Um espaço para reinventar Portugal como nação de todo o Mundo, que estabeleça pontes, mediações e diálogos entre todos os povos, culturas e civilizações e promova os valores mais universalistas, conforme o símbolo da Esfera Armilar. Há que visar o melhor possível para todos, uma cultura da paz, da compreensão e da fraternidade à escala planetária, orientada não só para o bem da espécie humana, mas também para a preservação da natureza e o bem-estar de todas as formas de vida sencientes.

"Nós, Portugal, o poder ser"

- Fernando Pessoa, Mensagem.

O Nascimento do Homem num Portugal Renascido

Penso que é urgente (re)pensarmos a forma como se nasce no nosso país e se estamos, de facto, a seguir o melhor caminho.... apesar de serem referidas estatísticas confortantes, que colocam Portugal na fila da frente dos países com menor número de mortalidade de mães e bebés no momento do parto, há que reflectir sobre o que este número exactamente quer dizer, assim como o que está por trás dele.

Não me interpretem mal; eu acho excelente sermos exemplo de boas práticas médicas que garantem a mães e bebés uma vida saudável! O que sinto é que este facto não pode ser desculpa para fecharmos os olhos ao rol de procedimentos que actualmente são executados, e que marcam negativamente a auto-estima e a auto-confiança de muitas mulheres, assim como a integridade física e psicológica dessas mulheres e de seus bebés recém-nascidos.

A recente experiência que a humanidade tem em partos hospitalares (recente, porque só perto de 2 a 3 gerações de mulheres vêm recorrendo a hospitais, de forma massiva, para o efeito) foi suficiente para que a Organização Mundial de Saúde concluísse que grande parte das práticas realizadas em hospitais para "fazer" nascer bebés em gravidezes de baixo risco, são utilizadas de forma inapropriada, sendo outras altamente desaconselhadas. Podem ler toda a lista (incluindo as práticas aconselhadas) no seguinte link: http://www.humpar.org/recomendacoes_oms

O conhecimento científico refere que, na altura do parto, entram em jogo potentes hormonas que têm um importante papel não só no desenrolar fisiológico do próprio parto, como também no vínculo que a mãe irá estabelecer com o seu filho recém nascido. Agir no sentido de "quebrar" este delicado equilíbrio biológico pode ter consequências devastadoras, por exemplo, no impulso protector da mãe em relação ao seu filho.... que serão tanto mais graves quanto menos desejada e planeada tiver sido essa criança e quanto mais jovem e socialmente desprotegida for a mulher.

Paralelamente a um tratamento frio e excessivamente técnico que a mulher com gravidez de baixo risco pode encontrar no hospital, verificamos um numero crescente de mulheres que recorrem a cesarianas pedidas, sendo este procedimento cirúrgico encarado quase como uma operação estética. Acontece que, independentemente de todos os riscos implicados no procedimento cirúrgico em si, a mulher que se coloca na posição de "operar" o nascimento do seu filho está a aceitar também os riscos para o bebé que tem no ventre. Estes riscos são altos e poucas mulheres têm consciência disto!

Em Portugal existem enfermeiros obstetras que realizam partos no domicílio, com toda a segurança e profissionalismo que a situação exige, e que são altamente descriminados e marginalizados por seus pares profissionais. Isto não pode acontecer! De acordo com as directrizes da OMS (incluídas no link atrás referido), a grávida de baixo risco tem o direito de optar pelo local e pela forma como vai parir, devendo ser respeitada a sua escolha consciente por todas as pessoas envolvidas na assistência ao seu parto. Desproteger o enfermeiro que opta apoiar a mulher que escolhe, em consciência, ter o seu bebé em casa, é desproteger a mulher da segurança a que ela tem direito!

Inverter este ciclo não implica quase nada... no Brasil, existe um Hospital Público que desenvolve um projecto de partos humanizados (ISEA) onde com praticamente nenhum investimento financeiro em recursos materiais e uma boa formação a todos os técnicos (médicos, enfermeiros, auxiliares, etc), foram conseguidos resultados extraordinários, como por exemplo uma reduzidissima taxa de cesarianas (7.7% !... o que é ainda mais baixo do que os 15% sugeridos pela OMS; de notar que antes do projecto, no mesmo hospital, existiam 39,2% de cesarianas). No projecto citado, são referidos os seguintes números: em 181 grávidas atendidas, realizaram-se 185 nascimentos (4 nascimentos gemelares), dos quais 167 partos foram vaginais (158 espontâneos e 9 com recurso a forceps), com nenhuma episiotomia (84 períneos perfeitamente íntegros) e apenas 14 cesareanas se verificaram realmente indispensáveis .
Este projecto brasileiro (ISEA)é só um exemplo, pois um pouco por todo o mundo existem já muitos hospitais e países que praticam uma política de nascimento mais humana e centrada na mulher.

O que estou a sugerir para o novo Portugal, não é nada de muito complicado, nem nada de muito dispendioso. Trata-se apenas de uma mudança de mentalidades, com o respeito pelo outro e pelas escolhas informadas que o outro pode e deve efectuar. Trata-se de compreender que o parto é, acima de tudo, um fenómeno natural e biológico, que se desenrola dentro do corpo da mulher, pelo que é incontornável a necessidade de se olhar para a mulher no seu todo para poder ajudar com eficiência o nascimento de um novo ser. Trata-se de compreender que, se nascer fosse assim tão complicado quanto as aparatosas técnicas hospitalares actuais sugerem, provavelmente a humanidade já tinha sido extinta, muito antes de ter havido tempo para levar as parturientes para os hospitais.


Se pensarmos bem, humanizar o parto é no fundo humanizar o Sistema Nacional de Saúde, realizando uma abordagem do ser humano como um todo, assim como é realizado em tantas outras culturas. Para mim, faz todo o sentido revolucionar o Sistema Nacional de Saúde e garantir, entre outras coisas, Partos Humanizados para todas as mães e bebés que nascem!

2 comentários:

Serafina disse...

Cara Cleo,
um dia vi um documentário sobre o parto natural. Está provado que, desde que mãe e bébé estejam de perfeita saúde, quanto mais tempo o bébé estiver dentro do útero, melhor. Nesse documentário, quando se perguntava a um médico do Hospital de Santa Maria porque havia tantas cesarianas, ele respondeu espontânea e bruscamente: "Não está com certeza à espera que eu vá interromper um jantar só porque uma mulher resolve dar à luz." Nunca me esqueci disto, pois fiquei em estado de choque. Aquilo saiu mesmo espontanea e arrogantemente da boca daquele médico.
Em França, há inclusivamente, os partos dentro de água morna (banheira), assistidos, para o bebé ter uma transição ainda mais suave do útero para o mundo. Concordo absolutamente com o seu post e acho uma excelente contribuição para a área da saúde.
Posso pôr no fórum?
Abraço,
Laura

Anónimo disse...

Claro que podes!
De facto, será dificil que alguma mulher que tenha visto o comentario desse médico na TV, tenha ficado sem reacção nenhuma; eu lembro-me muito bem desse médico!
Hoje em dia veiculam muitas informações falsas, não só em relação ao parto, como em questão à amamentação.... e como para nós, humanos, os médicos são umas espécies de deuses, ninguém ousa duvidar daquilo que um sr. Dr. diz... é pena que existam médicos que não percebam a enorme responsabilidade que o estatuto lhes dá, em relação aos comuns mortais, e não se esforcem mais por compreender o ser humano como um todo e em actualizar permanentemente o seu conhecimento cientifico... Mas felizmente existem bons médicos! Médicos com M grande, médicos humanistas... é neles que eu aposto todas as minhas fichas!

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O Nascimento do Homem num Portugal Renascido

Penso que é urgente (re)pensarmos a forma como se nasce no nosso país e se estamos, de facto, a seguir o melhor caminho.... apesar de serem referidas estatísticas confortantes, que colocam Portugal na fila da frente dos países com menor número de mortalidade de mães e bebés no momento do parto, há que reflectir sobre o que este número exactamente quer dizer, assim como o que está por trás dele.

Não me interpretem mal; eu acho excelente sermos exemplo de boas práticas médicas que garantem a mães e bebés uma vida saudável! O que sinto é que este facto não pode ser desculpa para fecharmos os olhos ao rol de procedimentos que actualmente são executados, e que marcam negativamente a auto-estima e a auto-confiança de muitas mulheres, assim como a integridade física e psicológica dessas mulheres e de seus bebés recém-nascidos.

A recente experiência que a humanidade tem em partos hospitalares (recente, porque só perto de 2 a 3 gerações de mulheres vêm recorrendo a hospitais, de forma massiva, para o efeito) foi suficiente para que a Organização Mundial de Saúde concluísse que grande parte das práticas realizadas em hospitais para "fazer" nascer bebés em gravidezes de baixo risco, são utilizadas de forma inapropriada, sendo outras altamente desaconselhadas. Podem ler toda a lista (incluindo as práticas aconselhadas) no seguinte link: http://www.humpar.org/recomendacoes_oms

O conhecimento científico refere que, na altura do parto, entram em jogo potentes hormonas que têm um importante papel não só no desenrolar fisiológico do próprio parto, como também no vínculo que a mãe irá estabelecer com o seu filho recém nascido. Agir no sentido de "quebrar" este delicado equilíbrio biológico pode ter consequências devastadoras, por exemplo, no impulso protector da mãe em relação ao seu filho.... que serão tanto mais graves quanto menos desejada e planeada tiver sido essa criança e quanto mais jovem e socialmente desprotegida for a mulher.

Paralelamente a um tratamento frio e excessivamente técnico que a mulher com gravidez de baixo risco pode encontrar no hospital, verificamos um numero crescente de mulheres que recorrem a cesarianas pedidas, sendo este procedimento cirúrgico encarado quase como uma operação estética. Acontece que, independentemente de todos os riscos implicados no procedimento cirúrgico em si, a mulher que se coloca na posição de "operar" o nascimento do seu filho está a aceitar também os riscos para o bebé que tem no ventre. Estes riscos são altos e poucas mulheres têm consciência disto!

Em Portugal existem enfermeiros obstetras que realizam partos no domicílio, com toda a segurança e profissionalismo que a situação exige, e que são altamente descriminados e marginalizados por seus pares profissionais. Isto não pode acontecer! De acordo com as directrizes da OMS (incluídas no link atrás referido), a grávida de baixo risco tem o direito de optar pelo local e pela forma como vai parir, devendo ser respeitada a sua escolha consciente por todas as pessoas envolvidas na assistência ao seu parto. Desproteger o enfermeiro que opta apoiar a mulher que escolhe, em consciência, ter o seu bebé em casa, é desproteger a mulher da segurança a que ela tem direito!

Inverter este ciclo não implica quase nada... no Brasil, existe um Hospital Público que desenvolve um projecto de partos humanizados (ISEA) onde com praticamente nenhum investimento financeiro em recursos materiais e uma boa formação a todos os técnicos (médicos, enfermeiros, auxiliares, etc), foram conseguidos resultados extraordinários, como por exemplo uma reduzidissima taxa de cesarianas (7.7% !... o que é ainda mais baixo do que os 15% sugeridos pela OMS; de notar que antes do projecto, no mesmo hospital, existiam 39,2% de cesarianas). No projecto citado, são referidos os seguintes números: em 181 grávidas atendidas, realizaram-se 185 nascimentos (4 nascimentos gemelares), dos quais 167 partos foram vaginais (158 espontâneos e 9 com recurso a forceps), com nenhuma episiotomia (84 períneos perfeitamente íntegros) e apenas 14 cesareanas se verificaram realmente indispensáveis .
Este projecto brasileiro (ISEA)é só um exemplo, pois um pouco por todo o mundo existem já muitos hospitais e países que praticam uma política de nascimento mais humana e centrada na mulher.

O que estou a sugerir para o novo Portugal, não é nada de muito complicado, nem nada de muito dispendioso. Trata-se apenas de uma mudança de mentalidades, com o respeito pelo outro e pelas escolhas informadas que o outro pode e deve efectuar. Trata-se de compreender que o parto é, acima de tudo, um fenómeno natural e biológico, que se desenrola dentro do corpo da mulher, pelo que é incontornável a necessidade de se olhar para a mulher no seu todo para poder ajudar com eficiência o nascimento de um novo ser. Trata-se de compreender que, se nascer fosse assim tão complicado quanto as aparatosas técnicas hospitalares actuais sugerem, provavelmente a humanidade já tinha sido extinta, muito antes de ter havido tempo para levar as parturientes para os hospitais.


Se pensarmos bem, humanizar o parto é no fundo humanizar o Sistema Nacional de Saúde, realizando uma abordagem do ser humano como um todo, assim como é realizado em tantas outras culturas. Para mim, faz todo o sentido revolucionar o Sistema Nacional de Saúde e garantir, entre outras coisas, Partos Humanizados para todas as mães e bebés que nascem!

2 comentários:

Serafina disse...

Cara Cleo,
um dia vi um documentário sobre o parto natural. Está provado que, desde que mãe e bébé estejam de perfeita saúde, quanto mais tempo o bébé estiver dentro do útero, melhor. Nesse documentário, quando se perguntava a um médico do Hospital de Santa Maria porque havia tantas cesarianas, ele respondeu espontânea e bruscamente: "Não está com certeza à espera que eu vá interromper um jantar só porque uma mulher resolve dar à luz." Nunca me esqueci disto, pois fiquei em estado de choque. Aquilo saiu mesmo espontanea e arrogantemente da boca daquele médico.
Em França, há inclusivamente, os partos dentro de água morna (banheira), assistidos, para o bebé ter uma transição ainda mais suave do útero para o mundo. Concordo absolutamente com o seu post e acho uma excelente contribuição para a área da saúde.
Posso pôr no fórum?
Abraço,
Laura

Anónimo disse...

Claro que podes!
De facto, será dificil que alguma mulher que tenha visto o comentario desse médico na TV, tenha ficado sem reacção nenhuma; eu lembro-me muito bem desse médico!
Hoje em dia veiculam muitas informações falsas, não só em relação ao parto, como em questão à amamentação.... e como para nós, humanos, os médicos são umas espécies de deuses, ninguém ousa duvidar daquilo que um sr. Dr. diz... é pena que existam médicos que não percebam a enorme responsabilidade que o estatuto lhes dá, em relação aos comuns mortais, e não se esforcem mais por compreender o ser humano como um todo e em actualizar permanentemente o seu conhecimento cientifico... Mas felizmente existem bons médicos! Médicos com M grande, médicos humanistas... é neles que eu aposto todas as minhas fichas!

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