Apesar de estar inserida no grupo da saúde, vou atrever-me a escrever umas linhas sobre a educação da nossa juventude, até porque, como já tive oportunidade de referir, penso que a fronteira entre aquilo que é saúde e aquilo que é educação, muitas vezes se dilui tornando-se uma única coisa.
Daquilo que posso apreender do trabalho directo com uma parte dessa juventude, uma parte de alguma forma perturbada pela necessidade compulsiva de passar ao acto, geralmente de forma violenta para com os outros, não é fácil implementar formas alternativas de pensamento mais pacíficas, saudáveis e que guardem em si um maior conhecimento e respeito com o próprio e com os outros... tenho tentado, mas confesso que não tenho conseguido!
Tenho, por isso também, acompanhado com muita atenção todas as contribuições dos membros relacionadas com o tema, no entanto, tenho verificado que todas as medidas pensadas para estruturar o raciocínio compassivo se destina a uma população mais jovem... fiquei pensando em como poderia adapta-las para jovens mais velhos (10- 16 anos).... seria muito interessante conseguir fazê-lo!
Verifico, no meu grupo de jovens, que a dinâmica se regula muito pelo medo... se um jovem não faz parte do grupo de amigos "certos", então é sistematicamente abusado. Por outro lado, mesmo um jovem que não tenha tanta necessidade de se sobrepor aos outros, muitas vezes é posto à prova pelo grupo, sendo obrigado a fazer o que até certo ponto acha errado em prol do "ser respeitado" pelos amigos.
Como quebrar este ciclo? Como "forçar" a introspecção e a reflexão acerca dos fenómenos, dos sentimentos e das acções?
... não faço ideia! Mas não desisto de procurar!
Por isso, fico a aguardar vossos comentários a este meu post, que é mais um pedido de ajuda...
Obrigada!
Cultivar a Paz numa Juventude em Guerra
Cultivar a Paz numa Juventude em Guerra
Daquilo que posso apreender do trabalho directo com uma parte dessa juventude, uma parte de alguma forma perturbada pela necessidade compulsiva de passar ao acto, geralmente de forma violenta para com os outros, não é fácil implementar formas alternativas de pensamento mais pacíficas, saudáveis e que guardem em si um maior conhecimento e respeito com o próprio e com os outros... tenho tentado, mas confesso que não tenho conseguido!
Tenho, por isso também, acompanhado com muita atenção todas as contribuições dos membros relacionadas com o tema, no entanto, tenho verificado que todas as medidas pensadas para estruturar o raciocínio compassivo se destina a uma população mais jovem... fiquei pensando em como poderia adapta-las para jovens mais velhos (10- 16 anos).... seria muito interessante conseguir fazê-lo!
Verifico, no meu grupo de jovens, que a dinâmica se regula muito pelo medo... se um jovem não faz parte do grupo de amigos "certos", então é sistematicamente abusado. Por outro lado, mesmo um jovem que não tenha tanta necessidade de se sobrepor aos outros, muitas vezes é posto à prova pelo grupo, sendo obrigado a fazer o que até certo ponto acha errado em prol do "ser respeitado" pelos amigos.
Como quebrar este ciclo? Como "forçar" a introspecção e a reflexão acerca dos fenómenos, dos sentimentos e das acções?
... não faço ideia! Mas não desisto de procurar!
Por isso, fico a aguardar vossos comentários a este meu post, que é mais um pedido de ajuda...
Obrigada!
3 comentários:
- paula disse...
-
Olá Cleo
Eu também lido com jovens dessa idade e tenho sempre a "sorte cármica" de trabalhar em escolas problemáticas, ditas de "intervenção prioritária". Apesar de pensar sobre educação e escola (ou educação sem escola!!), confesso que não leio muito sobre o tema. Só posso compartilhar consigo a minha experiência.
Tenho aprendido a tratar esses jovens com muito respeito; se sou agressiva com eles gera-se imensa violência, sentem imediatamente as injustiças - somos obrigados a reconhecer de imediato que falhamos. Eles desmascaram as habituais manipulações, hipocrisias e autoritarismo que nós, os professores, sempre utilizamos até agora. É difícil vermo-nos ao espelho nu e cru.
Sou muito afectiva com eles, toco nos seus ombros, dou mimos, reconheco neles a sua humanidade e as suas muitas profundas dores. Converso muito com eles, escuto-os. Comovo-me muitas vezes. Às vezes perco a cabeça. Às vezes perco mesmo muito a cabeça e eles não gostam de me ver assim. Acham que eu sou muito calma e eu que tantas vezes perco a cabeça com eles espanto-me e imagino a que gritos estão eles habituados para me acharem paciente. Sou sempre sincera. Assumo as minhas dificuldades. Defendo as minhas convicções nem que tenha de perder muito tempo em explicá-las. Partilho com eles a minha fé na humanidade e o amor pela natureza.
Não me procupo muito com os contéudos programáticos, eles não gostam de aprender aquelas matérias. Se se interessam, é fantástico pois é visível neles! Dou boas notas.
Entretanto esforço-me por me manter em equilíbrio, em seguir um caminho pessoal de auto-aperfeicoamente contínuo, praticando ancestrais filosofias que me recordam diariamente o que venho aqui fazer.
Acredito que a sua presença junto a esses jovens seja benéfica para eles e para si. Não desespere. Respire profundamente e volte a tentar!
Um abraço - 7 de janeiro de 2010 às 11:19
- Anónimo disse...
-
Obrigada pelo apoio, paula! Seria bom que existissem mais professores sensíveis a estes aspectos como tu!...
Não estou propriamente desesperada, mas também não me encontro numa situação tão delicada como é, neste momento, a de um professor numa sala de aula de uma turma complicada....
Para além do trabalho que desempenho junto de grávidas e famílias como doula, sou também psicologa num centro de ocupação de tempos livres para jovens, onde eles entram e saiem sem obrigação de cumprir horários ou marcação de faltas. Eles vêm cá porque gostam de vir!
Por isso eu penso que estou numa posição priveligiada para trabalhar com eles de uma forma mais consistente os aspectos da "humanidade" que referiste e que deveriam ser acessíveis a todos... mas que de facto não são.
Tudo o que referiste é de facto aquilo que tenho vindo a fazer.... mas sinto que falta qualquer coisa... sinto que poderia fazer algo mais.... só não sei o quê!
Alguém conhece projectos ou estudos realizados acerca destas temáticas com jovens destas idades e com estas caracteristicas em que eu me pudesse basear para "inventar" alguma coisa que dê resposta a este vazio que sinto? - 7 de janeiro de 2010 às 13:11
- Cristina Castro disse...
-
Olá Cleo e Paula! Compreendo-vos perfeitamente!
Subscrevo inteiramente o que a Paula escreveu! Tenho uma filhota de 15 anos e percebo muito bem o que queres dizer Cléo! Partilho aqui convosco também algo que aprendi no ensino a jovens mais velhos (dos 50 em diante! =)). Dou aulas a pessoas nessas faixas etárias e nomeadamente em bairros sociais (projecto Alkantara). Senti tudo isso! Já lhes dou aulas há 3 anos! Todos os dias me encho de paciência! ( e esse é o maior bem que aquelas pessoas me fazem! E estou-lhes muito grata por isso!)E se fosse só isso... Torram-me a paciência e até me fazem rir, quando já muito zangada, expludo e me lembram que devo ficar serena! Há bem pouco tempo começaram a ficar tranquilas na aula! A tomar atenção! A inter-ajudarem-se! Estou tão contente! Funciona!
Como uma semente que plantámos, temos de cuidar todos os dias! Vai crescer Cléo! Não desistas!
Todos nós sentimos, e mesmo que não estejam ainda a agir, acredita que está a ficar lá!
Espero ter podido ajudar um bocadinho! Se precisares, tenho o meu mail cristina.om.castro@gmail.com, fica à vontade! - 7 de janeiro de 2010 às 14:32
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Manifesto
Aqui se apresenta a proposta de um cidadão português que, no decurso da sua docência universitária, obra publicada e intervenção cultural, tem seguido com interesse e preocupação os rumos recentes de Portugal e do mundo. Convicto de que urge refundar Portugal, eis uma lista de prioridades para o país e o mundo melhor a que temos direito e que todos temos o dever de construir. Agradecem-se os contributos críticos, de modo a que a proposta se aperfeiçoe e complete e sirva de plataforma para a discussão pública e a intervenção cultural e cívica que visa, pelos meios que se verificarem ser os mais oportunos.
I – Portugal é uma nação que, pela diáspora planetária da sua história e cultura, pela situação geográfica e pela língua, com 240 milhões de falantes em toda a comunidade lusófona, tem a potencialidade de ser uma nação cosmopolita, uma nação de todo o mundo, que estabeleça pontes, mediações e diálogos entre todos os povos, culturas e civilizações. Este perfil vocaciona-nos para o cultivo dos valores mais universalistas, promovendo o diálogo com todas as culturas mundiais. Os valores mais universalistas são aqueles que promovam o melhor possível para todos, uma cultura da paz, da compreensão e da fraternidade à escala planetária, visando não apenas o bem da espécie humana, mas também a preservação da natureza e do bem-estar de todas as formas de vida animal, como condição da própria qualidade e dignidade da vida humana.
II – O nosso potencial universalista tem sido sistematicamente ignorado pelas nossas orientações governativas, desde a época dos Descobrimentos até hoje. Se no passado predominou a pretensão de dilatar a Fé e o Império, hoje predomina a sujeição da nação aos novos senhores do mundo, as grandes esferas de interesses político-económicos. Portugal está ao serviço da globalização de um paradigma de desenvolvimento económico-tecnológico que explora desenfreadamente os recursos naturais e instrumentaliza homens e animais, donde resulta um enorme sofrimento, um fosso crescente entre homens, classes, povos e nações, a redução da biodiversidade e o arrastar do planeta para uma crise sem precedentes.
III – A assunção do nosso potencial universalista implica uma reforma das mentalidades, com plena expressão ética, cultural, social, política e económica. Nesse sentido se propõem as seguintes medidas urgentes, que visam implementar entre nós um novo paradigma, convergente com as melhores aspirações humanas e com os grandes desafios deste início do século XXI:
1 – Portugal deve dar prioridade absoluta a um desenvolvimento económico sustentado, que salvaguarde a harmonia ecológica e o bem-estar da população humana e animal. A Constituição da República Portuguesa deve consagrar a senciência dos animais – a sua capacidade de sentir dor e prazer - e o seu direito à vida e ao bem-estar. Portugal deve aprender com a legislação das nações europeias mais evoluídas neste domínio, adaptando-a à realidade nacional.
2 – Portugal deve ensaiar modelos de desenvolvimento alternativos, que preservem e promovam a diversidade cultural, biológica e ecoregional. Há que promover a sustentabilidade económica do país, desenvolvendo as economias locais. Devem-se substituir quanto possível as energias não-renováveis (petróleo, carvão, gás natural, energia nuclear), por energias renováveis e alternativas (solar, eólica, hidráulica, marmotriz, etc.), superando o paradigma, a vulnerabilidade e as dependências de uma economia baseada no petróleo e nos hidrocarbonetos. Deve-se particularmente explorar as potencialidades energéticas dos nossos mais de 900 km de costa.
3 - Devem-se ensaiar formas de organização económica cujo objectivo fundamental não seja apenas o lucro financeiro. Deve-se assegurar o predomínio da ética e da política sobre a economia, de modo a que a produção e distribuição da riqueza vise o bem comum do ecossistema e dos seres vivos, a satisfação das necessidades básicas dos homens e a melhoria geral da sua qualidade de vida, bem como o acesso de todos à educação e à cultura.
4 - Deve-se investir num programa pedagógico de redução das necessidades artificiais que permita oferecer alternativas ao produtivismo e consumismo, fazendo do trabalho e do desenvolvimento económico não um fim em si, com o inevitável dano da harmonia ecológica, da biodiversidade e do bem-estar de homens e animais, mas um mero meio para a fruição de um crescente tempo livre de modo mais gratificante e criativo. Deve-se fiscalizar mais rigorosamente o crédito ao consumo, de forma a evitar o crescente endividamento das famílias.
5 – Há que criar um serviço público de saúde eficiente e acessível a todos, que inclua a possibilidade de optar por medicinas e terapias alternativas, de qualidade e eficácia comprovada, como a homeopatia, a acupunctura, a osteopatia, o shiatsu, o yoga, a meditação, etc. Estas opções, bem como os medicamentos naturais e alternativos, devem ser igualmente comparticipadas pelo Estado.
6 – Importa informar e sensibilizar a população para os efeitos nocivos de vários hábitos alimentares - nomeadamente o consumo excessivo de carne - , para o meio ambiente, a saúde pública e o bem-estar de homens e animais. Sendo uma das principais causas do aquecimento global, do esgotamento dos recursos naturais e do sofrimento dos animais, há que restringir e criar alternativas à agropecuária intensiva. Deve-se divulgar a possibilidade de se viver saudavelmente com uma alimentação não-carnívora, vegetariana ou vegan e devem-se reduzir os impostos sobre os produtos de origem natural e biológica.
7 - Portugal, a par do desenvolvimento económico sustentado, deve investir sobretudo nos domínios da saúde, da educação e da cultura, não só tecnológica, mas filosófica, literária, artística e científica. O Orçamento do Estado deve reflectir isso, reduzindo os gastos com a Defesa, o Exército e as obras públicas de fachada. Urge moralizar e reduzir os salários e reformas de presidentes, ministros, deputados e detentores de cargos na administração pública e privada, a par do aumento dos impostos sobre os grandes rendimentos.
8 - Redignificar, com exigência, os professores e todos os profissionais ligados à educação e à cultura. A educação e a cultura não devem estar dependentes de critérios economicistas e das flutuações do mercado de emprego. Os vários níveis de ensino visarão a formação integral da pessoa, não a sacrificando a uma mera funcionalização profissional. A par disto, há que sensibilizar as famílias para não abandonarem as crianças em frente dos computadores e dos maus programas de televisão. A televisão pública deve melhorar o seu nível, investindo mais em programas de informação e formação.
Nos vários níveis de ensino deve ser introduzida uma disciplina que sensibilize para o respeito pela natureza, a vida humana e a vida animal, bem como outra que informe sobre a diversidade de paradigmas culturais, morais e religiosos coexistentes nas sociedades contemporâneas. Nos mesmos níveis de ensino deve estar presente a cultura portuguesa e lusófona, bem como as várias culturas planetárias. Um português culto e bem formado deve ter uma consciência lusófona e universal, não apenas europeia-ocidental.
A meditação, com benefícios científicamente reconhecidos - quanto ao equilíbrio e saúde psicofisiológicos, ao aumento da concentração e da memória, à melhoria na aprendizagem, à maior eficiência no trabalho e à harmonia nas relações humanas - , deve ser facultada em todos os níveis dos currículos escolares, em termos puramente laicos, sem qualquer componente religiosa.
9 - Portugal deve assumir-se na primeira linha da defesa dos direitos humanos e dos seres vivos em todos os pontos do planeta em que sejam violados, sem obedecer a pressões políticas ou económicas internacionais. Portugal deve ser um lugar de bom acolhimento para todos os emigrantes e estrangeiros que o procurem para trabalhar e viver.
10 – Portugal deve aprofundar as relações culturais, económicas e políticas com as nações de língua portuguesa, incluindo a região da Galiza, Goa, Damão, Diu, Macau e os outros lugares da nossa diáspora onde se fala o português, sensibilizando a comunidade lusófona para as causas universais, ambientais, humanitárias e animais.
11 - Portugal deve promover a Lusofonia e os valores universalistas da cultura portuguesa e lusófona no mundo, dando o seu melhor exemplo e contributo para converter a sociedade planetária na possível comunidade ético-cultural e ecuménica visada entre nós por Luís de Camões, Padre António Vieira, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva. Portugal deve assumir-se como um espaço multicultural e de convivência com a diversidade, um espaço privilegiado para o tão actual desafio do diálogo intercultural e inter-religioso, alargado ao diálogo entre crentes e descrentes. Deve precaver-se contudo de tentações neo-imperialistas e de qualquer nacionalismo lusófono ou lusocêntrico. A Lusofonia não deve abafar outras línguas e culturas que existam no seu espaço.
12 - Verifica-se haver em Portugal e na Europa em geral uma grave crise de representação eleitoral, patente na elevada abstenção e descrédito dos políticos, dos partidos e da política, os quais, segundo a opinião geral, apenas promovem o acesso ao poder de indivíduos e grupos que sacrificam o bem comum a interesses pessoais e particulares, com destaque para os das grandes forças económicas. As eleições são assim sistematicamente ganhas por representantes de minorias, relativamente à totalidade dos cidadãos eleitores, que governam isolados da maioria real das populações, que os consideram com alheamento, desconfiança e desprezo, tornando-se vítimas passivas das suas políticas. O actual sistema eleitoral também não promove a melhor justiça representativa, não facilitando a representação de uma maior diversidade de forças políticas e limitando-a às organizações partidárias, o que contribui para a instrumentalização do aparelho de Estado, dos lugares de decisão político-económica e da comunicação social pelos grandes partidos.
Esta é uma situação que compromete seriamente a democracia e que a história ensina anteceder todas as tentativas de soluções ditatoriais. Há que regenerar a democracia em Portugal, reformando o estado e o sistema eleitoral segundo modelos que fomentem a mais ampla participação e intervenção política da sociedade civil, facilitando a representação de novas forças políticas e possibilitando que cidadãos independentes concorram às eleições. Deve-se recuperar a tradição municipalista portuguesa e promover uma regionalização e descentralização administrativa equilibradas, assegurando mecanismos de prevenção e controlo dos despotismos locais.
Há que colocar a política ao serviço da ética e da cultura e mobilizar a população para a intervenção cívica e política em torno dos desafios fundamentais do nosso tempo, com destaque para a protecção da natureza, o bem-estar dos seres vivos e uma nova consciência planetária. Há que mobilizar os cidadãos indiferentes e descrentes da vida política, a enorme percentagem de abstencionistas e todos aqueles que se limitam a votar, para a responsabilidade de reflectirem, discutirem e criarem o melhor destino a dar à nação. Há que, dentro dos quadros democráticos e legais, promover formas alternativas de intervenção cultural, social e cívica, que permitam antecipar tanto quanto possível a realidade desejada, sem depender dos poderes instituídos.
Convicto de que estas medidas permitirão que Portugal recupere o pioneirismo e criatividade que o caracterizou no impulso dos Descobrimentos, mas agora sem escravizar e explorar outros povos, apelo a que todos dêem o vosso contributo para a discussão, aperfeiçoamento e divulgação deste Manifesto. De todos nós depende que ele se constitua na plataforma de um movimento cívico e cultural de reflexão e acção, que nos arranque ao comodismo e passividade em que estamos instalados.
Por um Outro Portugal!
Contribuidores
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- Ana Rodrigues
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- paula
3 comentários:
Olá Cleo
Eu também lido com jovens dessa idade e tenho sempre a "sorte cármica" de trabalhar em escolas problemáticas, ditas de "intervenção prioritária". Apesar de pensar sobre educação e escola (ou educação sem escola!!), confesso que não leio muito sobre o tema. Só posso compartilhar consigo a minha experiência.
Tenho aprendido a tratar esses jovens com muito respeito; se sou agressiva com eles gera-se imensa violência, sentem imediatamente as injustiças - somos obrigados a reconhecer de imediato que falhamos. Eles desmascaram as habituais manipulações, hipocrisias e autoritarismo que nós, os professores, sempre utilizamos até agora. É difícil vermo-nos ao espelho nu e cru.
Sou muito afectiva com eles, toco nos seus ombros, dou mimos, reconheco neles a sua humanidade e as suas muitas profundas dores. Converso muito com eles, escuto-os. Comovo-me muitas vezes. Às vezes perco a cabeça. Às vezes perco mesmo muito a cabeça e eles não gostam de me ver assim. Acham que eu sou muito calma e eu que tantas vezes perco a cabeça com eles espanto-me e imagino a que gritos estão eles habituados para me acharem paciente. Sou sempre sincera. Assumo as minhas dificuldades. Defendo as minhas convicções nem que tenha de perder muito tempo em explicá-las. Partilho com eles a minha fé na humanidade e o amor pela natureza.
Não me procupo muito com os contéudos programáticos, eles não gostam de aprender aquelas matérias. Se se interessam, é fantástico pois é visível neles! Dou boas notas.
Entretanto esforço-me por me manter em equilíbrio, em seguir um caminho pessoal de auto-aperfeicoamente contínuo, praticando ancestrais filosofias que me recordam diariamente o que venho aqui fazer.
Acredito que a sua presença junto a esses jovens seja benéfica para eles e para si. Não desespere. Respire profundamente e volte a tentar!
Um abraço
Obrigada pelo apoio, paula! Seria bom que existissem mais professores sensíveis a estes aspectos como tu!...
Não estou propriamente desesperada, mas também não me encontro numa situação tão delicada como é, neste momento, a de um professor numa sala de aula de uma turma complicada....
Para além do trabalho que desempenho junto de grávidas e famílias como doula, sou também psicologa num centro de ocupação de tempos livres para jovens, onde eles entram e saiem sem obrigação de cumprir horários ou marcação de faltas. Eles vêm cá porque gostam de vir!
Por isso eu penso que estou numa posição priveligiada para trabalhar com eles de uma forma mais consistente os aspectos da "humanidade" que referiste e que deveriam ser acessíveis a todos... mas que de facto não são.
Tudo o que referiste é de facto aquilo que tenho vindo a fazer.... mas sinto que falta qualquer coisa... sinto que poderia fazer algo mais.... só não sei o quê!
Alguém conhece projectos ou estudos realizados acerca destas temáticas com jovens destas idades e com estas caracteristicas em que eu me pudesse basear para "inventar" alguma coisa que dê resposta a este vazio que sinto?
Olá Cleo e Paula! Compreendo-vos perfeitamente!
Subscrevo inteiramente o que a Paula escreveu! Tenho uma filhota de 15 anos e percebo muito bem o que queres dizer Cléo! Partilho aqui convosco também algo que aprendi no ensino a jovens mais velhos (dos 50 em diante! =)). Dou aulas a pessoas nessas faixas etárias e nomeadamente em bairros sociais (projecto Alkantara). Senti tudo isso! Já lhes dou aulas há 3 anos! Todos os dias me encho de paciência! ( e esse é o maior bem que aquelas pessoas me fazem! E estou-lhes muito grata por isso!)E se fosse só isso... Torram-me a paciência e até me fazem rir, quando já muito zangada, expludo e me lembram que devo ficar serena! Há bem pouco tempo começaram a ficar tranquilas na aula! A tomar atenção! A inter-ajudarem-se! Estou tão contente! Funciona!
Como uma semente que plantámos, temos de cuidar todos os dias! Vai crescer Cléo! Não desistas!
Todos nós sentimos, e mesmo que não estejam ainda a agir, acredita que está a ficar lá!
Espero ter podido ajudar um bocadinho! Se precisares, tenho o meu mail cristina.om.castro@gmail.com, fica à vontade!
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