Dia 8 e 9 de Março deste ano, aconteceu no Centro de Congressos de Lisboa, o 3º Fórum Nacional de Saúde. O Outro Portugal esteve lá e ouviu o que os responsáveis pelas políticas de saúde no nosso país disseram relativamente à avaliação do Plano Nacional de Saúde (PNS) actual e aos objectivos do Plano Nacional de Saúde (PNS) 2011-2016.
O encontro foi brindado com a participação da representante da Europa na Organização Mundial de Saúde (OMS), que não deixou passar a oportunidade para sublinhar a importância do desenvolvimento de acções e práticas baseadas em evidencia científica, apelando para uma mais estreita e cooperante ligação entre a comunidade médica e a comunidade científica.
Relativamente à avaliação do actual PNS, de acordo com a classificação atribuída pela OMS, o Plano de Saúde Português foi classificado em 12º lugar a nível mundial, o que é considerado um boa classificação. Esta classificação, conseguida através dos registos estatísticos de diminuição da gravidez adolescente, aumento do consumo de medicamentos genéricos, aumento da esperança de vida à nascença, baixo nível de mortalidade infantil, diminuição do número de mortes nas estradas, assim como a referencia da OMS de Portugal ter optado por um adequado acompanhamento da saúde infantil e escolar, foi no entanto abordada pelo Dr. Jorge Sampaio como uma conquista que não deve nem pode ser limitadora da acção futura, no sentido de que cada vez mais o PNS esteja mais próximo das necessidades da população e por isso mesmo, seja cada vez melhor.
Como aspectos negativos na avaliação do mesmo PNS, foram notados um aumento dos partos prematuros, um aumento dos nascimentos de termo com baixo peso (relacionado com um aumento do tabagismo, activo ou passivo, no grupo de grávidas), um aumento do número de cesarianas, uma ainda insuficiente saúde mental e um aumento do consumo de antidepressivos e ansioliticos... bem, na realidade, este último indicador foi considerado por Margarida Pinto Correia como bom (?!); mas penso que deve ter sido engano.
Nada foi referido relativamente ao atendimento da mulher durante o parto (poderiam ter referido o projecto Cegonha da Maternidade Alfredo da Costa, por exemplo, que pretende apostar numa abordagem mais natural, humana e fisiológica do parto, de acordo com as tão importantes evidencias científicas que a OMS preconiza), nem à amamentação, nem à forma como se acompanha a morte em Portugal. Este silêncio parece sugerir ou que está tudo bem nestas áreas, ou que estes são assuntos de menor importância ou que, o que é mais provavel, são assuntos de que ninguém gosta de falar. Para mim, este silêncio é sintomático de uma grave patologia social que é urgente ser cuidada.
Em relação aos muitos e bons trabalhos que têm vindo a ser "patrocinados" pela Direcção Geral de Saúde (DGS) em projectos implementados por diversas Instituições Privadas de Solidariedade Social (IPSS), não há novidades. Como alguém na assistência referiu, os temas alvo de serem subsidiados continuam a ser os mesmos de sempre: toxicodependencia, obesidade, HIV e pouco mais. Não que não continue a ser importante trabalhar nestas áreas, apenas seria interessante alargar o leque a tantas outras importantes vertentes da saúde, que têm sido trabalhadas por IPSS e outras organizações, sem qualquer apoio financeiro, o que muitas vezes dificulta o trabalho e a possibilidade do mesmo ser mais abrangente. É que subsidiar instituições que resolvem, muitas vezes, questões de saúde, não é caridade! Sem o trabalho destas organizações não especializadas em saúde, o Sistema Nacional de Saúde certamente não teria capacidade para responder às diversas solicitações e também a classificação da Saúde Portuguesa não teria sido tão satisfatória; isto foi reconhecido pela própria mesa de palestrantes durante o Fórum.
De entre os projectos salientam-se os relacionados com a Saúde Oral, embora não seja esta a única especialidade de que carece o nosso Sistema Nacional de Saúde.
Uma forte componente Comunitária e de Cidadania existiu nos debates relacionados com os objectivos para o próximo PNS. Foi abordada a necessidade de ouvir o cidadão e o utente, respeitando as suas decisões em relação à sua vida e sua saúde, incluindo-o como principal agente no processo de cura ou manutenção da saúde. Foi referido que é urgente empoderar a pessoa, doente ou não, para que passe a ser mais responsável pelas suas decisões e comportamentos. Foi sublinhado que mais importante que actuar na cura é actuar na prevenção, no sentido de possibilitar aos cidadãos a opção por estilos de vida mais saudáveis.
Neste contexto e também porque o grande mote da OMS é o de aumentar a proximidade dos Orgãos de Saúde dos países aos seus cidadãos, o PNS 2011-2016 promete ser revolucionário no que diz respeito à humanização do Plano em si. Para este objectivo ser alcançado, foi construída uma plataforma interactiva no site do Plano Nacional de Saúde 2011-2016 (http://www.acs.min-saude.pt/pns2011-2016/), a qual foi activada no dia 8/03/2010.
Tendo eu já experimentado usar a plataforma, devo referir que não está propriamente acessível. Quem quiser usar, tem de saber que ela existe e tem de procurar um pouco até encontrar: entrando no site terão de clicar em Por uma Participação Consequente e aí entrar em Plataforma Saúde em Diálogo... estou a aguardar a resposta a uma pergunta que enviei, relacionada com a forma de utilizar a plataforma; sugeri ainda que a colocassem de forma mais visível.
Penso que já não é nada mau existir uma intenção de se mudar a abordagem da saúde para uma linha mais humanizada e centrada na pessoa. Mas não acredito que a DGS e o Alto Comissariado para a Saúde estejam à espera de muita participação; por um lado, porque a massa social actual é caracterizada por alguma apatia, por outro lado, porque também não colocaram a plataforma mais acessível e por outro ainda, porque não publicitaram esta possibilidade fora do Fórum.
... seria muito interessante serem surpreendidos...
Outro Portugal, vamos surpreendê-los?
.
Um espaço para reinventar Portugal como nação de todo o Mundo, que estabeleça pontes, mediações e diálogos entre todos os povos, culturas e civilizações e promova os valores mais universalistas, conforme o símbolo da Esfera Armilar. Há que visar o melhor possível para todos, uma cultura da paz, da compreensão e da fraternidade à escala planetária, orientada não só para o bem da espécie humana, mas também para a preservação da natureza e o bem-estar de todas as formas de vida sencientes.
"Nós, Portugal, o poder ser"
- Fernando Pessoa, Mensagem.
Humanização do Plano Nacional de Saúde 2011-2016
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Humanização do Plano Nacional de Saúde 2011-2016
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Anónimo
on terça-feira, 16 de março de 2010
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Saúde
Dia 8 e 9 de Março deste ano, aconteceu no Centro de Congressos de Lisboa, o 3º Fórum Nacional de Saúde. O Outro Portugal esteve lá e ouviu o que os responsáveis pelas políticas de saúde no nosso país disseram relativamente à avaliação do Plano Nacional de Saúde (PNS) actual e aos objectivos do Plano Nacional de Saúde (PNS) 2011-2016.
O encontro foi brindado com a participação da representante da Europa na Organização Mundial de Saúde (OMS), que não deixou passar a oportunidade para sublinhar a importância do desenvolvimento de acções e práticas baseadas em evidencia científica, apelando para uma mais estreita e cooperante ligação entre a comunidade médica e a comunidade científica.
Relativamente à avaliação do actual PNS, de acordo com a classificação atribuída pela OMS, o Plano de Saúde Português foi classificado em 12º lugar a nível mundial, o que é considerado um boa classificação. Esta classificação, conseguida através dos registos estatísticos de diminuição da gravidez adolescente, aumento do consumo de medicamentos genéricos, aumento da esperança de vida à nascença, baixo nível de mortalidade infantil, diminuição do número de mortes nas estradas, assim como a referencia da OMS de Portugal ter optado por um adequado acompanhamento da saúde infantil e escolar, foi no entanto abordada pelo Dr. Jorge Sampaio como uma conquista que não deve nem pode ser limitadora da acção futura, no sentido de que cada vez mais o PNS esteja mais próximo das necessidades da população e por isso mesmo, seja cada vez melhor.
Como aspectos negativos na avaliação do mesmo PNS, foram notados um aumento dos partos prematuros, um aumento dos nascimentos de termo com baixo peso (relacionado com um aumento do tabagismo, activo ou passivo, no grupo de grávidas), um aumento do número de cesarianas, uma ainda insuficiente saúde mental e um aumento do consumo de antidepressivos e ansioliticos... bem, na realidade, este último indicador foi considerado por Margarida Pinto Correia como bom (?!); mas penso que deve ter sido engano.
Nada foi referido relativamente ao atendimento da mulher durante o parto (poderiam ter referido o projecto Cegonha da Maternidade Alfredo da Costa, por exemplo, que pretende apostar numa abordagem mais natural, humana e fisiológica do parto, de acordo com as tão importantes evidencias científicas que a OMS preconiza), nem à amamentação, nem à forma como se acompanha a morte em Portugal. Este silêncio parece sugerir ou que está tudo bem nestas áreas, ou que estes são assuntos de menor importância ou que, o que é mais provavel, são assuntos de que ninguém gosta de falar. Para mim, este silêncio é sintomático de uma grave patologia social que é urgente ser cuidada.
Em relação aos muitos e bons trabalhos que têm vindo a ser "patrocinados" pela Direcção Geral de Saúde (DGS) em projectos implementados por diversas Instituições Privadas de Solidariedade Social (IPSS), não há novidades. Como alguém na assistência referiu, os temas alvo de serem subsidiados continuam a ser os mesmos de sempre: toxicodependencia, obesidade, HIV e pouco mais. Não que não continue a ser importante trabalhar nestas áreas, apenas seria interessante alargar o leque a tantas outras importantes vertentes da saúde, que têm sido trabalhadas por IPSS e outras organizações, sem qualquer apoio financeiro, o que muitas vezes dificulta o trabalho e a possibilidade do mesmo ser mais abrangente. É que subsidiar instituições que resolvem, muitas vezes, questões de saúde, não é caridade! Sem o trabalho destas organizações não especializadas em saúde, o Sistema Nacional de Saúde certamente não teria capacidade para responder às diversas solicitações e também a classificação da Saúde Portuguesa não teria sido tão satisfatória; isto foi reconhecido pela própria mesa de palestrantes durante o Fórum.
De entre os projectos salientam-se os relacionados com a Saúde Oral, embora não seja esta a única especialidade de que carece o nosso Sistema Nacional de Saúde.
Uma forte componente Comunitária e de Cidadania existiu nos debates relacionados com os objectivos para o próximo PNS. Foi abordada a necessidade de ouvir o cidadão e o utente, respeitando as suas decisões em relação à sua vida e sua saúde, incluindo-o como principal agente no processo de cura ou manutenção da saúde. Foi referido que é urgente empoderar a pessoa, doente ou não, para que passe a ser mais responsável pelas suas decisões e comportamentos. Foi sublinhado que mais importante que actuar na cura é actuar na prevenção, no sentido de possibilitar aos cidadãos a opção por estilos de vida mais saudáveis.
Neste contexto e também porque o grande mote da OMS é o de aumentar a proximidade dos Orgãos de Saúde dos países aos seus cidadãos, o PNS 2011-2016 promete ser revolucionário no que diz respeito à humanização do Plano em si. Para este objectivo ser alcançado, foi construída uma plataforma interactiva no site do Plano Nacional de Saúde 2011-2016 (http://www.acs.min-saude.pt/pns2011-2016/), a qual foi activada no dia 8/03/2010.
Tendo eu já experimentado usar a plataforma, devo referir que não está propriamente acessível. Quem quiser usar, tem de saber que ela existe e tem de procurar um pouco até encontrar: entrando no site terão de clicar em Por uma Participação Consequente e aí entrar em Plataforma Saúde em Diálogo... estou a aguardar a resposta a uma pergunta que enviei, relacionada com a forma de utilizar a plataforma; sugeri ainda que a colocassem de forma mais visível.
Penso que já não é nada mau existir uma intenção de se mudar a abordagem da saúde para uma linha mais humanizada e centrada na pessoa. Mas não acredito que a DGS e o Alto Comissariado para a Saúde estejam à espera de muita participação; por um lado, porque a massa social actual é caracterizada por alguma apatia, por outro lado, porque também não colocaram a plataforma mais acessível e por outro ainda, porque não publicitaram esta possibilidade fora do Fórum.
... seria muito interessante serem surpreendidos...
Outro Portugal, vamos surpreendê-los?
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O encontro foi brindado com a participação da representante da Europa na Organização Mundial de Saúde (OMS), que não deixou passar a oportunidade para sublinhar a importância do desenvolvimento de acções e práticas baseadas em evidencia científica, apelando para uma mais estreita e cooperante ligação entre a comunidade médica e a comunidade científica.
Relativamente à avaliação do actual PNS, de acordo com a classificação atribuída pela OMS, o Plano de Saúde Português foi classificado em 12º lugar a nível mundial, o que é considerado um boa classificação. Esta classificação, conseguida através dos registos estatísticos de diminuição da gravidez adolescente, aumento do consumo de medicamentos genéricos, aumento da esperança de vida à nascença, baixo nível de mortalidade infantil, diminuição do número de mortes nas estradas, assim como a referencia da OMS de Portugal ter optado por um adequado acompanhamento da saúde infantil e escolar, foi no entanto abordada pelo Dr. Jorge Sampaio como uma conquista que não deve nem pode ser limitadora da acção futura, no sentido de que cada vez mais o PNS esteja mais próximo das necessidades da população e por isso mesmo, seja cada vez melhor.
Como aspectos negativos na avaliação do mesmo PNS, foram notados um aumento dos partos prematuros, um aumento dos nascimentos de termo com baixo peso (relacionado com um aumento do tabagismo, activo ou passivo, no grupo de grávidas), um aumento do número de cesarianas, uma ainda insuficiente saúde mental e um aumento do consumo de antidepressivos e ansioliticos... bem, na realidade, este último indicador foi considerado por Margarida Pinto Correia como bom (?!); mas penso que deve ter sido engano.
Nada foi referido relativamente ao atendimento da mulher durante o parto (poderiam ter referido o projecto Cegonha da Maternidade Alfredo da Costa, por exemplo, que pretende apostar numa abordagem mais natural, humana e fisiológica do parto, de acordo com as tão importantes evidencias científicas que a OMS preconiza), nem à amamentação, nem à forma como se acompanha a morte em Portugal. Este silêncio parece sugerir ou que está tudo bem nestas áreas, ou que estes são assuntos de menor importância ou que, o que é mais provavel, são assuntos de que ninguém gosta de falar. Para mim, este silêncio é sintomático de uma grave patologia social que é urgente ser cuidada.
Em relação aos muitos e bons trabalhos que têm vindo a ser "patrocinados" pela Direcção Geral de Saúde (DGS) em projectos implementados por diversas Instituições Privadas de Solidariedade Social (IPSS), não há novidades. Como alguém na assistência referiu, os temas alvo de serem subsidiados continuam a ser os mesmos de sempre: toxicodependencia, obesidade, HIV e pouco mais. Não que não continue a ser importante trabalhar nestas áreas, apenas seria interessante alargar o leque a tantas outras importantes vertentes da saúde, que têm sido trabalhadas por IPSS e outras organizações, sem qualquer apoio financeiro, o que muitas vezes dificulta o trabalho e a possibilidade do mesmo ser mais abrangente. É que subsidiar instituições que resolvem, muitas vezes, questões de saúde, não é caridade! Sem o trabalho destas organizações não especializadas em saúde, o Sistema Nacional de Saúde certamente não teria capacidade para responder às diversas solicitações e também a classificação da Saúde Portuguesa não teria sido tão satisfatória; isto foi reconhecido pela própria mesa de palestrantes durante o Fórum.
De entre os projectos salientam-se os relacionados com a Saúde Oral, embora não seja esta a única especialidade de que carece o nosso Sistema Nacional de Saúde.
Uma forte componente Comunitária e de Cidadania existiu nos debates relacionados com os objectivos para o próximo PNS. Foi abordada a necessidade de ouvir o cidadão e o utente, respeitando as suas decisões em relação à sua vida e sua saúde, incluindo-o como principal agente no processo de cura ou manutenção da saúde. Foi referido que é urgente empoderar a pessoa, doente ou não, para que passe a ser mais responsável pelas suas decisões e comportamentos. Foi sublinhado que mais importante que actuar na cura é actuar na prevenção, no sentido de possibilitar aos cidadãos a opção por estilos de vida mais saudáveis.
Neste contexto e também porque o grande mote da OMS é o de aumentar a proximidade dos Orgãos de Saúde dos países aos seus cidadãos, o PNS 2011-2016 promete ser revolucionário no que diz respeito à humanização do Plano em si. Para este objectivo ser alcançado, foi construída uma plataforma interactiva no site do Plano Nacional de Saúde 2011-2016 (http://www.acs.min-saude.pt/pns2011-2016/), a qual foi activada no dia 8/03/2010.
Tendo eu já experimentado usar a plataforma, devo referir que não está propriamente acessível. Quem quiser usar, tem de saber que ela existe e tem de procurar um pouco até encontrar: entrando no site terão de clicar em Por uma Participação Consequente e aí entrar em Plataforma Saúde em Diálogo... estou a aguardar a resposta a uma pergunta que enviei, relacionada com a forma de utilizar a plataforma; sugeri ainda que a colocassem de forma mais visível.
Penso que já não é nada mau existir uma intenção de se mudar a abordagem da saúde para uma linha mais humanizada e centrada na pessoa. Mas não acredito que a DGS e o Alto Comissariado para a Saúde estejam à espera de muita participação; por um lado, porque a massa social actual é caracterizada por alguma apatia, por outro lado, porque também não colocaram a plataforma mais acessível e por outro ainda, porque não publicitaram esta possibilidade fora do Fórum.
... seria muito interessante serem surpreendidos...
Outro Portugal, vamos surpreendê-los?
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1 comentários:
- Magno jardim disse...
-
Em tudo o que for necessário.
Saudações cordiais -
19 de março de 2010 às 17:17
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Manifesto
2010 é o ano em que passa um século sobre a implantação da República em Portugal e no início de 2011 realizar-se-ão eleições presidenciais. Independentemente da questão do regime, 2010 impõe-se como um marco fundamental para lançar uma reflexão pública sobre o país e o mundo que temos e queremos. Reflexão tanto mais urgente quanto há sinais cada vez mais evidentes do crescente divórcio entre o Estado e a sociedade, traduzido em eleições onde a abstenção triunfa sistematicamente, fruto do descrédito galopante da classe política, da própria política e do deserto de ideias em que vivemos, mas também do comodismo e indiferentismo dos portugueses, que muito criticam, mas dificilmente buscam conceber alternativas e pô-las em prática.
Aqui se apresenta a proposta de um cidadão português que, no decurso da sua docência universitária, obra publicada e intervenção cultural, tem seguido com interesse e preocupação os rumos recentes de Portugal e do mundo. Convicto de que urge refundar Portugal, eis uma lista de prioridades para o país e o mundo melhor a que temos direito e que todos temos o dever de construir. Agradecem-se os contributos críticos, de modo a que a proposta se aperfeiçoe e complete e sirva de plataforma para a discussão pública e a intervenção cultural e cívica que visa, pelos meios que se verificarem ser os mais oportunos.
I – Portugal é uma nação que, pela diáspora planetária da sua história e cultura, pela situação geográfica e pela língua, com 240 milhões de falantes em toda a comunidade lusófona, tem a potencialidade de ser uma nação cosmopolita, uma nação de todo o mundo, que estabeleça pontes, mediações e diálogos entre todos os povos, culturas e civilizações. Este perfil vocaciona-nos para o cultivo dos valores mais universalistas, promovendo o diálogo com todas as culturas mundiais. Os valores mais universalistas são aqueles que promovam o melhor possível para todos, uma cultura da paz, da compreensão e da fraternidade à escala planetária, visando não apenas o bem da espécie humana, mas também a preservação da natureza e do bem-estar de todas as formas de vida animal, como condição da própria qualidade e dignidade da vida humana.
II – O nosso potencial universalista tem sido sistematicamente ignorado pelas nossas orientações governativas, desde a época dos Descobrimentos até hoje. Se no passado predominou a pretensão de dilatar a Fé e o Império, hoje predomina a sujeição da nação aos novos senhores do mundo, as grandes esferas de interesses político-económicos. Portugal está ao serviço da globalização de um paradigma de desenvolvimento económico-tecnológico que explora desenfreadamente os recursos naturais e instrumentaliza homens e animais, donde resulta um enorme sofrimento, um fosso crescente entre homens, classes, povos e nações, a redução da biodiversidade e o arrastar do planeta para uma crise sem precedentes.
III – A assunção do nosso potencial universalista implica uma reforma das mentalidades, com plena expressão ética, cultural, social, política e económica. Nesse sentido se propõem as seguintes medidas urgentes, que visam implementar entre nós um novo paradigma, convergente com as melhores aspirações humanas e com os grandes desafios deste início do século XXI:
1 – Portugal deve dar prioridade absoluta a um desenvolvimento económico sustentado, que salvaguarde a harmonia ecológica e o bem-estar da população humana e animal. A Constituição da República Portuguesa deve consagrar a senciência dos animais – a sua capacidade de sentir dor e prazer - e o seu direito à vida e ao bem-estar. Portugal deve aprender com a legislação das nações europeias mais evoluídas neste domínio, adaptando-a à realidade nacional.
2 – Portugal deve ensaiar modelos de desenvolvimento alternativos, que preservem e promovam a diversidade cultural, biológica e ecoregional. Há que promover a sustentabilidade económica do país, desenvolvendo as economias locais. Devem-se substituir quanto possível as energias não-renováveis (petróleo, carvão, gás natural, energia nuclear), por energias renováveis e alternativas (solar, eólica, hidráulica, marmotriz, etc.), superando o paradigma, a vulnerabilidade e as dependências de uma economia baseada no petróleo e nos hidrocarbonetos. Deve-se particularmente explorar as potencialidades energéticas dos nossos mais de 900 km de costa.
3 - Devem-se ensaiar formas de organização económica cujo objectivo fundamental não seja apenas o lucro financeiro. Deve-se assegurar o predomínio da ética e da política sobre a economia, de modo a que a produção e distribuição da riqueza vise o bem comum do ecossistema e dos seres vivos, a satisfação das necessidades básicas dos homens e a melhoria geral da sua qualidade de vida, bem como o acesso de todos à educação e à cultura.
4 - Deve-se investir num programa pedagógico de redução das necessidades artificiais que permita oferecer alternativas ao produtivismo e consumismo, fazendo do trabalho e do desenvolvimento económico não um fim em si, com o inevitável dano da harmonia ecológica, da biodiversidade e do bem-estar de homens e animais, mas um mero meio para a fruição de um crescente tempo livre de modo mais gratificante e criativo. Deve-se fiscalizar mais rigorosamente o crédito ao consumo, de forma a evitar o crescente endividamento das famílias.
5 – Há que criar um serviço público de saúde eficiente e acessível a todos, que inclua a possibilidade de optar por medicinas e terapias alternativas, de qualidade e eficácia comprovada, como a homeopatia, a acupunctura, a osteopatia, o shiatsu, o yoga, a meditação, etc. Estas opções, bem como os medicamentos naturais e alternativos, devem ser igualmente comparticipadas pelo Estado.
6 – Importa informar e sensibilizar a população para os efeitos nocivos de vários hábitos alimentares - nomeadamente o consumo excessivo de carne - , para o meio ambiente, a saúde pública e o bem-estar de homens e animais. Sendo uma das principais causas do aquecimento global, do esgotamento dos recursos naturais e do sofrimento dos animais, há que restringir e criar alternativas à agropecuária intensiva. Deve-se divulgar a possibilidade de se viver saudavelmente com uma alimentação não-carnívora, vegetariana ou vegan e devem-se reduzir os impostos sobre os produtos de origem natural e biológica.
7 - Portugal, a par do desenvolvimento económico sustentado, deve investir sobretudo nos domínios da saúde, da educação e da cultura, não só tecnológica, mas filosófica, literária, artística e científica. O Orçamento do Estado deve reflectir isso, reduzindo os gastos com a Defesa, o Exército e as obras públicas de fachada. Urge moralizar e reduzir os salários e reformas de presidentes, ministros, deputados e detentores de cargos na administração pública e privada, a par do aumento dos impostos sobre os grandes rendimentos.
8 - Redignificar, com exigência, os professores e todos os profissionais ligados à educação e à cultura. A educação e a cultura não devem estar dependentes de critérios economicistas e das flutuações do mercado de emprego. Os vários níveis de ensino visarão a formação integral da pessoa, não a sacrificando a uma mera funcionalização profissional. A par disto, há que sensibilizar as famílias para não abandonarem as crianças em frente dos computadores e dos maus programas de televisão. A televisão pública deve melhorar o seu nível, investindo mais em programas de informação e formação.
Nos vários níveis de ensino deve ser introduzida uma disciplina que sensibilize para o respeito pela natureza, a vida humana e a vida animal, bem como outra que informe sobre a diversidade de paradigmas culturais, morais e religiosos coexistentes nas sociedades contemporâneas. Nos mesmos níveis de ensino deve estar presente a cultura portuguesa e lusófona, bem como as várias culturas planetárias. Um português culto e bem formado deve ter uma consciência lusófona e universal, não apenas europeia-ocidental.
A meditação, com benefícios científicamente reconhecidos - quanto ao equilíbrio e saúde psicofisiológicos, ao aumento da concentração e da memória, à melhoria na aprendizagem, à maior eficiência no trabalho e à harmonia nas relações humanas - , deve ser facultada em todos os níveis dos currículos escolares, em termos puramente laicos, sem qualquer componente religiosa.
9 - Portugal deve assumir-se na primeira linha da defesa dos direitos humanos e dos seres vivos em todos os pontos do planeta em que sejam violados, sem obedecer a pressões políticas ou económicas internacionais. Portugal deve ser um lugar de bom acolhimento para todos os emigrantes e estrangeiros que o procurem para trabalhar e viver.
10 – Portugal deve aprofundar as relações culturais, económicas e políticas com as nações de língua portuguesa, incluindo a região da Galiza, Goa, Damão, Diu, Macau e os outros lugares da nossa diáspora onde se fala o português, sensibilizando a comunidade lusófona para as causas universais, ambientais, humanitárias e animais.
11 - Portugal deve promover a Lusofonia e os valores universalistas da cultura portuguesa e lusófona no mundo, dando o seu melhor exemplo e contributo para converter a sociedade planetária na possível comunidade ético-cultural e ecuménica visada entre nós por Luís de Camões, Padre António Vieira, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva. Portugal deve assumir-se como um espaço multicultural e de convivência com a diversidade, um espaço privilegiado para o tão actual desafio do diálogo intercultural e inter-religioso, alargado ao diálogo entre crentes e descrentes. Deve precaver-se contudo de tentações neo-imperialistas e de qualquer nacionalismo lusófono ou lusocêntrico. A Lusofonia não deve abafar outras línguas e culturas que existam no seu espaço.
12 - Verifica-se haver em Portugal e na Europa em geral uma grave crise de representação eleitoral, patente na elevada abstenção e descrédito dos políticos, dos partidos e da política, os quais, segundo a opinião geral, apenas promovem o acesso ao poder de indivíduos e grupos que sacrificam o bem comum a interesses pessoais e particulares, com destaque para os das grandes forças económicas. As eleições são assim sistematicamente ganhas por representantes de minorias, relativamente à totalidade dos cidadãos eleitores, que governam isolados da maioria real das populações, que os consideram com alheamento, desconfiança e desprezo, tornando-se vítimas passivas das suas políticas. O actual sistema eleitoral também não promove a melhor justiça representativa, não facilitando a representação de uma maior diversidade de forças políticas e limitando-a às organizações partidárias, o que contribui para a instrumentalização do aparelho de Estado, dos lugares de decisão político-económica e da comunicação social pelos grandes partidos.
Esta é uma situação que compromete seriamente a democracia e que a história ensina anteceder todas as tentativas de soluções ditatoriais. Há que regenerar a democracia em Portugal, reformando o estado e o sistema eleitoral segundo modelos que fomentem a mais ampla participação e intervenção política da sociedade civil, facilitando a representação de novas forças políticas e possibilitando que cidadãos independentes concorram às eleições. Deve-se recuperar a tradição municipalista portuguesa e promover uma regionalização e descentralização administrativa equilibradas, assegurando mecanismos de prevenção e controlo dos despotismos locais.
Há que colocar a política ao serviço da ética e da cultura e mobilizar a população para a intervenção cívica e política em torno dos desafios fundamentais do nosso tempo, com destaque para a protecção da natureza, o bem-estar dos seres vivos e uma nova consciência planetária. Há que mobilizar os cidadãos indiferentes e descrentes da vida política, a enorme percentagem de abstencionistas e todos aqueles que se limitam a votar, para a responsabilidade de reflectirem, discutirem e criarem o melhor destino a dar à nação. Há que, dentro dos quadros democráticos e legais, promover formas alternativas de intervenção cultural, social e cívica, que permitam antecipar tanto quanto possível a realidade desejada, sem depender dos poderes instituídos.
Convicto de que estas medidas permitirão que Portugal recupere o pioneirismo e criatividade que o caracterizou no impulso dos Descobrimentos, mas agora sem escravizar e explorar outros povos, apelo a que todos dêem o vosso contributo para a discussão, aperfeiçoamento e divulgação deste Manifesto. De todos nós depende que ele se constitua na plataforma de um movimento cívico e cultural de reflexão e acção, que nos arranque ao comodismo e passividade em que estamos instalados.
Por um Outro Portugal!
Aqui se apresenta a proposta de um cidadão português que, no decurso da sua docência universitária, obra publicada e intervenção cultural, tem seguido com interesse e preocupação os rumos recentes de Portugal e do mundo. Convicto de que urge refundar Portugal, eis uma lista de prioridades para o país e o mundo melhor a que temos direito e que todos temos o dever de construir. Agradecem-se os contributos críticos, de modo a que a proposta se aperfeiçoe e complete e sirva de plataforma para a discussão pública e a intervenção cultural e cívica que visa, pelos meios que se verificarem ser os mais oportunos.
I – Portugal é uma nação que, pela diáspora planetária da sua história e cultura, pela situação geográfica e pela língua, com 240 milhões de falantes em toda a comunidade lusófona, tem a potencialidade de ser uma nação cosmopolita, uma nação de todo o mundo, que estabeleça pontes, mediações e diálogos entre todos os povos, culturas e civilizações. Este perfil vocaciona-nos para o cultivo dos valores mais universalistas, promovendo o diálogo com todas as culturas mundiais. Os valores mais universalistas são aqueles que promovam o melhor possível para todos, uma cultura da paz, da compreensão e da fraternidade à escala planetária, visando não apenas o bem da espécie humana, mas também a preservação da natureza e do bem-estar de todas as formas de vida animal, como condição da própria qualidade e dignidade da vida humana.
II – O nosso potencial universalista tem sido sistematicamente ignorado pelas nossas orientações governativas, desde a época dos Descobrimentos até hoje. Se no passado predominou a pretensão de dilatar a Fé e o Império, hoje predomina a sujeição da nação aos novos senhores do mundo, as grandes esferas de interesses político-económicos. Portugal está ao serviço da globalização de um paradigma de desenvolvimento económico-tecnológico que explora desenfreadamente os recursos naturais e instrumentaliza homens e animais, donde resulta um enorme sofrimento, um fosso crescente entre homens, classes, povos e nações, a redução da biodiversidade e o arrastar do planeta para uma crise sem precedentes.
III – A assunção do nosso potencial universalista implica uma reforma das mentalidades, com plena expressão ética, cultural, social, política e económica. Nesse sentido se propõem as seguintes medidas urgentes, que visam implementar entre nós um novo paradigma, convergente com as melhores aspirações humanas e com os grandes desafios deste início do século XXI:
1 – Portugal deve dar prioridade absoluta a um desenvolvimento económico sustentado, que salvaguarde a harmonia ecológica e o bem-estar da população humana e animal. A Constituição da República Portuguesa deve consagrar a senciência dos animais – a sua capacidade de sentir dor e prazer - e o seu direito à vida e ao bem-estar. Portugal deve aprender com a legislação das nações europeias mais evoluídas neste domínio, adaptando-a à realidade nacional.
2 – Portugal deve ensaiar modelos de desenvolvimento alternativos, que preservem e promovam a diversidade cultural, biológica e ecoregional. Há que promover a sustentabilidade económica do país, desenvolvendo as economias locais. Devem-se substituir quanto possível as energias não-renováveis (petróleo, carvão, gás natural, energia nuclear), por energias renováveis e alternativas (solar, eólica, hidráulica, marmotriz, etc.), superando o paradigma, a vulnerabilidade e as dependências de uma economia baseada no petróleo e nos hidrocarbonetos. Deve-se particularmente explorar as potencialidades energéticas dos nossos mais de 900 km de costa.
3 - Devem-se ensaiar formas de organização económica cujo objectivo fundamental não seja apenas o lucro financeiro. Deve-se assegurar o predomínio da ética e da política sobre a economia, de modo a que a produção e distribuição da riqueza vise o bem comum do ecossistema e dos seres vivos, a satisfação das necessidades básicas dos homens e a melhoria geral da sua qualidade de vida, bem como o acesso de todos à educação e à cultura.
4 - Deve-se investir num programa pedagógico de redução das necessidades artificiais que permita oferecer alternativas ao produtivismo e consumismo, fazendo do trabalho e do desenvolvimento económico não um fim em si, com o inevitável dano da harmonia ecológica, da biodiversidade e do bem-estar de homens e animais, mas um mero meio para a fruição de um crescente tempo livre de modo mais gratificante e criativo. Deve-se fiscalizar mais rigorosamente o crédito ao consumo, de forma a evitar o crescente endividamento das famílias.
5 – Há que criar um serviço público de saúde eficiente e acessível a todos, que inclua a possibilidade de optar por medicinas e terapias alternativas, de qualidade e eficácia comprovada, como a homeopatia, a acupunctura, a osteopatia, o shiatsu, o yoga, a meditação, etc. Estas opções, bem como os medicamentos naturais e alternativos, devem ser igualmente comparticipadas pelo Estado.
6 – Importa informar e sensibilizar a população para os efeitos nocivos de vários hábitos alimentares - nomeadamente o consumo excessivo de carne - , para o meio ambiente, a saúde pública e o bem-estar de homens e animais. Sendo uma das principais causas do aquecimento global, do esgotamento dos recursos naturais e do sofrimento dos animais, há que restringir e criar alternativas à agropecuária intensiva. Deve-se divulgar a possibilidade de se viver saudavelmente com uma alimentação não-carnívora, vegetariana ou vegan e devem-se reduzir os impostos sobre os produtos de origem natural e biológica.
7 - Portugal, a par do desenvolvimento económico sustentado, deve investir sobretudo nos domínios da saúde, da educação e da cultura, não só tecnológica, mas filosófica, literária, artística e científica. O Orçamento do Estado deve reflectir isso, reduzindo os gastos com a Defesa, o Exército e as obras públicas de fachada. Urge moralizar e reduzir os salários e reformas de presidentes, ministros, deputados e detentores de cargos na administração pública e privada, a par do aumento dos impostos sobre os grandes rendimentos.
8 - Redignificar, com exigência, os professores e todos os profissionais ligados à educação e à cultura. A educação e a cultura não devem estar dependentes de critérios economicistas e das flutuações do mercado de emprego. Os vários níveis de ensino visarão a formação integral da pessoa, não a sacrificando a uma mera funcionalização profissional. A par disto, há que sensibilizar as famílias para não abandonarem as crianças em frente dos computadores e dos maus programas de televisão. A televisão pública deve melhorar o seu nível, investindo mais em programas de informação e formação.
Nos vários níveis de ensino deve ser introduzida uma disciplina que sensibilize para o respeito pela natureza, a vida humana e a vida animal, bem como outra que informe sobre a diversidade de paradigmas culturais, morais e religiosos coexistentes nas sociedades contemporâneas. Nos mesmos níveis de ensino deve estar presente a cultura portuguesa e lusófona, bem como as várias culturas planetárias. Um português culto e bem formado deve ter uma consciência lusófona e universal, não apenas europeia-ocidental.
A meditação, com benefícios científicamente reconhecidos - quanto ao equilíbrio e saúde psicofisiológicos, ao aumento da concentração e da memória, à melhoria na aprendizagem, à maior eficiência no trabalho e à harmonia nas relações humanas - , deve ser facultada em todos os níveis dos currículos escolares, em termos puramente laicos, sem qualquer componente religiosa.
9 - Portugal deve assumir-se na primeira linha da defesa dos direitos humanos e dos seres vivos em todos os pontos do planeta em que sejam violados, sem obedecer a pressões políticas ou económicas internacionais. Portugal deve ser um lugar de bom acolhimento para todos os emigrantes e estrangeiros que o procurem para trabalhar e viver.
10 – Portugal deve aprofundar as relações culturais, económicas e políticas com as nações de língua portuguesa, incluindo a região da Galiza, Goa, Damão, Diu, Macau e os outros lugares da nossa diáspora onde se fala o português, sensibilizando a comunidade lusófona para as causas universais, ambientais, humanitárias e animais.
11 - Portugal deve promover a Lusofonia e os valores universalistas da cultura portuguesa e lusófona no mundo, dando o seu melhor exemplo e contributo para converter a sociedade planetária na possível comunidade ético-cultural e ecuménica visada entre nós por Luís de Camões, Padre António Vieira, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva. Portugal deve assumir-se como um espaço multicultural e de convivência com a diversidade, um espaço privilegiado para o tão actual desafio do diálogo intercultural e inter-religioso, alargado ao diálogo entre crentes e descrentes. Deve precaver-se contudo de tentações neo-imperialistas e de qualquer nacionalismo lusófono ou lusocêntrico. A Lusofonia não deve abafar outras línguas e culturas que existam no seu espaço.
12 - Verifica-se haver em Portugal e na Europa em geral uma grave crise de representação eleitoral, patente na elevada abstenção e descrédito dos políticos, dos partidos e da política, os quais, segundo a opinião geral, apenas promovem o acesso ao poder de indivíduos e grupos que sacrificam o bem comum a interesses pessoais e particulares, com destaque para os das grandes forças económicas. As eleições são assim sistematicamente ganhas por representantes de minorias, relativamente à totalidade dos cidadãos eleitores, que governam isolados da maioria real das populações, que os consideram com alheamento, desconfiança e desprezo, tornando-se vítimas passivas das suas políticas. O actual sistema eleitoral também não promove a melhor justiça representativa, não facilitando a representação de uma maior diversidade de forças políticas e limitando-a às organizações partidárias, o que contribui para a instrumentalização do aparelho de Estado, dos lugares de decisão político-económica e da comunicação social pelos grandes partidos.
Esta é uma situação que compromete seriamente a democracia e que a história ensina anteceder todas as tentativas de soluções ditatoriais. Há que regenerar a democracia em Portugal, reformando o estado e o sistema eleitoral segundo modelos que fomentem a mais ampla participação e intervenção política da sociedade civil, facilitando a representação de novas forças políticas e possibilitando que cidadãos independentes concorram às eleições. Deve-se recuperar a tradição municipalista portuguesa e promover uma regionalização e descentralização administrativa equilibradas, assegurando mecanismos de prevenção e controlo dos despotismos locais.
Há que colocar a política ao serviço da ética e da cultura e mobilizar a população para a intervenção cívica e política em torno dos desafios fundamentais do nosso tempo, com destaque para a protecção da natureza, o bem-estar dos seres vivos e uma nova consciência planetária. Há que mobilizar os cidadãos indiferentes e descrentes da vida política, a enorme percentagem de abstencionistas e todos aqueles que se limitam a votar, para a responsabilidade de reflectirem, discutirem e criarem o melhor destino a dar à nação. Há que, dentro dos quadros democráticos e legais, promover formas alternativas de intervenção cultural, social e cívica, que permitam antecipar tanto quanto possível a realidade desejada, sem depender dos poderes instituídos.
Convicto de que estas medidas permitirão que Portugal recupere o pioneirismo e criatividade que o caracterizou no impulso dos Descobrimentos, mas agora sem escravizar e explorar outros povos, apelo a que todos dêem o vosso contributo para a discussão, aperfeiçoamento e divulgação deste Manifesto. De todos nós depende que ele se constitua na plataforma de um movimento cívico e cultural de reflexão e acção, que nos arranque ao comodismo e passividade em que estamos instalados.
Por um Outro Portugal!
Contribuidores
- Ana Moreira
- Ana Rodrigues
- Bernardo Almeida
- Dr Carlos Gonçalves
- Duarte D. Braga
- Duarte
- Estudo Geral
- Fernando Emídio
- Gil
- Glimpse
- Helena Caetano
- Isabel Rosete
- Isabel Santiago
- João Beato
- João Lopes Aguiar
- José Magalhães
- Luís Miguel Dantas
- Luis Resina
- Luis Resina
- MJC
- Margarida
- Maria de Lourdes Teixeira Puga Alvarez
- Maribel Sobreira
- Maurícia Teles da Silva
- Minda
- Moysés
- P.F. Antunes
- Paulo Borges
- Pedro Miguel Estrela
- Pedro Paz
- Pedro Sena
- Rui Matoso
- Rute Pinheiro
- Sérgio Mago
- aluzdascasas
- ana
- castus
- ethel
- jads
- lurdes
- maria alvarez
- paula
1 comentários:
Em tudo o que for necessário.
Saudações cordiais
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