Um espaço para reinventar Portugal como nação de todo o Mundo, que estabeleça pontes, mediações e diálogos entre todos os povos, culturas e civilizações e promova os valores mais universalistas, conforme o símbolo da Esfera Armilar. Há que visar o melhor possível para todos, uma cultura da paz, da compreensão e da fraternidade à escala planetária, orientada não só para o bem da espécie humana, mas também para a preservação da natureza e o bem-estar de todas as formas de vida sencientes.

"Nós, Portugal, o poder ser"

- Fernando Pessoa, Mensagem.

Granja, uma nova moeda local

Troca de bens e serviços como novo sistema

Primeira mercearia solidária do país abriu ontem na Granja do Ulmeiro

Artigo do Jornal de Notícias

A mercearia solidária inaugurada ontem, sábado, na Granja do Ulmeiro, Soure, pretende criar um novo sistema financeiro, no qual pessoas que não tenham acesso a bens os possam ter por troca com outros produtos. As trocas são mediadas por uma moeda social.

"Muitas senhoras daqui alguma vez pensaram ir à cabeleireira ou fazer uma limpeza de pele? Nunca, até porque são pessoas sem grandes meios que vivem da agricultura", explica Teresa Cunha, presidente da Acção para a Justiça e Paz (entidade promotora da iniciativa). No entanto, prossegue, "este sistema dá acesso a isso, e em contrapartida, dentro do mercado, essas senhoras arranjam produtos hortícolas, ou rendas, por exemplo".

Os produtos cedidos à mercearia solidária são mediados por uma moedas social, as "granjas", atribuídas a cada objecto. À entrada é possível ver a tabela de valores: um blusão custa 10 granjas, umas calças cinco, vinagre, sal, chá ou cereais duas. "Cada coisa que a pessoa põe ao serviço da comunidade é traduzido num valor de moeda. E com esse valor vai comprar outra coisa que tenha necessidade", afirma Teresa Cunha. A troca pode também ser feita em serviços, como cuidados médicos básicos ou até mesmo companhia.

Moradoras gostam

Julieta Rente e Amélia Castanheira são domésticas e vivem na Granja do Ulmeiro. Ontem, na inauguração da mercearia solidária, levaram sacos de laranjas e limões, sem precisarem a quantidade. "Era o que tínhamos e trouxemos", contam. O dia de ontem foi passado a ver o que havia no espaço (na sede da Acção para a Justiça e Paz). "Vamos ver o que é que há aqui e o que podemos trocar", explica Julieta Rente, satisfeita com a ideia. "É inovadora e esperemos que dê resultado".

Noutra sala, ao lado do espaço da mercearia, encontra-se Piombina Aleixo, reformada de 72 anos. "Hoje ainda não trouxe nada, foi só para conhecer. Mas tenho lá em casa bens alimentícios, uns feitos por mim e outros vindos da agricultura, que conto trazer", assegura. O que procura ainda não sabe, mas o que já tem na sede da instituição não tem valor nem em moeda social. "Companhia e amizade. Comprado já não é muito bom", graceja. Piombina considera o projecto da mercearia solidária "belíssimo" e um bom motivo para sair de casa.

Projecto pioneiro

A mercearia solidária da Granja do Ulmeiro é, segundo as responsáveis da Acção pela Justiça e Paz, a primeira do género em Portugal. "Há outro tipo de comércio social no país, mas nestes moldes é o primeiro", explica Teresa Cunha. A instituição tem também colaborado com iniciativas semelhantes, como em São Brás de Alportel, no Algarve. "Há muitas iniciativas de mercado solidário abaixo do Tejo, normalmente em zonas mais rurais, e em que a população tem menos recursos financeiros", justifica.

A iniciativa é apoiada por alguns parceiros locais, como a Junta de Freguesia da Granja do Ulmeiro e a Câmara Municipal de Soure, e por entidades privadas, como a Fundação EDP e os supermercados Lidl e Pingo Doce. O presidente da Junta de Freguesia da Granja do Ulmeiro, António César Gomes, mostra-se esperançado no sucesso do projecto. "Podem contar connosco para estas iniciativas, no que pudermos fazer", revela.

Notícia do Jornal de Notícias - 21 Fevereiro 2010 - link
Secção: País - Coimbra - Soure

Autor: JOÃO PEDRO CAMPOS

3 comentários:

Anónimo disse...

Obrigada por trazeres este artigo João. Um modelo muito interessante e bem acolhido pelas pessoas.
Abraço,
André A.

Caban disse...

Isso tentou-se inúmeras vezes... o maior desenvolvimento da humanidade começou com o invento do dinheiro.

O que está mau não é o dinheiro, é a avareza.

Acreditam que um sistema de troca não irá ter avareza?

João Lopes Aguiar disse...

Olá André,
De nada! Com muito gosto partilho. Um amigo meu partilhou isto no facebook e achei que seria uma informação relevante para o grupo, até porque falámos sobre moedas locais na última reunião do grupo de Economia e Energias Renováveis.




Olá Caban,
A tua questão parece-me muito pertinente. Acho que a avareza é de facto um problema humano. Não em todos nós felizmente, mas os poucos avarentos, por exemplo, os bancos, acabam por controlar muitas pessoas.

Eu não sei, e acho que ninguém sabe ao certo quando a avareza irá terminar no mundo, mas com a introdução de uma moeda local, uma coisa me parece clara: vai-se fomentar o consumo local, o que origina um impulso na economia local, e consequentemente uma maior qualidade de vida nos habitantes locais.

Ou seja, por a moeda apenas valer numa certa localidade (neste caso num mercado), as pessoas acabam por ir mais às compras nessa localidade (neste caso num mercado).

Acho que é, por isso um impulsionador das economias locais, e que hoje em dia estão cada vez mais debilitadas com o crescente controlo do comércio pelas grandes lojas, superfícies, cadeias internacionais, etc. Parece-me que impulsionar economias locais, actualmente debilitadas, é um modo de limitar a avareza de outros, as grandes cadeias e lojas.

Uma questão que poderá ser levantada é se depois os intervenientes nas economias locais não ficarão também avarentos, mas eu pessoalmente acredito que, pelo menos a médio prazo, não.

Em minha opinião, a maioria das pessoas que habitam em Granja do Ulmeiro, a aldeia em questão, que são também as que mais beneficiam e participam neste "mercado solidário", não têm grandes ambições de avareza na vida. Não as conheço, e não pretendo falar por elas, mas acredito que muito provavelmente apenas queriam vender mais um pouco os seus produtos, para ter mais algum dinheiro no final do mês, para poderem ter acesso a alguns serviços que desejam.

Aliás, como está escrito na notícia:
"Muitas senhoras daqui alguma vez pensaram ir à cabeleireira ou fazer uma limpeza de pele? Nunca, até porque são pessoas sem grandes meios que vivem da agricultura", explica Teresa Cunha, presidente da Acção para a Justiça e Paz (entidade promotora da iniciativa). No entanto, prossegue, "este sistema dá acesso a isso, e em contrapartida, dentro do mercado, essas senhoras arranjam produtos hortícolas, ou rendas, por exemplo".



É apenas a minha opinião.

Um abraço e resto de boa semana!
João Lopes Aguar

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Granja, uma nova moeda local

Troca de bens e serviços como novo sistema
Primeira mercearia solidária do país abriu ontem na Granja do Ulmeiro

Artigo do Jornal de Notícias

A mercearia solidária inaugurada ontem, sábado, na Granja do Ulmeiro, Soure, pretende criar um novo sistema financeiro, no qual pessoas que não tenham acesso a bens os possam ter por troca com outros produtos. As trocas são mediadas por uma moeda social.

"Muitas senhoras daqui alguma vez pensaram ir à cabeleireira ou fazer uma limpeza de pele? Nunca, até porque são pessoas sem grandes meios que vivem da agricultura", explica Teresa Cunha, presidente da Acção para a Justiça e Paz (entidade promotora da iniciativa). No entanto, prossegue, "este sistema dá acesso a isso, e em contrapartida, dentro do mercado, essas senhoras arranjam produtos hortícolas, ou rendas, por exemplo".

Os produtos cedidos à mercearia solidária são mediados por uma moedas social, as "granjas", atribuídas a cada objecto. À entrada é possível ver a tabela de valores: um blusão custa 10 granjas, umas calças cinco, vinagre, sal, chá ou cereais duas. "Cada coisa que a pessoa põe ao serviço da comunidade é traduzido num valor de moeda. E com esse valor vai comprar outra coisa que tenha necessidade", afirma Teresa Cunha. A troca pode também ser feita em serviços, como cuidados médicos básicos ou até mesmo companhia.

Moradoras gostam

Julieta Rente e Amélia Castanheira são domésticas e vivem na Granja do Ulmeiro. Ontem, na inauguração da mercearia solidária, levaram sacos de laranjas e limões, sem precisarem a quantidade. "Era o que tínhamos e trouxemos", contam. O dia de ontem foi passado a ver o que havia no espaço (na sede da Acção para a Justiça e Paz). "Vamos ver o que é que há aqui e o que podemos trocar", explica Julieta Rente, satisfeita com a ideia. "É inovadora e esperemos que dê resultado".

Noutra sala, ao lado do espaço da mercearia, encontra-se Piombina Aleixo, reformada de 72 anos. "Hoje ainda não trouxe nada, foi só para conhecer. Mas tenho lá em casa bens alimentícios, uns feitos por mim e outros vindos da agricultura, que conto trazer", assegura. O que procura ainda não sabe, mas o que já tem na sede da instituição não tem valor nem em moeda social. "Companhia e amizade. Comprado já não é muito bom", graceja. Piombina considera o projecto da mercearia solidária "belíssimo" e um bom motivo para sair de casa.

Projecto pioneiro

A mercearia solidária da Granja do Ulmeiro é, segundo as responsáveis da Acção pela Justiça e Paz, a primeira do género em Portugal. "Há outro tipo de comércio social no país, mas nestes moldes é o primeiro", explica Teresa Cunha. A instituição tem também colaborado com iniciativas semelhantes, como em São Brás de Alportel, no Algarve. "Há muitas iniciativas de mercado solidário abaixo do Tejo, normalmente em zonas mais rurais, e em que a população tem menos recursos financeiros", justifica.

A iniciativa é apoiada por alguns parceiros locais, como a Junta de Freguesia da Granja do Ulmeiro e a Câmara Municipal de Soure, e por entidades privadas, como a Fundação EDP e os supermercados Lidl e Pingo Doce. O presidente da Junta de Freguesia da Granja do Ulmeiro, António César Gomes, mostra-se esperançado no sucesso do projecto. "Podem contar connosco para estas iniciativas, no que pudermos fazer", revela.

Notícia do Jornal de Notícias - 21 Fevereiro 2010 - link
Secção: País - Coimbra - Soure

Autor: JOÃO PEDRO CAMPOS

3 comentários:

Anónimo disse...

Obrigada por trazeres este artigo João. Um modelo muito interessante e bem acolhido pelas pessoas.
Abraço,
André A.

Caban disse...

Isso tentou-se inúmeras vezes... o maior desenvolvimento da humanidade começou com o invento do dinheiro.

O que está mau não é o dinheiro, é a avareza.

Acreditam que um sistema de troca não irá ter avareza?

João Lopes Aguiar disse...

Olá André,
De nada! Com muito gosto partilho. Um amigo meu partilhou isto no facebook e achei que seria uma informação relevante para o grupo, até porque falámos sobre moedas locais na última reunião do grupo de Economia e Energias Renováveis.




Olá Caban,
A tua questão parece-me muito pertinente. Acho que a avareza é de facto um problema humano. Não em todos nós felizmente, mas os poucos avarentos, por exemplo, os bancos, acabam por controlar muitas pessoas.

Eu não sei, e acho que ninguém sabe ao certo quando a avareza irá terminar no mundo, mas com a introdução de uma moeda local, uma coisa me parece clara: vai-se fomentar o consumo local, o que origina um impulso na economia local, e consequentemente uma maior qualidade de vida nos habitantes locais.

Ou seja, por a moeda apenas valer numa certa localidade (neste caso num mercado), as pessoas acabam por ir mais às compras nessa localidade (neste caso num mercado).

Acho que é, por isso um impulsionador das economias locais, e que hoje em dia estão cada vez mais debilitadas com o crescente controlo do comércio pelas grandes lojas, superfícies, cadeias internacionais, etc. Parece-me que impulsionar economias locais, actualmente debilitadas, é um modo de limitar a avareza de outros, as grandes cadeias e lojas.

Uma questão que poderá ser levantada é se depois os intervenientes nas economias locais não ficarão também avarentos, mas eu pessoalmente acredito que, pelo menos a médio prazo, não.

Em minha opinião, a maioria das pessoas que habitam em Granja do Ulmeiro, a aldeia em questão, que são também as que mais beneficiam e participam neste "mercado solidário", não têm grandes ambições de avareza na vida. Não as conheço, e não pretendo falar por elas, mas acredito que muito provavelmente apenas queriam vender mais um pouco os seus produtos, para ter mais algum dinheiro no final do mês, para poderem ter acesso a alguns serviços que desejam.

Aliás, como está escrito na notícia:
"Muitas senhoras daqui alguma vez pensaram ir à cabeleireira ou fazer uma limpeza de pele? Nunca, até porque são pessoas sem grandes meios que vivem da agricultura", explica Teresa Cunha, presidente da Acção para a Justiça e Paz (entidade promotora da iniciativa). No entanto, prossegue, "este sistema dá acesso a isso, e em contrapartida, dentro do mercado, essas senhoras arranjam produtos hortícolas, ou rendas, por exemplo".



É apenas a minha opinião.

Um abraço e resto de boa semana!
João Lopes Aguar

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