Um espaço para reinventar Portugal como nação de todo o Mundo, que estabeleça pontes, mediações e diálogos entre todos os povos, culturas e civilizações e promova os valores mais universalistas, conforme o símbolo da Esfera Armilar. Há que visar o melhor possível para todos, uma cultura da paz, da compreensão e da fraternidade à escala planetária, orientada não só para o bem da espécie humana, mas também para a preservação da natureza e o bem-estar de todas as formas de vida sencientes.

"Nós, Portugal, o poder ser"

- Fernando Pessoa, Mensagem.

E cada vez somos mais!!! Portugueses Felizes!!!! Numa das nossas entradas e saídas para o Mundo! =)

Abertos à Alegria ! A todas as culturas! Orgulhosos de nós mesmos !!!

Um contributo para a Humanidade! Sobre compaixão!

Carta pela Compaixão

Só para completar um pouco a informação deixada em baixo pela Cristina, aqui vos deixo a Carta pela Compaixão. Está no site já traduzido em várias línguas, pelo que se concordarem, podem subscrever e enviar para os vossos amigos do mundo inteiro.

Carta pela Compaixão

O princípio da compaixão é o cerne de todas as tradições religiosas, éticas e espirituais, nos conclamando sempre a tratar todos os outros da mesma maneira como gostaríamos de ser tratados. A compaixão nos impele a trabalhar incessantemente com o intuito de aliviarmos o sofrimento do nosso próximo, o que inclui todas as criaturas, de nos destronarmos do centro do nosso mundo e, no lugar, colocar os outros, e de honrarmos a santidade inviolável de todo ser humano, tratando todas as pessoas, sem exceção, com absoluta justiça, eqüidade e respeito.
É necessário também, tanto na vida pública como na vida privada, nos abstermos, de forma consistente e empática, de infligir dor. Agir ou falar de maneira violenta devido a maldade, chauvinismo ou interesse próprio a fim de depauperar, explorar ou negar direitos básicos a alguém e incitar o ódio ao denegrir os outros - mesmo os nossos inimigos - é uma negação da nossa humanidade em comum. Reconhecemos que falhamos na tentativa de viver de forma compassiva e que alguns de nós até mesmo aumentaram a soma da miséria humana em nome da religião.
Portanto, conclamamos todos os homens e mulheres ~ a restaurar a compaixão ao centro da moralidade e da religião ~ a retornar ao antigo princípio de que é ilegítima qualquer interpretação das escrituras que gere ódio, violência ou desprezo ~ garantir que os jovens recebam informações exatas e respeitosas a respeito de outras tradições, religiões e culturas ~ incentivar uma apreciação positiva da diversidade religiosa e cultural ~ cultivar uma empatia bem-informada pelo sofrimento de todos os seres humanos - mesmo daqueles considerados inimigos.
É urgente que façamos da compaixão uma força clara, luminosa e dinâmica no nosso mundo polarizado. Com raízes em uma determinação de princípios de transcender o egoísmo, a compaixão pode quebrar barreiras políticas, dogmáticas, ideológicas e religiosas. Nascida da nossa profunda interdependência, a compaixão é essencial para os relacionamentos humanos e para uma humanidade realizada. É o caminho para a iluminação e é indispensável para a criação de uma economia justa e de uma comunidade global pacífica.


Aproveito para deixar um abraço de bom ano para todos e informar que vamos ter amanhã aquilo que os astrónomos chamam uma "lua azul", a segunda lua cheia num único mês.

Charter for Compassion

Charter for Compassion

A UNIVERSIDADE IDEAL

"A universidade ideal não teria formalizado sistemas de créditos nem disciplinas obrigatórias. Seria uma espécie de retiro educacional onde as pessoas poderiam explorar várias disciplinas, descobrir quem são, os seus verdadeiros interesses, e apreciar o prazer de aprender e a preciosidade da vida." Abraham Maslow

Um contributo para a Saúde Global - Meditar em Movimento - A essência do Tai Chi Chuan

Tai Chi Chuan - Arte Marcial - Meditação em Movimento

Além de excelente exercício fisico...

Partilho agora convosco, um excelente artigo que ajuda à compreensão de como a prática desta Arte pode ajudar, na construção de um mundo melhor!

http://www.portalalpha.com.br/LivrePensar.asp?identificacao=21

Orgulho de ser Portuguesa!

Não resisti a publicar! Somos mesmo fantásticos!

Ken Robinson afirma que as escolas matam a criatividade

Ou ainda de como se pode falar de coisas sérias de uma forma simples e cheia de humor.

Um Silêncio remoto
Comanda a voz da oposição.
Um rosto vazio de esperança
Apresenta-se ao País.

Sem convicção
Nem persuasão
Nos movemos,
Como se a causa
Pela qual lutamos
Já estivesse perdida.

Qual causa?
Qual luta?

Se sabeis a resposta,
Dizei-me,
Por favor,
Porque não a vislumbro mais!

Isabel Rosete

Portugal: Uma Pátria desolada nos confins da Europa. Outrora, vitoriosa, no “reino cadaveroso da cultura”.
Portugal: um Povo, uma massa de gente deslumbrada, com outros modos de fazer mundos, com os Mundos de outras Pátrias, não perdidas nas marés do assombro.

Isabel Rosete

Conhecer um pouco mais a Doula!

Para terem uma ideia um pouco mais precisa daquilo em que consiste, pelo menos em parte, o trabalho de uma doula, convido-vos a verem os links seguintes, onde estão fotografias lindíssimas do trabalho apaixonante de dedicação ao bem estar do outro e uma pequena peça jornalistica onde doulas experientes falam acerca do que fazem.



... penso que assim é fácil perceber o porquê de se considerar importante o reconhecimento desta actividade como profissão na área do acompanhamento das mulheres grávidas. A doula é alguém que, conhecendo profundamente a mulher e o casal que acompanha ao longo de várias sessões, tem a competência de ajudá-los a manterem-se focados, confortáveis e felizes num momento tão delicado e maravilhoso que é o parto!

O que é o "diá-logo" entre culturas?




"Entre, por um lado, o consenso mole do diálogo sempre suspeito de ser um alibi ou de esconder mais insidiosamente as relações de forças sob a sua aparente abertura e, por outro, o clash anunciado - constatado - assim como o apelo à defesa identitária do "Ocidente", que outra via que não tombe para nenhum lado: que não seja nem utópica, nem defensiva, nem de compromisso? Ou "diá-logo" não é algo antes a retomar e repensar, mas decidindo desta vez conferir a sua plena exigência a um e a outro dos seus componentes [...]? Fazendo compreender, por um lado, no diá do diá-logo, a distância do afastamento, entre culturas necessariamente plurais, mantendo em tensão o que está separado: um diálogo, ensinaram-nos os Gregos, é mesmo tanto mais rigoroso e fecundo quanto mais atiça teses antagonistas; e, no logos, por outro lado, o facto de que todas as culturas mantêm entre elas uma comunicabilidade de princípio e que tudo, do cultural, é inteligível, sem perda e sem resíduo. [...] [após afirmar que o diálogo é "operatório"] Mas operatório em quê? Não que quiséssemos a todo o preço conciliarmo-nos com o outro, ou que encontrássemos já nele [no diálogo] prescritas regras formais, mas simplesmente porque, para dialogar, cada um deve imperiosamente abrir a sua posição, colocá-la em tensão e instaurá-la num frente a frente. Não pois porque cada um seria movido por uma finalidade de entendimento, ou porque a lógica do diálogo revelaria um universal pré-estabelecido, mas porque todo o diálogo é uma estrutura eficiente - operativa - que obriga de facto a reelaborar as suas próprias concepções, para entrar em comunicação, e portanto também a reflectir-se"

- François Jullien, De l'universel, de l'uniforme, du commun et du dialogue entre les cultures, Paris, Fayard, 2008, pp.247-248.

Doulas

Nesta quadra natalícia festejamos, basicamente, a família. E uma família existe a partir do momento que um casal recebe uma criança como filho, aceitando (e desejando) cuidar dele com todo o carinho e respeito, dando-lhe as armas para que ele se torne um Homem capaz de cuidar de si próprio sem supervisão e de cuidar de outros filhos até que estes se tornem também Homens....

As variantes da família clássica e tradicional, actualmente, são muitas.... e todas bem vindas. Mas não é acerca desta multiplicidade que me proponho escrever neste momento.

Gostaria de abordar a forma biológica de ter um filho. Um homem, uma mulher, uma gravidez, um parto e um bebé. Tudo muito natural e lógico.... um quadro de desejo, força e amor.....

Gostaria de abordar, neste contexto, o papel da doula na promoção de uma gravidez, parto e pós-parto plenos de consciência, tranquilidade, poder e afectividade....

Surge a questão....

"Quem é a doula?"

Apesar de em Portugal o termo "doula" ser desconhecido, em muitos outros países, dentro e fora da europa, esta é já uma palavra que faz parte do vocabulário de um casal que espera um filho... e, em última análise, esta palavra, apesar de estranha, representa nada mais que o papel desempenhado desde sempre, por alguém que acompanha a mulher durante toda a metamorfose que acontece no seu corpo, culminando no parto e na amamentação do bebé esperado.

A doula é a pessoa que, não sendo nem médico, nem enfermeiro, nem familiar da mulher grávida, tem formação específica e contínua para acompanhar do ponto de vista emocional e informativo a mulher, durante toda a gravidez, parto e pós-parto. Esta pessoa, que geralmente é uma mulher que já passou pela experiência de gravidez e parto, mas que em alguns casos pode ainda não ter tido filhos ou ser um homem, é alguém que sentiu um forte chamamento interior no sentido de ajudar outras mulheres a passar pela extraordinaria viagem que conduz à maternidade, por perceber que o processo implicado tem um fortíssimo componente emocional que raras vezes é tido em consideração nos acompanhementos tradicionais da gravidez e parto e que tanto influencia os processos fisiológicos em curso.

Este acompanhamento por uma doula já foi provado como muito benéfico em todas as fases da gravidez, parto e pós-parto em variadissimos estudos (Hofmeyr, Nikodem VC, Wolman WL, Chalmers BE, Kramer T. "Companionship to modify the clinical birth environment: effects on progress and perceptions of labour, and breastfeeding" Br J Obstet Gynaecol, 98:756-764; Langer A, Campero L, Garcia C, Reynoso S. "Effects of Psychosocial support during labour and childbirth on breast feeding, medical intervencions, and mothers`well-being in Mexican public hospital: a randomized clinical trial "Br J Obstet Gynecol, 105: 1056-1063, 1998; Kennell JH, McGrath SK "Labor Support by a Doula for middle-income couples; the effect on cesarean rates" Pediatrics Res, 32:12A,1993; etc...).

Por isso mesmo a doula é já uma figura instituida no conjunto dos tecnicos que acompanham a mulher grávida, em países como a Suiça, Inglaterra, Holanda, entre outros.

De um modo geral, os estudos referem uma diminuição na ansiedade da mulher durante toda a gravidez, uma diminuição do número de cesarianas, uma diminuição da necessidade de intervenções médicas invasivas, uma diminuição na duração do trabalho de parto, uma redução nos pedidos de anestesia, diminuição do risco de depressão pós-parto, um aumento do nível de atenção e receptividade para com o bebé, aumento do sucesso da amamentação e aumento da satisfação da mulher face à sua experiência de parto.

Face a estes resultados, podemos perguntar porquê em Portugal ainda não é vulgar as mulheres terem uma doula. Bem, a resposta é simples....

Tal como acontece com tudo o que é "novo", a figura da doula pode parecer ameaçadora a vários níveis.

Por um lado, muitas pessoas confundem a doula com a parteira, por outro, os técnicos de saúde ficam sensíveis a ter mais uma pessoa a "atrapalhar" os procedimentos médicos, por outro ainda a família sente que esse papel está muito bem desempenhado pelo companheiro da mulher grávida...

No entanto, as pessoas que ultrapassam a barreira do "medo do desconhecido" fácilmente reconhecem na doula competências paralelas e não antagónicas ou divergentes a todas as outras personagens que povoam o mundo de uma grávida.

Por um lado, a doula não sabe medicina, por isso nunca irá avaliar o estado de saúde ou realizar intervenções médicas. Por outro lado, como técnico competente na área do apoio emocional e ainda conhecendo algumas técnicas não médicas de alívio da dor, a doula fácilmente consegue resgatar na mulher a força inata que esta tem para parir, ajudando-a a manter-se focada no momento presente e assim, facilitar bastante o trabalho do médico ou enfermeiro na prossecução de um parto de sucesso.

Em relação ao papel do companheiro da mulher (pai do bebé que irá nascer), ao diminuir a ansiedade da mulher (e consequentemente do casal), a doula potencia todo o importantíssimo trabalho que aquele tem durante todo o processo, aumentando a confiança e a união do casal.

Actualmente, em Portugal, só quem sabe que existem doulas e procura por uma consegue ter acesso ao trabalho por elas desempenhado... não deveria ser assim! Penso ser importante incluirmos formalmente o papel da doula no apoio à gravidez, parto e pós-parto, para que seja aumentada a humanização do parto no nosso país.

Assim, com uma doula para cada mulher, certamente teremos um Portugal mais acolhedor para aqueles que nascem, já que a doula representa a ponte entre a emoção dos pais que esperam a chegada do seu filho e o saber científico dos tecnicos de saúde, necessário para garantir uma viagem segura até ao mundo da maternidade e da "família".

Em nome de todas as doulas que trabalham em portugal, desejo um novo ano repleto de amor em todas as famílias... porque a família é o primeiro mundo que conhecemos!

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"[...] os portugueses típicos nunca são portugueses"; "Nenhum povo se despersonaliza de modo tão magnificente"

"The Portuguese Sensationists are original and interesting because, being strictly Portuguese, they are cosmopolitan and universal. The Portuguese temperament is universal: that is its magnificent superiority. The one great act of Portuguese history - that long, cautious, scientific period of the Discoveries - is the one great cosmopolitan act in history. The whole people stamp themselves there. An original, typically Portuguese literature cannot be Portuguese, because the typical Portuguese are never Portuguese. There is something American, with the noise left out and the quotidian omitted, in the intellecrtual temper of this people. No people seizes so readily on novelties. No people depersonalises so magnificently. That weakness is its great strength. That temperamental nonregionalism is its unused might. That indefiniteness of soul is what makes them definite"

- Fernando Pessoa, in Sensacionismo e outros ismos, edição de Jerónimo Pizarro, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 2009, pp.218-219.

Palavras a ponderar, depurativas do provincianismo identitário, ainda que não plenamente livres dele...

Esfera Armilar - Da identidade histórico-cultural como limite a superar

A história e a cultura constituem poderosos sistemas de condicionamentos e automatismos mentais, emocionais e práxicos que convidam, por via gregária e irreflectida, a um regime de consciência parcial, incapaz de compreender e aceitar a realidade humana, cósmica e divina na sua totalidade plural e complexa. A fixação de uma dada identidade histórico-cultural é, por isso mesmo, um notável contributo para o estreitamento da consciência e para o sofrimento e conflitos daí resultantes. Por isso mesmo, a cultura mais poderosa é aquela que a si mesma se não vir como um fim em si e antes como um meio para se libertar de si mesma. É esse o projecto da "cultura portuguesa", assumida por Vieira, Pessoa e Agostinho da Silva como trampolim para a universalidade, mediação para além de todas as mediações, sejam elas lusitanas ou lusófonas. O melhor de Portugal e da lusofonia é o que neles se esquece de se rever e assinar no espelho do mundo. O pior de Portugal e da lusofonia é o que no mesmo acto deixa a mácula da assinatura. Medíocre é o que se afirma. Grande o que se esquece. Supremo o que nunca se nomeou.

Outro Portugal =) ! Parabéns à TAP e à ANA !

O regresso em nós de D. Sebastião ou o fim do sebastianismo



D. Sebastião

Sperai! Caí no areal e na hora adversa
Que Deus concede aos seus
Para o intervalo em que esteja a alma imersa
Em sonhos que são Deus.

Que importa o areal, a morte e a desventura
Se com Deus me guardei?
É O que eu me sonhei que eterno dura,
É Esse que regressarei.

O segundo poema que tem como título “D. Sebastião” é o primeiro dos cinco “Símbolos” que abrem a terceira parte, “O Encoberto”, da Mensagem. Nele o poeta volta a dar voz a um rei que – falando sempre como esse ser “que há” e não “que houve”, ou seja, como imortal dotado da “grandeza” de ser livre da “Sorte” - exorta a que esperem pelo seu regresso aqueles que ainda permanecem escravos da comum condição mortal e humana, reproduzindo a sua submissão ao Destino enquanto cadáveres adiados que procriam. D. Sebastião continua a ser aqui, numa coerência rigorosa, a figura de um rei-Outro, de uma consciência desperta que exorta os que esperam o seu regresso ao mundo dos homens a que não esperem que regresse o mesmo que partiu. Efectivamente, tendo-se convertido No que se sonhou, tendo-se tornado Naquele que se desejou, um ser emancipado do Destino, e sendo isso “eterno”, não pode senão ser “Esse” que regressará. Não faz sentido assim que o esperem com uma expectativa adequada ao que foi e já não é nem poderá nunca mais ser, não faz sentido que o esperem com a predominante esperança sebastianista que sobrevive à possibilidade do regresso físico do rei desaparecido em Alcácer-Quibir e se converte num paradigma da mentalidade portuguesa em épocas de crise e profunda insatisfação, fruto da laicização da expectativa messiânica: a expectativa de que surja um mero líder político, redentor da pátria oprimida e decadente, restaurador da ordem ameaçada e condutor da nação em períodos de crise da identidade e sentido da sua vida histórica. O D. Sebastião de Pessoa exorta a que o esperem, mas não como o Mesmo, antes como Outro, não como mortal, antes como imortal.


D. Sebastião exorta ao fim do sebastianismo comum, recordando que o seu fracasso humano, pessoal e histórico não foi senão o reverso do divino dom de uma oportunidade superior a todo o triunfo bélico e a todo o poder e glória temporais. Caindo “no areal e na hora adversa”, segundo a percepção mundana e exterior, D. Sebastião na verdade acedeu ao “intervalo” da imersão da “alma” “em sonhos que são Deus”, concedido pelo divino aos “seus”, ou seja, aos que o buscam acima de tudo, aos seus “amigos”.


O que são este “intervalo”, esta imersão e estes “sonhos que são Deus”? “Intervalo”, do latim intervallum, é o espaço ou distância entre dois pontos ou lugares, que etimologicamente são duas paliçadas ou trincheiras (vallum), também com o sentido de baluartes, defesas, protecções. O “intervalo”, ainda segundo um dos sentidos da palavra latina, sugere-se como o repouso ou descanso da “alma” em algo que não a pré-ocupa com a construção de limites e muros autoprotectores, o repouso ou descanso da “alma” relativamente a toda a pré-ocupação, mental, emocional ou física, com a separação entre uma coisa e outra, a divisão entre si e o outro, a defesa e o ataque, a dualidade, o medo e a (in)segurança. Livre de tudo isso, é no intervalo disso tudo, na “pausa” (outro sentido do intervallum latino) de toda essa agitação, que se pode abrir e absorver plenamente “em sonhos que são Deus”. Ou seja, no contexto da Mensagem, viver a “loucura” daquela ânsia de “grandeza” trans-mundana e transcensão de toda a “Sorte”/condição mortal que se converte nisso e é já isso mesmo a que ardentemente aspira. O desejo veemente dessa “grandeza” insuperável é já a vibrante e imanente epifania do divino. Como escreve Pessoa no poema “D. Fernando. Infante de Portugal”: “E esta febre de Além, que me consome, / E este querer grandeza são seu nome / Dentro em mim a vibrar”. É isso que torna o sujeito “cheio de Deus” e é isso, e apenas isso, que o pode ressuscitar, já em vida, de ser a “besta sadia” e “cadáver adiado que procria”, vergado pelas indomadas “forças cegas” ao triste contentamento com a vida doméstica e vegetativa. É isso, e apenas isso, que o pode ressuscitar do tempo dos quatro impérios e operar a sua superação no Quinto, a “verdade” pela qual “morreu D. Sebastião” (cf. o poema “O Quinto Império”), que evidentemente nada tem a ver com qualquer domínio mundano, temporal e político. Do mesmo modo que em D. Sebastião o ser “que há” transcende o “que houve”, assim também o Quinto Império transcende o plano onde decorrem e se dissipam os quatro, não podendo propriamente dizer-se que venha temporalmente após eles, enquanto símbolo de uma possibilidade que transcende o tempo e o espaço e que é a própria possibilidade do homem ou da consciência se imortalizar.


A alma de D. Sebastião está pois “imersa / Em sonhos que são Deus”. O que é, todavia, “Deus”? A palavra procede da raiz indo-europeia dei, que significa “tudo o que brilha”, donde vem o sânscrito deva (deus), o iraniano daeva (demónio) e o português dia [1]. Deus indica não um ser ou um ente, algo que exista e possa ser objecto, algo que possa ser visto por alguém, mas antes a própria luz invisível que torna todas as coisas visíveis, em termos inteligíveis ou sensíveis, o ilimitado espaço luminoso que é matriz de todas as possibilidades de manifestação e consciência, o nada inerente ao aparecimento de tudo [2](* cf . também o "nada que é de tudo" em Agostinho da Silva). É aí que verdadeiramente cai, imerge e reside o D. Sebastião transfigurado, que realiza a suma potencialidade de todo o homem. É nisso que se guarda, baluarte sem defesas e assim inexpugnável pela derrota no “areal”, “a morte e a desventura”. É Isso, afinal, que se sonhou e tornou, num sonho/desejo/imaginação criadora (ou desveladora) que converte o amante na coisa amada (cf. Luís de Camões), que realiza isso que imagina, em tudo distinto daquele sonho ilusório e irreal que preside à história do mundo e dos homens e à sucessão dos quatro impérios mundanos. “O” que se sonhou, esse “Deus”/matriz intemporal de toda a manifestação, transcende a consciência temporal e a sua ilusão intrínseca, sendo da ordem do eterno. É só “Esse” que D. Sebastião pode regressar, não o rei humano morto ou desaparecido no areal, ou um seu substituto, mitificado pelo sebastianismo e esperado pelos sebastianistas de todos os tempos, mas o sujeito transfigurado em Deus, dei-ficado, ou seja, iluminado. Desperto e livre, em nada se distingue desse espaço primordial, anterior a todas as coisas e de todas envolvente como a matriz que as possibilita, mas que, na experiência mundana e condicionada, apenas se abre nos inter-valos entre uma coisa e outra, entes, pensamentos, palavras e acções.


Cabe a este respeito recordar um fundamental poema inglês de Pessoa, “The King of Gaps”, “O Rei das fendas/brechas,/aberturas/hiatos/lacunas/vazios/intervalos/abismos”, que muito ajuda a compreender o “intervalo” em que está imerso o D. Sebastião pessoano. Este “rei desconhecido”, senhor de um “estranho Reino dos Vazios” com o qual coincide, figura isso que há “entre” uma “coisa” e outra “coisa”, o intervalar e não entificado espaço vazio que se desvela entre as entidades, o fundo informe onde as formas se recortam e definem, bem designado como “entre-seres”. Se num sentido parece assumir a função de um Mesmo indiferenciado, perante o qual tudo o que nele se delimita surge como as múltiplas formas da sua alteridade, ou se noutro sentido podemos pensá-lo como o Outro enquanto transcende e envolve todas as formas do mesmo, num outro sentido podemos reconhecer-lhe uma transcensão mais radical, tanto do mesmo como do outro, tanto do idêntico como do diferente, na medida em que estes se constituam no âmbito de uma relação mútua entre formas e entidades que só se torna possível por haver esse espaço não-entitativo do “estranho Reino dos Vazios” que permite a constituição e o reconhecimento da relação e do relacionado.


Seja como for, é Nisso que imerge D. Sebastião e é Isso/Esse que anuncia regressar. Este segundo poema dedicado a D. Sebastião confirma a transfiguração do herói épico e trágico, malogrado protagonista histórico, num intemporal avatar espiritual, qual Bodhisattva ou Redentor gnóstico que, desperto e iluminado, se dirige aos homens, pela voz de Pessoa, seu poeta-profeta, ensinando-lhes já a necessidade de transformação da sua esperança quanto ao seu futuro regresso para junto deles, que tudo indica nada ter a ver com uma redenção política e temporal, mas antes com o exercício de um magistério espiritual que não visa senão conduzi-los ao mesmo estado livre e desperto, à mesma libertação da “Sorte”, à mesma ressurreição, dei-ficação ou iluminação.


Esta é uma possibilidade de leitura, que não contradiz outra, mais funda e acalentada pelo próprio Pessoa, em que o regresso de D. Sebastião, como é aliás mais adequado a uma potência espiritual, não é tanto exterior quanto interior, podendo dar-se a qualquer momento em todo o homem que evoque em si o mesmo que D. Sebastião evocou. D. Sebastião, ou seja, uma potência espiritual desperta e livre do espaço e do tempo, regressa efectivamente em todo aquele que deseje a mesma libertação da “Sorte” e se afunde no mesmo “intervalo” divino, na mesma luminosa matriz primordial de todas as coisas [3]. Que isto seja susceptível de uma expressão colectiva, adverte-o também Pessoa, ao dizer do “mito sebastianista, com raízes profundas no passado e na alma portuguesa”: “Comecemos por nos embebedar desse sonho, por o integrar em nós, por o incarnar. Feito isso, cada um de nós independentemente e a sós consigo, o sonho se derramará sem esforço em tudo que dissermos ou escrevermos, e a atmosfera estará criada, em que todos os outros, como nós, o respirem. Então se dará na alma da Nação o fenómeno imprevisível de onde nascerão as Novas Descobertas, a Criação do Mundo Novo, o Quinto Império. Terá regressado El-Rei D. Sebastião” [4].


Regressará, em nós, D. Sebastião, mas, fundamental não o esquecer, Outro, jamais o mesmo. O que implica que, em nós, o mesmo morra e deixe aparecer o Outro.


Assim se desencobre o Encoberto. O que reside entre cada coisa, pensamento, palavra e acção



[1] Cf. Odon Vallet, Petit lexique des mots essentiels, Paris, Albin Michel, 2007, pp.63-64.
[2] Cf. Jean-Yves Leloup, “Notre Père”, Paris, Albin Michel, 2007, pp.173-174.
[3] É isso que salientamos neste texto decisivo: “A metempsicose. A alma é imortal e, se desaparece, torna a aparecer onde é evocada através da sua forma. Assim, morto D. Sebastião, o corpo, se conseguirmos evocar qualquer cousa em nós que se assemelha à forma do esforço de D. Sebastião, ipso facto o teremos evocado e a alma dela entrará para a forma que evocámos. Por isso quando houverdes criado uma cousa cuja forma seja idêntica à do pensamento de D. Sebastião, D. Sebastião terá regressado, mas não só regressado modo dizendo, mas na sua realidade e presença concreta, posto que não fisicamente pessoal. Um acontecimento é um homem, ou um espírito sob forma impessoal” – Fernando Pessoa, Sobre Portugal. Introdução ao problema nacional, recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão, introdução e organização de Joel Serrão, Lisboa, Ática, 1979, p.196.
[4] Cf. Ibid., p.255.

Redes 50: Meditación y aprendizaje

Redes 50: Meditación y aprendizaje

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Feliz Natal!

"Que me importa que Cristo haja nascido ontem em Belém
se não nasce hoje na minha alma?"

- Angelus Silesius, Peregrino Querubínico

O meu desejo de Natal ao Fernão Capelo Gaivota que vive em todos nós

E boas entradas no novo ano.

Lógica vs Intuição - Pensando o ensino

"When I was young, it seemed that life was so wonderful, a miracle, oh it was beautiful, magical. And all the birds in the trees, well they'd be singing so happily, joyfully, playfully watching me. But then they send me away to teach me how to be sensible, logical, responsible, practical. And they showed me a world where I could be so dependable, clinical, intellectual, cynical. There are times when all the world's asleep, the questions run too deep for such a simple man. Won't you please, please tell me what we've learned I know it sounds absurd but please tell me who I am. Now watch what you say or they'll be calling you a radical, liberal, fanatical, criminal. Won't you sign up your name, we'd like to feel you're acceptable, respecable, presentable, a vegtable! At night, when all the world's asleep, the questions run so deep for such a simple man. Won't you please, please tell me what we've learned I know it sounds absurd but please tell me who I am."

The logical song, Supertramp

Cumprimentos a todos,
Dulce Alves

Contribuição de Luís Resina: Manifesto para a paz global



O Papel da Crise ao Nível Individual e Global

As mudanças externas que estamos a assistir no mundo funcionam como um catalisador para as mudanças dentro de nós.
Os pressupostos e as demonstrações da física quântica, permitem-nos dizer, que os nossos pensamentos, emoções e actos têm a capacidade de influenciar os átomos da matéria.

O Papel do Sentimento, a Inteligência Emocional

Já foi provado por cientistas que a energia do coração humano gera um campo magnético mais forte 5000 vezes que o cérebro. O sentimento colectivo exerce efeito sobre o campo geomagnético da Terra. Uma mudança no nosso modo de sentir a nós mesmo e ao colectivo, possui o potencial para afectar o nosso mundo no sentido quer subjectivo quer objectivo.
Gregg Barden - “Fractal Time”.

Dirigimo-nos para um ponto de convergência e de aglutinação onde as coisas têm de ser transmutadas, o “Status Quo”, assente na Economia, na Política, na Ciência e na Religião necessita de ser renovado urgentemente.
O estrangulamento do tempo, da economia, dos recursos naturais e de uma vida desvinculada dos ritmos cósmicos tornar-se-á insustentável dentro de poucos anos, a não ser, que voltemos rapidamente o nosso olhar para a Essência que sustêm o Mundo.
Essa Essência apresenta-se sob a forma de Luz (informação e conhecimento), Amor (coesão e sustentabilidade) e Partilha (abundância e alegria), estas serão na minha perspectiva as pedras basilares de uma nova "Ecologia do Ser.

É urgente a construção rápida de novos paradigmas através da prática de um Neo-humanismo assente numa Ecologia do Ser.
Isso implica uma maior solidariedade entre os grupos económicos, políticos, sociais e religiosos, e estes necessitam de estar em sintonia com valores espirituais e universais. A abordagem a este novo tipo de consciência pretende vir a mostrar-se como uma alternativa a um materialismo que tem vindo a exaurir os recursos, não só do planeta como do próprio ser humano. Isso só poderá ser feito por todos aqueles que estão conscientes destes desafios. O objectivo será intuirmos as grandes ideias centrais que servirão de alternativa à crise global , não confinada apenas ao campo económico, mas também à área social, aos valores humanos e à necessidade de implementação de uma nova espiritualidade.

É a hora de acordar o espírito co-criador que reside em cada um de nós!

Manifesto para a Paz Global

Reunidos na cidade de Caracas, Venezuela, em 24 de Novembro de 2002, no marco do Terceiro Encontro da Rede Ibero americana de Luz, foi declarado o seguinte:

Há uma única pátria: o Cosmos.
Há uma única nação: a Terra.
Há uma única família: a Humanidade.
Há uma única verdade: a Vida, expressando-se de acordo com uma ordem superior e infinita.
Há uma única religião: o Amor.
Há uma única essência: a Luz Eterna que gera a vida.
Há uma única ciência: a Universalidade.
Há uma única meta: a Paz em unidade com todos os seres.
Há um único destino: a Evolução.
Há um só tempo: o Acorde dos ritmos naturais.

Este chamado de consciência é dirigido a todas as instâncias nacionais e internacionais, grupos, organizações e pessoas que sabem que um mundo melhor é possível e também àquelas que:

  • Transcendem seus valores trabalhando em si mesmas;
  • Manifestam disposição de serviço à humanidade e ao planeta;
  • Aceitam unir-se a outras pessoas em acções conjuntas;
  • Vinculam-se mediante o poder do pensamento sinérgico;
  • Efectuam a sincronização de propósitos em pensamento, emoção e acção;
  • Geram convergências planetárias de consciência comunicando-se por diferentes meios e sobre diferentes temas afins;
  • Usam seu potencial criador para gerar a aceleração da transformação planetária.

Autor: Luís Resina

E se a ouvissem?...

a Língua Madrasta


Dias de palha-de-aço. Pardacentos, transbordantes dum mofo difícil de descrever. Horas marteladas entre papeladas escritas a desgosto. Vidas mastigadas numa orgia de bacantes meio cegas e já perto da última derrota, enfim, não somos todos carne animada duma esperança provisória?

Os conselhos de turma servem para quê? Em princípio, para avaliar os alunos.

Mas avaliar, esse acto pedagógico sublime, difícil, não é julgar a valia antropológica das pessoas que têm a desdita de se verem encerradas na escola no período mais viçoso das suas vidas.

Num conselho de turma típico temos, se tivermos alguma sorte, um açougueiro-mor – mais frequentemente, uma açougueira – a pessoa que lecciona Português.

Português, na escola portuguesa, é a Língua Madrasta. Se fosse Materna conseguira iluminar os corações dos alunos e conduzi-los à descoberta das potencialidades ocultas da sua mente. Mas não. Aquilo que deveria ser o tesouro mais precioso à disposição da pessoa que 'dá' Português, os erros dos seus alunos, as falhas que, com uma ponderada e interessada correcção poderiam conduzi-los à descoberta duma subjectividade criativa, acabam por ser pregos de amortalhar cristos.

É claro que há excepções.E são muitas.

Lembro-me agora duma das situações mais bizarras da minha vida: enquanto director de turma tive que ler o comentário duma pessoa que 'dava' Português no cabeçalho dum teste dum aluno. Quem mo mostrava era o pai. Calmo, mas com uma imensa tristeza nos olhos. O seu filho era apelidado de imbecil pela douta criatura, em quatro linhas de azedume escritas com um despeito fora deste mundo. O aluno era portador duma deficiência profunda, o síndrome de Asperger. O seu maior problema era dar demasiado trabalho aos professores. Tinha uma disgrafia grave, devidamente comprovada por perícias médicas. E mesmo assim a senhora queixava-se que a letra do aluno era ilegível e que ela não se sentia obrigada a ler o que ele escrevia.

O pai perguntou-me o que é que a escola pretendia fazer com o seu filho. Haveria uma lista para extermínio? Eu respondi-lhe que iria perguntar ao primeiro SS que encontrasse.

Quando confrontei a professora do ensino especial com a situação a resposta que me deu é que o pai queria era que lhe passassem o filho de qualquer maneira. Vendo que tinha encontrado a pessoa que procurava, antes de lhe perguntar pela existência da lista, perguntei-lhe como é que ela via a permanência daquele aluno na escola. Respondeu-me que o aluno era imbecil e que não deveria estar numa turma normal do ensino secundário. Haveria outros percursos que lhe seriam mais adequados, mas os pais queriam por força que o filho continuasse na escola.

O pai tinha-me dito que considerava a socialização importantíssima, uma vez que o filho estava a entrar na adolescência e talvez fosse positiva a sua interacção com adolescentes. E isso era algo que não encontraria a não ser na escola secundária.

Para me inteirar da situação do aluno desloquei-me à escola onde ele concluíra o ensino básico. Falei com alguns dos seus antigos professores, mas foi a sua antiga directora de turma que me deixou de rastos. Quando lhe contei o que se passava aquela colega com mais de trinta anos de serviço desfez-se em lágrimas. O “João” fora um dos seus alunos mais queridos. Muito infantil, mas com uma bondade capaz de encher o mundo. A causa das lágrimas fora eu ter-lhe contado que o aluno se auto-agredia violentamente dentro da sala de aula, em frente dos seus colegas, e repetia “tu és burro!”, “tu és burro”, “tu és burro”... Qualquer energúmeno mais letrado consegue perceber que se trata duma reacção à frustração. Mas a Língua Madrasta não brinca em serviço. Às vezes eu brinco e digo que foi a Língua Portuguesa que foi feita para os alunos e não os alunos para a Língua Portuguesa (também digo que o Camões era zarolho, só para ver cara dos alunos incrédulos com o espectáculo dum professor a gozar com o seu principal instrumento de tortura). Mas com coisas sérias não se brinca. O respeitinho é bonito e serve para pôr na ordem quem não preenche os princípios da conformidade marrónica. Não é por acaso que alguns dos 'melhores' alunos parecem chanfrados pela mão do melhor dos torneiros.

Aquela professora que chorou convulsivamente disse-me que a sua tristeza a impedia de manifestar a sua revolta. E disse-me para ter cuidado.

O professor de Matemática mostrou-me alguns trabalhos do João e disse-me que ele por vezes podia ser brilhante. Mas tinha que se sentir aceite pelo professor. Demorou até que desabrochasse.

No conselho de turma disse à pessoa que 'dava' Português que, no meu caso, depois dos testes, pedia ao aluno para me ler o teste e eu passava-o a computador. Levava-o para casa e corrigia-o compaginando-o com o manuscrito do aluno. A senhora disse-me que não lhe pagavam para fazer esse trabalho e que achava uma estupidez o que eu fazia. Se eu tivesse o mesmo sistema de valores da senhora, atendendo a que eu ganhava metade do seu salário, menos tostão , a coisa dava pela metade, aí se poderia medir o tamanho da minha estupidez.

O resultado é que, quando as notas do aluno foram vertidas para a pauta, a minha, e logo a Filosofia, era a única positiva. Eu lavrei uma declaração para a acta na qual me penitenciava por só conseguir dar onze ao aluno, uma vez que, nunca tendo tido formação na área do ensino especial, era a primeira vez que tinha um aluno com Asperguer. E pedia a compreensão do conselho de turma para a necessidade de poder ter que dar notas superiores ao aluno nos próximos períodos e que se deveria ter a nota do primeiro período como uma aproximação e sem que isso pudesse ser visto como um juízo sobre as capacidades do aluno.

Caiu o Carmo e a Trindade. A professora do ensino especial, recém-eleita vice-presidente do conselho executivo, estava na reunião e disse, em frente de todos os professores da turma, que eu estava a prestar um péssimo serviço à educação. Foi um conselho de turma no mínimo agitado.

E dava-se o caso de eu já não estar a presidir àquela reunião, uma vez que fui director de turma por um mês e meio, a substituir um professor que ficara doente. A professora que 'dava' Português achava impossível que aquele aluno, com um 3 na pauta a Língua Madrasta pudesse ter 11 a Filosofia. Eu disse, sem brincar, que a Filosofia tinha sido feita para os alunos e não os alunos para a Filosofia e que o mesmo se passava com a escola.

À professora do ensino especial disse-lhe que não tinha categoria sequer para beijar o chão que os meus alunos pisavam. Entre ameaças de processo disciplinar, os trabalhos lá andaram até ao encerro da reunião.

Nesse dia jurei que faria tudo para destruir a escola, fazê-la implodir. Iria fazer tudo para maravilhar os meus alunos, para os levar a questionarem antes de quererem a santa paz da ruminância. A todo o momento podem acontecer coisas 'estranhas'. Num teste, por exemplo, uma das questões pode ser um desafio de monta: os alunos têm que provar que eu não sou Deus.

A coisa é deveras difícil.

Há também as aulas do contra. Quem me deu esta ideia foi um jovem colega de Filosofia. Comprei-lhe a ideia com um abraço e uma frise de limão. E a coisa funciona assim: durante a aula eu irei transmitir uma informação falsa. O aluno que conseguir descobrir a marosca ganha um prémio. Pode ser, por exemplo, o último álbum do José Cid. Uma coisa de monta.

O resultado é uma aula em que sou bombardeado por perguntas do princípio ao fim. É claro que eu nunca transmito informações erradas, mas tudo o que digo e apresento aos alunos é escrutinado sem piedade. E lá se vai a minha armadura de sumidade. Deixo de me sumir perante os alunos. A coisa torna-se mágica.

Há outra ideia daquele colega que eu também aplico por vezes: o jogo dos sonhos. E funciona assim: cada aluno escreve num papel o sonho que gostaria de ver realizado. Depois, os papéis são baralhados e redistribuídos. Se alguém lhe calhar o seu, volta a pô-lo a circular. Por vezes há que misturar os sonhos de várias turmas para coisa dar certo, ou eu fico responsável por um sonho. Quem recebe um sonho dum colega deve fazer tudo para que ele se realize.

Os sonhos poderão ser realizados de forma indirecta, se alguém sonhar em ir à Lua podem oferecer-lhe um documentário sobre a ida à Lua, ou algo de semelhante. Uma vez um rapaz que queria ter muito dinheiro recebeu um saco com 10 euros em moedas de um cêntimo. Uma coisa bem pensada.

Este ano uma aluna escreveu: “queria ter uma varinha mágica que me permitisse acabar com o sofrimento de todas as pessoas”. Eu li o papel e perguntei-lhe o que é que ela via de mal nos animais e ela pediu-mo de volta, riscou 'todas as pessoas' e escreveu 'todos os que sofrem'.

Isso deu-me a convicção de que ela não precisará de varinha mágica. Mas estou com um problema: como a turma é ímpar cabe-me a mim realizar-lhe o sonho. O meu problema é: o que fazer para não acabar com o sonho?

E pronto, hoje apeteceu-me escrever isto depois de ter participado em dois conselhos de turma. E o meu maior problema é que quase não 'dou' negativas. É estranho.

Talvez não tenha nascido para professor.

O nosso canal vídeo no YouTube


Foi criado um canal vídeo de Outro Portugal no YouTube. Visitem!

Grupo privado no Facebook

Por sugestão da Sílvia Neto, está então criado um grupo privado no Facebook, para os membros que desejam maior privacidade.

Actualização dos grupos de trabalho com contactos


Grupo 1 – Comunicação
Sofia Costa Madeira (coordenadora) (sofiacmadeira[at]gmail.com)
Luís Resina (luisresina[at]meo.pt)
Ana Sofia Costa
Sílvia Neto (sillnett[at]gmail.com)
Ana Paula Germano

Grupo 2 – Reconhecimento constitucional da senciência dos animais
Pedro Taborda de Oliveira
Rui Almeida
Vera Fonseca (vera.ff[at]gmail.com)

Grupo 3 - Economia, Ecologia e Energias alternativas
João Bolila
David Amaral (david2002[at]sapo.pt)
Rui Almeida

Grupo 4 - Política
David Amaral (david2002[at]sapo.pt)
Mário Nuno Neves
Maria de Lourdes Alvarez

Grupo 5 - Educação e Cultura
Luís Resina (luisresina[at]meo.pt)
Aldora Amaral
José Serrão
Fernando Emídio (fernandoemidio[at]gmail.com)
Helena Carla Gonçalo Ferreira
Sílvia Neto (sillnett[at]gmail.com)
Teresa Petrini Reis (theresapetrini[at]gmail.com)
Manuel Fúria
Luís Santos (lcsantos[at]netcabo.pt)
Cristina Moura
Mário Nuno Neves
Zé Leonel
Joana dos Espíritos

Grupo 6 - Saúde
Sílvia Neto (sillnett[at]gmail.com)
Ana Paula Germano
Yara-Cléo Bueno (yaradoulacleo[at]ymail.com)
Maria da Conceição Pinho

Grupo 7 - Portugal, Lusofonia, diálogo entre culturas e religiões
Luís Resina (luisresina[at]meo.pt)
Ana Filipa Teles
Cristina Moura
Paulo Borges - mais coordenação geral (junto com os coordenadores de cada grupo) (pauloaeborges[at]gmail.com)

Nota: nos emails a @ foi substituída por [at] para evitar o spam.

Eu Já mudei!

Após reflexão sobre o fracasso da Cimeira de Copenhaga e tomando consciência de todo o trabalho que ainda há para fazer, sentei-me aqui, na esperança que, de facto, ainda haja salvação para todos nós, humanidade! A tempo de, ainda nesta geração, ser possível assistir a uma mudança real!


Para nosso bem, dos nossos filhos e gerações vindouras!
Aprendi, ao longo do meu percurso de vida, de estudos e de procura de soluções, que não adianta muito reclamar, sobre leite derramado!

O que assistimos hoje em dia, é apenas consequência de modelos de pensamento e de acção passados e obsoletos! Trouxeram-nos aqui!

Vamos reclamar? Desanimar? Assistir à falência e colapso?

Eu não! Pelo menos não de uma forma passiva!

Aprendi com os estudos de Tai Chi Chuan, Chi Kung, Reiki, Meditação e outros, uma verdade em que acredito acima de tudo!

A VIDA É ENERGIA !
A ENERGIA SEGUE A NOSSA ATENÇÃO !

Cada vez que reclamamos, criticamos, sublinhamos o que está a acontecer de errado e perigoso na vida, estamos a dirigir a nossa atenção para isso, a dar-lhe importância, a alimentar! A fazer crescer!

Não queremos isso, pois não?

Não se trata de não ver! De fechar os olhos! Muito pelo contrário, trata-se de ver bem! De olhos bem abertos! De não querer mais do mesmo!

Como fazer então?

FOCAR O QUE QUEREMOS!

DAR ATENÇÃO (ENERGIA) AO MUNDO QUE SONHAMOS! QUE QUEREMOS!

Por aqui, faço um apelo:

Por favor não repitam uma só vez o que está a correr mal!

A energia do pensamento é poderosa, a da palavra é muito maior!!!

Escrevam e falem apenas o BEM! A PAZ, O AMOR, A ALEGRIA, A PROSPERIDADE, O SUCESSO, A ABUNDÂNCIA, A VERDADE, A JUSTIÇA!

Independentemente do que virem e ouvirem em vosso redor!

O que importa, é o que construimos de Agora em diante!

Todos os dias! Em todos os momentos da nossa vida!

O individual, forma o colectivo!

Sempre que ouvirem, lerem, virem algo absurdo, desfoquem!

Mudem de imediato a atenção para o que querem de facto! Escrevam sobre isso!

Acalmem as mentes! Meditem! Aprendam a dirigir a atenção!

Pratiquem boas acções!

O trabalho começa AGORA, aqui!

A loucura de D. Sebastião



D. Sebastião
Rei de Portugal


Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.

Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura, que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?

O primeiro dos dois poemas que têm como título “D. Sebastião” constitui a quinta quina do “Brasão” português, a primeira parte da Mensagem, que interpreta o simbolismo heráldico das armas nacionais e convida a relacionar esta quinta quina/D.Sebastião com o Quinto Império. O poema dá voz ao rei assumindo a loucura de que foi acusado, mas dando-lhe outra razão que não a da patologia ou insensatez. A sua loucura consistiu em querer “grandeza / Qual a Sorte a não dá”. “Sorte”, sobretudo com maiúscula, parece ter aqui o sentido de Destino, Fado ou Fortuna, e não tanto de acaso. A “Sorte” é a necessidade que rege o universo e à qual nem os deuses escapam (cf. Moira, Ananke, Heimarmene), subordinando todos os entes à impermanência universal e às vicissitudes dos lugares, ora superiores, ora inferiores, que ocupam no mundo, e às experiências, ora felizes, ora infelizes, que nele conhecem.

Esta “Sorte” evoca o tema arcaico, antigo e medieval da Roda da Fortuna ou do samsara, presente no Oriente e no Ocidente. Pessoa refere-se várias vezes, na sua poesia, a este tema, falando por exemplo da “roda universal da Sorte” e relacionando-a, significativamente, com a “ficção”, “sonho” ou ilusão universal que faz ao sujeito supor-se na existência o mortal que afinal não é. A loucura de D. Sebastião consistiu assim, não propriamente na temeridade da aventura africana ou no ideal supostamente anacrónico que a moveu, mas antes no haver desejado, num e para além de um acto heróico dificilmente justificável pela razão humana, uma “grandeza” que não pode ser dada (e retirada) pela Sorte. Que “grandeza” pode ser essa senão a transcensão e libertação da própria “Sorte”, a transcensão e libertação da Roda da Fortuna ou do samsara, a suprema aspiração humana? Ou seja, se recordarmos a interpretação do poema “Quinto Império”, a transcensão e libertação do próprio sonho/ilusão que preside aos “quatro / tempos” do movimento do mundo, imperando sobre a consciência e a vida mediante as “forças cegas” que dominam a “alma” enquanto uma “visão” desperta e livre as não domar. Neste sentido, a “verdade” pela qual “morreu D. Sebastião” é o próprio fim da ilusão que preside ao destino do mundo, o fim do regime de consciência adormecida, onírica e iludida figurado, em termos históricos, pela sucessão dos quatro impérios: Grécia, Roma, Cristandade, Europa. A “verdade” pela qual “morreu D. Sebastião” é o próprio Quinto Império, como figura do Outro desse regime de consciência que há que transcender: não tanto uma nova soberania mundial, assente na parcialidade de uma dada cultura, ordem jurídica, concepção moral e religiosa ou cosmopolitismo comercial, mas antes o Despertar da falsa pretensão à universalidade de todas essas ilusões, o Despertar dessas e de todas as ilusões, o Despertar da ilusão universal que preside à consciência, ao tempo e à história dos homens.

O D. Sebastião histórico é claramente transfigurado num protagonista da loucura, da boa hybris ou desmesura, que deseja a suma e insuperável “grandeza” do Despertar enquanto libertação da falsa realidade de todas as supostas condições da existência no mundo. É a “certeza” dessa possibilidade que natural e necessariamente não cabe em si, pois haver um “si” é ser ou supor-se algo ou alguém no mundo, é estar situado e logo limitado, submetido e determinado na cadeia e teia de causalidade da ordem universal. São essa loucura e essa “certeza” que afinal o fazem sair de si e o ilimitam, levando-o a trespassar e transcender a própria condição humana e mortal, assegurando-lhe a transfiguração que lhe confere um outro modo de ser, actual e imortal, que nada tem a ver com o “ser que houve”, tornado um cadáver jacente no “areal” de Alcácer-Quibir. O D. Sebastião a que Pessoa dá voz já não é a pessoa do rei histórico, desaparecido em Alcácer-Quibir em termos reais e simbólicos, mas antes a consciência desperta e imortal emergente do soçobro daquele ser humano e mortal.

É ela que agora nos fala a partir de um estado transcendente e liberto, exortando-nos a assumirmos a sua “loucura”, “com o que nela ia”, o desejo de transcender a “Sorte”, como o seu mais precioso legado. Somos nós esses “outros” que podemos assumir o exemplo libertador do rei transfigurado assumindo a sua “loucura” transcendente, iluminativa, libertadora. Pois sem isso, recorda, que somos nós, “que é o homem / Mais que a besta sadia, / Cadáver adiado que procria?”. Ou seja, sem a loucura que visa transcender a condição mortal de todo o ente, não só não cumprimos o pleno potencial da nossa própria humanidade, como nem sequer a exercemos, mantendo-nos num patamar de infra-humanidade e numa vida falsa que mais não é senão morte que se adia enquanto, pior ainda, se reproduz noutros cadáveres adiados fabricados pela mentalidade familiar, escolar e socialmente dominante. Como dizem Teixeira de Pascoaes e Agostinho da Silva: “Só há homem quando se faz o impossível”. Ou seja, aqui, a transcensão da própria condição humana.

Ser “besta sadia, / Cadáver adiado que procria”, é afinal, se regressarmos ao poema “O Quinto Império”, permanecer na “apagada e vil tristeza” (Luís de Camões) de uma vida doméstica autosatisfeita, sem “sonho” e voo para mais além, ou na felicidade vegetativa de uma vida já sepulta. Como antídoto disso, a “loucura” de D. Sebastião é o descontentamento que leva o homem a cumprir-se domando as “forças cegas” “pela visão que a alma tem”. Deixar de ser “besta sadia, / Cadáver adiado que procria”, é despertar e libertar-se desse regime de ilusão e autogratificação medíocre que preside à “noite” do mundo e ao seu tempo dos quatro impérios que evanescem julgando-se eternos: “Grécia, Roma, Cristandade, / Europa”. Deixar de ser “besta sadia, / Cadáver adiado que procria”, é “viver a verdade / Que morreu D. Sebastião”, ou seja, cumprir a suma possibilidade da condição humana: a sua própria transcensão, a imortalidade. É esse o sentido mais fundo e amplo do Quinto Império, a soberania do Despertar libertador.

A actual civilização cumpre o seu destino: ser a condição galopante da sua própria impossibilidade

O fracasso da cimeira de Copenhaga torna evidente que os estados nacionais e os poderes político-económicos mundiais não servem os interesses da população humana e dos seres vivos e sencientes no planeta.

A actual civilização cumpre o seu destino: ser a condição galopante da sua própria impossibilidade. O que é uma excelente notícia, não fora o sofrimento que causa e causará a milhões de seres...

umoutroportugal.blogspot.com

O acordo de Copenhagen

Aqui está o acordo, para quem estiver interessado:


Culture is a central component of international relations

Um dos membros reencaminhou-nos um documento que se encontra disponível na internet, com a seguinte mensagem: "Trata-se de uma reflexão sobre a importância da diplomacia cultural no mundo contemporâneo. Apesar de se destinar à realidade britânica, penso que poderá ser um bom documento de reflexão para o grupo de trabalho sobre a política cultural externa portuguesa e a lusofonia, em que me integro."

Culture is a central component of international relations.It’s time to unlock its full potential.

O documento pode ser consultado aqui.

Por um patriotismo trans-patriótico e universalista. Oito considerações para um Outro Portugal

1. A milenar tradição contemplativa e meditativa (transversal às diferentes religiões e espiritualidades, também laicas) e os progressos contemporâneos da microfísica e das neurociências (que hoje se aproximam numa convergência histórica, como nas experiências realizadas no MIT, em Massachusetts, e nos encontros anuais Mind and Life) parecem indicar não ser possível encontrar, quer na constituição da chamada matéria, quer na da chamada mente, ou seja, nisso cujo conjunto designamos por realidade, uma mínima entidade que exista em si e por si e que permaneça idêntica a si mesma, ou seja, que tenha características próprias. Todas as dimensões da chamada realidade parecem obedecer assim a duas leis fundamentais, a de interdependência e a de impermanência, que se resumem na sua ausência de características ou qualidades intrínsecas. Como se pode constatar na mínima experiência perceptiva e como a observação científica confirma, sujeito e objecto constituem-se mutuamente e interagem num dinamismo e numa metamorfose constantes, como meros fenómenos recíprocos, sem essência própria. O conceito de identidade parece ser assim uma abstracção desadequada para expressar o real, sem outro fundamento senão o de ser uma ficção convencional e funcional, que serve o reproduzir de uma tradição fortemente entranhada nos hábitos culturais, psicológicos e sociais do senso comum humano.

2. O conceito de identidade nasce, como o seu correlato, o de alteridade, de uma experiência ingénua e irreflectida, na qual, devido a tendências e hábitos inconscientes, o sujeito se crê distinto do objecto, o eu do não-eu, o mesmo do outro, o idêntico do diferente, ao mesmo tempo que esses termos da experiência se crêem reais e existentes em si e por si, com características e qualidades próprias, positivas, negativas ou neutras, que nunca são mais do que projecção da percepção inconscientemente condicionada. Este estado, que se pode chamar de ignorância dualista, origina três tendências da experiência mental-emocional na relação sujeito-objecto: 1 – o fascínio e o desejo-apego, caso o objecto seja percepcionado como atraente e positivo; 2 – o medo e a aversão, caso o objecto seja percepcionado como repulsivo e negativo; 3 – a indiferença, caso o objecto seja percepcionado como neutro. Qualquer destas experiências resulta em conflito e sofrimento, primeiro interno e depois externo, indissociável de uma extrema vulnerabilidade perante todas as vicissitudes da vida, pois a mente dominada pelo apego e pela aversão não pode assegurar de modo algum a posse do que deseja nem a exclusão do que rejeita, devido à lei da impermanência e metamorfose constantes de tudo, sujeitando-se assim constantemente à carência do que deseja ou ao medo de o perder, bem como à ameaça do que rejeita ou ao medo de o não evitar. Por outro lado, a indiferença é uma falsa alternativa, que apenas gera a experiência de solidão, de entorpecimento mental e despotenciamento vital.

Da ignorância dualista e da combinação das três tendências referidas resultam as pulsões emocionais inerentes a todos os actos e omissões, mentais, verbais e físicos, que as tradições ético-espirituais, teístas ou não-teístas, religiosas ou laicas, designam como actos negativos, faltas, pecados ou toxinas mentais, como hoje alguns preferem: desejo possessivo, ódio e cólera, inveja e ciúme, orgulho e arrogância, avidez e avareza, torpor mental e tristeza, entre muitas outras. Em qualquer dos casos, antes de lesarem os outros, estas pulsões lesam a mente do próprio sujeito a partir do primeiro instante em que nela surgem, distorcendo a percepção da realidade, gerando ignorância, insensibilidade e tormento interior e desarmonizando a circulação da energia vital, o que tem também efeitos somáticos e predispõe o organismo para todo o tipo de doenças. Por isso são objectivamente negativas, independentemente de qualquer doutrina moral ou revelação religiosa.

3. Um olhar desapaixonado e realista sobre o processo e a história da civilização humana, desde os seus primórdios até hoje, não pode deixar de constatar que tudo – a organização social, a ciência, a técnica, a política, a economia, a cultura, a educação e a religião - tem sido predominantemente movido pela ignorância dualista, o apego, a aversão e a indiferença, bem como por todas as suas combinações possíveis, com o resultado evidente, em termos gerais, de a humanidade até hoje sempre ter obtido precisamente o que mais rejeita, o sofrimento, e sempre haver falhado aquilo a que mais aspira, a felicidade: prova evidente de que o desejo-apego e a aversão resultam precisamente no contrário do que buscam. As únicas excepções a esta monumental ilusão e a este grandioso fracasso histórico colectivo, habitualmente camuflado com os nomes de “progresso”, “evolução”, “desenvolvimento”, etc., são os seres que despertam e se libertam da ignorância dualista e das suas consequências mentais e emocionais: aqueles que as várias tradições designam como sábios, santos, etc., e que são considerados mestres espirituais quando à libertação individual acrescentam o amor e a compaixão de continuarem a agir, interior e exteriormente, para o bem e a libertação dos outros.

4. Aplicada à questão das sociedades, das culturas, das nações e das pátrias, esta visão constata que nenhuma delas existe em si e por si, com uma identidade e características permanentes e irredutivelmente próprias. Todas, pelo contrário, apesar de apresentarem complexas singularidades em devir, nascem, vivem e morrem ou metamorfoseiam-se de acordo com as leis fundamentais de interdependência e impermanência que abrangem todas as dimensões do real. Com efeito, quem pode, por exemplo, pensar o que é Portugal separando a sua história e cultura das de todos (ou quase) os povos europeus, africanos, sul-americanos e orientais, sem rejeitar que no plano da língua e da mesma história e cultura existem afinidades mais imediatas com as nações lusófonas? O conceito de identidade nacional é pois, tal como o de identidade pessoal - sobretudo se pensado de forma essencialista ou substancialista, como algo que em si e por si pré-exista ou exista fora de um devir interdependente com todas as formas de alteridade - , uma mera abstracção que em última instância apenas funciona na lógica da ignorância dualista que predomina na mente humana.

5. Tal como acontece quando se extrema a bipolarização eu-outro, o extremar da suposta identidade cultural ou nacional como uma essência única, permanente e independente das demais, conduz as mentes ao nacionalismo ou ao patriotismo ensimesmado que potenciam essa ignorância dualista e esses complexos de apego ao que parece ser próprio e de indiferença ou aversão ao que parece ser alheio, o que já vimos serem as causas fundamentais de insensibilidade, sofrimento e conflito para quem por elas se deixa dominar e para quem lhe sofre as acções daí decorrentes. O nacionalismo ou patriotismo comum, levando a amar a sua cultura, nação ou pátria acima das demais, é pois injustificável e condenável em termos espirituais, sapienciais e éticos, sendo incompatível com qualquer projecto de emancipação da consciência e de serviço do bem comum a todos os homens e a todos os seres.

6. Há todavia a possibilidade de se conceber e praticar uma outra forma, não de nacionalismo, mas de patriotismo, o patriotismo trans-patriótico e universalista, que, sem se desenraizar da realidade mais concreta e imediata num transnacionalismo ou universalismo vazio e abstracto, apenas preze, cultive e promova, numa determinada tradição histórico-cultural e numa determinada nação ou pátria, aquilo que na sua singularidade houver de melhor, ou seja, a sua aspiração ao e contributo para o bem comum universal, não só dos homens, mas de todos os seres. O patriotismo trans-patriótico e universalista é o que em última instância aspira a orientar as energias ético-espirituais, culturais e sócio-político-económicas de uma dada nação ou pátria para que se superem tanto quanto possível as fronteiras e barreiras, primeiro mentais e afectivas, e depois institucionais e territoriais, entre todos os povos e culturas, de modo a que a comunidade humana possa expressar o mais possível, sem prejuízo das diferenças inerentes à sua constituição plural e complexa, a natureza e as leis fundamentais da própria realidade: ausência de id-entidades substanciais com características intrínsecas, interdependência, impermanência. O patriotismo trans-patriótico e universalista é o que aspira a converter muros em pontes e a romper o círculo vicioso e infernal em que tem decorrido e decorre a história da civilização humana, devolvendo a humanidade e o mundo ao Paraíso – ou seja, à paz, sabedoria e liberdade primordial - que no seu íntimo encobrem. O patriotismo trans-patriótico e universalista é o único que está de acordo com a milenar tradição sapiencial da humanidade e com a ciência contemporânea, convergindo para a verdadeira evolução que é a da consciência e para o verdadeiro progresso e des-envolvimento que é o ético-espiritual, entendendo por tal o despertar da dualidade que permita ver e sentir o outro como a si mesmo e assim contribuir para a emancipação mental, cultural, social, política e económica de todos os homens, bem como para o respeito da harmonia ecológica e do direito à vida e ao bem-estar de todos os seres sencientes.

7. Este patriotismo trans-patriótico e universalista é o que encontro no melhor da ideia de Portugal e da comunidade lusófona que – depurada do lastro de muitos condicionantes - interpreto em Luís de Camões, Padre António Vieira, Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva, para apenas referir os mais destacados. Foi ele, embora ainda informulado e sem a fundamentação aqui apresentada, que inspirou o Manifesto da Nova Águia e a Declaração de Princípios e Objectivos do MIL – Movimento Internacional Lusófono. Foi o desvio desta amplitude de desígnios e a sua redução ao que interpreto como um mero neonacionalismo lusófono que me levou a demitir-me de presidente deste último movimento e a redigir o Manifesto “Refundar Portugal” (umoutroportugal.blogspot.com). É apenas à luz do patriotismo trans-patriótico e universalista, como projecto fundamentalmente ético-espiritual e só a partir daí cultural, cívico, social, político e económico, que considero possível uma mudança fundamental nos rumos sombrios do actual fim de ciclo civilizacional. Não parece haver possibilidade de real transformação do mundo que não se enraíze primeiro numa profunda transformação da mente que o percepciona. A grande Revolução presente e futura, cada vez mais emergente em todo o planeta, é a união inseparável dessa transformação mental – a que alguns chamam “meditação” - e de todas as esferas da actividade humana, incluindo a económica e a política. Quando digo “transformação mental” refiro-me ao simples treino da mente para ver as coisas como são, transcendendo a dualidade, os conceitos e os juízos, o apego e a aversão, o medo e a expectativa, o passado, o presente e o futuro, na experiência do aqui e agora de cada instante, iluminada pelo amor e pela compaixão. Nada de necessariamente religioso, místico, esotérico ou exótico e que não vem do Oriente porque a mais profunda cultura ocidental, clássica ou cristã, sempre o conheceu. É a redescoberta disso, mais do que qualquer ideologia laica ou religiosa, a grande novidade que cresce hoje como bola de neve em todo o mundo.

8. Exorto a que divulguem, discutam e enviem sugestões para aperfeiçoar o Manifesto “Refundar Portugal”, de modo a que possamos praticar estas ideias e trazer desde já para a nossa vida quotidiana essa diferença que consideramos essencial para o mundo: abertura, clareza e paz da mente e do coração, capacidade de diálogo e compreensão, amor aos homens e aos seres vivos - para além das diferenças de nação, língua, etnia, cultura, religião, ideologia e espécie - , promoção e pedagogia dos valores mais benignos e universais das culturas lusófonas em diálogo com os de todas as culturas planetárias, intervenção cívica, cultural e social que afirme estes valores na esfera pública, política e económica.

umoutroportugal.blogspot.com

Da face à pena|O rosto do outro

quando a face
ainda não é
compaixão
é
pena


Inaugurada primeira mesquita no Arquipélago da Madeira [14.12.2009]


A primeira mesquita no Arquipélago da Madeira e 34ª em Portugal foi hoje inaugurada, recordando o imã local, Abdel Lasri, que a comunidade islâmica se reunia há cerca de cinco anos num apartamento no Funchal.

Na cerimónia, o presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim agradeceu o “trabalho desenvolvido pela comunidade islâmica em prol da Região e a forma generosa como se integrou com o povo da Madeira”.

Alberto João Jardim criticou o facto das actuais sociedades terem “caído no materialismo despido de humanismo”, comentando: “Apesar da Europa ter atingido o desenvolvimento, a perda dos valores da espiritualidade acabará por ser a decadência de uma forma de viver”.

O presidente da comunidade islâmica em Lisboa, Abdool Karim Vakil, considerou, por seu lado, que “Portugal é um exemplo ímpar de respeito mútuo e convívio harmonioso entre etnias, que vivem lado a lado, contribuindo para o desenvolvimento da Madeira”.

Salientou que esta inauguração surge num “contexto europeu algo estranho, onde existem manifestações de xenofobia e islamofobia”.

Para ele, “todas as religiões são caminhos diferentes que nos conduzem ao mesmo Deus”. Apelou ao esforço de todos, no sentido de “transformarem as espadas em arados, fazendo do actual mundo de desavenças um lugar melhor”.

A cerimónia de inauguração da mesquita contou com a presença dos embaixadores do Irão, Arábia Saudita e representantes da Líbia, e elementos de diversas religiões da Madeira.

Em declarações à agência Lusa, o imã da Madeira, Abdel Lasri, referiu que a comunidade islâmica “está a crescer e agora tem mais condições para receber as diferentes culturas, o que é importante para ligação com a comunidade madeirense”.

Adiantou que o grupo é composto por cerca de 700 pessoas, sendo a maioria africana mas existindo também cidadãos do Paquistão, Cazaquistão, Bangladesh, Índia e alguns árabes.

“Esta é uma evolução extraordinária, porque o anterior espaço era reduzido, sem condições e esta é uma outra visão do ponto de vista da prática do culto”, acrescentou o presidente da comunidade islâmica, Abdoul Karim.

fonte: http://www.destak.pt/artigo/48110

E cada vez somos mais!!! Portugueses Felizes!!!! Numa das nossas entradas e saídas para o Mundo! =)

Abertos à Alegria ! A todas as culturas! Orgulhosos de nós mesmos !!!

Um contributo para a Humanidade! Sobre compaixão!

Carta pela Compaixão

Só para completar um pouco a informação deixada em baixo pela Cristina, aqui vos deixo a Carta pela Compaixão. Está no site já traduzido em várias línguas, pelo que se concordarem, podem subscrever e enviar para os vossos amigos do mundo inteiro.

Carta pela Compaixão

O princípio da compaixão é o cerne de todas as tradições religiosas, éticas e espirituais, nos conclamando sempre a tratar todos os outros da mesma maneira como gostaríamos de ser tratados. A compaixão nos impele a trabalhar incessantemente com o intuito de aliviarmos o sofrimento do nosso próximo, o que inclui todas as criaturas, de nos destronarmos do centro do nosso mundo e, no lugar, colocar os outros, e de honrarmos a santidade inviolável de todo ser humano, tratando todas as pessoas, sem exceção, com absoluta justiça, eqüidade e respeito.
É necessário também, tanto na vida pública como na vida privada, nos abstermos, de forma consistente e empática, de infligir dor. Agir ou falar de maneira violenta devido a maldade, chauvinismo ou interesse próprio a fim de depauperar, explorar ou negar direitos básicos a alguém e incitar o ódio ao denegrir os outros - mesmo os nossos inimigos - é uma negação da nossa humanidade em comum. Reconhecemos que falhamos na tentativa de viver de forma compassiva e que alguns de nós até mesmo aumentaram a soma da miséria humana em nome da religião.
Portanto, conclamamos todos os homens e mulheres ~ a restaurar a compaixão ao centro da moralidade e da religião ~ a retornar ao antigo princípio de que é ilegítima qualquer interpretação das escrituras que gere ódio, violência ou desprezo ~ garantir que os jovens recebam informações exatas e respeitosas a respeito de outras tradições, religiões e culturas ~ incentivar uma apreciação positiva da diversidade religiosa e cultural ~ cultivar uma empatia bem-informada pelo sofrimento de todos os seres humanos - mesmo daqueles considerados inimigos.
É urgente que façamos da compaixão uma força clara, luminosa e dinâmica no nosso mundo polarizado. Com raízes em uma determinação de princípios de transcender o egoísmo, a compaixão pode quebrar barreiras políticas, dogmáticas, ideológicas e religiosas. Nascida da nossa profunda interdependência, a compaixão é essencial para os relacionamentos humanos e para uma humanidade realizada. É o caminho para a iluminação e é indispensável para a criação de uma economia justa e de uma comunidade global pacífica.

Aproveito para deixar um abraço de bom ano para todos e informar que vamos ter amanhã aquilo que os astrónomos chamam uma "lua azul", a segunda lua cheia num único mês.

Charter for Compassion

Charter for Compassion

A UNIVERSIDADE IDEAL

"A universidade ideal não teria formalizado sistemas de créditos nem disciplinas obrigatórias. Seria uma espécie de retiro educacional onde as pessoas poderiam explorar várias disciplinas, descobrir quem são, os seus verdadeiros interesses, e apreciar o prazer de aprender e a preciosidade da vida." Abraham Maslow

Um contributo para a Saúde Global - Meditar em Movimento - A essência do Tai Chi Chuan

Tai Chi Chuan - Arte Marcial - Meditação em Movimento

Além de excelente exercício fisico...

Partilho agora convosco, um excelente artigo que ajuda à compreensão de como a prática desta Arte pode ajudar, na construção de um mundo melhor!

http://www.portalalpha.com.br/LivrePensar.asp?identificacao=21

Orgulho de ser Portuguesa!

Não resisti a publicar! Somos mesmo fantásticos!

Ken Robinson afirma que as escolas matam a criatividade

Ou ainda de como se pode falar de coisas sérias de uma forma simples e cheia de humor.

Um Silêncio remoto
Comanda a voz da oposição.
Um rosto vazio de esperança
Apresenta-se ao País.

Sem convicção
Nem persuasão
Nos movemos,
Como se a causa
Pela qual lutamos
Já estivesse perdida.

Qual causa?
Qual luta?

Se sabeis a resposta,
Dizei-me,
Por favor,
Porque não a vislumbro mais!

Isabel Rosete
Portugal: Uma Pátria desolada nos confins da Europa. Outrora, vitoriosa, no “reino cadaveroso da cultura”.
Portugal: um Povo, uma massa de gente deslumbrada, com outros modos de fazer mundos, com os Mundos de outras Pátrias, não perdidas nas marés do assombro.

Isabel Rosete

Conhecer um pouco mais a Doula!

Para terem uma ideia um pouco mais precisa daquilo em que consiste, pelo menos em parte, o trabalho de uma doula, convido-vos a verem os links seguintes, onde estão fotografias lindíssimas do trabalho apaixonante de dedicação ao bem estar do outro e uma pequena peça jornalistica onde doulas experientes falam acerca do que fazem.


... penso que assim é fácil perceber o porquê de se considerar importante o reconhecimento desta actividade como profissão na área do acompanhamento das mulheres grávidas. A doula é alguém que, conhecendo profundamente a mulher e o casal que acompanha ao longo de várias sessões, tem a competência de ajudá-los a manterem-se focados, confortáveis e felizes num momento tão delicado e maravilhoso que é o parto!

O que é o "diá-logo" entre culturas?




"Entre, por um lado, o consenso mole do diálogo sempre suspeito de ser um alibi ou de esconder mais insidiosamente as relações de forças sob a sua aparente abertura e, por outro, o clash anunciado - constatado - assim como o apelo à defesa identitária do "Ocidente", que outra via que não tombe para nenhum lado: que não seja nem utópica, nem defensiva, nem de compromisso? Ou "diá-logo" não é algo antes a retomar e repensar, mas decidindo desta vez conferir a sua plena exigência a um e a outro dos seus componentes [...]? Fazendo compreender, por um lado, no diá do diá-logo, a distância do afastamento, entre culturas necessariamente plurais, mantendo em tensão o que está separado: um diálogo, ensinaram-nos os Gregos, é mesmo tanto mais rigoroso e fecundo quanto mais atiça teses antagonistas; e, no logos, por outro lado, o facto de que todas as culturas mantêm entre elas uma comunicabilidade de princípio e que tudo, do cultural, é inteligível, sem perda e sem resíduo. [...] [após afirmar que o diálogo é "operatório"] Mas operatório em quê? Não que quiséssemos a todo o preço conciliarmo-nos com o outro, ou que encontrássemos já nele [no diálogo] prescritas regras formais, mas simplesmente porque, para dialogar, cada um deve imperiosamente abrir a sua posição, colocá-la em tensão e instaurá-la num frente a frente. Não pois porque cada um seria movido por uma finalidade de entendimento, ou porque a lógica do diálogo revelaria um universal pré-estabelecido, mas porque todo o diálogo é uma estrutura eficiente - operativa - que obriga de facto a reelaborar as suas próprias concepções, para entrar em comunicação, e portanto também a reflectir-se"

- François Jullien, De l'universel, de l'uniforme, du commun et du dialogue entre les cultures, Paris, Fayard, 2008, pp.247-248.

Doulas

Nesta quadra natalícia festejamos, basicamente, a família. E uma família existe a partir do momento que um casal recebe uma criança como filho, aceitando (e desejando) cuidar dele com todo o carinho e respeito, dando-lhe as armas para que ele se torne um Homem capaz de cuidar de si próprio sem supervisão e de cuidar de outros filhos até que estes se tornem também Homens....

As variantes da família clássica e tradicional, actualmente, são muitas.... e todas bem vindas. Mas não é acerca desta multiplicidade que me proponho escrever neste momento.

Gostaria de abordar a forma biológica de ter um filho. Um homem, uma mulher, uma gravidez, um parto e um bebé. Tudo muito natural e lógico.... um quadro de desejo, força e amor.....

Gostaria de abordar, neste contexto, o papel da doula na promoção de uma gravidez, parto e pós-parto plenos de consciência, tranquilidade, poder e afectividade....

Surge a questão....

"Quem é a doula?"

Apesar de em Portugal o termo "doula" ser desconhecido, em muitos outros países, dentro e fora da europa, esta é já uma palavra que faz parte do vocabulário de um casal que espera um filho... e, em última análise, esta palavra, apesar de estranha, representa nada mais que o papel desempenhado desde sempre, por alguém que acompanha a mulher durante toda a metamorfose que acontece no seu corpo, culminando no parto e na amamentação do bebé esperado.

A doula é a pessoa que, não sendo nem médico, nem enfermeiro, nem familiar da mulher grávida, tem formação específica e contínua para acompanhar do ponto de vista emocional e informativo a mulher, durante toda a gravidez, parto e pós-parto. Esta pessoa, que geralmente é uma mulher que já passou pela experiência de gravidez e parto, mas que em alguns casos pode ainda não ter tido filhos ou ser um homem, é alguém que sentiu um forte chamamento interior no sentido de ajudar outras mulheres a passar pela extraordinaria viagem que conduz à maternidade, por perceber que o processo implicado tem um fortíssimo componente emocional que raras vezes é tido em consideração nos acompanhementos tradicionais da gravidez e parto e que tanto influencia os processos fisiológicos em curso.

Este acompanhamento por uma doula já foi provado como muito benéfico em todas as fases da gravidez, parto e pós-parto em variadissimos estudos (Hofmeyr, Nikodem VC, Wolman WL, Chalmers BE, Kramer T. "Companionship to modify the clinical birth environment: effects on progress and perceptions of labour, and breastfeeding" Br J Obstet Gynaecol, 98:756-764; Langer A, Campero L, Garcia C, Reynoso S. "Effects of Psychosocial support during labour and childbirth on breast feeding, medical intervencions, and mothers`well-being in Mexican public hospital: a randomized clinical trial "Br J Obstet Gynecol, 105: 1056-1063, 1998; Kennell JH, McGrath SK "Labor Support by a Doula for middle-income couples; the effect on cesarean rates" Pediatrics Res, 32:12A,1993; etc...).

Por isso mesmo a doula é já uma figura instituida no conjunto dos tecnicos que acompanham a mulher grávida, em países como a Suiça, Inglaterra, Holanda, entre outros.

De um modo geral, os estudos referem uma diminuição na ansiedade da mulher durante toda a gravidez, uma diminuição do número de cesarianas, uma diminuição da necessidade de intervenções médicas invasivas, uma diminuição na duração do trabalho de parto, uma redução nos pedidos de anestesia, diminuição do risco de depressão pós-parto, um aumento do nível de atenção e receptividade para com o bebé, aumento do sucesso da amamentação e aumento da satisfação da mulher face à sua experiência de parto.

Face a estes resultados, podemos perguntar porquê em Portugal ainda não é vulgar as mulheres terem uma doula. Bem, a resposta é simples....

Tal como acontece com tudo o que é "novo", a figura da doula pode parecer ameaçadora a vários níveis.

Por um lado, muitas pessoas confundem a doula com a parteira, por outro, os técnicos de saúde ficam sensíveis a ter mais uma pessoa a "atrapalhar" os procedimentos médicos, por outro ainda a família sente que esse papel está muito bem desempenhado pelo companheiro da mulher grávida...

No entanto, as pessoas que ultrapassam a barreira do "medo do desconhecido" fácilmente reconhecem na doula competências paralelas e não antagónicas ou divergentes a todas as outras personagens que povoam o mundo de uma grávida.

Por um lado, a doula não sabe medicina, por isso nunca irá avaliar o estado de saúde ou realizar intervenções médicas. Por outro lado, como técnico competente na área do apoio emocional e ainda conhecendo algumas técnicas não médicas de alívio da dor, a doula fácilmente consegue resgatar na mulher a força inata que esta tem para parir, ajudando-a a manter-se focada no momento presente e assim, facilitar bastante o trabalho do médico ou enfermeiro na prossecução de um parto de sucesso.

Em relação ao papel do companheiro da mulher (pai do bebé que irá nascer), ao diminuir a ansiedade da mulher (e consequentemente do casal), a doula potencia todo o importantíssimo trabalho que aquele tem durante todo o processo, aumentando a confiança e a união do casal.

Actualmente, em Portugal, só quem sabe que existem doulas e procura por uma consegue ter acesso ao trabalho por elas desempenhado... não deveria ser assim! Penso ser importante incluirmos formalmente o papel da doula no apoio à gravidez, parto e pós-parto, para que seja aumentada a humanização do parto no nosso país.

Assim, com uma doula para cada mulher, certamente teremos um Portugal mais acolhedor para aqueles que nascem, já que a doula representa a ponte entre a emoção dos pais que esperam a chegada do seu filho e o saber científico dos tecnicos de saúde, necessário para garantir uma viagem segura até ao mundo da maternidade e da "família".

Em nome de todas as doulas que trabalham em portugal, desejo um novo ano repleto de amor em todas as famílias... porque a família é o primeiro mundo que conhecemos!

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"[...] os portugueses típicos nunca são portugueses"; "Nenhum povo se despersonaliza de modo tão magnificente"

"The Portuguese Sensationists are original and interesting because, being strictly Portuguese, they are cosmopolitan and universal. The Portuguese temperament is universal: that is its magnificent superiority. The one great act of Portuguese history - that long, cautious, scientific period of the Discoveries - is the one great cosmopolitan act in history. The whole people stamp themselves there. An original, typically Portuguese literature cannot be Portuguese, because the typical Portuguese are never Portuguese. There is something American, with the noise left out and the quotidian omitted, in the intellecrtual temper of this people. No people seizes so readily on novelties. No people depersonalises so magnificently. That weakness is its great strength. That temperamental nonregionalism is its unused might. That indefiniteness of soul is what makes them definite"

- Fernando Pessoa, in Sensacionismo e outros ismos, edição de Jerónimo Pizarro, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 2009, pp.218-219.

Palavras a ponderar, depurativas do provincianismo identitário, ainda que não plenamente livres dele...

Esfera Armilar - Da identidade histórico-cultural como limite a superar

A história e a cultura constituem poderosos sistemas de condicionamentos e automatismos mentais, emocionais e práxicos que convidam, por via gregária e irreflectida, a um regime de consciência parcial, incapaz de compreender e aceitar a realidade humana, cósmica e divina na sua totalidade plural e complexa. A fixação de uma dada identidade histórico-cultural é, por isso mesmo, um notável contributo para o estreitamento da consciência e para o sofrimento e conflitos daí resultantes. Por isso mesmo, a cultura mais poderosa é aquela que a si mesma se não vir como um fim em si e antes como um meio para se libertar de si mesma. É esse o projecto da "cultura portuguesa", assumida por Vieira, Pessoa e Agostinho da Silva como trampolim para a universalidade, mediação para além de todas as mediações, sejam elas lusitanas ou lusófonas. O melhor de Portugal e da lusofonia é o que neles se esquece de se rever e assinar no espelho do mundo. O pior de Portugal e da lusofonia é o que no mesmo acto deixa a mácula da assinatura. Medíocre é o que se afirma. Grande o que se esquece. Supremo o que nunca se nomeou.

Outro Portugal =) ! Parabéns à TAP e à ANA !

O regresso em nós de D. Sebastião ou o fim do sebastianismo



D. Sebastião

Sperai! Caí no areal e na hora adversa
Que Deus concede aos seus
Para o intervalo em que esteja a alma imersa
Em sonhos que são Deus.

Que importa o areal, a morte e a desventura
Se com Deus me guardei?
É O que eu me sonhei que eterno dura,
É Esse que regressarei.

O segundo poema que tem como título “D. Sebastião” é o primeiro dos cinco “Símbolos” que abrem a terceira parte, “O Encoberto”, da Mensagem. Nele o poeta volta a dar voz a um rei que – falando sempre como esse ser “que há” e não “que houve”, ou seja, como imortal dotado da “grandeza” de ser livre da “Sorte” - exorta a que esperem pelo seu regresso aqueles que ainda permanecem escravos da comum condição mortal e humana, reproduzindo a sua submissão ao Destino enquanto cadáveres adiados que procriam. D. Sebastião continua a ser aqui, numa coerência rigorosa, a figura de um rei-Outro, de uma consciência desperta que exorta os que esperam o seu regresso ao mundo dos homens a que não esperem que regresse o mesmo que partiu. Efectivamente, tendo-se convertido No que se sonhou, tendo-se tornado Naquele que se desejou, um ser emancipado do Destino, e sendo isso “eterno”, não pode senão ser “Esse” que regressará. Não faz sentido assim que o esperem com uma expectativa adequada ao que foi e já não é nem poderá nunca mais ser, não faz sentido que o esperem com a predominante esperança sebastianista que sobrevive à possibilidade do regresso físico do rei desaparecido em Alcácer-Quibir e se converte num paradigma da mentalidade portuguesa em épocas de crise e profunda insatisfação, fruto da laicização da expectativa messiânica: a expectativa de que surja um mero líder político, redentor da pátria oprimida e decadente, restaurador da ordem ameaçada e condutor da nação em períodos de crise da identidade e sentido da sua vida histórica. O D. Sebastião de Pessoa exorta a que o esperem, mas não como o Mesmo, antes como Outro, não como mortal, antes como imortal.


D. Sebastião exorta ao fim do sebastianismo comum, recordando que o seu fracasso humano, pessoal e histórico não foi senão o reverso do divino dom de uma oportunidade superior a todo o triunfo bélico e a todo o poder e glória temporais. Caindo “no areal e na hora adversa”, segundo a percepção mundana e exterior, D. Sebastião na verdade acedeu ao “intervalo” da imersão da “alma” “em sonhos que são Deus”, concedido pelo divino aos “seus”, ou seja, aos que o buscam acima de tudo, aos seus “amigos”.


O que são este “intervalo”, esta imersão e estes “sonhos que são Deus”? “Intervalo”, do latim intervallum, é o espaço ou distância entre dois pontos ou lugares, que etimologicamente são duas paliçadas ou trincheiras (vallum), também com o sentido de baluartes, defesas, protecções. O “intervalo”, ainda segundo um dos sentidos da palavra latina, sugere-se como o repouso ou descanso da “alma” em algo que não a pré-ocupa com a construção de limites e muros autoprotectores, o repouso ou descanso da “alma” relativamente a toda a pré-ocupação, mental, emocional ou física, com a separação entre uma coisa e outra, a divisão entre si e o outro, a defesa e o ataque, a dualidade, o medo e a (in)segurança. Livre de tudo isso, é no intervalo disso tudo, na “pausa” (outro sentido do intervallum latino) de toda essa agitação, que se pode abrir e absorver plenamente “em sonhos que são Deus”. Ou seja, no contexto da Mensagem, viver a “loucura” daquela ânsia de “grandeza” trans-mundana e transcensão de toda a “Sorte”/condição mortal que se converte nisso e é já isso mesmo a que ardentemente aspira. O desejo veemente dessa “grandeza” insuperável é já a vibrante e imanente epifania do divino. Como escreve Pessoa no poema “D. Fernando. Infante de Portugal”: “E esta febre de Além, que me consome, / E este querer grandeza são seu nome / Dentro em mim a vibrar”. É isso que torna o sujeito “cheio de Deus” e é isso, e apenas isso, que o pode ressuscitar, já em vida, de ser a “besta sadia” e “cadáver adiado que procria”, vergado pelas indomadas “forças cegas” ao triste contentamento com a vida doméstica e vegetativa. É isso, e apenas isso, que o pode ressuscitar do tempo dos quatro impérios e operar a sua superação no Quinto, a “verdade” pela qual “morreu D. Sebastião” (cf. o poema “O Quinto Império”), que evidentemente nada tem a ver com qualquer domínio mundano, temporal e político. Do mesmo modo que em D. Sebastião o ser “que há” transcende o “que houve”, assim também o Quinto Império transcende o plano onde decorrem e se dissipam os quatro, não podendo propriamente dizer-se que venha temporalmente após eles, enquanto símbolo de uma possibilidade que transcende o tempo e o espaço e que é a própria possibilidade do homem ou da consciência se imortalizar.


A alma de D. Sebastião está pois “imersa / Em sonhos que são Deus”. O que é, todavia, “Deus”? A palavra procede da raiz indo-europeia dei, que significa “tudo o que brilha”, donde vem o sânscrito deva (deus), o iraniano daeva (demónio) e o português dia [1]. Deus indica não um ser ou um ente, algo que exista e possa ser objecto, algo que possa ser visto por alguém, mas antes a própria luz invisível que torna todas as coisas visíveis, em termos inteligíveis ou sensíveis, o ilimitado espaço luminoso que é matriz de todas as possibilidades de manifestação e consciência, o nada inerente ao aparecimento de tudo [2](* cf . também o "nada que é de tudo" em Agostinho da Silva). É aí que verdadeiramente cai, imerge e reside o D. Sebastião transfigurado, que realiza a suma potencialidade de todo o homem. É nisso que se guarda, baluarte sem defesas e assim inexpugnável pela derrota no “areal”, “a morte e a desventura”. É Isso, afinal, que se sonhou e tornou, num sonho/desejo/imaginação criadora (ou desveladora) que converte o amante na coisa amada (cf. Luís de Camões), que realiza isso que imagina, em tudo distinto daquele sonho ilusório e irreal que preside à história do mundo e dos homens e à sucessão dos quatro impérios mundanos. “O” que se sonhou, esse “Deus”/matriz intemporal de toda a manifestação, transcende a consciência temporal e a sua ilusão intrínseca, sendo da ordem do eterno. É só “Esse” que D. Sebastião pode regressar, não o rei humano morto ou desaparecido no areal, ou um seu substituto, mitificado pelo sebastianismo e esperado pelos sebastianistas de todos os tempos, mas o sujeito transfigurado em Deus, dei-ficado, ou seja, iluminado. Desperto e livre, em nada se distingue desse espaço primordial, anterior a todas as coisas e de todas envolvente como a matriz que as possibilita, mas que, na experiência mundana e condicionada, apenas se abre nos inter-valos entre uma coisa e outra, entes, pensamentos, palavras e acções.


Cabe a este respeito recordar um fundamental poema inglês de Pessoa, “The King of Gaps”, “O Rei das fendas/brechas,/aberturas/hiatos/lacunas/vazios/intervalos/abismos”, que muito ajuda a compreender o “intervalo” em que está imerso o D. Sebastião pessoano. Este “rei desconhecido”, senhor de um “estranho Reino dos Vazios” com o qual coincide, figura isso que há “entre” uma “coisa” e outra “coisa”, o intervalar e não entificado espaço vazio que se desvela entre as entidades, o fundo informe onde as formas se recortam e definem, bem designado como “entre-seres”. Se num sentido parece assumir a função de um Mesmo indiferenciado, perante o qual tudo o que nele se delimita surge como as múltiplas formas da sua alteridade, ou se noutro sentido podemos pensá-lo como o Outro enquanto transcende e envolve todas as formas do mesmo, num outro sentido podemos reconhecer-lhe uma transcensão mais radical, tanto do mesmo como do outro, tanto do idêntico como do diferente, na medida em que estes se constituam no âmbito de uma relação mútua entre formas e entidades que só se torna possível por haver esse espaço não-entitativo do “estranho Reino dos Vazios” que permite a constituição e o reconhecimento da relação e do relacionado.


Seja como for, é Nisso que imerge D. Sebastião e é Isso/Esse que anuncia regressar. Este segundo poema dedicado a D. Sebastião confirma a transfiguração do herói épico e trágico, malogrado protagonista histórico, num intemporal avatar espiritual, qual Bodhisattva ou Redentor gnóstico que, desperto e iluminado, se dirige aos homens, pela voz de Pessoa, seu poeta-profeta, ensinando-lhes já a necessidade de transformação da sua esperança quanto ao seu futuro regresso para junto deles, que tudo indica nada ter a ver com uma redenção política e temporal, mas antes com o exercício de um magistério espiritual que não visa senão conduzi-los ao mesmo estado livre e desperto, à mesma libertação da “Sorte”, à mesma ressurreição, dei-ficação ou iluminação.


Esta é uma possibilidade de leitura, que não contradiz outra, mais funda e acalentada pelo próprio Pessoa, em que o regresso de D. Sebastião, como é aliás mais adequado a uma potência espiritual, não é tanto exterior quanto interior, podendo dar-se a qualquer momento em todo o homem que evoque em si o mesmo que D. Sebastião evocou. D. Sebastião, ou seja, uma potência espiritual desperta e livre do espaço e do tempo, regressa efectivamente em todo aquele que deseje a mesma libertação da “Sorte” e se afunde no mesmo “intervalo” divino, na mesma luminosa matriz primordial de todas as coisas [3]. Que isto seja susceptível de uma expressão colectiva, adverte-o também Pessoa, ao dizer do “mito sebastianista, com raízes profundas no passado e na alma portuguesa”: “Comecemos por nos embebedar desse sonho, por o integrar em nós, por o incarnar. Feito isso, cada um de nós independentemente e a sós consigo, o sonho se derramará sem esforço em tudo que dissermos ou escrevermos, e a atmosfera estará criada, em que todos os outros, como nós, o respirem. Então se dará na alma da Nação o fenómeno imprevisível de onde nascerão as Novas Descobertas, a Criação do Mundo Novo, o Quinto Império. Terá regressado El-Rei D. Sebastião” [4].


Regressará, em nós, D. Sebastião, mas, fundamental não o esquecer, Outro, jamais o mesmo. O que implica que, em nós, o mesmo morra e deixe aparecer o Outro.


Assim se desencobre o Encoberto. O que reside entre cada coisa, pensamento, palavra e acção



[1] Cf. Odon Vallet, Petit lexique des mots essentiels, Paris, Albin Michel, 2007, pp.63-64.
[2] Cf. Jean-Yves Leloup, “Notre Père”, Paris, Albin Michel, 2007, pp.173-174.
[3] É isso que salientamos neste texto decisivo: “A metempsicose. A alma é imortal e, se desaparece, torna a aparecer onde é evocada através da sua forma. Assim, morto D. Sebastião, o corpo, se conseguirmos evocar qualquer cousa em nós que se assemelha à forma do esforço de D. Sebastião, ipso facto o teremos evocado e a alma dela entrará para a forma que evocámos. Por isso quando houverdes criado uma cousa cuja forma seja idêntica à do pensamento de D. Sebastião, D. Sebastião terá regressado, mas não só regressado modo dizendo, mas na sua realidade e presença concreta, posto que não fisicamente pessoal. Um acontecimento é um homem, ou um espírito sob forma impessoal” – Fernando Pessoa, Sobre Portugal. Introdução ao problema nacional, recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão, introdução e organização de Joel Serrão, Lisboa, Ática, 1979, p.196.
[4] Cf. Ibid., p.255.

Redes 50: Meditación y aprendizaje

Redes 50: Meditación y aprendizaje

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Feliz Natal!

"Que me importa que Cristo haja nascido ontem em Belém
se não nasce hoje na minha alma?"

- Angelus Silesius, Peregrino Querubínico

O meu desejo de Natal ao Fernão Capelo Gaivota que vive em todos nós

E boas entradas no novo ano.

Lógica vs Intuição - Pensando o ensino

"When I was young, it seemed that life was so wonderful, a miracle, oh it was beautiful, magical. And all the birds in the trees, well they'd be singing so happily, joyfully, playfully watching me. But then they send me away to teach me how to be sensible, logical, responsible, practical. And they showed me a world where I could be so dependable, clinical, intellectual, cynical. There are times when all the world's asleep, the questions run too deep for such a simple man. Won't you please, please tell me what we've learned I know it sounds absurd but please tell me who I am. Now watch what you say or they'll be calling you a radical, liberal, fanatical, criminal. Won't you sign up your name, we'd like to feel you're acceptable, respecable, presentable, a vegtable! At night, when all the world's asleep, the questions run so deep for such a simple man. Won't you please, please tell me what we've learned I know it sounds absurd but please tell me who I am."

The logical song, Supertramp

Cumprimentos a todos,
Dulce Alves

Contribuição de Luís Resina: Manifesto para a paz global



O Papel da Crise ao Nível Individual e Global

As mudanças externas que estamos a assistir no mundo funcionam como um catalisador para as mudanças dentro de nós.
Os pressupostos e as demonstrações da física quântica, permitem-nos dizer, que os nossos pensamentos, emoções e actos têm a capacidade de influenciar os átomos da matéria.

O Papel do Sentimento, a Inteligência Emocional

Já foi provado por cientistas que a energia do coração humano gera um campo magnético mais forte 5000 vezes que o cérebro. O sentimento colectivo exerce efeito sobre o campo geomagnético da Terra. Uma mudança no nosso modo de sentir a nós mesmo e ao colectivo, possui o potencial para afectar o nosso mundo no sentido quer subjectivo quer objectivo.
Gregg Barden - “Fractal Time”.

Dirigimo-nos para um ponto de convergência e de aglutinação onde as coisas têm de ser transmutadas, o “Status Quo”, assente na Economia, na Política, na Ciência e na Religião necessita de ser renovado urgentemente.
O estrangulamento do tempo, da economia, dos recursos naturais e de uma vida desvinculada dos ritmos cósmicos tornar-se-á insustentável dentro de poucos anos, a não ser, que voltemos rapidamente o nosso olhar para a Essência que sustêm o Mundo.
Essa Essência apresenta-se sob a forma de Luz (informação e conhecimento), Amor (coesão e sustentabilidade) e Partilha (abundância e alegria), estas serão na minha perspectiva as pedras basilares de uma nova "Ecologia do Ser.

É urgente a construção rápida de novos paradigmas através da prática de um Neo-humanismo assente numa Ecologia do Ser.
Isso implica uma maior solidariedade entre os grupos económicos, políticos, sociais e religiosos, e estes necessitam de estar em sintonia com valores espirituais e universais. A abordagem a este novo tipo de consciência pretende vir a mostrar-se como uma alternativa a um materialismo que tem vindo a exaurir os recursos, não só do planeta como do próprio ser humano. Isso só poderá ser feito por todos aqueles que estão conscientes destes desafios. O objectivo será intuirmos as grandes ideias centrais que servirão de alternativa à crise global , não confinada apenas ao campo económico, mas também à área social, aos valores humanos e à necessidade de implementação de uma nova espiritualidade.

É a hora de acordar o espírito co-criador que reside em cada um de nós!

Manifesto para a Paz Global

Reunidos na cidade de Caracas, Venezuela, em 24 de Novembro de 2002, no marco do Terceiro Encontro da Rede Ibero americana de Luz, foi declarado o seguinte:

Há uma única pátria: o Cosmos.
Há uma única nação: a Terra.
Há uma única família: a Humanidade.
Há uma única verdade: a Vida, expressando-se de acordo com uma ordem superior e infinita.
Há uma única religião: o Amor.
Há uma única essência: a Luz Eterna que gera a vida.
Há uma única ciência: a Universalidade.
Há uma única meta: a Paz em unidade com todos os seres.
Há um único destino: a Evolução.
Há um só tempo: o Acorde dos ritmos naturais.

Este chamado de consciência é dirigido a todas as instâncias nacionais e internacionais, grupos, organizações e pessoas que sabem que um mundo melhor é possível e também àquelas que:

  • Transcendem seus valores trabalhando em si mesmas;
  • Manifestam disposição de serviço à humanidade e ao planeta;
  • Aceitam unir-se a outras pessoas em acções conjuntas;
  • Vinculam-se mediante o poder do pensamento sinérgico;
  • Efectuam a sincronização de propósitos em pensamento, emoção e acção;
  • Geram convergências planetárias de consciência comunicando-se por diferentes meios e sobre diferentes temas afins;
  • Usam seu potencial criador para gerar a aceleração da transformação planetária.

Autor: Luís Resina

E se a ouvissem?...

a Língua Madrasta


Dias de palha-de-aço. Pardacentos, transbordantes dum mofo difícil de descrever. Horas marteladas entre papeladas escritas a desgosto. Vidas mastigadas numa orgia de bacantes meio cegas e já perto da última derrota, enfim, não somos todos carne animada duma esperança provisória?

Os conselhos de turma servem para quê? Em princípio, para avaliar os alunos.

Mas avaliar, esse acto pedagógico sublime, difícil, não é julgar a valia antropológica das pessoas que têm a desdita de se verem encerradas na escola no período mais viçoso das suas vidas.

Num conselho de turma típico temos, se tivermos alguma sorte, um açougueiro-mor – mais frequentemente, uma açougueira – a pessoa que lecciona Português.

Português, na escola portuguesa, é a Língua Madrasta. Se fosse Materna conseguira iluminar os corações dos alunos e conduzi-los à descoberta das potencialidades ocultas da sua mente. Mas não. Aquilo que deveria ser o tesouro mais precioso à disposição da pessoa que 'dá' Português, os erros dos seus alunos, as falhas que, com uma ponderada e interessada correcção poderiam conduzi-los à descoberta duma subjectividade criativa, acabam por ser pregos de amortalhar cristos.

É claro que há excepções.E são muitas.

Lembro-me agora duma das situações mais bizarras da minha vida: enquanto director de turma tive que ler o comentário duma pessoa que 'dava' Português no cabeçalho dum teste dum aluno. Quem mo mostrava era o pai. Calmo, mas com uma imensa tristeza nos olhos. O seu filho era apelidado de imbecil pela douta criatura, em quatro linhas de azedume escritas com um despeito fora deste mundo. O aluno era portador duma deficiência profunda, o síndrome de Asperger. O seu maior problema era dar demasiado trabalho aos professores. Tinha uma disgrafia grave, devidamente comprovada por perícias médicas. E mesmo assim a senhora queixava-se que a letra do aluno era ilegível e que ela não se sentia obrigada a ler o que ele escrevia.

O pai perguntou-me o que é que a escola pretendia fazer com o seu filho. Haveria uma lista para extermínio? Eu respondi-lhe que iria perguntar ao primeiro SS que encontrasse.

Quando confrontei a professora do ensino especial com a situação a resposta que me deu é que o pai queria era que lhe passassem o filho de qualquer maneira. Vendo que tinha encontrado a pessoa que procurava, antes de lhe perguntar pela existência da lista, perguntei-lhe como é que ela via a permanência daquele aluno na escola. Respondeu-me que o aluno era imbecil e que não deveria estar numa turma normal do ensino secundário. Haveria outros percursos que lhe seriam mais adequados, mas os pais queriam por força que o filho continuasse na escola.

O pai tinha-me dito que considerava a socialização importantíssima, uma vez que o filho estava a entrar na adolescência e talvez fosse positiva a sua interacção com adolescentes. E isso era algo que não encontraria a não ser na escola secundária.

Para me inteirar da situação do aluno desloquei-me à escola onde ele concluíra o ensino básico. Falei com alguns dos seus antigos professores, mas foi a sua antiga directora de turma que me deixou de rastos. Quando lhe contei o que se passava aquela colega com mais de trinta anos de serviço desfez-se em lágrimas. O “João” fora um dos seus alunos mais queridos. Muito infantil, mas com uma bondade capaz de encher o mundo. A causa das lágrimas fora eu ter-lhe contado que o aluno se auto-agredia violentamente dentro da sala de aula, em frente dos seus colegas, e repetia “tu és burro!”, “tu és burro”, “tu és burro”... Qualquer energúmeno mais letrado consegue perceber que se trata duma reacção à frustração. Mas a Língua Madrasta não brinca em serviço. Às vezes eu brinco e digo que foi a Língua Portuguesa que foi feita para os alunos e não os alunos para a Língua Portuguesa (também digo que o Camões era zarolho, só para ver cara dos alunos incrédulos com o espectáculo dum professor a gozar com o seu principal instrumento de tortura). Mas com coisas sérias não se brinca. O respeitinho é bonito e serve para pôr na ordem quem não preenche os princípios da conformidade marrónica. Não é por acaso que alguns dos 'melhores' alunos parecem chanfrados pela mão do melhor dos torneiros.

Aquela professora que chorou convulsivamente disse-me que a sua tristeza a impedia de manifestar a sua revolta. E disse-me para ter cuidado.

O professor de Matemática mostrou-me alguns trabalhos do João e disse-me que ele por vezes podia ser brilhante. Mas tinha que se sentir aceite pelo professor. Demorou até que desabrochasse.

No conselho de turma disse à pessoa que 'dava' Português que, no meu caso, depois dos testes, pedia ao aluno para me ler o teste e eu passava-o a computador. Levava-o para casa e corrigia-o compaginando-o com o manuscrito do aluno. A senhora disse-me que não lhe pagavam para fazer esse trabalho e que achava uma estupidez o que eu fazia. Se eu tivesse o mesmo sistema de valores da senhora, atendendo a que eu ganhava metade do seu salário, menos tostão , a coisa dava pela metade, aí se poderia medir o tamanho da minha estupidez.

O resultado é que, quando as notas do aluno foram vertidas para a pauta, a minha, e logo a Filosofia, era a única positiva. Eu lavrei uma declaração para a acta na qual me penitenciava por só conseguir dar onze ao aluno, uma vez que, nunca tendo tido formação na área do ensino especial, era a primeira vez que tinha um aluno com Asperguer. E pedia a compreensão do conselho de turma para a necessidade de poder ter que dar notas superiores ao aluno nos próximos períodos e que se deveria ter a nota do primeiro período como uma aproximação e sem que isso pudesse ser visto como um juízo sobre as capacidades do aluno.

Caiu o Carmo e a Trindade. A professora do ensino especial, recém-eleita vice-presidente do conselho executivo, estava na reunião e disse, em frente de todos os professores da turma, que eu estava a prestar um péssimo serviço à educação. Foi um conselho de turma no mínimo agitado.

E dava-se o caso de eu já não estar a presidir àquela reunião, uma vez que fui director de turma por um mês e meio, a substituir um professor que ficara doente. A professora que 'dava' Português achava impossível que aquele aluno, com um 3 na pauta a Língua Madrasta pudesse ter 11 a Filosofia. Eu disse, sem brincar, que a Filosofia tinha sido feita para os alunos e não os alunos para a Filosofia e que o mesmo se passava com a escola.

À professora do ensino especial disse-lhe que não tinha categoria sequer para beijar o chão que os meus alunos pisavam. Entre ameaças de processo disciplinar, os trabalhos lá andaram até ao encerro da reunião.

Nesse dia jurei que faria tudo para destruir a escola, fazê-la implodir. Iria fazer tudo para maravilhar os meus alunos, para os levar a questionarem antes de quererem a santa paz da ruminância. A todo o momento podem acontecer coisas 'estranhas'. Num teste, por exemplo, uma das questões pode ser um desafio de monta: os alunos têm que provar que eu não sou Deus.

A coisa é deveras difícil.

Há também as aulas do contra. Quem me deu esta ideia foi um jovem colega de Filosofia. Comprei-lhe a ideia com um abraço e uma frise de limão. E a coisa funciona assim: durante a aula eu irei transmitir uma informação falsa. O aluno que conseguir descobrir a marosca ganha um prémio. Pode ser, por exemplo, o último álbum do José Cid. Uma coisa de monta.

O resultado é uma aula em que sou bombardeado por perguntas do princípio ao fim. É claro que eu nunca transmito informações erradas, mas tudo o que digo e apresento aos alunos é escrutinado sem piedade. E lá se vai a minha armadura de sumidade. Deixo de me sumir perante os alunos. A coisa torna-se mágica.

Há outra ideia daquele colega que eu também aplico por vezes: o jogo dos sonhos. E funciona assim: cada aluno escreve num papel o sonho que gostaria de ver realizado. Depois, os papéis são baralhados e redistribuídos. Se alguém lhe calhar o seu, volta a pô-lo a circular. Por vezes há que misturar os sonhos de várias turmas para coisa dar certo, ou eu fico responsável por um sonho. Quem recebe um sonho dum colega deve fazer tudo para que ele se realize.

Os sonhos poderão ser realizados de forma indirecta, se alguém sonhar em ir à Lua podem oferecer-lhe um documentário sobre a ida à Lua, ou algo de semelhante. Uma vez um rapaz que queria ter muito dinheiro recebeu um saco com 10 euros em moedas de um cêntimo. Uma coisa bem pensada.

Este ano uma aluna escreveu: “queria ter uma varinha mágica que me permitisse acabar com o sofrimento de todas as pessoas”. Eu li o papel e perguntei-lhe o que é que ela via de mal nos animais e ela pediu-mo de volta, riscou 'todas as pessoas' e escreveu 'todos os que sofrem'.

Isso deu-me a convicção de que ela não precisará de varinha mágica. Mas estou com um problema: como a turma é ímpar cabe-me a mim realizar-lhe o sonho. O meu problema é: o que fazer para não acabar com o sonho?

E pronto, hoje apeteceu-me escrever isto depois de ter participado em dois conselhos de turma. E o meu maior problema é que quase não 'dou' negativas. É estranho.

Talvez não tenha nascido para professor.

O nosso canal vídeo no YouTube


Foi criado um canal vídeo de Outro Portugal no YouTube. Visitem!

Grupo privado no Facebook

Por sugestão da Sílvia Neto, está então criado um grupo privado no Facebook, para os membros que desejam maior privacidade.

Actualização dos grupos de trabalho com contactos


Grupo 1 – Comunicação
Sofia Costa Madeira (coordenadora) (sofiacmadeira[at]gmail.com)
Luís Resina (luisresina[at]meo.pt)
Ana Sofia Costa
Sílvia Neto (sillnett[at]gmail.com)
Ana Paula Germano

Grupo 2 – Reconhecimento constitucional da senciência dos animais
Pedro Taborda de Oliveira
Rui Almeida
Vera Fonseca (vera.ff[at]gmail.com)

Grupo 3 - Economia, Ecologia e Energias alternativas
João Bolila
David Amaral (david2002[at]sapo.pt)
Rui Almeida

Grupo 4 - Política
David Amaral (david2002[at]sapo.pt)
Mário Nuno Neves
Maria de Lourdes Alvarez

Grupo 5 - Educação e Cultura
Luís Resina (luisresina[at]meo.pt)
Aldora Amaral
José Serrão
Fernando Emídio (fernandoemidio[at]gmail.com)
Helena Carla Gonçalo Ferreira
Sílvia Neto (sillnett[at]gmail.com)
Teresa Petrini Reis (theresapetrini[at]gmail.com)
Manuel Fúria
Luís Santos (lcsantos[at]netcabo.pt)
Cristina Moura
Mário Nuno Neves
Zé Leonel
Joana dos Espíritos

Grupo 6 - Saúde
Sílvia Neto (sillnett[at]gmail.com)
Ana Paula Germano
Yara-Cléo Bueno (yaradoulacleo[at]ymail.com)
Maria da Conceição Pinho

Grupo 7 - Portugal, Lusofonia, diálogo entre culturas e religiões
Luís Resina (luisresina[at]meo.pt)
Ana Filipa Teles
Cristina Moura
Paulo Borges - mais coordenação geral (junto com os coordenadores de cada grupo) (pauloaeborges[at]gmail.com)

Nota: nos emails a @ foi substituída por [at] para evitar o spam.

Eu Já mudei!

Após reflexão sobre o fracasso da Cimeira de Copenhaga e tomando consciência de todo o trabalho que ainda há para fazer, sentei-me aqui, na esperança que, de facto, ainda haja salvação para todos nós, humanidade! A tempo de, ainda nesta geração, ser possível assistir a uma mudança real!


Para nosso bem, dos nossos filhos e gerações vindouras!
Aprendi, ao longo do meu percurso de vida, de estudos e de procura de soluções, que não adianta muito reclamar, sobre leite derramado!

O que assistimos hoje em dia, é apenas consequência de modelos de pensamento e de acção passados e obsoletos! Trouxeram-nos aqui!

Vamos reclamar? Desanimar? Assistir à falência e colapso?

Eu não! Pelo menos não de uma forma passiva!

Aprendi com os estudos de Tai Chi Chuan, Chi Kung, Reiki, Meditação e outros, uma verdade em que acredito acima de tudo!

A VIDA É ENERGIA !
A ENERGIA SEGUE A NOSSA ATENÇÃO !

Cada vez que reclamamos, criticamos, sublinhamos o que está a acontecer de errado e perigoso na vida, estamos a dirigir a nossa atenção para isso, a dar-lhe importância, a alimentar! A fazer crescer!

Não queremos isso, pois não?

Não se trata de não ver! De fechar os olhos! Muito pelo contrário, trata-se de ver bem! De olhos bem abertos! De não querer mais do mesmo!

Como fazer então?

FOCAR O QUE QUEREMOS!

DAR ATENÇÃO (ENERGIA) AO MUNDO QUE SONHAMOS! QUE QUEREMOS!

Por aqui, faço um apelo:

Por favor não repitam uma só vez o que está a correr mal!

A energia do pensamento é poderosa, a da palavra é muito maior!!!

Escrevam e falem apenas o BEM! A PAZ, O AMOR, A ALEGRIA, A PROSPERIDADE, O SUCESSO, A ABUNDÂNCIA, A VERDADE, A JUSTIÇA!

Independentemente do que virem e ouvirem em vosso redor!

O que importa, é o que construimos de Agora em diante!

Todos os dias! Em todos os momentos da nossa vida!

O individual, forma o colectivo!

Sempre que ouvirem, lerem, virem algo absurdo, desfoquem!

Mudem de imediato a atenção para o que querem de facto! Escrevam sobre isso!

Acalmem as mentes! Meditem! Aprendam a dirigir a atenção!

Pratiquem boas acções!

O trabalho começa AGORA, aqui!

A loucura de D. Sebastião



D. Sebastião
Rei de Portugal


Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.

Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura, que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?

O primeiro dos dois poemas que têm como título “D. Sebastião” constitui a quinta quina do “Brasão” português, a primeira parte da Mensagem, que interpreta o simbolismo heráldico das armas nacionais e convida a relacionar esta quinta quina/D.Sebastião com o Quinto Império. O poema dá voz ao rei assumindo a loucura de que foi acusado, mas dando-lhe outra razão que não a da patologia ou insensatez. A sua loucura consistiu em querer “grandeza / Qual a Sorte a não dá”. “Sorte”, sobretudo com maiúscula, parece ter aqui o sentido de Destino, Fado ou Fortuna, e não tanto de acaso. A “Sorte” é a necessidade que rege o universo e à qual nem os deuses escapam (cf. Moira, Ananke, Heimarmene), subordinando todos os entes à impermanência universal e às vicissitudes dos lugares, ora superiores, ora inferiores, que ocupam no mundo, e às experiências, ora felizes, ora infelizes, que nele conhecem.

Esta “Sorte” evoca o tema arcaico, antigo e medieval da Roda da Fortuna ou do samsara, presente no Oriente e no Ocidente. Pessoa refere-se várias vezes, na sua poesia, a este tema, falando por exemplo da “roda universal da Sorte” e relacionando-a, significativamente, com a “ficção”, “sonho” ou ilusão universal que faz ao sujeito supor-se na existência o mortal que afinal não é. A loucura de D. Sebastião consistiu assim, não propriamente na temeridade da aventura africana ou no ideal supostamente anacrónico que a moveu, mas antes no haver desejado, num e para além de um acto heróico dificilmente justificável pela razão humana, uma “grandeza” que não pode ser dada (e retirada) pela Sorte. Que “grandeza” pode ser essa senão a transcensão e libertação da própria “Sorte”, a transcensão e libertação da Roda da Fortuna ou do samsara, a suprema aspiração humana? Ou seja, se recordarmos a interpretação do poema “Quinto Império”, a transcensão e libertação do próprio sonho/ilusão que preside aos “quatro / tempos” do movimento do mundo, imperando sobre a consciência e a vida mediante as “forças cegas” que dominam a “alma” enquanto uma “visão” desperta e livre as não domar. Neste sentido, a “verdade” pela qual “morreu D. Sebastião” é o próprio fim da ilusão que preside ao destino do mundo, o fim do regime de consciência adormecida, onírica e iludida figurado, em termos históricos, pela sucessão dos quatro impérios: Grécia, Roma, Cristandade, Europa. A “verdade” pela qual “morreu D. Sebastião” é o próprio Quinto Império, como figura do Outro desse regime de consciência que há que transcender: não tanto uma nova soberania mundial, assente na parcialidade de uma dada cultura, ordem jurídica, concepção moral e religiosa ou cosmopolitismo comercial, mas antes o Despertar da falsa pretensão à universalidade de todas essas ilusões, o Despertar dessas e de todas as ilusões, o Despertar da ilusão universal que preside à consciência, ao tempo e à história dos homens.

O D. Sebastião histórico é claramente transfigurado num protagonista da loucura, da boa hybris ou desmesura, que deseja a suma e insuperável “grandeza” do Despertar enquanto libertação da falsa realidade de todas as supostas condições da existência no mundo. É a “certeza” dessa possibilidade que natural e necessariamente não cabe em si, pois haver um “si” é ser ou supor-se algo ou alguém no mundo, é estar situado e logo limitado, submetido e determinado na cadeia e teia de causalidade da ordem universal. São essa loucura e essa “certeza” que afinal o fazem sair de si e o ilimitam, levando-o a trespassar e transcender a própria condição humana e mortal, assegurando-lhe a transfiguração que lhe confere um outro modo de ser, actual e imortal, que nada tem a ver com o “ser que houve”, tornado um cadáver jacente no “areal” de Alcácer-Quibir. O D. Sebastião a que Pessoa dá voz já não é a pessoa do rei histórico, desaparecido em Alcácer-Quibir em termos reais e simbólicos, mas antes a consciência desperta e imortal emergente do soçobro daquele ser humano e mortal.

É ela que agora nos fala a partir de um estado transcendente e liberto, exortando-nos a assumirmos a sua “loucura”, “com o que nela ia”, o desejo de transcender a “Sorte”, como o seu mais precioso legado. Somos nós esses “outros” que podemos assumir o exemplo libertador do rei transfigurado assumindo a sua “loucura” transcendente, iluminativa, libertadora. Pois sem isso, recorda, que somos nós, “que é o homem / Mais que a besta sadia, / Cadáver adiado que procria?”. Ou seja, sem a loucura que visa transcender a condição mortal de todo o ente, não só não cumprimos o pleno potencial da nossa própria humanidade, como nem sequer a exercemos, mantendo-nos num patamar de infra-humanidade e numa vida falsa que mais não é senão morte que se adia enquanto, pior ainda, se reproduz noutros cadáveres adiados fabricados pela mentalidade familiar, escolar e socialmente dominante. Como dizem Teixeira de Pascoaes e Agostinho da Silva: “Só há homem quando se faz o impossível”. Ou seja, aqui, a transcensão da própria condição humana.

Ser “besta sadia, / Cadáver adiado que procria”, é afinal, se regressarmos ao poema “O Quinto Império”, permanecer na “apagada e vil tristeza” (Luís de Camões) de uma vida doméstica autosatisfeita, sem “sonho” e voo para mais além, ou na felicidade vegetativa de uma vida já sepulta. Como antídoto disso, a “loucura” de D. Sebastião é o descontentamento que leva o homem a cumprir-se domando as “forças cegas” “pela visão que a alma tem”. Deixar de ser “besta sadia, / Cadáver adiado que procria”, é despertar e libertar-se desse regime de ilusão e autogratificação medíocre que preside à “noite” do mundo e ao seu tempo dos quatro impérios que evanescem julgando-se eternos: “Grécia, Roma, Cristandade, / Europa”. Deixar de ser “besta sadia, / Cadáver adiado que procria”, é “viver a verdade / Que morreu D. Sebastião”, ou seja, cumprir a suma possibilidade da condição humana: a sua própria transcensão, a imortalidade. É esse o sentido mais fundo e amplo do Quinto Império, a soberania do Despertar libertador.

A actual civilização cumpre o seu destino: ser a condição galopante da sua própria impossibilidade

O fracasso da cimeira de Copenhaga torna evidente que os estados nacionais e os poderes político-económicos mundiais não servem os interesses da população humana e dos seres vivos e sencientes no planeta.

A actual civilização cumpre o seu destino: ser a condição galopante da sua própria impossibilidade. O que é uma excelente notícia, não fora o sofrimento que causa e causará a milhões de seres...

umoutroportugal.blogspot.com

O acordo de Copenhagen

Aqui está o acordo, para quem estiver interessado:

Culture is a central component of international relations

Um dos membros reencaminhou-nos um documento que se encontra disponível na internet, com a seguinte mensagem: "Trata-se de uma reflexão sobre a importância da diplomacia cultural no mundo contemporâneo. Apesar de se destinar à realidade britânica, penso que poderá ser um bom documento de reflexão para o grupo de trabalho sobre a política cultural externa portuguesa e a lusofonia, em que me integro."

Culture is a central component of international relations.It’s time to unlock its full potential.

O documento pode ser consultado aqui.

Por um patriotismo trans-patriótico e universalista. Oito considerações para um Outro Portugal

1. A milenar tradição contemplativa e meditativa (transversal às diferentes religiões e espiritualidades, também laicas) e os progressos contemporâneos da microfísica e das neurociências (que hoje se aproximam numa convergência histórica, como nas experiências realizadas no MIT, em Massachusetts, e nos encontros anuais Mind and Life) parecem indicar não ser possível encontrar, quer na constituição da chamada matéria, quer na da chamada mente, ou seja, nisso cujo conjunto designamos por realidade, uma mínima entidade que exista em si e por si e que permaneça idêntica a si mesma, ou seja, que tenha características próprias. Todas as dimensões da chamada realidade parecem obedecer assim a duas leis fundamentais, a de interdependência e a de impermanência, que se resumem na sua ausência de características ou qualidades intrínsecas. Como se pode constatar na mínima experiência perceptiva e como a observação científica confirma, sujeito e objecto constituem-se mutuamente e interagem num dinamismo e numa metamorfose constantes, como meros fenómenos recíprocos, sem essência própria. O conceito de identidade parece ser assim uma abstracção desadequada para expressar o real, sem outro fundamento senão o de ser uma ficção convencional e funcional, que serve o reproduzir de uma tradição fortemente entranhada nos hábitos culturais, psicológicos e sociais do senso comum humano.

2. O conceito de identidade nasce, como o seu correlato, o de alteridade, de uma experiência ingénua e irreflectida, na qual, devido a tendências e hábitos inconscientes, o sujeito se crê distinto do objecto, o eu do não-eu, o mesmo do outro, o idêntico do diferente, ao mesmo tempo que esses termos da experiência se crêem reais e existentes em si e por si, com características e qualidades próprias, positivas, negativas ou neutras, que nunca são mais do que projecção da percepção inconscientemente condicionada. Este estado, que se pode chamar de ignorância dualista, origina três tendências da experiência mental-emocional na relação sujeito-objecto: 1 – o fascínio e o desejo-apego, caso o objecto seja percepcionado como atraente e positivo; 2 – o medo e a aversão, caso o objecto seja percepcionado como repulsivo e negativo; 3 – a indiferença, caso o objecto seja percepcionado como neutro. Qualquer destas experiências resulta em conflito e sofrimento, primeiro interno e depois externo, indissociável de uma extrema vulnerabilidade perante todas as vicissitudes da vida, pois a mente dominada pelo apego e pela aversão não pode assegurar de modo algum a posse do que deseja nem a exclusão do que rejeita, devido à lei da impermanência e metamorfose constantes de tudo, sujeitando-se assim constantemente à carência do que deseja ou ao medo de o perder, bem como à ameaça do que rejeita ou ao medo de o não evitar. Por outro lado, a indiferença é uma falsa alternativa, que apenas gera a experiência de solidão, de entorpecimento mental e despotenciamento vital.

Da ignorância dualista e da combinação das três tendências referidas resultam as pulsões emocionais inerentes a todos os actos e omissões, mentais, verbais e físicos, que as tradições ético-espirituais, teístas ou não-teístas, religiosas ou laicas, designam como actos negativos, faltas, pecados ou toxinas mentais, como hoje alguns preferem: desejo possessivo, ódio e cólera, inveja e ciúme, orgulho e arrogância, avidez e avareza, torpor mental e tristeza, entre muitas outras. Em qualquer dos casos, antes de lesarem os outros, estas pulsões lesam a mente do próprio sujeito a partir do primeiro instante em que nela surgem, distorcendo a percepção da realidade, gerando ignorância, insensibilidade e tormento interior e desarmonizando a circulação da energia vital, o que tem também efeitos somáticos e predispõe o organismo para todo o tipo de doenças. Por isso são objectivamente negativas, independentemente de qualquer doutrina moral ou revelação religiosa.

3. Um olhar desapaixonado e realista sobre o processo e a história da civilização humana, desde os seus primórdios até hoje, não pode deixar de constatar que tudo – a organização social, a ciência, a técnica, a política, a economia, a cultura, a educação e a religião - tem sido predominantemente movido pela ignorância dualista, o apego, a aversão e a indiferença, bem como por todas as suas combinações possíveis, com o resultado evidente, em termos gerais, de a humanidade até hoje sempre ter obtido precisamente o que mais rejeita, o sofrimento, e sempre haver falhado aquilo a que mais aspira, a felicidade: prova evidente de que o desejo-apego e a aversão resultam precisamente no contrário do que buscam. As únicas excepções a esta monumental ilusão e a este grandioso fracasso histórico colectivo, habitualmente camuflado com os nomes de “progresso”, “evolução”, “desenvolvimento”, etc., são os seres que despertam e se libertam da ignorância dualista e das suas consequências mentais e emocionais: aqueles que as várias tradições designam como sábios, santos, etc., e que são considerados mestres espirituais quando à libertação individual acrescentam o amor e a compaixão de continuarem a agir, interior e exteriormente, para o bem e a libertação dos outros.

4. Aplicada à questão das sociedades, das culturas, das nações e das pátrias, esta visão constata que nenhuma delas existe em si e por si, com uma identidade e características permanentes e irredutivelmente próprias. Todas, pelo contrário, apesar de apresentarem complexas singularidades em devir, nascem, vivem e morrem ou metamorfoseiam-se de acordo com as leis fundamentais de interdependência e impermanência que abrangem todas as dimensões do real. Com efeito, quem pode, por exemplo, pensar o que é Portugal separando a sua história e cultura das de todos (ou quase) os povos europeus, africanos, sul-americanos e orientais, sem rejeitar que no plano da língua e da mesma história e cultura existem afinidades mais imediatas com as nações lusófonas? O conceito de identidade nacional é pois, tal como o de identidade pessoal - sobretudo se pensado de forma essencialista ou substancialista, como algo que em si e por si pré-exista ou exista fora de um devir interdependente com todas as formas de alteridade - , uma mera abstracção que em última instância apenas funciona na lógica da ignorância dualista que predomina na mente humana.

5. Tal como acontece quando se extrema a bipolarização eu-outro, o extremar da suposta identidade cultural ou nacional como uma essência única, permanente e independente das demais, conduz as mentes ao nacionalismo ou ao patriotismo ensimesmado que potenciam essa ignorância dualista e esses complexos de apego ao que parece ser próprio e de indiferença ou aversão ao que parece ser alheio, o que já vimos serem as causas fundamentais de insensibilidade, sofrimento e conflito para quem por elas se deixa dominar e para quem lhe sofre as acções daí decorrentes. O nacionalismo ou patriotismo comum, levando a amar a sua cultura, nação ou pátria acima das demais, é pois injustificável e condenável em termos espirituais, sapienciais e éticos, sendo incompatível com qualquer projecto de emancipação da consciência e de serviço do bem comum a todos os homens e a todos os seres.

6. Há todavia a possibilidade de se conceber e praticar uma outra forma, não de nacionalismo, mas de patriotismo, o patriotismo trans-patriótico e universalista, que, sem se desenraizar da realidade mais concreta e imediata num transnacionalismo ou universalismo vazio e abstracto, apenas preze, cultive e promova, numa determinada tradição histórico-cultural e numa determinada nação ou pátria, aquilo que na sua singularidade houver de melhor, ou seja, a sua aspiração ao e contributo para o bem comum universal, não só dos homens, mas de todos os seres. O patriotismo trans-patriótico e universalista é o que em última instância aspira a orientar as energias ético-espirituais, culturais e sócio-político-económicas de uma dada nação ou pátria para que se superem tanto quanto possível as fronteiras e barreiras, primeiro mentais e afectivas, e depois institucionais e territoriais, entre todos os povos e culturas, de modo a que a comunidade humana possa expressar o mais possível, sem prejuízo das diferenças inerentes à sua constituição plural e complexa, a natureza e as leis fundamentais da própria realidade: ausência de id-entidades substanciais com características intrínsecas, interdependência, impermanência. O patriotismo trans-patriótico e universalista é o que aspira a converter muros em pontes e a romper o círculo vicioso e infernal em que tem decorrido e decorre a história da civilização humana, devolvendo a humanidade e o mundo ao Paraíso – ou seja, à paz, sabedoria e liberdade primordial - que no seu íntimo encobrem. O patriotismo trans-patriótico e universalista é o único que está de acordo com a milenar tradição sapiencial da humanidade e com a ciência contemporânea, convergindo para a verdadeira evolução que é a da consciência e para o verdadeiro progresso e des-envolvimento que é o ético-espiritual, entendendo por tal o despertar da dualidade que permita ver e sentir o outro como a si mesmo e assim contribuir para a emancipação mental, cultural, social, política e económica de todos os homens, bem como para o respeito da harmonia ecológica e do direito à vida e ao bem-estar de todos os seres sencientes.

7. Este patriotismo trans-patriótico e universalista é o que encontro no melhor da ideia de Portugal e da comunidade lusófona que – depurada do lastro de muitos condicionantes - interpreto em Luís de Camões, Padre António Vieira, Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva, para apenas referir os mais destacados. Foi ele, embora ainda informulado e sem a fundamentação aqui apresentada, que inspirou o Manifesto da Nova Águia e a Declaração de Princípios e Objectivos do MIL – Movimento Internacional Lusófono. Foi o desvio desta amplitude de desígnios e a sua redução ao que interpreto como um mero neonacionalismo lusófono que me levou a demitir-me de presidente deste último movimento e a redigir o Manifesto “Refundar Portugal” (umoutroportugal.blogspot.com). É apenas à luz do patriotismo trans-patriótico e universalista, como projecto fundamentalmente ético-espiritual e só a partir daí cultural, cívico, social, político e económico, que considero possível uma mudança fundamental nos rumos sombrios do actual fim de ciclo civilizacional. Não parece haver possibilidade de real transformação do mundo que não se enraíze primeiro numa profunda transformação da mente que o percepciona. A grande Revolução presente e futura, cada vez mais emergente em todo o planeta, é a união inseparável dessa transformação mental – a que alguns chamam “meditação” - e de todas as esferas da actividade humana, incluindo a económica e a política. Quando digo “transformação mental” refiro-me ao simples treino da mente para ver as coisas como são, transcendendo a dualidade, os conceitos e os juízos, o apego e a aversão, o medo e a expectativa, o passado, o presente e o futuro, na experiência do aqui e agora de cada instante, iluminada pelo amor e pela compaixão. Nada de necessariamente religioso, místico, esotérico ou exótico e que não vem do Oriente porque a mais profunda cultura ocidental, clássica ou cristã, sempre o conheceu. É a redescoberta disso, mais do que qualquer ideologia laica ou religiosa, a grande novidade que cresce hoje como bola de neve em todo o mundo.

8. Exorto a que divulguem, discutam e enviem sugestões para aperfeiçoar o Manifesto “Refundar Portugal”, de modo a que possamos praticar estas ideias e trazer desde já para a nossa vida quotidiana essa diferença que consideramos essencial para o mundo: abertura, clareza e paz da mente e do coração, capacidade de diálogo e compreensão, amor aos homens e aos seres vivos - para além das diferenças de nação, língua, etnia, cultura, religião, ideologia e espécie - , promoção e pedagogia dos valores mais benignos e universais das culturas lusófonas em diálogo com os de todas as culturas planetárias, intervenção cívica, cultural e social que afirme estes valores na esfera pública, política e económica.

umoutroportugal.blogspot.com

Da face à pena|O rosto do outro

quando a face
ainda não é
compaixão
é
pena

Inaugurada primeira mesquita no Arquipélago da Madeira [14.12.2009]


A primeira mesquita no Arquipélago da Madeira e 34ª em Portugal foi hoje inaugurada, recordando o imã local, Abdel Lasri, que a comunidade islâmica se reunia há cerca de cinco anos num apartamento no Funchal.

Na cerimónia, o presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim agradeceu o “trabalho desenvolvido pela comunidade islâmica em prol da Região e a forma generosa como se integrou com o povo da Madeira”.

Alberto João Jardim criticou o facto das actuais sociedades terem “caído no materialismo despido de humanismo”, comentando: “Apesar da Europa ter atingido o desenvolvimento, a perda dos valores da espiritualidade acabará por ser a decadência de uma forma de viver”.

O presidente da comunidade islâmica em Lisboa, Abdool Karim Vakil, considerou, por seu lado, que “Portugal é um exemplo ímpar de respeito mútuo e convívio harmonioso entre etnias, que vivem lado a lado, contribuindo para o desenvolvimento da Madeira”.

Salientou que esta inauguração surge num “contexto europeu algo estranho, onde existem manifestações de xenofobia e islamofobia”.

Para ele, “todas as religiões são caminhos diferentes que nos conduzem ao mesmo Deus”. Apelou ao esforço de todos, no sentido de “transformarem as espadas em arados, fazendo do actual mundo de desavenças um lugar melhor”.

A cerimónia de inauguração da mesquita contou com a presença dos embaixadores do Irão, Arábia Saudita e representantes da Líbia, e elementos de diversas religiões da Madeira.

Em declarações à agência Lusa, o imã da Madeira, Abdel Lasri, referiu que a comunidade islâmica “está a crescer e agora tem mais condições para receber as diferentes culturas, o que é importante para ligação com a comunidade madeirense”.

Adiantou que o grupo é composto por cerca de 700 pessoas, sendo a maioria africana mas existindo também cidadãos do Paquistão, Cazaquistão, Bangladesh, Índia e alguns árabes.

“Esta é uma evolução extraordinária, porque o anterior espaço era reduzido, sem condições e esta é uma outra visão do ponto de vista da prática do culto”, acrescentou o presidente da comunidade islâmica, Abdoul Karim.

fonte: http://www.destak.pt/artigo/48110