parte da solução, precisamos nos dar conta daquilo que a filósofa Onora O'Neill disse: "A democracia pode nos mostrar aquilo que é politicamente legítimo; não pode mostrar o que é eticamente justificável".

Eu ouso até dizer que o vocabulário e a arquitetura contemporâneos da governança não estão em perfeita harmonia com a governança para o FIB. Práticas baseadas nas mensurações do FIB irão, tenho certeza, requerer alterações nas estruturas tradicionais de governo, nos objetivos e normas administrativas. Para começar, as ferramentas e os critérios para a seleção dos projetos e dos programas devem estar alinhados com o FIB. Em seguida, vem a questão dos critérios decisórios quanto a como se usar o orçamento público, visando o bem público. Esses critérios necessitam de uma revisão, bem como o que é que se entende por "bem público". Parece que a felicidade, enquanto bem público, não consta como sendo o resultado intentado da maioria dos gastos públicos. Todavia, o que então não irá mudar é o desafio de política pública que vise melhorar o bem-estar do indivíduo sem comprometer o bem-estar do coletivo e vice-versa. Mas como se obtém esse judicioso equilíbrio entre os dois? Haverá aí uma dicotomia?

Enquanto que essa augusta reunião discute o tema da prática e da mensuração do FIB, eu convido vocês para que ponderem as muitas perguntas que me assombram. Como que se pode criar uma sociedade iluminada na qual os cidadãos sabem que a felicidade individual é fruto da felicidade e ação coletivas -- que a duradoura felicidade está condicionada pela felicidade dos indivíduos à sua volta -- e que se esforçar pela felicidade dos outros é o caminho mais seguro para se desfrutar de experiências gratificantes que trazem a verdadeira e duradoura felicidade? Como poderemos persuadir as pessoas para que adotem um novo paradigma ético que rejeite o consumismo? Como poderemos convencê-las de que o paradigma de crescimento ilimitado num mundo finito não é apenas insustentável e injusto com as futuras gerações, mas também espreme para fora as nossas buscas sociais, culturais, estéticas e espirituais?

Até mesmo a justificativa para crescimento econômico visando mitigar a pobreza soa demasiado dúbia, a menos que radicalmente melhoremos a distribuição de renda. Vergonhosamente pouco da mitigação da pobreza vem da enorme riqueza gerada na economia global agregada. O mesmo se aplica ao argumento de que precisamos crescer de modo que haja dinheiro para consertar os problemas ambientais. Acreditar nisso é acreditar em matar o paciente para curar a doença. Evidências de que precisamos crescer economicamente para sermos coletivamente mais felizes são até mais escassas nos países ricos. Bem, então como se pode advogar um novo conceito de produtividade, riqueza, prosperidade e plenitude, que têm pouco a ver com possessões materiais e com a marginalização dos mais frágeis, e mais a ver com o bem-estar social, psicológico e emocional?

Será que é suficiente sabermos como medir a felicidade, e esperar que isso irá influenciar a formulação de políticas públicas? Será suficiente formular políticas públicas baseadas no FIB? E o que dizer da vontade e capacidade políticas, considerando o fato que esses aspectos, numa democracia, são respostas condicionadas por demandas e aspirações populares? Logo, se as pessoas não forem capazes de compreender e favorecer as políticas públicas baseadas em FIB, será que os políticos ousarão? E se eles ousarem, será que serão bem sucedidos? Como podemos começar esse processo? Como podemos internalizar, além do questionamento intelectual e das declarações, os valores dos quais falamos? Como que nós, enquanto acadêmicos, pensadores, cientistas, líderes e responsáveis cidadãos, podemos mudar nosso modo de vida e comportamento?

Estou chegando agora ao final do meu humilde discurso. A sabedoria tradicional nos diz que novas idéias e novos pensamentos emergem do caos e da devastação. Se o FIB precisa ser a nova ordem, então a antiga ordem parece estar sucumbindo, conforme se manifestam as múltiplas crises que estão testando a relevância e a sustentabilidade da ordem prevalecente. As crises financeira, energética e alimentícia, bem como as calamidades naturais com magnitudes e freqüências jamais vistas, creio eu, soam os sinais de alarme para nos avisar que devemos nos afastar do modo de vida que temos até agora adotado.

Grato pela paciência.

Tashi Delek! – Que prevaleça o melhor do melhor.


Fonte:
http://felicidadeinternabruta.blogspot.com/

FIB em vez de PIB: o Reino Budista do Butão apresenta ao mundo a mais genial criação político-social dos nossos tempos.

Fonte:http://www.felicidadeinternabruta.org.br/

FELICIDADE INTERNA BRUTA (FIB) é um indicador sistêmico desenvolvido no Butão, um pequeno país do Himalaia. O conceito nasceu em 1972, elaborado pelo rei butanês Jigme Singya Wangchuck. Desde então, o reino de Butão, com o apoio do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), começou a colocar esse conceito em prática, e atraiu a atenção do resto do mundo com sua nova fórmula para medir o progresso de uma comunidade ou nação. Assim, o cálculo da “riqueza” deve considerar outros aspectos além do desenvolvimento econômico, como a conservação do meio ambiente e a qualidade da vida das pessoas.

FIB é baseado na premissa de que o objetivo principal de uma sociedade não deveria ser somente o crescimento econômico, mas a integração do desenvolvimento material com o psicológico, o cultural e o espiritual – sempre em harmonia com a Terra.

As nove dimensões do FIB são:

1) BEM-ESTAR PSICOLÓGICO

Avalia o grau de satisfação e de otimismo que cada indivíduo tem em relação a sua própria vida. Os indicadores incluem a prevalência de taxas de emoções tanto positivas quanto negativas, e analisam a auto-estima, sensação de competência, estresse, e atividades espirituais.

2) SAÚDE

Mede a eficâcia das políticas de saúde, com critérios como auto-avaliação da saúde, invalidez, padrões de comportamento arriscados, exercício, sono, nutrição, etc.

3) USO DO TEMPO

O uso do tempo é um dos mais significativos fatores na qualidade de vida, especialmente o tempo para lazer e socialização com família e amigos. A gestão equilibrada do tempo é avaliada, incluindo tempo no trânsito, no trabalho, nas atividades educacionais, etc.

4) VITALIDADE COMUNITÁRIA

Foca nos relacionamentos e interações nas comunidades. Examina o nível de confiança, a sensação de pertencimento, a vitalidade dos relacionamentos afetivos, a segurança em casa e na comunidade, a prática de doação e de voluntariado.

5) EDUCAÇÃO

Leva em conta vários fatores como participação em educação formal e informal, competências, envolvimento na educação dos filhos, valores em educação, educação ambiental, etc.

6) CULTURA

Avalia as tradições locais, festivais, valores nucleares, partipação em eventos culturais, oportunidades de desenvolver capacidades artísticas, e discriminação por causa de religião, raça ou gênero.

7) MEIO AMBIENTE

Mede a percepção das cidadãos quanto a qualidade da água, do ar, do solo, e da biodiversidade. Os indicadores incluem acesso a áreas verdes, sistema de coleta de lixo, etc.

8) GOVERNANÇA

Avalia como a população enxerga o governo, a mídia, o judiciário, o sistema eletoral, e a segurança pública, em termos de responsibilidade, honestidade e transparência. Também mede a cidadania e o envolvimento dos cidadãos com as decisões e processos políticos.

9) PADRÃO DE VIDA

Avalia a renda individual e familiar, a segurança financeira, o nível de dívidas, a qualidade das habitações, etc.

Publicado por João Read Beato em:

umoutroportugal.blogspot.com

O melhor serviço que se pode prestar a Portugal e à comunidade lusófona

O melhor serviço que se pode prestar a uma pátria ou espaço linguístico-cultural, o melhor serviço que se pode prestar a Portugal e à comunidade lusófona, não é mantê-los nos seus limites e promovê-los narcisisticamente, mas antes alargar os seus horizontes, aprofundando e criando pontes e mediações com todos os povos e pátrias, com todas as línguas e culturas.

É assim que se acede a uma dimensão civilizacional e é assim que se faz de uma pátria e de uma cultura um suporte e não um obstáculo para a evolução mental dos indivíduos e da sociedade. Essa é hoje a tarefa de um patriotismo universalista, que seja um abraço armilar ao mundo e ao universo, humano e não-humano.

Esse é hoje o rumo de um Outro Portugal.

Notas sobre Política Cultural Urbana 2


Neste sentido, a cultura deixa de ser considerada um luxo apenas de alguns, para proclamar-se como um direito de todos: cultura cívica. Proclamação cuja real existência requer uma atenta intervenção pública, pois não basta dizer ou escrever que “a cultura é para todos”. É imperativo analisar-se, por exemplo, quem são os utentes dos equipamentos culturais, de modo a verificar que segmentos sociais efectivamente os frequentam ou não, tendo em consideração a composição social da população. E, consequentemente, delinear as estratégias que permitam corrigir essas mesmas assimetrias e diminuir a selectividade social dos públicos da cultura, promovendo a inclusão daqueles que pouco ou nada têm usufruído dos seus direitos humanos e dos seus direitos culturais.
De facto cultura, cidade e sociedade são dimensões em constante interdependência. Não há cidade, nem sociedade sem cultura(s). Por conseguinte, pode dizer-se que cultura e sociedade são mutuamente constitutivas do todo social. A qualidade de uma afecta a plenitude da outra e vice-versa.


É nossa convicção que a arte é por si mesma uma fonte inspiradora de visões do mundo polémicas e não consensuais, pelo que a intervenção em políticas públicas de cultura se deve abster de a programar.  
Umas das finalidades fundamentais das políticas públicas de cultura é a de desenvolver o protagonismo cultural da sociedade civil, das populações, dos artistas e criadores, dos grupos amadores, das associações, das indústrias culturais e criativas, na sua potencial diversidade e riqueza de conteúdos. Reduzindo o mais possível o protagonismo do Estado/Governo enquanto “produtor de cultura”, pois este defeito confunde-se na maioria das vezes com a instrumentalização da cultura para fins eleitorais.


Nenhuma política cultural se desenvolve no vazio, nem a partir do vazio. As cidades têm um passado, um presente e um futuro, têm ideias, têm imaginários, têm pessoas e grupos com identidades culturais variadas. As cidades são isso mesmo, a materialização das ideias ao longo do tempo, em ambientes mais ou menos criativos. As cidades devem ser o produto das suas culturas (sempre no plural: culturas), do debate das suas ideias e dos seus valores humanos.
As cidades não podem ser meras máquinas artificiais e administrativas capturadas pelos fluxos globais de hegemonização, da informação e do financiamento. Nem produtos “prontos-a-consumir” enclausuradas numa cultura burocrática.
E quanto a isto não tenhamos ilusões, ou as cidades conseguem mobilizar-se colectivamente e criar dinâmicas adequadas aos novos tempos, ou não. Por todo o mundo, por toda a Europa e em Portugal, o panorama é idêntico: há cidades genuinamente reflexivas e criativas, e há cidades em declínio mais ou menos acentuado.O mesmo vale para os países, claro!
 

 

Como participar no fórum

O objectivo do fórum Um Outro Portugal é, por um lado, ser uma base de dados de recursos para os diferentes grupos e, por outro, permitir uma fácil e transparente leitura dos trabalhos do movimento.

Pode participar colaborando num dos grupos, pode participar igualmente com contribuições de sites, textos, legislação, informação sobre o que se passa no mundo sobre os temas relevantes e multimédia para a base de dados, ou com pensamentos e reflexões de pensadores e filósofos.

Pode participar também com os seus pensamentos, reflexões, conhecimentos e recursos próprios ou ainda discutindo os tópicos que lá são colocados; tudo isto é considerado uma mais valia.

Enquanto que no blog a discussão é mais livre e espontânea, pretende-se que no fórum seja mais sistematizada e organizada. As ideias nascem no blog e são depois colocadas no fórum, já sob uma forma consistente.

Para mim, os animais importam

Fonte: Biosofia

A Campanha “Para Mim Os Animais Importam”

A Campanha “Para Mim Os Animais Importam” (Animals Matter to Me) representa a maior iniciativa global realizada até hoje, unindo todos os movimentos pelo bem-estar dos animais sob um objectivo estratégico – o reconhecimento em todo o mundo de que os animais são seres sencientes, capazes de sentir dor e de sofrer.

Mais de um milhão de pessoas do mundo inteiro pensam e sentem que o bem-estar animal merece reconhecimento internacional, e mostraram o seu apoio à Declaração Universal de Bem-Estar Animal. Todos os 192 países estão agora representados neste abaixo-assinado.

Só com a sua ajuda conseguiremos atingir as 10 milhões de assinaturas! Faça circular esta petição entre amigos, familiares, colegas de trabalho e de escola ou a qualquer pessoa que, junto connosco, queira construir um mundo melhor para todos os animais.

Ajude-nos a atingir o reconhecimento mundial que os animais merecem; eles podem sentir dor, podem sofrer, e nós temos a responsabilidade em pôr um ponto final nesta crueldade em todo o mundo. Estamos tentando recolher 10 milhões de assinaturas para que os governos tomem conhecimento de que estamos verdadeiramente empenhados em conseguir uma Declaração Universal do Bem-estar dos Animais nas Nações Unidas.

Aceda a www.animalsmatter.org e deixe o seu precioso contributo – a sua voz, o seu voto, a favor desta causa.

Novo e-mail

Pode inscrever-se, caso deseje participar, enviando um e-mail para refundarportugal@gmail.com, indicando o seu nome e o(s) grupo(s) em que deseja colaborar.

Caso não se sinta à vontade para contribuir via blog ou fórum, pode igualmente enviar as suas contribuições para este email.

Continuem a deixar nesta caixa de comentários os contactos de mail, por favor

Ou, caso não o pretendam divulgar publicamente, podem agora enviar o vosso endereço de e-mail para refundarportugal@gmail.com.

Neste momento quem recebe estes e-mails é o Paulo Borges e a Sofia Costa Madeira.

Actualização dos Grupos de Trabalho do Manifesto "Refundar Portugal"

Grupo 1 – Comunicação


Sofia Costa Madeira (coordenadora)
Luís Resina
Ana Sofia Costa
Sílvia Neto
Helena Andrade
Ana Paula Germano
Ethel Feldman
Paulo Borges

Grupo 2 – Reconhecimento constitucional da senciência dos animais

Pedro Taborda de Oliveira
Rui Almeida
Vera Fonseca

Grupo 3 - Economia, Ecologia e Energias alternativas

Carlos Ramos
João Bolila
David Amaral
Maribel Sobreira
Rui Almeida

Grupo 4 - Política

David Amaral
Mário Nuno Neves


Grupo 5 - Educação e Cultura

Luís Resina
Aldora Amaral
José Serrão
Fernando Emídio
Helena Carla Gonçalo Ferreira
Sílvia Neto
Teresa Petrini Reis
Manuel Fúria
Luís Santos
Henrique Areias
Maribel Sobreira
Cristina Moura
Mário Nuno Neves
Cristina Castro
Paulo Feitais
Fernanda Gil
Zé Leonel
Joana dos Espíritos
Duarte Soares
Manuel João Croca
Paulo Borges

Grupo 6 - Saúde

Luís Resina
Sílvia Neto
Helena Andrade
Ana Paula Germano
Yara-Cléo Bueno
Maria da Conceição Pinho
Cristina Castro
Paulo Antunes

Grupo 7 - Portugal, Lusofonia, diálogo entre culturas e religiões


Ana Filipa Teles
Ethel Feldman
Cristina Moura
Paulo Borges - mais coordenação geral (junto com os coordenadores de cada grupo)

"Para um novo universalismo baseado na interculturalidade": François Jullien

Publico aqui, apesar da extensão, uma entrevista a um dos mais influentes pensadores contemporâneos, François Jullien, feita pelo investigador brasileiro Gunter Axt e publicada na edição deste mês da revista Cult. Jullien repensa toda a tradição filosófica ocidental a partir do seu conhecimento profundo do pensamento chinês. Mantenho a versão brasileira e agradeço a Rui Lopo o conhecimento deste texto, que introduz a alguns aspectos fundamentais de um pensador que leio desde há uns anos, incontornável para a compreensão do nosso tempo e do sentido do diálogo intercultural. Nesse domínio, está a par de Raimon Pannikar.
Como habitualmente, em Portugal não há um único livro traduzido deste autor, ao contrário do que acontece nas principais nações europeias. Já o tenho proposto a vários editores...

....

"Por um novo universalismo baseado na interculturalidade": íntegra da entrevista com o filósofo François Jullien.

François Jullien é um dos filósofos franceses mais em evidência na atualidade. Especializou-se em pensamento chinês e afirmou-se como um importante teórico do diálogo intercultural no contexto do mundo globalizado.
É professor na Universidade Denis Diderot, Paris VII, onde dirige o Instituto do Pensamento Contemporâneo. É membro sênior do Instituto Universitário da França, já presidiu o Colégio Internacional de Filosofia e a Associação Francesa de Estudos Chineses. Ele dirige atualmente a revista Agenda do Pensamento Contemporâneo, editada pela Flammarion. Desempenha também papel de consultor para empresas ocidentais que desejam se instalar na China. Seus livros estão traduzidos em uma vintena de países, inclusive no Brasil.
Nesta entrevista, concedida em Paris, François Jullien discute a sua opção por estudar a China, problematiza a diferença entre alteridade e exterioridade, entre universal, uniforme e comum, conceitos que considera fundamentais para compreender a dinâmica do diálogo entre as culturas. Jullien fala ainda sobre o pensamento chinês como um modo de coerência com características próprias e debate a China contemporânea, a Comunidade Comum Européia, o Brasil e o papel do intelectual na atualidade. Repensa, ainda, os limites dos Direitos Humanos e defende a necessidade de construção de um novo universalismo, baseado na diferença, mas refratário ao relativismo cultural.

Por que a China, por que fazer da China o sujeito de seu trabalho?

No início, fui helenista. Mas fui interessando-me pela China porque ela se constitui em uma exterioridade particularmente marcante em face da cultura européia. Exterioridade de língua, já que o chinês não pertence à grande tradição indo-européia; de História, já que os contatos da Europa com a China tornaram-se mais freqüentes apenas a partir do século XVI, na esteira das missões de evangelização, ganhando intensidade na segunda metade do século XIX, como desdobramento do processo colonial moderno. Apesar das diferenças, ambas, Europa e China, são comparáveis. Não se trata de buscar o exotismo da China, mas de se evidenciar o quanto ela é um caso particularmente tipificado e com forte exterioridade com relação à cultura européia. Minha abordagem é filosófica. Trabalho sobre um pensamento constituído e explicitado, com o objetivo de re-interrogar o pensamento europeu a partir de fora.
Qual é a diferença entre a exterioridade e a alteridade?
Sim, eu mencionei exterioridade e não alteridade. Por que a exterioridade é algo dado pela geografia, pela língua, pela História - se constata. Por sua vez, a alteridade é uma construção cultural. A China está alhures; mas em que medida ela se constitui em um outro? É o que Foucault chamava literalmente, em "As palavras e as coisas", de heterotopia da China, distinguida da utopia: as utopias confortam, as heterotopias inquietam.
Mais do que a diferença do pensamento extremo-oriental com relação ao europeu há uma indiferença nutrida tradicionalmente entre estes termos. O primeiro desafio é sair desta indiferença mútua, de maneira a que um possa visualizar o outro, numa mudança de enfoque que suscita o pensar.

Existem modos possíveis de coerência no mundo contemporâneo em paralelo à tradição judaico-cristã e ao racionalismo ocidental?

Contrariamente ao que pretende a história ocidental da filosofia, o Extremo Oriente não ficou em estado pré-filosófico. Ele inventou os seus marcos de abstração, conheceu uma diversidade de escolas e explorou outras fontes de inteligibilidade.
Há um benefício duplo deste percurso intelectual pela China. Além da descoberta de uma outra inteligibilidade, sonda-se até onde pode ir esta deterritorialização do pensamento. Mas este deslocamento implica também num retorno. A partir deste ponto de vista da exterioridade, trata-se de retornar aos pressupostos a partir dos quais se desenvolve a razão européia, pressupostos ocultos, não explicitados, que o pensamento europeu veicula como uma evidência. O objetivo aqui é remontar ao impensado do pensamento, captando a razão européia ao inverso, a partir de sua exterioridade.
Pensar na China é justamente sair deste grande movimento pendular entre Atenas e Jerusalém encarnado pela filosofia européia.
Na sua percepção, os chineses possuem noções do Ser, da Verdade e do Tempo diferentes daquelas consolidadas pela tradição ocidental?
Consideremos a noção de "Ser" a partir da qual, sabe-se, a Europa baseou seu pensamento, desde os gregos (desde Homero). "Ser" ou "Não Ser", no pensamento europeu, forma a alternativa dramática básica; do mesmo modo que a oposição entre o "Ser" e o "Devir" constitui nele a linha de separação a partir da qual se desenvolveu a Ontologia, o caminho expresso para a Filosofia. Ora, ao mesmo tempo em que não podemos pensar fora dessa dupla oposição do "Ser" (nossa mente se articula nela), estamos conscientes de que o termo "Ser" é empregado com "diversos sentidos", primeiramente os de "existência" e "qualificação" (ser isto ou aquilo, ou de certo modo). Convergem esses significados para uma só unidade, onde permanecem estranhos um ao outro, dando, por isso, margem a confusões? Mas, tornando precisa a questão, tratar-se-ia exatamente da "raça humana" e, sobretudo, não de algo grego, que "nós" herdamos na Europa? Quanto ao pensamento chinês clássico, diferencia ele entre o "existir" (you) e o "o estar" (wei) ou o "existir-estar", "existência-subsistência" (on he on), admitindo também a função da "cópula" (ye), isto é, o verbo que une o sujeito ao nome predicativo do sujeito. Mas entre eles, não se diz (não se pensa) em "Ser" como um absoluto: o "Ser" como um fenômeno do qual todos os outros devem participar para que se diga que "existam"; e tampouco a idéia do "Ser" como "Ser como Estar" (on he on), à qual devemos desde Aristóteles que a Filosofia se tenha feito Ciência. Ao pensamento chinês, portanto, não se colocou - ou não pôde se colocar - a questão que para nós, contudo, até aqui parece inevitável, a do ti esti, ou seja, "do que se trata"?
Para os gregos, uma relação entre o conhecimento e o "Ser" funda a filosofia, ao passo que na China não há qualquer Ontologia. Não se pretendeu construir uma aparência onde possamos viver, mas busca-se encontrar a diversidade de pontos de vista e sua anulação mútua, o que constitui o "caminho" comum da imanência (o tao).
A China pensou a "adequação" circunstancial, mas porque ela não a pôde apoiar no Ser, não a pôde estabelecer sob um plano de eternidade, não a pôde sustentar por um projeto puro de conhecimento (que tendeu como entre os gregos a assimilar a sabedoria à ciência, a sophia à epistémé), ela não produziu a Verdade, como visão maior da filosofia - não pôde visto aqui não como a expressão de uma falha, mas mais como a abertura para um outro possível. O termo em chinês antigo que melhor podemos traduzir por "verdadeiro" significa antes "autêntico" (zhen: no sentido dos sentimentos ou de uma natureza verdadeiros; o "homem verdadeiro" zhen ren é, notadamente no taoísmo, aquele que ascendeu a uma perfeita disponibilidade interior e não conhece mais os entraves ao desabrochar de sua existência). Os chineses manejaram bem o julgamento disjuntivo, mas eles cedo se desafiaram, desde a formação de suas escolas de pensamento, na antiguidade, sobre a perda fatalmente ocasionada - do ponto de vista da globalidade da sabedoria - do conflito (estéril) de posições. Isto significa que não necessariamente os chineses são incapazes de distinguir o verdadeiro e o falso, mas que não é sobre este ângulo, da pesquisa e da busca da verdade, que eles desenvolveram suas concepções. Enfim, os chineses não produziram uma fixação sobre a Verdade.
Noções que acreditamos serem gerais e invariantes, universais, não necessariamente se repetem na China. Para entrar no pensamento chinês, é preciso acompanhar o desenvolvimento de suas noções e de seus questionamentos internos, sem pressupor que seus modos de coerência concordam de golpe com os dos europeus.
Isto acontece também com a noção de tempo. Os chineses pensaram a temporada, o instante (momento - ocasião - circunstância: shi) e a duração (jiu), mas não a noção de tempo homogêneo e abstrato, destacado do curso dos processos, tal qual os gregos a pensaram a partir de uma física do movimento dos corpos e de seu deslocamento no espaço (Aristóteles), de uma ruptura metafísica com a eternidade do Ser (Platão-Plotino) ou de Deus (Santo Agostinho); e tal que nós a flexionamos de ordinário na conjugação dos diferentes tempos verbais - a língua chinesa não conjuga.
O tempo europeu é divisível em diversos tempos, mas as divisões não existem efetivamente: o presente não é mais do que um ponto de passagem, sem extensão, portanto, sem existência, entre o passado, que não é mais, e o futuro, que ainda não é. Quando os chineses e os japoneses encontraram a noção ocidental de tempo, ao final do século XIX, ao se defrontaram com o pensamento e a ciência ocidentais, a traduziram por "entre-momentos" (shi-jian, em chinês, e ji-kan, em japonês).
Restemos, portanto, vigilantes quando nos depararmos, em uma tradução do chinês clássico para uma língua européia, com termos como Verdade, Ser, tempo, ideal, etc...: uma assimilação já se consumou ali, bem intencionada, até, mas gerando indevidamente a ilusão da universalidade.

Quais são as conseqüências dessa sua compreensão para a percepção da China contemporânea?

Eu proponho a noção de "potencial de situação" para compreender a concepção chinesa de eficácia. Apanho-a aos estrategistas da Antiguidade, como Sun Zi e Sun Bin. Mais do que modelar uma fórmula ideal colocando-a como uma meta, o que implica em forçar a impregnação desta meta na realidade, aquilo que vem a ser eficácia na China se aplica a demarcar, a detectar, os fatores favoráveis existentes no seio da situação abordada. A idéia é fazer evoluir continuamente a situação em função dos fatores que podem ser revelados, de maneira que é da situação mesma que decorre o efeito. Assim, se hoje não é favorável, é preferível esperar, mais do que se destroçar enfrentando uma situação adversa. É por isto que prefiro para a China o termo "eficiência", mais do que "eficácia", pois permite compreender a continuidade de um desdobramento, ao mesmo tempo que a arte de captar sua imanência, sem evidenciar a imposição de um projeto.

Donde decorre uma segunda noção: a de "transformação silenciosa". Ora, diferentemente do herói europeu, que não apenas se estabelece uma meta, como ainda age de maneira a propiciar a forma ideal que traçou, um dos temas mais marcantes do pensamento chinês é o não agir, que não deve de forma alguma ser compreendido no sentido de passividade ou de ausência de engajamento. Se o estratego não age, ele transforma, faz lentamente evoluir a situação no sentido desejado, por influência. Enfim, a transformação se manifesta como o contrário da ação. Enquanto esta é local, momentânea e ligada a um sujeito específico, a outra é global e progressiva. Nós não a vemos, mas ela acontece. Como o envelhecimento de uma pessoa, que percebemos quando a comparamos com uma fotografia sua de vinte anos atrás. O pensamento chinês dissolve a individualidade do evento no processo.
A China, ainda hoje em dia, não me parece estar projetando um plano sobre o devir, perseguindo um fim dado ou divisado, mesmo imperialista; mas sim parece estar explorando da melhor maneira possível, dia após dia, seu potencial de situação. Quer dizer, tirar partido dos fatores favoráveis, seja no domínio econômico, no político, no internacional e em qualquer que seja a ocasião. É apenas agora que começamos, um tanto estupefatos, a constatar os resultados: que em alguns decênios ela se converteu na usina do mundo e nos próximos anos seu potencial crescerá inelutavelmente. E isto, sem um grande evento, ou ruptura. Deng Xiaoping, o "pequeno timoneiro", foi este grande transformador silencioso da China. Ele empurrou gradualmente a sociedade chinesa, alternando liberalização e repressão, do regime socialista ao hiper-capitalismo, sem jamais ter declarado uma ruptura franca entre os dois.
Vejamos, por exemplo, a imigração chinesa na França. Ela se estende de um bairro a outro, com cada recém-chegado trazendo, um após o outro, todos os seus primos. As celebrações chinesas ganham ano a ano mais importância. Mas esta transição é tão contínua que nós não a percebemos e não a barramos.
São necessárias ferramentas teóricas específicas para compreender a China contemporânea, com este regime hiper-capitalista sob uma redoma comunista apoiada em uma estrutura hierárquico-burocrática. O Partido Comunista Chinês já se transformou muito. A China renovou suas elites, de uma geração à outra, graças às temporadas de estudo e estágios no exterior. Mas ele permanece a estrutura de poder. Uma das minhas grandes admirações é perceber que a China jamais conheceu um outro regime que não a monarquia. Fala-se na China apenas do bom ou do mau príncipe, da ordem ou da desordem. E, mesmo, considera-se que um mau príncipe é melhor do que a anarquia. Há sim momentos em que o poder chinês fracassa, mas eu jamais vi aparecer o ideal de política, no senso das formas-modelo, que vemos sendo debatido por Platão, Aristóteles ou Montesquieu: que constituem regimes distintos, cujas qualidades intrínsecas nós cotejamos.

Como o senhor caracteriza e diferencia os conceitos de universal, de comum e de uniforme?

O universal exprime-se um conceito da razão, emergindo da tradição européia, e se reclama como uma necessidade à priori, confundindo-se com a elevação do pensamento e com a própria ciência. Assinala, assim, uma intransigência inegociável.
O uniforme é um conceito da produção, que se projeta não por necessidade, mas por uma comodidade. A única racionalidade que pode ser atribuída ao uniforme é a da gestão e a da economia. Enquanto o universal apóia-se na ordem da lógica e do prescritivo, o uniforme repousa sobre a imitação. Assim, se o universal suscita ostensivamente a rebelião, aquela da singularidade, o uniforme se contenta em acalmar as resistências ao seu redor e se funde à paisagem. Sua potência é cumulativa: quanto mais ele se propaga, mais ele se impõe. O uniforme produz a estandartização e, assim como o universal, pode ofender o individual ou o singular, chocando-se com a diferença.
O comum é político. Diz respeito àquilo que se compartilha. O comum não é o parecido. Ele é dado por uma noção de pertencenimento, que conforma comunidade, e pode se legitimar em progressão, por extensão gradual, como que delineando níveis sucessivos de comunidade aos quais um indivíduo ou grupo pode ser integrado. Trata-se, portanto, de um termo de dupla face, ao mesmo tempo inclusivo e exclusivo, pois ao incluir determinado perfil, ele pode excluir outro, por negação. A tendência histórico-filosófica do comum é mais forte no sentido de se descerrar do que de se fechar. O comum evolui de um espaço de inclusão e de convergência para um local onde as particularidades se diluem, onde os interesses privados e específicos brandem suas contradições em igualdade de condições, com transparência, possibilitando a emergência do diálogo e da política.

A Declaração dos Direitos do Homem está no plano do universal? Em sua opinião, quais as conseqüências disso?


É o universal que se afirma na Declaração dos Direitos do Homem. O Ocidente tenta impô-la a todos os povos do mundo, independente de sua cultura, como um dever, exigindo subscrição incondicional, padrão que já foi anteriormente forçado goela abaixo dos próprios europeus. A fabricação do "universal" foi excêntrica, nascendo de múltiplos projetos que culminaram na Declaração dos Direitos do Homem de 1789. Objeto de intermináveis negociações e compromissos, o texto final é uma associação de fragmentos, que ignorou os pontos de disputa. Apesar da pressa com que foi feito, alçou-se a um estatuto ideal e necessário, revestindo-se de aura mítica. Mas o fato de ter sido constantemente reescrito, da Constituição francesa de 1793 à Declaração da ONU de 1948, já mostra que a sua suposta universalidade não é um fato consumado. Impostos na época moderna, os Direitos do Homem promovem uma dupla abstração, tipicamente ocidental, que é fonte de contradição: dos "direitos" e do "homem". Ela isola o sujeito, privilegiando a emancipação, consagrada como fonte da liberdade, e, além disso, isola o Homem de seu contexto vital, estabelecendo as dimensões social e política como dependentes de uma construção posterior que garanta sua existência. A ereção do universal desvincula o humano de seu mundo, estabelecendo uma dramática contradição.
Na Índia, por exemplo, não se concebe uma ordem natural da qual o ser humano não faça parte. A integração é estabelecida até a partir dos animais, que para os indianos são dotados do poder de compreensão e de conhecimento e podem já ter sido homens antes de renascerem como bichos. Ali, o homem é tão pouco excepcional que sua vida e morte carecem de significado, sendo destinadas a se repetirem indefinidamente. Não se evidencia um princípio de autoconstituição política a partir das quais os direitos do homem devam ser declarados. Enquanto para o pensamento europeu a liberdade é a última palavra, para o Extremo-Oriente é a harmonia. E sob esse aspecto, a Índia se comunica efetivamente com a China por meio do budismo. Lá, é o Ocidente que produz uma exceção ao introduzir a ruptura que isola o Homem. E, no Islã, o medo do Juízo Final, elemento primeiro da fé, reduz os direitos humanos à insignificância. Claro que hoje a noção ocidental dos direitos humanos existe em países orientais como "enxerto" estrangeiro. Afinal, quando os jovens chineses da Praça da Paz Celestial mobilizam-se, sabem que tipo de mensagem estão transmitindo para o Ocidente. Mas por que os orientais foram praticamente forçados a aprender esse significado e os ocidentais, por sua vez, não compreendem a visão dos orientais?

A Comunidade Comum Européia está no plano do comum ou do uniforme?

Bruxelas é uma máquina de uniformização. Para começar, qual será a língua que falaremos na Europa? Como a Europa será inovadora se ela não levar em conta que boa parte de sua inventividade se deve à pluralidade das suas línguas e culturas? Foi por não cessar de se reinterpretar, de uma língua à outra, começando pelo grego e pelo latim, que a Europa se fecundou e se renovou. Pois este esforço permitiu não apenas a expansão de conceitos, como ainda a relativização de pressupostos de uma cultura a partir de uma externalidade. Foi assim que a filosofia, por exemplo, ganhou uma natureza translinguística, mas também teve acicatada sua criticidade. Na Europa, pensar é também traduzir. Se os filósofos são gregos, a filosofia nasce em Roma. A dispersão das línguas na Europa possibilitou à filosofia uma capacidade de auto-reflexão.
A uniformização, entre outros simulacros, produziu aqueles da concórdia e da paz. Acreditamos nela, porque ela silencia as divergências. Mas não nos enganemos sobre a sua verdadeira natureza: quando a uniformização não responde a fins de pura rentabilidade, é burocrática, absorvida por medidas anônimas, muito mais do que efetivamente democráticas. Uma Europa feita pela uniformização e pela redução das diferenças será estéril e incapaz de se mobilizar. Como empresa de homogeneização, ela relega à heterogeneização as forças mais pobres, menos fecundas, quais sejam, as dobras identitárias e as recusas teimosas daquilo que já não mais aparece como construção incontestável, como construção comum, como uma lógica da História.
Cada época tem a sua forma de resistência, ostensiva ou discreta. Definamos a nossa: o deslocamento, a diferenciação, é o conceito de uma resistência cultural ao mesmo tempo ética e política.
É possível a construção de um novo universalismo capaz de contemplar a diferença, mas sem se diluir na miragem do relativismo cultural?
Sim, e isto pode se dar pela inter-culturalidade, pelo diálogo efetivo entre as culturas. A chance de escapar à pretensão de universalismo aplastante, de um lado, e, de outro, ao abandono relativista das diversas culturas às suas próprias perspectivas singulares e aos seus destinos únicos, é a grande oportunidade da época em que vivemos. Somos a primeira geração à qual a mundialização permitiu viajar mais livremente entre as culturas, no sentido, justamente - em oposição à uniformização estéril -, de poder circular por inteligibilidades diversas para promover, através delas, uma inteligência comum - coisa que não tem nada a ver, bem entendido, com uma cultura única.
Voltemos, como exemplo, aos direitos humanos. Como conceito, como abstração separada da sua cultura de origem, eles podem ser comunicados aos outros povos. Como abstração, os conceitos podem ser manejáveis, identificáveis e transferíveis, tornando-se um instrumento privilegiado de diálogo. A radicalidade conceitual dos direitos humanos está em se apropriar do humano em seu estágio fundamental, enquanto recém-nascido. Esta concepção é transversal e emerge em outras culturas.
O filósofo chinês Mêncio estabelece a consciência da "piedade" como essencial ao humano. Qual homem assiste indiferente à cena na qual uma fera arranca dos braços da mãe uma criança de colo? Na piedade, um indivíduo identifica-se com o seu semelhante. Aqui, ao invés de intersubjetividade, existe transindividualidade, no sentido de que todos os indivíduos estão ligados a uma essência. Para todo o homem, portanto, existe alguma coisa que ele não faz e que ele não pode suportar que aconteça aos outros.
Conhecer o Outro é humanizar e ampliar a moral, restabelecendo a possibilidade de sua refundação e permitindo buscar uma moral que admite a crítica da suspeita.
Assim, como ferramenta de protesto, como instrumento insurrecional, os direitos humanos alcançam uma utilidade mais ampla, abrindo brechas numa totalidade satisfeita, acendendo ou reacendendo nela uma aspiração, dimensão que pode gozar grande utilidade para todas as culturas. Por esta razão, valeria a pena abrir mão da pretensão universal dada em benefício de uma perspectiva universalizante, que sinaliza para a idéia de que o universal está em curso e pode operar como agente promotor, adaptando-se às especificidades culturais. Assim, se deslocaria a questão do teórico para o prático, da verdade para o recurso.
Enfim, um humano desviado por suas diferenças e estabelecido na auto-reflexão não corre, ao contrário do que se poderia imaginar, riscos de se decompor. Pois se permitirá a emergência de um universal liberado dos universalismos instalados aos quais costumamos nos render, destravado das totalidades dadas, desfeito de seus revestimentos ideológicos. Um universal que não cessará de desimpedir renovadamente as condições de possibilidade de um comum sempre ameaçado pelo estreitamento. E, assim, o senso de humano não conhecerá mais limites para crescer e se desenvolver.

Como se processa o diálogo intercultural?

É sobre o plano cultural, mesmo entre os Estados-nação, que se jogam doravante os principais confrontos. A pretensão do Ocidente à universalidade o leva cada vez mais a entrar em conflito com outras civilizações, em particular o Islã e a China. O diálogo emerge aqui como opção e em oposição ao choque. Não se trata, portanto, de afirmar a noção de "identidade cultural" fundada sobre a diferença, e, sobretudo, sobre uma concepção simplista e reducionista que caracteriza as culturas com base em seus traços mais óbvios, o que é inevitável fonte de antagonismos, mas de reconhecer a fecundidade dos distanciamentos e das diferenciações culturais como fonte a ser explorada.
Samuel Huntington, assim, se vale de instrumentos rudimentares de determinismo cultural para alcançar conclusões reacionárias. Por que fundar, por exemplo, a pretensão de uma tradição européia sobre o Cristianismo e não, também, sobre o ateísmo?
Ao contrário, o pensamento contemporâneo está precisamente engajado num dispositivo de auto-reflexão do humano. O humano se reflete - no sentido de se visualizar e de se meditar - quando confrontado ao diverso. Ele se descobre por meio das facetas iluminadas e desdobradas pelas múltiplas culturas, na tradução de sentidos entre uma língua de partida e uma língua de chegada, na des- e na re-categorização de tradições de pensamento.
O diálogo é uma estrutura eficiente e operante que obriga cada uma das partes a re-elaborar suas concepções. Mas em qual língua se daria este diálogo? Digo, sem temer o paradoxo: cada um dialoga na sua língua de origem, mas traduzindo à outra. A tradução obriga a re-elaborar conceitos do Outro no seio de sua própria língua, portanto a reconsiderar seus próprios implícitos, para torná-los disponíveis à eventualidade de um sentido alternativo. Longe de ser uma deficiência, como obstáculo e fonte de opacidade, é a necessidade de traduzir que faz trabalhar as culturas entre elas mesmas. A tradução, a meu ver, é a única ética possível do mundo global que vem aí. É por isso que penso serem os tradutores profissionais-chave no mundo que estamos construindo.

Uma sociedade pode erguer-se a partir da espinha da inter-culturalidade?

Talvez o Brasil seja um país que não apenas faz permanentemente um diálogo intercultural com o exterior, como ainda tenha efetuado um diálogo intercultural interno. Ali as fronteiras entre a cultura popular e a cultura erudita parecem ser tênues. Da mesma forma, o país parece estabelecer pouca resistência às influências culturais exógenas, o que não implica numa descaracterização local ou numa vassalagem. Estímulos internos e externos parecem estar em permanente estado de fusão.

Qual a função do intelectual na sociedade contemporânea?

Na era da mundialização, o engajamento do intelectual não é mais o do posicionamento extremado, em busca de uma radicalidade de princípios, que conduz ao antagonismo de posições. Mas consiste em revelar por quais vias aquilo que parece ruim, ou mau, aquilo que conforma a alteridade, encerra fontes inexploradas ou invisíveis para a descoberta de uma fecundidade possível e cooperativa. E, ainda, num movimento inverso e complementar, em incentivar a diferenciação do pensamento, rearranjando as possibilidades do dissenso de forma a trabalhar ao encontro do consenso, no qual o pensamento, quando não inquirido, está sempre ameaçado de adormecer e de se estiolar.

....

Gunter Axt nasceu em Porto Alegre, em 1969. Bacharelou-se em História pela UFRGS, onde também defendeu dissertação de mestrado, em 1995. Doutorou-se em História Social pela USP, em 2001. Desenvolveu pós-doutorado junto ao CPDOC da FGV-RJ e foi professor visitante na Université Paris VII, Denis Diderot. Foi consultor de várias instituições, dentre as quais o Poder Judiciário e o Ministério Público do RS, o Conselho da Justiça Federal e o Supremo Tribunal Federal. É pesquisador associado do Laboratório de Estudos da Intolerância (LEI), da USP. Escreve regularmente em revistas de cultura e política, de São Paulo e de Porto Alegre. Entre artigos, livros e capítulos de livros, publicou diversos títulos, tendo se especializado gestão cultural e em história política, econômica, judiciária e cultural do Brasil.

www.gunteraxt.com

No Reino

[...] no Reino [de Deus na Terra] não haverá problemas económicos, todos hão-de ser como as flores que não fiam nem tecem e andam com os vestuários mais belos do que os de Salomão ou como as aves ligeiras que sempre encontram alimento e lugar para um ninho; no Reino, que se abrirá a todos, sem distinção de nações, de raças, de classes ou de castas, não haverá violências, mesmo as de defesa, nem juramentos, nem posse de bens materiais, nem o homem terá de ser previdente, no contínuo temor da velhice, da doença, da morte; no Reino ninguém terá que trabalhar, o que significa certamente que ninguém terá de se sujeitar  a tarefas que vão contra as suas tendências íntimas, ou abatem a saúde ou são puras formas de escravatura; no Reino se poderá ter o desprezo pelo dinheiro, dado que exista; no Reino não haverá a menor ideia de organização familiar, que Jesus lia, decididamente, a um certo estádio de evolução económica e moral; no Reino não haverá Estado, com príncipes que oprimam os cidadãos; antes cada um será, voluntariamente, por amor e interesse do espírito, o servidor dos outros; no Reino não haverá processos, nem tribunais, nem juízes; no Reino não haverá senão bondade, amor, fervor espiritual, contemplação de ideias, profunda, segura, inabalável felicidade.

Agostinho da Silva, in «Cristianismo»

Fórum

Foi criado um fórum para este grupo: http://umoutroportugal.lefora.com/. O fórum permitirá um melhor acompanhamento quando se iniciarem os trabalhos de cada grupo mas, se quiserem, podem inscrever-se já. Cada membro de cada grupo poderá facilmente ver o que está a acontecer na sua área.

Futuramente e, enquanto não temos um site, também podemos redireccionar a imprensa para lá, pois toda a informação no fórum será de fácil consulta.

Durante a semana que vem vão ser enviados convites aos membros que já facultaram os seus emails.

Uma última nota: o fórum tem publicidade porque é gratuito. Os resultados dessa publicidade revertem todos a favor do Lefora e de nenhum membro deste grupo, como se pode verificar em www.lefora.com.

Um bem-haja para todos e saudações.

Notas sobre Política Cultural Urbana

É fundamental que a política cultural construa uma unidade interna, com vários fios condutores explícitos e publicamente reconhecíveis por todos. Pois, consideramos que programações culturais desconexas, acções avulsas ou agendas ocultas não são sustentáveis em políticas públicas.
Não confundimos cultura com a indústria do entretenimento tão em voga. A cultura é uma capacidade individual e colectiva numa dinâmica de desenvolvimento e integrada num projecto colectivo para o nosso território. 
Enquanto que o entretenimento tende a ser uma consolação anestesiante e cómoda perante as perplexidades complexas do mundo actual, e cuja perspectiva implica exclusivamente a visão do cidadão como mero consumidor («o idiota feliz»). Uma política pública no séc. XXI não pode conformar-se com esta visão hiper-consumista e hiper-individualista:uma cidade não é igual a um supermercado.
 Ao poder político que administra uma cidade e um território exige-se uma posição clara e pró-activa sobre as actuais condições de vida, neste aspecto assumir uma posição neutra é ficar refém dos movimentos e das modas que atravessam os fluxos globais da confusão planetária.

Em nosso entender, é necessário combater o exacerbado individualismo neo-liberal cujos desastrosos resultados estão bem patentes na actual crise e cuja meta foi a de criar hiper-consumidores endividados, e suscitar uma nova dinâmica que promova a criação de capital social, novas conexões sociais capazes que regenerar o ânimo, a confiança e a intersubjectividade criativa entre cidadãos que partilham o mesmo território e alguns os mesmos objectivos e interesses. 
O que de fundamental uma política cultural ao nível municipal deve propor é uma Cultura Cívica, a cultura promovida com os cidadãos, sempre no plural. A tónica no pluralismo é uma preocupação central, pois não se pode reduzir a produção cultural de uma sociedade à hegemonia ou ao pensamento único. Aliás, como refere a UNESCO, a diversidade cultural é o maior tesouro da humanidade, pelo que deve ser protegido e valorizado. 
A cultura é cada vez mais o centro das políticas locais, pela importância que vem revelando no contexto de um paradigma de desenvolvimento humano integral. Para além da atenção que lhe é dirigida graças à sua intima conexão a factores de índole económica, social e urbana; a sua relevância deve-se essencialmente às relações intrínsecas que mantém com as questões da identidade, da memória, da criatividade, da ciência e do pensamento e conhecimento crítico.


A dimensão cultural das cidades contemporâneas deve contribuir para a mobilização de todos os actores sociais individuais e colectivos em torno de um projecto de cidade, naturalmente complexo e aberto às problemáticas do Séc. XXI, justamente considerado o século das cidades.
Num mundo globalizado, as cidades são hoje o lugar onde as expectativas das nações melhor se posicionam. É nas cidades que o desenvolvimento económico futuro se posicionará, na conjugação dos seus capitais culturais e criativos, e na geração de conhecimento e inovação.
Neste sentido, a cultura – enquanto dimensão de política pública – não pode continuar a ser entendida como mero sinónimo de entretenimento ou diversão, mas antes como uma capacidade activa de cidadania: como conjunto de ferramentas simbólicas e conceptuais que os membros de uma comunidade necessitam para lidar com a realidade difusa do mundo contemporâneo e para elaborar novas estratégias de vida colectiva.

O Nascimento do Homem num Portugal Renascido

Penso que é urgente (re)pensarmos a forma como se nasce no nosso país e se estamos, de facto, a seguir o melhor caminho.... apesar de serem referidas estatísticas confortantes, que colocam Portugal na fila da frente dos países com menor número de mortalidade de mães e bebés no momento do parto, há que reflectir sobre o que este número exactamente quer dizer, assim como o que está por trás dele.

Não me interpretem mal; eu acho excelente sermos exemplo de boas práticas médicas que garantem a mães e bebés uma vida saudável! O que sinto é que este facto não pode ser desculpa para fecharmos os olhos ao rol de procedimentos que actualmente são executados, e que marcam negativamente a auto-estima e a auto-confiança de muitas mulheres, assim como a integridade física e psicológica dessas mulheres e de seus bebés recém-nascidos.

A recente experiência que a humanidade tem em partos hospitalares (recente, porque só perto de 2 a 3 gerações de mulheres vêm recorrendo a hospitais, de forma massiva, para o efeito) foi suficiente para que a Organização Mundial de Saúde concluísse que grande parte das práticas realizadas em hospitais para "fazer" nascer bebés em gravidezes de baixo risco, são utilizadas de forma inapropriada, sendo outras altamente desaconselhadas. Podem ler toda a lista (incluindo as práticas aconselhadas) no seguinte link: http://www.humpar.org/recomendacoes_oms

O conhecimento científico refere que, na altura do parto, entram em jogo potentes hormonas que têm um importante papel não só no desenrolar fisiológico do próprio parto, como também no vínculo que a mãe irá estabelecer com o seu filho recém nascido. Agir no sentido de "quebrar" este delicado equilíbrio biológico pode ter consequências devastadoras, por exemplo, no impulso protector da mãe em relação ao seu filho.... que serão tanto mais graves quanto menos desejada e planeada tiver sido essa criança e quanto mais jovem e socialmente desprotegida for a mulher.

Paralelamente a um tratamento frio e excessivamente técnico que a mulher com gravidez de baixo risco pode encontrar no hospital, verificamos um numero crescente de mulheres que recorrem a cesarianas pedidas, sendo este procedimento cirúrgico encarado quase como uma operação estética. Acontece que, independentemente de todos os riscos implicados no procedimento cirúrgico em si, a mulher que se coloca na posição de "operar" o nascimento do seu filho está a aceitar também os riscos para o bebé que tem no ventre. Estes riscos são altos e poucas mulheres têm consciência disto!

Em Portugal existem enfermeiros obstetras que realizam partos no domicílio, com toda a segurança e profissionalismo que a situação exige, e que são altamente descriminados e marginalizados por seus pares profissionais. Isto não pode acontecer! De acordo com as directrizes da OMS (incluídas no link atrás referido), a grávida de baixo risco tem o direito de optar pelo local e pela forma como vai parir, devendo ser respeitada a sua escolha consciente por todas as pessoas envolvidas na assistência ao seu parto. Desproteger o enfermeiro que opta apoiar a mulher que escolhe, em consciência, ter o seu bebé em casa, é desproteger a mulher da segurança a que ela tem direito!

Inverter este ciclo não implica quase nada... no Brasil, existe um Hospital Público que desenvolve um projecto de partos humanizados (ISEA) onde com praticamente nenhum investimento financeiro em recursos materiais e uma boa formação a todos os técnicos (médicos, enfermeiros, auxiliares, etc), foram conseguidos resultados extraordinários, como por exemplo uma reduzidissima taxa de cesarianas (7.7% !... o que é ainda mais baixo do que os 15% sugeridos pela OMS; de notar que antes do projecto, no mesmo hospital, existiam 39,2% de cesarianas). No projecto citado, são referidos os seguintes números: em 181 grávidas atendidas, realizaram-se 185 nascimentos (4 nascimentos gemelares), dos quais 167 partos foram vaginais (158 espontâneos e 9 com recurso a forceps), com nenhuma episiotomia (84 períneos perfeitamente íntegros) e apenas 14 cesareanas se verificaram realmente indispensáveis .
Este projecto brasileiro (ISEA)é só um exemplo, pois um pouco por todo o mundo existem já muitos hospitais e países que praticam uma política de nascimento mais humana e centrada na mulher.

O que estou a sugerir para o novo Portugal, não é nada de muito complicado, nem nada de muito dispendioso. Trata-se apenas de uma mudança de mentalidades, com o respeito pelo outro e pelas escolhas informadas que o outro pode e deve efectuar. Trata-se de compreender que o parto é, acima de tudo, um fenómeno natural e biológico, que se desenrola dentro do corpo da mulher, pelo que é incontornável a necessidade de se olhar para a mulher no seu todo para poder ajudar com eficiência o nascimento de um novo ser. Trata-se de compreender que, se nascer fosse assim tão complicado quanto as aparatosas técnicas hospitalares actuais sugerem, provavelmente a humanidade já tinha sido extinta, muito antes de ter havido tempo para levar as parturientes para os hospitais.


Se pensarmos bem, humanizar o parto é no fundo humanizar o Sistema Nacional de Saúde, realizando uma abordagem do ser humano como um todo, assim como é realizado em tantas outras culturas. Para mim, faz todo o sentido revolucionar o Sistema Nacional de Saúde e garantir, entre outras coisas, Partos Humanizados para todas as mães e bebés que nascem!

"A Arte de Viver Hoje"

"Ser outro, parecer diferente,
Não falar como outra gente,
Louvar tudo, tudo aceitar,
Mentir sempre e bem ficar,
A todo o vento dar pano,
Servir bons, maus, mano a mano,
Fazer tudo, tudo inventar
Com vista a sempre ganhar:
Quem dominar esta arte,
Na política hoje tem sorte"

- Friedrich von Logau (1604-1655), in O Cardo e a Rosa - Poesia do Barroco Alemão (tradução de João Barrento).

Parabéns pelo excelente trabalho

Muito obrigada por aceitar a minha participação, e aproveito para lhe endereçar os meus sinceros parabéns pelo excelente trabalho que tem vindo a desenvolver.
Fernanda

“Comecemos de hoje em diante a viver, como quereríamos ter vivido na hora da morte. Vive assim como quiseras ter vivido quando morras”

- Padre António Vieira, Sermoens, 1 (editio princeps).

Agostinho da Silva: O Professor como Mestre

Não me basta o professor honesto e cumpridor dos seus deveres; a sua norma é burocrática e vejo-o como pouco mais fazendo do que exercer a sua profissão; estou pronto a conceder-lhe todas as qualidades, uma relativa inteligência e aquele saber que lhe assegura superioridade ante a classe; acho-o digno dos louvores oficiais e das atenções das pessoas mais sérias; creio mesmo que tal distinção foi expressamente criada para ele e seus pares. De resto, é sempre possível a comparação com tipos inferiores de humanidade; e ante eles o professor exemplar aparece cheio de mérito. Simplesmente, notaremos que o ser mestre não é de modo algum um emprego e que a sua actividade se não pode aferir pelos métodos correntes; ganhar a vida é no professor um acréscimo e não o alvo; e o que importa, no seu juízo final, não é a ideia que fazem dele os homens do tempo; o que verdadeiramente há-de pesar na balança é a pedra que lançou para os alicerces do futuro.
A sua contribuição terá sido mínima se o não moveu a tomar o caminho de mestre um imenso amor da humanidade e a clara inteligência dos destinos a que o espírito o chama; errou o que se fez professor e desconfia dos homens, se defende deles, evita ir ao seu encontro de coração aberto, paga falta com falta e se mantém na moral da luta; esse jamais tornará melhores os seus alunos; poderão ser excelentes as palavras que profere; mas o moço que o escuta vai rindo por dentro porque só o exemplo o abala. Outros há que fazem da marcha do homem sobre a Terra uma estranha concepção; vêem-no girando perpetuamente nos batidos caminhos; e, julgando o mundo por si, não descobrem em volta mais que uma eterna condenação à maldade, à cegueira e à miséria; bem no fundo da alma nenhuma luz que os alumie e solicite; porque não acreditam em progresso nenhuma vontade de melhorar; são os que troçam daquilo a que chamam «a pedagogia moderna»; são os que se riem de certos loucos que pensam o contrário.
Ora o mestre não se fez para rir; é de facto um mestre aquele de que os outros se riem, aquele de que troçam todos os prudentes e todos os bem estabelecidos; pertence-lhe ser extravagante, defender os ideais absurdos, acreditar num futuro de generosidade e de justiça, despojar-se ele próprio de comodidades e de bens, viver incerta vida, ser junto dos irmãos homens e da irmã Natureza inteligência e piedade; a ninguém terá rancor, saberá compreender todas as cóleras e todos os desprezos, pagará o mal com o bem, num esforço obstinado para que o ódio desapareça do mundo; não verá no aluno um inimigo natural, mas o mais belo dom que lhe poderiam conceder; perante ele e os outros nenhum desejo de domínio; o mestre é o homem que não manda; aconselha e canaliza, apazigua e abranda; não é a palavra que incendeia, é a palavra que faz renascer o canto alegre do pastor depois da tempestade; não o interessa vencer, nem ficar em boa posição; tornar alguém melhor — eis todo o seu programa; para si mesmo, a dádiva contínua, a humildade e o amor do próximo.


Agostinho da Silva, in Considerações

Actualização dos grupos de trabalho

Grupo 1 – Comunicação


Sofia Costa Madeira (coordenadora)
Luís Resina
Ana Sofia Costa
Sílvia Neto
Helena Andrade
Ana Paula Germano
Ethel Feldman
Paulo Borges

Grupo 2 – Reconhecimento constitucional da senciência dos animais

Pedro Taborda de Oliveira
Rui Almeida
Vera Fonseca

Grupo 3 - Economia, Ecologia e Energias alternativas

Carlos Ramos
João Bolila
David Amaral
Maribel Sobreira
Rui Almeida

Grupo 4 - Política

David Amaral
Mário Nuno Neves


Grupo 5 - Educação e Cultura

Luís Resina
Aldora Amaral
José Serrão
Fernando Emídio
Helena Carla Gonçalo Ferreira
Sílvia Neto
Teresa Petrini Reis
Manuel Fúria
Luís Santos
Henrique Areias
Maribel Sobreira
Cristina Moura
Mário Nuno Neves
Cristina Castro
Paulo Feitais
Fernanda Gil
Zé Leonel
Joana dos Espíritos
Duarte Soares
Paulo Borges

Grupo 6 - Saúde

Luís Resina
Sílvia Neto
Helena Andrade
Ana Paula Germano
Yara-Cléo Bueno
Maria da Conceição Pinho
Cristina Castro

Grupo 7 - Portugal, Lusofonia, diálogo entre culturas e religiões


Ana Filipa Teles
Ethel Feldman
Cristina Moura
Paulo Borges - mais coordenação geral (junto com os coordenadores de cada grupo)

Deixem na caixa de comentários os contactos de mail, por favor.

Grupos de trabalho

Car@s Amig@s

Proponho que todos indiquem aqui os seus contactos de mail e que os membros de cada grupo se ponham em contacto para desenvolverem os seus respectivos temas, elegendo um coordenador que integrará a Comissão Coordenadora geral e que ficará responsável pela apresentação do texto final de cada grupo, até ao final de Janeiro.

Proponho também que os membros de cada grupo vão apresentando aqui, de forma sumária, as suas ideias, de modo a poderem ser discutidas por todos e pelos leitores do blogue.

Solicitei à Sofia Costa Madeira, co-administradora deste blogue e particularmente empenhada neste projecto, que coordene o grupo 1, da Comunicação. Ela está também a ver a possibilidade de um Forum ou Site. Se houver um web designer disponível para trabalhar em regime de voluntariado, digam.

Passem a notícia desta iniciativa aos vossos contactos de modo a criarmos o efeito "bola de neve". Sinto que podemos e devemos ir longe com este projecto.

Saudações

Verifiquem as vossas inscrições: são apenas sete grupos!

Peço que verifiquem as inscrições feitas e que vierem a fazer: são apenas 7 grupos de trabalho, que abrangem os 12 temas do Manifesto.

inverno português

impressão de viagem

Grupos de trabalho do Manifesto "Refundar Portugal"

Está constituída a lista provisória de inscritos nos grupos de trabalho do Manifesto "Refundar Portugal", ainda aberta a quem o desejar. Podem consultar também a página do grupo no facebook

http://www.facebook.com/topic.php?uid=161502509390&topic=11768#/group.php?gid=161502509390&ref=ts

Quem desejar colaborar nos grupos e no blogue envie um mail para pauloaeborges@gmail.com

Recordo que o objectivo é que cada grupo elabore um documento sintético (2 páginas) onde resuma as propostas essenciais em cada área e os meios da sua implementação. Daí surgirá um texto conjunto que será apresentado em público à comunicação social, como plataforma de um movimento de intervenção cívica e cultural a lançar no início de 2010.

Saudações Amigas

.....

Luís Resina - 1, 5, 6
Sofia Costa Madeira - 1
Aldora Amaral - 5
José Serrão - 5
Fernando Emídio - 5
Ana Sofia Costa - 1
Helena Carla Gonçalo Ferreira - 5
Pedro Taborda de Oliveira - 2
Sílvia Neto - 1, 5, 6
Teresa Petrini Reis - 5
Helena Andrade - 1, 6
Carlos Ramos - 3
João Bolila - 3
Ana Paula Germano - 1, 6
Manuel Fúria - 5
Luís Santos - 5
Henrique Areias - 5
Ana Filipa Teles - 7
Yara-Cléo Bueno - 6
Paulo Borges - 1, 7, coordenação geral (junto com os coordenadores de cada grupo)

Por grupo:

Grupo 1 – Comunicação

Luís Resina
Sofia Costa Madeira
Ana Sofia Costa
Sílvia Neto
Helena Andrade
Ana Paula Germano
Ethel Feldman
Paulo Borges

Grupo 2 – Reconhecimento constitucional da senciência dos animais

Pedro Taborda de Oliveira
Rui Almeida

Grupo 3 - Economia, Ecologia e Energias alternativas

Carlos Ramos
João Bolila
David Amaral
Maribel Sobreira
Rui Almeida

Grupo 4 - Política

David Amaral
Mário Nuno Neves


Grupo 5 - Educação e Cultura

Luís Resina
Aldora Amaral
José Serrão
Fernando Emídio
Helena Carla Gonçalo Ferreira
Sílvia Neto
Teresa Petrini Reis
Manuel Fúria
Luís Santos
Henrique Areias
Maribel Sobreira
Cristina Moura
Mário Nuno Neves
Cristina Castro
Paulo Borges

Grupo 6 - Saúde

Luís Resina
Sílvia Neto
Helena Andrade
Ana Paula Germano
Yara-Cléo Bueno
Maria da Conceição Pinho
Cristina Castro

Grupo 7 - Portugal, Lusofonia, diálogo entre culturas e religiões

Ana Filipa Teles
Ethel Feldman
Cristina Moura
Paulo Borges - mais coordenação geral (junto com os coordenadores de cada grupo)

Síntese das propostas fundamentais do Manifesto "Refundar Portugal" e grupos de trabalho

Caras Amigas e Amigos,

Aqui se apresentam as propostas fundamentais do Manifesto "Refundar Portugal" e a proposta de constituição de grupos de trabalho. O esquema é um ponto de partida, sujeito a alterações em função das vossas contribuições. O objectivo é a constituição de uma proposta mais desenvolvida, que se materialize num documento a ser publicado e apresentado publicamente, como suporte de um movimento de intervenção cívica e cultural a ser igualmente apresentado no início de 2010.

Peço-vos que digam em que grupos de trabalho se inscrevem, indicando os vossos nomes e contactos, e procurando outras pessoas competentes para esta iniciativa. Para outros esclarecimentos, podem contactar-me em:

pauloaeborges@gmail.com

Isto não é para ficar, como tantas outras coisas, no plano das intenções e das palavras, mas, para isso, precisa da autoresponsabilização individual de todos e cada um de nós. Temos de assumir o direito e o dever de construirmos o melhor país possível, como contributo para um mundo melhor para todos os seus habitantes.

Temos de ser a diferença que desejamos.

Saudações Amigas

Paulo Borges

....

Síntese dos pontos e propostas do Manifesto “Refundar Portugal”:

1.Desenvolvimento económico sustentável, harmonia ecológica e bem-estar humano e animal. Reconhecimento na Constituição da senciência animal.

2.Modelos de desenvolvimento alternativos, energias alternativas e promoção da sustentabilidade económica do país, desenvolvendo as economias locais.

3.Predomínio da ética e da política sobre a economia, de modo a que a produção e distribuição de riqueza vise a) o bem comum do ecosistema e dos seres vivos e b) o acesso de todos à educação e cultura.

4.Programa pedagógico de redução do consumo.

5.Serviço público de saúde eficiente e acessível, que permita optar, além da medicina convencional, por medicinas alternativas de eficácia comprovada.

6.Reduzir o consumo de carne, pelo efeito nocivo sobre o meio ambiente, a saúde pública e o bem-estar humano e animal. Divulgar dietas alternativas e reduzir os impostos sobre os produtos biológicos.

7.Reorientar o investimento público, privilegiando os domínios da saúde, educação e cultura. Reduzir os salários e reformas mais elevados dos funcionários do Estado e aumentar os impostos sobre os altos rendimentos.

8. Redignificar os professores e os profissionais ligados à educação e à cultura. Praticar um ensino que vise a formação integral da pessoa.
Incorporar disciplinas que informem e sensibilizem para o respeito pela natureza e por todas as formas de vida, bem como para a diversidade de paradigmas culturais e religiosos. Integrar as técnicas de atenção (meditação) nos currículos escolares.
Proteger a vida familiar e aumentar o nível das televisões públicas.

9.Assumir Portugal como nação defensora dos direitos humanos e dos seres vivos.

10.Aprofundamento das relações culturais, económicas e políticas com os países e regiões de língua portuguesa.

11.Promoção da cultura portuguesa e lusófona no mundo e assunção de Portugal e da Lusofonia como um espaço universalista, de diálogo intercultural e inter-religioso.

12.Regeneração da democracia em Portugal, reforma do Estado e do sistema eleitoral. Regionalização e descentralização. Introduzir a ética na política e no tecido empresarial. Mobilizar os absentistas e estimular a consciência e participação cívicas.

Grupos de trabalho específicos:

Indicam-se as grandes áreas de trabalho e as competências necessárias, por parte de pessoas com formação específica ou com conhecimento adquirido por estudo e experiência pessoal, desde que estejam de acordo com a visão geral do Manifesto. Indicam-se os pontos do Manifesto que cada grupo deverá contemplar. Cada grupo elegerá um coordenador e alguém que faça a recruta de mais membros.

1.Comunicação – Informar e sensibilizar para este projecto, na sua globalidade, bem como encontrar as melhores estratégias para o difundir e converter num movimento de opinião eficaz, sem manipulações. Pessoas ligadas à comunicação, jornalistas, marketeers, especialistas em e-marketing e social media, publicitários, escritores, artistas, figuras públicas. Grupo de âmbito geral.

2.Reconhecimento constitucional da senciência dos animais – Zoólogos, etólogos, animalistas, juristas e especialistas de Direito Constitucional (1)

3.Economia, Ecologia e Energias alternativas – Economistas, ecólogos, ambientalistas, biólogos, filósofos, juristas, gestores, engenheiros agrícolas, agricultores e outros especialistas nestes domínios (2, 3 e 4).

4.Política – Filósofos, sociólogos, juristas, cientistas políticos (3, 4, 7, 12).

5.Educação e Cultura – Professores, educadores, pedagogos, pais, psicólogos, filósofos, escritores, artistas, agentes culturais (7, 8, 9, 10, 11).

6.Saúde – Médicos e terapeutas formados na medicina tradicional no Ocidente e em medicinas e terapias alternativas, nutricionistas (5, 6).

7.Portugal, Lusofonia, diálogo entre culturas e religiões – Filósofos, teólogos, religiosos, antropólogos, sociólogos, diplomatas (9,10, 11).

Os coordenadores de cada grupo integrarão uma Comissão Coordenadora desta iniciativa.