Um espaço para reinventar Portugal como nação de todo o Mundo, que estabeleça pontes, mediações e diálogos entre todos os povos, culturas e civilizações e promova os valores mais universalistas, conforme o símbolo da Esfera Armilar. Há que visar o melhor possível para todos, uma cultura da paz, da compreensão e da fraternidade à escala planetária, orientada não só para o bem da espécie humana, mas também para a preservação da natureza e o bem-estar de todas as formas de vida sencientes.

"Nós, Portugal, o poder ser"

- Fernando Pessoa, Mensagem.

O que é o "diá-logo" entre culturas?




"Entre, por um lado, o consenso mole do diálogo sempre suspeito de ser um alibi ou de esconder mais insidiosamente as relações de forças sob a sua aparente abertura e, por outro, o clash anunciado - constatado - assim como o apelo à defesa identitária do "Ocidente", que outra via que não tombe para nenhum lado: que não seja nem utópica, nem defensiva, nem de compromisso? Ou "diá-logo" não é algo antes a retomar e repensar, mas decidindo desta vez conferir a sua plena exigência a um e a outro dos seus componentes [...]? Fazendo compreender, por um lado, no diá do diá-logo, a distância do afastamento, entre culturas necessariamente plurais, mantendo em tensão o que está separado: um diálogo, ensinaram-nos os Gregos, é mesmo tanto mais rigoroso e fecundo quanto mais atiça teses antagonistas; e, no logos, por outro lado, o facto de que todas as culturas mantêm entre elas uma comunicabilidade de princípio e que tudo, do cultural, é inteligível, sem perda e sem resíduo. [...] [após afirmar que o diálogo é "operatório"] Mas operatório em quê? Não que quiséssemos a todo o preço conciliarmo-nos com o outro, ou que encontrássemos já nele [no diálogo] prescritas regras formais, mas simplesmente porque, para dialogar, cada um deve imperiosamente abrir a sua posição, colocá-la em tensão e instaurá-la num frente a frente. Não pois porque cada um seria movido por uma finalidade de entendimento, ou porque a lógica do diálogo revelaria um universal pré-estabelecido, mas porque todo o diálogo é uma estrutura eficiente - operativa - que obriga de facto a reelaborar as suas próprias concepções, para entrar em comunicação, e portanto também a reflectir-se"

- François Jullien, De l'universel, de l'uniforme, du commun et du dialogue entre les cultures, Paris, Fayard, 2008, pp.247-248.

1 comentários:

Paulo Borges disse...

Um autor incontornável, ainda sem qualquer obra publicada em Portugal...

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O que é o "diá-logo" entre culturas?




"Entre, por um lado, o consenso mole do diálogo sempre suspeito de ser um alibi ou de esconder mais insidiosamente as relações de forças sob a sua aparente abertura e, por outro, o clash anunciado - constatado - assim como o apelo à defesa identitária do "Ocidente", que outra via que não tombe para nenhum lado: que não seja nem utópica, nem defensiva, nem de compromisso? Ou "diá-logo" não é algo antes a retomar e repensar, mas decidindo desta vez conferir a sua plena exigência a um e a outro dos seus componentes [...]? Fazendo compreender, por um lado, no diá do diá-logo, a distância do afastamento, entre culturas necessariamente plurais, mantendo em tensão o que está separado: um diálogo, ensinaram-nos os Gregos, é mesmo tanto mais rigoroso e fecundo quanto mais atiça teses antagonistas; e, no logos, por outro lado, o facto de que todas as culturas mantêm entre elas uma comunicabilidade de princípio e que tudo, do cultural, é inteligível, sem perda e sem resíduo. [...] [após afirmar que o diálogo é "operatório"] Mas operatório em quê? Não que quiséssemos a todo o preço conciliarmo-nos com o outro, ou que encontrássemos já nele [no diálogo] prescritas regras formais, mas simplesmente porque, para dialogar, cada um deve imperiosamente abrir a sua posição, colocá-la em tensão e instaurá-la num frente a frente. Não pois porque cada um seria movido por uma finalidade de entendimento, ou porque a lógica do diálogo revelaria um universal pré-estabelecido, mas porque todo o diálogo é uma estrutura eficiente - operativa - que obriga de facto a reelaborar as suas próprias concepções, para entrar em comunicação, e portanto também a reflectir-se"

- François Jullien, De l'universel, de l'uniforme, du commun et du dialogue entre les cultures, Paris, Fayard, 2008, pp.247-248.

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Paulo Borges disse...

Um autor incontornável, ainda sem qualquer obra publicada em Portugal...

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