Da Amamentação
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
Publicada por Kunzang Dorje à(s) 12:17Etiquetas: Amamentação, Senciência dos Animais
Da Amamentação
2 comentários:
- Kunzang Dorje disse...
-
Publico este pequeno texto de González inspirado pelos recentes posts de Cleo. Sou pai de dois meninos, um com dois anos e outro com seis meses. Apesar de serem irmãos, são miúdos muito diferentes. Uma das diferenças é que o mais velho nunca mamou; o outro só mama, rejeitando sempre uma tentativa por parte dos pais em administrar-lhe um biberon... Julgo que uma das causas para o facto de o mais velho nunca ter mamado foi o facto de logo à nascença lhe terem dado um líquido através de um biberon para supostamente "limpar" os orgãos do sistema digestivo, prática que, suponho eu, é corrente em muitos hospitais. Para além de ter sido logo afastado da mãe à nascença - tendo sido esta colocada numa sala de recobro, juntamente com outros doentes que não tinham dado à luz - fizeram com que o primeiro contacto do bebé fosse uma tetina de borracha... Já com o mais novo, foi o oposto.
Não pretendo aqui defender uma posição radical, pois acredito na filosofia do meio e não na dos opostos. O que me parece é que o mundo moderno tecnológico e científico é por natureza separador. Tudo separa, tudo cataloga, tudo define, tudo denomina e compartimenta. Assim nos separamos de Deus. Assim nos separamos do fundo primordial que há em todos os seres sencientes. Assim nos isolamos, logo à nascença da nossa mãe. É que a amamentação não é só alimentar o bebé para que ele cresça e sobreviva. Quando olho para o meu filho durante a amamentação, sinto a sua ligação profunda com a mãe, como que naquele momento mágico e com contornos de sagrado, os seus corpos estivessem fundidos, deixando a mãe de ser mãe e o filho de ser filho. Julgo que esta ligação é uma forma de re-ligação que todos nós, seres fragmentados e separados, diria até definidos, buscamos com a natureza/cosmos, num esquecimento que no fundo é a lembrança do que somos. Os bebés choram: sentem-se separados, isolados. Procuram a mãe, que compassivamente lhe dá a mama, fundindo-se no todo seus corpos. Nós, adultos, sofremos. Sentimo-nos fragmentados, separados, estilhaçados. É a saudade. Então, movidos pela saudade buscamos o leite da Mãe-Deusa. Será que o mundo modernizado quer vender-nos uma Mãe-Deusa de borracha e composta de leite artificial? Não será isso o progresso tecnológico? O fabrico de deuses artificiais, dessacralizados, substituintes dos deuses dos mitos, aqueles verdadeiros que inspiraram os portugueses de quinhentos na demanda do Graal? - 4 de dezembro de 2009 às 12:50
- Anónimo disse...
-
Que lindo depoimento! Obrigada!
De facto estamos num momento em que necessitamos de questionar várias coisas, entre elas, as implicações que tanto avanço tecnológico nos trouxeram. Penso ser possivel ficarmos apenas com o bom e regeitarmos o mau... como avaliamos?, bem, julgo que o treino de nos reencontrarmos conosco mesmos, o exercício de nos voltarmos para dentro e escutarmos o que se passa em nossa alma, nos permitirá, aos poucos, reconquistar uma velha aliada nossa: a intuição.
O ritmo acelerado da sociedade moderna não se compadece com o tempo dilatado que as crianças e bebés nos exigem; para muitos "Homens modernos", os bebés são, sim, muito "mal educados": pedem para comer a qualquer hora, choram sem respeitarem o sono de ninguém e sujam o colo de quem está pronto para sair... Mas esses bebés e essas crianças são os Homens de amamnhã. Se não respeitarmos o tempo dilatado que necessitam, o que estaremos a "amputar" no seu afecto?
Muitos estudos referem que a confiança "básica no mundo" se estabelece num momento de desenvolvimento muito precoce, com base na segurança que o colo permanente da mãe e do pai dá ao bebé recém-nascido; dar sempre o colo pedido é dar a segurança que o bebé precisa para, mais tarde, explorar o mundo sozinho, tornando-se um adulto seguro e confiante nas suas capacidades.
Dar de mamar é saúde, alimento e protecção.... mas é também carinho, conforto e segurança.
Temos, de facto, muito a (re)aprender com nossos irmãos macacos! - 6 de dezembro de 2009 às 15:48
Outras ligações
Colabore
Outro
Etiquetas
- 'a geração perdida'
- 10 de Junho
- A Águia
- a escola do futuro
- a frustração na escola
- adultos
- Agostinho da Silva
- Agricultura
- água
- ahimsa
- Ajudar o Haiti
- Alan Wallace
- Alhos Vedros
- Alimentação
- alterações climáticas
- Altruísmo
- Amamentação
- ambientalismo
- ambiente
- AMI
- amor
- anarquia
- Angelus Silesius
- Animais de rua
- animal
- Ano Novo de 2010
- Anselmo Borges
- antropocentrismo
- Associação Agostinho da Silva
- bem universal
- biotecnologia
- brasilidade
- Budismo
- caos
- carne artificial
- cesariana
- cheias
- China
- cidade
- ciência
- ciência da mente
- ciganos
- cimeira de Copenhaga
- cioran
- civilização
- comércio local
- compaixão
- Comunicação
- Conferências Democráticas
- Confúcio
- conhecimento
- Constituição
- consumismo
- consumo de carne
- cosmopolitismo
- cplp
- crianças
- crise ecológica
- cristianismo
- crítica
- crítica social
- Cultura
- D. Sebastião
- D.Dinis
- Dalai Lama
- decadência
- Declaração Budista sobre as Alterações Climáticas
- Democracia
- desastre
- desenvolvimento rural
- Desenvolvimento Sustentável
- desinteresse
- despertar
- Deus
- diálogo inter-religioso
- diálogo intercultural
- Direitos dos Animais
- Ecologia
- economia
- Economia Global
- economia local
- ecumenismo
- Educação
- educação para autonomia
- efemérides
- Energia
- escola
- estado do mundo
- Estados
- estímulo ao desenvolvimento local
- Estudo Geral
- ética
- ética global
- Europa
- exílio
- Felicidade Interna Bruta
- Fernando Nobre
- Fernando Pessoa
- FIB
- filosofia
- fome
- força da natureza
- Fórum
- fotografia
- François Jullien
- Friedman
- Friedrich Schlegel
- Friedrich von Logau
- gestão escolar
- girl effect
- Gravidez
- Grupos de trabalho
- guiné equatorial
- história
- homem
- homem honesto
- homem vulgar
- identidade
- identidade nacional
- Igreja Católica
- Ilda Castro
- Índia
- interculturalidade
- internacionalismo
- islão
- itália
- Jean-Claude Carriére
- Jean-Yves Leloup
- João Rodrigo
- Jornal Milénio
- jornal Outro
- José Saramago
- Leonel Moura
- lisboa
- loucura
- Luis Santos
- Lusofonia
- lusosfera
- Madeira
- Manfred Max-Neef
- manifestação
- Manifesto "Outro Portugal"
- Marcha contra o Biotério da Azambuja
- Marcha-Protesto contra os maus-tratos aos animais
- Mário Laginha
- Meat the Truth - Uma Verdade Mais Do Que Inconveniente
- meditação
- Mensagem
- mentira
- mercearia
- Mia Couto
- Miguel Real
- moeda
- moedas locais
- MOP
- Movimento Outro Portugal
- mudança
- mulher
- mundo
- nascimento
- Natal interior
- novo paradigma
- o rosto do outro
- Ocidente
- ogm
- ordenamento do território
- Orpheu
- Outro Portugal
- Padre António Vieira
- PAN
- Partido Pelos Animais
- Parto
- Parto Domiciliar
- Partos
- Partos / Cordão Umbilical
- Patas e Caudas
- Património
- patriotismo
- patriotismo trans-patriótico e universalista
- patriotismo universalista
- Paulo Feitais
- Paulo Varela Gomes
- paz
- pedagogia
- pessoas
- petição
- Petição contra a criação de uma secção de tauromaquia no Conselho Nacional de Cultura
- planeamento urbano
- Poder
- política
- porto
- Portugal
- portugalidade
- portugueses
- prevenção
- professor
- progresso
- Quinto Império
- Raimon Pannikar
- Ramos-Horta
- refundar Portugal
- reino de Deus
- religião
- religião e espiritualidade
- revista Cultura ENTRE Culturas
- Revista ENTRE
- saudade
- Saúde
- sebastianismo
- senciência
- Senciência dos Animais
- sensacionismo
- ser aluno
- ser humano
- ser professor
- Sessões de Trabalho
- Simone Weil
- sociedade sem classes
- solidariedade
- tauromaquia
- tertúlia
- Tibete
- touradas
- trabalho
- transgénicos
- trocas
- Uma Visão Armilar do Mundo
- universal
- universalidade
- universalismo
- universlismo povo português
- universo
- utopia
- Valores
- vegetarianismo
- Vittorio Hösle
- viver autenticamente
Leitores no Blogger
Leitores no Facebook
Manifesto
Aqui se apresenta a proposta de um cidadão português que, no decurso da sua docência universitária, obra publicada e intervenção cultural, tem seguido com interesse e preocupação os rumos recentes de Portugal e do mundo. Convicto de que urge refundar Portugal, eis uma lista de prioridades para o país e o mundo melhor a que temos direito e que todos temos o dever de construir. Agradecem-se os contributos críticos, de modo a que a proposta se aperfeiçoe e complete e sirva de plataforma para a discussão pública e a intervenção cultural e cívica que visa, pelos meios que se verificarem ser os mais oportunos.
I – Portugal é uma nação que, pela diáspora planetária da sua história e cultura, pela situação geográfica e pela língua, com 240 milhões de falantes em toda a comunidade lusófona, tem a potencialidade de ser uma nação cosmopolita, uma nação de todo o mundo, que estabeleça pontes, mediações e diálogos entre todos os povos, culturas e civilizações. Este perfil vocaciona-nos para o cultivo dos valores mais universalistas, promovendo o diálogo com todas as culturas mundiais. Os valores mais universalistas são aqueles que promovam o melhor possível para todos, uma cultura da paz, da compreensão e da fraternidade à escala planetária, visando não apenas o bem da espécie humana, mas também a preservação da natureza e do bem-estar de todas as formas de vida animal, como condição da própria qualidade e dignidade da vida humana.
II – O nosso potencial universalista tem sido sistematicamente ignorado pelas nossas orientações governativas, desde a época dos Descobrimentos até hoje. Se no passado predominou a pretensão de dilatar a Fé e o Império, hoje predomina a sujeição da nação aos novos senhores do mundo, as grandes esferas de interesses político-económicos. Portugal está ao serviço da globalização de um paradigma de desenvolvimento económico-tecnológico que explora desenfreadamente os recursos naturais e instrumentaliza homens e animais, donde resulta um enorme sofrimento, um fosso crescente entre homens, classes, povos e nações, a redução da biodiversidade e o arrastar do planeta para uma crise sem precedentes.
III – A assunção do nosso potencial universalista implica uma reforma das mentalidades, com plena expressão ética, cultural, social, política e económica. Nesse sentido se propõem as seguintes medidas urgentes, que visam implementar entre nós um novo paradigma, convergente com as melhores aspirações humanas e com os grandes desafios deste início do século XXI:
1 – Portugal deve dar prioridade absoluta a um desenvolvimento económico sustentado, que salvaguarde a harmonia ecológica e o bem-estar da população humana e animal. A Constituição da República Portuguesa deve consagrar a senciência dos animais – a sua capacidade de sentir dor e prazer - e o seu direito à vida e ao bem-estar. Portugal deve aprender com a legislação das nações europeias mais evoluídas neste domínio, adaptando-a à realidade nacional.
2 – Portugal deve ensaiar modelos de desenvolvimento alternativos, que preservem e promovam a diversidade cultural, biológica e ecoregional. Há que promover a sustentabilidade económica do país, desenvolvendo as economias locais. Devem-se substituir quanto possível as energias não-renováveis (petróleo, carvão, gás natural, energia nuclear), por energias renováveis e alternativas (solar, eólica, hidráulica, marmotriz, etc.), superando o paradigma, a vulnerabilidade e as dependências de uma economia baseada no petróleo e nos hidrocarbonetos. Deve-se particularmente explorar as potencialidades energéticas dos nossos mais de 900 km de costa.
3 - Devem-se ensaiar formas de organização económica cujo objectivo fundamental não seja apenas o lucro financeiro. Deve-se assegurar o predomínio da ética e da política sobre a economia, de modo a que a produção e distribuição da riqueza vise o bem comum do ecossistema e dos seres vivos, a satisfação das necessidades básicas dos homens e a melhoria geral da sua qualidade de vida, bem como o acesso de todos à educação e à cultura.
4 - Deve-se investir num programa pedagógico de redução das necessidades artificiais que permita oferecer alternativas ao produtivismo e consumismo, fazendo do trabalho e do desenvolvimento económico não um fim em si, com o inevitável dano da harmonia ecológica, da biodiversidade e do bem-estar de homens e animais, mas um mero meio para a fruição de um crescente tempo livre de modo mais gratificante e criativo. Deve-se fiscalizar mais rigorosamente o crédito ao consumo, de forma a evitar o crescente endividamento das famílias.
5 – Há que criar um serviço público de saúde eficiente e acessível a todos, que inclua a possibilidade de optar por medicinas e terapias alternativas, de qualidade e eficácia comprovada, como a homeopatia, a acupunctura, a osteopatia, o shiatsu, o yoga, a meditação, etc. Estas opções, bem como os medicamentos naturais e alternativos, devem ser igualmente comparticipadas pelo Estado.
6 – Importa informar e sensibilizar a população para os efeitos nocivos de vários hábitos alimentares - nomeadamente o consumo excessivo de carne - , para o meio ambiente, a saúde pública e o bem-estar de homens e animais. Sendo uma das principais causas do aquecimento global, do esgotamento dos recursos naturais e do sofrimento dos animais, há que restringir e criar alternativas à agropecuária intensiva. Deve-se divulgar a possibilidade de se viver saudavelmente com uma alimentação não-carnívora, vegetariana ou vegan e devem-se reduzir os impostos sobre os produtos de origem natural e biológica.
7 - Portugal, a par do desenvolvimento económico sustentado, deve investir sobretudo nos domínios da saúde, da educação e da cultura, não só tecnológica, mas filosófica, literária, artística e científica. O Orçamento do Estado deve reflectir isso, reduzindo os gastos com a Defesa, o Exército e as obras públicas de fachada. Urge moralizar e reduzir os salários e reformas de presidentes, ministros, deputados e detentores de cargos na administração pública e privada, a par do aumento dos impostos sobre os grandes rendimentos.
8 - Redignificar, com exigência, os professores e todos os profissionais ligados à educação e à cultura. A educação e a cultura não devem estar dependentes de critérios economicistas e das flutuações do mercado de emprego. Os vários níveis de ensino visarão a formação integral da pessoa, não a sacrificando a uma mera funcionalização profissional. A par disto, há que sensibilizar as famílias para não abandonarem as crianças em frente dos computadores e dos maus programas de televisão. A televisão pública deve melhorar o seu nível, investindo mais em programas de informação e formação.
Nos vários níveis de ensino deve ser introduzida uma disciplina que sensibilize para o respeito pela natureza, a vida humana e a vida animal, bem como outra que informe sobre a diversidade de paradigmas culturais, morais e religiosos coexistentes nas sociedades contemporâneas. Nos mesmos níveis de ensino deve estar presente a cultura portuguesa e lusófona, bem como as várias culturas planetárias. Um português culto e bem formado deve ter uma consciência lusófona e universal, não apenas europeia-ocidental.
A meditação, com benefícios científicamente reconhecidos - quanto ao equilíbrio e saúde psicofisiológicos, ao aumento da concentração e da memória, à melhoria na aprendizagem, à maior eficiência no trabalho e à harmonia nas relações humanas - , deve ser facultada em todos os níveis dos currículos escolares, em termos puramente laicos, sem qualquer componente religiosa.
9 - Portugal deve assumir-se na primeira linha da defesa dos direitos humanos e dos seres vivos em todos os pontos do planeta em que sejam violados, sem obedecer a pressões políticas ou económicas internacionais. Portugal deve ser um lugar de bom acolhimento para todos os emigrantes e estrangeiros que o procurem para trabalhar e viver.
10 – Portugal deve aprofundar as relações culturais, económicas e políticas com as nações de língua portuguesa, incluindo a região da Galiza, Goa, Damão, Diu, Macau e os outros lugares da nossa diáspora onde se fala o português, sensibilizando a comunidade lusófona para as causas universais, ambientais, humanitárias e animais.
11 - Portugal deve promover a Lusofonia e os valores universalistas da cultura portuguesa e lusófona no mundo, dando o seu melhor exemplo e contributo para converter a sociedade planetária na possível comunidade ético-cultural e ecuménica visada entre nós por Luís de Camões, Padre António Vieira, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva. Portugal deve assumir-se como um espaço multicultural e de convivência com a diversidade, um espaço privilegiado para o tão actual desafio do diálogo intercultural e inter-religioso, alargado ao diálogo entre crentes e descrentes. Deve precaver-se contudo de tentações neo-imperialistas e de qualquer nacionalismo lusófono ou lusocêntrico. A Lusofonia não deve abafar outras línguas e culturas que existam no seu espaço.
12 - Verifica-se haver em Portugal e na Europa em geral uma grave crise de representação eleitoral, patente na elevada abstenção e descrédito dos políticos, dos partidos e da política, os quais, segundo a opinião geral, apenas promovem o acesso ao poder de indivíduos e grupos que sacrificam o bem comum a interesses pessoais e particulares, com destaque para os das grandes forças económicas. As eleições são assim sistematicamente ganhas por representantes de minorias, relativamente à totalidade dos cidadãos eleitores, que governam isolados da maioria real das populações, que os consideram com alheamento, desconfiança e desprezo, tornando-se vítimas passivas das suas políticas. O actual sistema eleitoral também não promove a melhor justiça representativa, não facilitando a representação de uma maior diversidade de forças políticas e limitando-a às organizações partidárias, o que contribui para a instrumentalização do aparelho de Estado, dos lugares de decisão político-económica e da comunicação social pelos grandes partidos.
Esta é uma situação que compromete seriamente a democracia e que a história ensina anteceder todas as tentativas de soluções ditatoriais. Há que regenerar a democracia em Portugal, reformando o estado e o sistema eleitoral segundo modelos que fomentem a mais ampla participação e intervenção política da sociedade civil, facilitando a representação de novas forças políticas e possibilitando que cidadãos independentes concorram às eleições. Deve-se recuperar a tradição municipalista portuguesa e promover uma regionalização e descentralização administrativa equilibradas, assegurando mecanismos de prevenção e controlo dos despotismos locais.
Há que colocar a política ao serviço da ética e da cultura e mobilizar a população para a intervenção cívica e política em torno dos desafios fundamentais do nosso tempo, com destaque para a protecção da natureza, o bem-estar dos seres vivos e uma nova consciência planetária. Há que mobilizar os cidadãos indiferentes e descrentes da vida política, a enorme percentagem de abstencionistas e todos aqueles que se limitam a votar, para a responsabilidade de reflectirem, discutirem e criarem o melhor destino a dar à nação. Há que, dentro dos quadros democráticos e legais, promover formas alternativas de intervenção cultural, social e cívica, que permitam antecipar tanto quanto possível a realidade desejada, sem depender dos poderes instituídos.
Convicto de que estas medidas permitirão que Portugal recupere o pioneirismo e criatividade que o caracterizou no impulso dos Descobrimentos, mas agora sem escravizar e explorar outros povos, apelo a que todos dêem o vosso contributo para a discussão, aperfeiçoamento e divulgação deste Manifesto. De todos nós depende que ele se constitua na plataforma de um movimento cívico e cultural de reflexão e acção, que nos arranque ao comodismo e passividade em que estamos instalados.
Por um Outro Portugal!
Contribuidores
- Ana Moreira
- Ana Rodrigues
- Bernardo Almeida
- Dr Carlos Gonçalves
- Duarte D. Braga
- Duarte
- Estudo Geral
- Fernando Emídio
- Gil
- Helena Caetano
- Isabel Rosete
- Isabel Santiago
- João Beato
- João Lopes Aguiar
- José Magalhães
- Luís Miguel Dantas
- Luis Resina
- Luis Resina
- MJC
- Margarida
- Maria de Lourdes Teixeira Puga Alvarez
- Maribel Sobreira
- Maurícia Teles da Silva
- Minda
- Moysés
- P.F. Antunes
- Paulo Borges
- Pedro Miguel Estrela
- Pedro Paz
- Pedro Sena
- Rui Matoso
- Rute Pinheiro
- Sérgio Mago
- Unknown
- aluzdascasas
- ana
- castus
- ethel
- jads
- lurdes
- maria alvarez
- paula
2 comentários:
Publico este pequeno texto de González inspirado pelos recentes posts de Cleo. Sou pai de dois meninos, um com dois anos e outro com seis meses. Apesar de serem irmãos, são miúdos muito diferentes. Uma das diferenças é que o mais velho nunca mamou; o outro só mama, rejeitando sempre uma tentativa por parte dos pais em administrar-lhe um biberon... Julgo que uma das causas para o facto de o mais velho nunca ter mamado foi o facto de logo à nascença lhe terem dado um líquido através de um biberon para supostamente "limpar" os orgãos do sistema digestivo, prática que, suponho eu, é corrente em muitos hospitais. Para além de ter sido logo afastado da mãe à nascença - tendo sido esta colocada numa sala de recobro, juntamente com outros doentes que não tinham dado à luz - fizeram com que o primeiro contacto do bebé fosse uma tetina de borracha... Já com o mais novo, foi o oposto.
Não pretendo aqui defender uma posição radical, pois acredito na filosofia do meio e não na dos opostos. O que me parece é que o mundo moderno tecnológico e científico é por natureza separador. Tudo separa, tudo cataloga, tudo define, tudo denomina e compartimenta. Assim nos separamos de Deus. Assim nos separamos do fundo primordial que há em todos os seres sencientes. Assim nos isolamos, logo à nascença da nossa mãe. É que a amamentação não é só alimentar o bebé para que ele cresça e sobreviva. Quando olho para o meu filho durante a amamentação, sinto a sua ligação profunda com a mãe, como que naquele momento mágico e com contornos de sagrado, os seus corpos estivessem fundidos, deixando a mãe de ser mãe e o filho de ser filho. Julgo que esta ligação é uma forma de re-ligação que todos nós, seres fragmentados e separados, diria até definidos, buscamos com a natureza/cosmos, num esquecimento que no fundo é a lembrança do que somos. Os bebés choram: sentem-se separados, isolados. Procuram a mãe, que compassivamente lhe dá a mama, fundindo-se no todo seus corpos. Nós, adultos, sofremos. Sentimo-nos fragmentados, separados, estilhaçados. É a saudade. Então, movidos pela saudade buscamos o leite da Mãe-Deusa. Será que o mundo modernizado quer vender-nos uma Mãe-Deusa de borracha e composta de leite artificial? Não será isso o progresso tecnológico? O fabrico de deuses artificiais, dessacralizados, substituintes dos deuses dos mitos, aqueles verdadeiros que inspiraram os portugueses de quinhentos na demanda do Graal?
Que lindo depoimento! Obrigada!
De facto estamos num momento em que necessitamos de questionar várias coisas, entre elas, as implicações que tanto avanço tecnológico nos trouxeram. Penso ser possivel ficarmos apenas com o bom e regeitarmos o mau... como avaliamos?, bem, julgo que o treino de nos reencontrarmos conosco mesmos, o exercício de nos voltarmos para dentro e escutarmos o que se passa em nossa alma, nos permitirá, aos poucos, reconquistar uma velha aliada nossa: a intuição.
O ritmo acelerado da sociedade moderna não se compadece com o tempo dilatado que as crianças e bebés nos exigem; para muitos "Homens modernos", os bebés são, sim, muito "mal educados": pedem para comer a qualquer hora, choram sem respeitarem o sono de ninguém e sujam o colo de quem está pronto para sair... Mas esses bebés e essas crianças são os Homens de amamnhã. Se não respeitarmos o tempo dilatado que necessitam, o que estaremos a "amputar" no seu afecto?
Muitos estudos referem que a confiança "básica no mundo" se estabelece num momento de desenvolvimento muito precoce, com base na segurança que o colo permanente da mãe e do pai dá ao bebé recém-nascido; dar sempre o colo pedido é dar a segurança que o bebé precisa para, mais tarde, explorar o mundo sozinho, tornando-se um adulto seguro e confiante nas suas capacidades.
Dar de mamar é saúde, alimento e protecção.... mas é também carinho, conforto e segurança.
Temos, de facto, muito a (re)aprender com nossos irmãos macacos!
Enviar um comentário