I.
Portugal, pela suas características naturais, pela capacidade inovadora que ao longo da sua história tem revelado, pela excelência dos seus recursos humanos e pelo trabalho que tem vindo a iniciar nos últimos anos, apresenta todas as condições para se assumir como um dos líderes no desenvolvimento de energias renováveis, criando um nicho de desenvolvimento económico assente nos sectores com elas relacionados.
Uma aposta clara no desenvolvimento de energias alternativas (solar, eólica, marmotriz, geotérmica, magnética, etc.) às assentes em combustíveis fósseis, com uma ambição internacional, permitiria a criação de emprego especializado e altamente qualificado, a criação de riqueza, o desenvolvimento da educação e da investigação, a redução da dependência energética, uma melhoria da nossa balança de transacções com o exterior e a liderança no campo do saber. Esta aposta deverá passar pelo apoio a projectos de investigação, desenvolvimento e investimento provenientes dos diversos agentes. O apoio necessário não se esgota em questões de financiamento, mas deverá incluir também apoio técnico, de orientação e de incentivo ao empreendedorismo.
Deverão ainda ser fortemente apoiadas as iniciativas individuais ou comunitárias que contribuam para a redução do consumo energético ou para a auto-suficiência neste campo.
II.
A implantação de energias alternativas no nosso país deverá ser criteriosa. A sua utilização indiscriminada poderá ter efeitos contrários aos desejados, pelo que deverão existir regras bem definidas para a sua implementação. O recurso à energia eólica, por exemplo, deverá ter em conta os locais ambientalmente mais sensíveis, face ao impacto que os equipamentos a ela associados apresentam na paisagem, na flora e na fauna locais (alteração de corredores de migração de aves, impacto dos grandes caminhos de acesso aos parques, consequências ao nível da flora que, em alguns casos, só existe nos cimos das serras, etc.). Assim, deverá ser claramente previsto em lei a proibição da criação de campos eólicos em parques naturais e áreas protegidas, sem qualquer excepção.
A energia nuclear proveniente da “fusão a quente” deverá ser taxativamente recusada. Para além do risco de acidentes graves, mantêm-se as questões relacionadas com os resíduos. Enquanto a sua eliminação não for possível, todas as soluções encontradas serão insatisfatórias, uma vez que apenas adiam o problema, não o resolvendo.
III.
A crescente confusão entre os conceitos de desenvolvimento económico e de crescimento económico que está presente nos discursos oficiais, na comunicação social e na opinião pública em geral é um reflexo de alguns dos valores que predominam na sociedade actual.
O crescimento económico é medido a partir da produção comercializável, sendo que a sua avaliação é feita com base nos agregados da contabilidade nacional, como o Produto Interno Bruto (PIB) ou o Rendimento Nacional. Mas este indicadores pouco ou nada nos dizem sobre o desenvolvimento económico, cuja avaliação inclui as mudanças das estruturas mentais e dos hábitos sociais, a distribuição da riqueza produzida, a justiça do sistema fiscal, a qualidade da educação, a igualdade de oportunidades, etc.
No entanto, o crescimento económico tem sido, frequentemente, o único barómetro utilizado pelos responsáveis políticos – com eco na comunicação social - para medir o bem-estar e a “saúde” de um território.
De facto, quando se analisa a economia do país ou de uma das suas regiões, os indicadores que sobressaem e aos quais é dada maior relevância são indicadores que se debruçam, quase exclusivamente em critérios de crescimento económico, de criação de riqueza ou relacionados com a produtividade. Esses indicadores são centrados exclusivamente no homem e desligados do meio em que ele se insere.
Estando inseridos num ecossistema dinâmico, se por via da nossa capacidade racional não percebermos a falácia que constitui a lógica dominante subordinada ao crescimento económico a todo o custo, estaremos condenados a aprender por via de mecanismos naturais as consequências de perturbarmos em demasiado o estado de equilíbrio natural.
Assim, como instrumentos para definição de políticas económicas propomos o estudo, adopção e utilização de indicadores alternativos que sejam verdadeiros barómetros para aferir do bem-estar real das populações, numa perspectiva holística, devendo ser divulgados com a mesma importância que normalmente é atribuída aos indicadores tradicionais.
Como exemplo, propomos a adopção do FIB - Felicidade Interna Bruta. Este indicador, adoptado pelo Butão, não se encontra em contraposição ao PIB: este é parte integrante do primeiro, uma vez que o crescimento económico também promove o bem-estar. No entanto, também não pretende valorizar exclusivamente a capacidade produtiva da população. Para o seu cálculo são tidos em conta elementos como o bem-estar psicológico (sendo utilizados indicadores como níveis de stress, actividades espirituais, auto-avaliação da saúde, …), a utilização do tempo, a saúde, a educação, a diversidade cultural, a avaliação do sistema governativo, a diversidade ecológica, etc.).
IV.
Face às limitações do crescimento económico, ao esgotamento dos combustíveis fósseis, ao êxodo das populações e à necessidade de dinamização das economias locais, consideramos que o desenvolvimento rural deverá passar, em grande medida, por políticas que promovam a resiliência.
Nesse sentido, propomos o desenvolvimento e apoio a estruturas que permitam às comunidades locais e regionais ter capacidade para lidar com choques económicos e energéticos externos, mantendo as suas características intrínsecas, o que implica garantir condições de auto-suficiência.
O desenvolvimento local deverá também passar pela relocalização, dinamizando políticas e iniciativas que permitam às diversas regiões e/ou comunidades libertarem-se de uma dependência excessiva da economia global, investindo os seus próprios recursos para produzir uma parcela significativa dos bens e serviços que consomem: água, alimentação, materiais de construção, tecidos, madeira, energia, etc..
Em última análise, com a crescente indisponibilidade de combustíveis fósseis, a nossa capacidade de transportar mercadorias irá, necessariamente, diminuir, tornando o processo inevitável. Assim, devemos começar já a construir as infra-estruturas que permitam o fornecimento local.
Como política de desenvolvimento regional, consideramos importante o apoio a iniciativas que promovam a utilização de moedas locais e/ou regionais: mecanismos de troca que garantam que uma grande parte do consumo seja feito localmente, produzindo riqueza que se redistribuirá ao nível da comunidade/região e reforçando a cooperação económica e social entre os habitantes.
Defendemos que deverá ser dada particular atenção a estas iniciativas nas regiões que sofrem problemas de interioridade e que a sua gestão seja feita por organismos que agreguem todos os agentes económicos regionais.
V.
Uma rede de transportes eficiente assume uma importância vital na economia de qualquer país. Portugal não é excepção. Nas últimas décadas, o país realizou um enorme investimento na construção de uma rede viária, privilegiando o transporte rodoviário.
Apesar das vantagens que uma rede de estradas apresenta para a circulação de pessoas e bens, uma política de transportes potenciadora de bem-estar não se pode esgotar aí. É necessário actuar em áreas como a rede ferroviária nacional e o incentivo à utilização de meios colectivos e alternativos de transporte.
A ferrovia possui uma grande capacidade de transporte, apresenta uma velocidade elevada, realiza o seu tráfego em vias exclusivas e tem um custo operacional baixo em relação ao peso total transportado. Para além disso, é seguro, energeticamente eficiente e é uma alternativa válida a outros meios de transporte mais poluentes, podendo dar uma grande contribuição para a redução do número de automóveis em circulação.
Assim, Portugal deveria realizar uma aposta séria na recuperação, modernização e expansão da sua ferrovia, tornando-a um elemento fundamental da sua política de transportes e de desenvolvimento da economia local e regional.
Tem-se assistido também, nos últimos anos, à criação de uma série de infra-estruturas destinadas ao passeio pedestre e de bicicleta, muitas vezes aproveitando vias-férreas desactivadas. São iniciativas que merecem elogio e que deverão continuar a ser incentivadas.
No entanto, essas vias são normalmente localizadas em áreas periféricas aos centros urbanos. É necessário incentivar a utilização da bicicleta como meio de transporte nas cidades. Um passo fundamental para que tal aconteça é a criação de vias exclusivas para a sua circulação dentro das zonas urbanas, bem como a sua ligação às zonas rurais.
O reforço dos meios de transporte colectivos deverá ser um elemento indispensável de uma política energética e ambiental eficiente. Eles deverão estar disponíveis para todos os potenciais utilizadores, a preços acessíveis (o custo acrescido será, decerto, compensado com a poupança nos gastos de saúde) e inseridos em redes flexíveis e com horários realistas face às necessidades das populações em geral.
Neste âmbito, não nos poderemos limitar a olhar apenas para a rede urbana. É urgente repensar e desenvolver os transportes colectivos que ligam as cidades às áreas rurais, sendo esta questão ainda mais urgente no interior do país.
Por outro lado, todos os transportes colectivos, bem como as viaturas do Estado, deverão, obrigatoriamente, ser eco-eficientes.
VI.
Nos últimos anos, tem crescido de forma exponencial a oferta turística no nosso país. No entanto, os factores de atractividade que Portugal apresenta e que se propõe explorar são consecutiva e dramaticamente alterados, degradando-se a oferta inicialmente proposta. Um triste exemplo é o Algarve turístico, cuja exploração assente num turismo de massas matou a qualidade da oferta inicial, não trazendo necessariamente uma melhoria nas condições de vida das populações locais, tendo em conta os princípios do desenvolvimento sustentável e da preservação da cultura e natureza.
Entendemos que o turismo deverá ser encarado como uma consequência do desenvolvimento social, cultural e natural e não uma causa directa e primordial, nunca podendo colocar em causa a sustentabilidade dos recursos nacionais.
A promoção do turismo em Portugal deverá ser sustentada primordialmente pelo interesse regional, criando valor acrescentado baseado nas especificidades de cada região, procurando manter nas comunidades locais a riqueza por ele gerada.
VII.
O potencial universalista de Portugal, dada a diáspora planetária da sua história, cultura e língua deverá também estar presente nas relações económicas internacionais, desde que se abandonem lógicas de colonialismo, exploração e domínio.
A ligação privilegiada de Portugal aos países de língua oficial portuguesa deveria ter reflexos em relações económicas potenciadoras de benefícios mútuos assentes em valores humanos e justos.
Neste contexto, propõe-se a criação de um espaço comunitário partilhado pelos países de língua oficial portuguesa com uma circulação de bens, pessoas e conhecimento facilitada.
VIII.
Entendemos que as relações económicas externas de Portugal não poderão deixar de ter em conta violações sistemáticas de direitos humanos.
Assim, no contexto do comércio internacional, consideramos ser imprescindível a existência de uma política nacional (que envolva todos os agentes económicos e não apenas o Estado) que introduza, nas operações de importação, critérios de respeito pelos direitos humanos e pelo ambiente por países terceiros, bem como garantias de que na origem dos produtos ou serviços não estão presentes situações de exploração de mão-de-obra infantil.
IX.
Todas as mudanças profundas nos sistemas sociais, económicos e culturais só são possíveis quando acompanhadas por uma educação e formação capazes e abrangentes, que inclua o incentivo à inovação e iniciativa.
No campo económico, propomos que, desde cedo, se incluam nos currículos escolares matérias relacionadas com o empreendedorismo, de forma a educar pessoas capazes de ter iniciativa e de mobilizar recursos (incluindo os humanos) para alcançar objectivos decorrentes de uma ideia. Deverá ser disponibilizada formação aos responsáveis educativos para serem capazes de desenvolverem estas ideias segundo a perspectiva do campo de estudos de cada um.
No ensino universitário, a lógica de especialização actualmente vigente, bem como o desaparecimento dos currículos dos cursos de Economia de disciplinas como a Sociologia, a História, a Filosofia, entre outras, tem contribuído para a criação de profissionais sem uma visão holística da sociedade.
Propõe-se, assim, a adopção nos cursos universitários de Economia de disciplinas obrigatórias que permitam compreender a sociedade em que nos inserimos, a sua evolução e os diversos factores que a influenciam, fornecendo uma visão abrangente dos problemas e das possíveis soluções.
Um espaço para reinventar Portugal como nação de todo o Mundo, que estabeleça pontes, mediações e diálogos entre todos os povos, culturas e civilizações e promova os valores mais universalistas, conforme o símbolo da Esfera Armilar. Há que visar o melhor possível para todos, uma cultura da paz, da compreensão e da fraternidade à escala planetária, orientada não só para o bem da espécie humana, mas também para a preservação da natureza e o bem-estar de todas as formas de vida sencientes.
"Nós, Portugal, o poder ser"
- Fernando Pessoa, Mensagem.
Propostas do grupo Economia e Energia
sexta-feira, 9 de abril de 2010
Publicada por Carlos Ramos à(s) 19:14Etiquetas: ambiente, desenvolvimento rural, Desenvolvimento Sustentável, economia, economia local, Energia, estímulo ao desenvolvimento local
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Propostas do grupo Economia e Energia
Publicada por
Carlos Ramos
on sexta-feira, 9 de abril de 2010
I.
Portugal, pela suas características naturais, pela capacidade inovadora que ao longo da sua história tem revelado, pela excelência dos seus recursos humanos e pelo trabalho que tem vindo a iniciar nos últimos anos, apresenta todas as condições para se assumir como um dos líderes no desenvolvimento de energias renováveis, criando um nicho de desenvolvimento económico assente nos sectores com elas relacionados.
Uma aposta clara no desenvolvimento de energias alternativas (solar, eólica, marmotriz, geotérmica, magnética, etc.) às assentes em combustíveis fósseis, com uma ambição internacional, permitiria a criação de emprego especializado e altamente qualificado, a criação de riqueza, o desenvolvimento da educação e da investigação, a redução da dependência energética, uma melhoria da nossa balança de transacções com o exterior e a liderança no campo do saber. Esta aposta deverá passar pelo apoio a projectos de investigação, desenvolvimento e investimento provenientes dos diversos agentes. O apoio necessário não se esgota em questões de financiamento, mas deverá incluir também apoio técnico, de orientação e de incentivo ao empreendedorismo.
Deverão ainda ser fortemente apoiadas as iniciativas individuais ou comunitárias que contribuam para a redução do consumo energético ou para a auto-suficiência neste campo.
II.
A implantação de energias alternativas no nosso país deverá ser criteriosa. A sua utilização indiscriminada poderá ter efeitos contrários aos desejados, pelo que deverão existir regras bem definidas para a sua implementação. O recurso à energia eólica, por exemplo, deverá ter em conta os locais ambientalmente mais sensíveis, face ao impacto que os equipamentos a ela associados apresentam na paisagem, na flora e na fauna locais (alteração de corredores de migração de aves, impacto dos grandes caminhos de acesso aos parques, consequências ao nível da flora que, em alguns casos, só existe nos cimos das serras, etc.). Assim, deverá ser claramente previsto em lei a proibição da criação de campos eólicos em parques naturais e áreas protegidas, sem qualquer excepção.
A energia nuclear proveniente da “fusão a quente” deverá ser taxativamente recusada. Para além do risco de acidentes graves, mantêm-se as questões relacionadas com os resíduos. Enquanto a sua eliminação não for possível, todas as soluções encontradas serão insatisfatórias, uma vez que apenas adiam o problema, não o resolvendo.
III.
A crescente confusão entre os conceitos de desenvolvimento económico e de crescimento económico que está presente nos discursos oficiais, na comunicação social e na opinião pública em geral é um reflexo de alguns dos valores que predominam na sociedade actual.
O crescimento económico é medido a partir da produção comercializável, sendo que a sua avaliação é feita com base nos agregados da contabilidade nacional, como o Produto Interno Bruto (PIB) ou o Rendimento Nacional. Mas este indicadores pouco ou nada nos dizem sobre o desenvolvimento económico, cuja avaliação inclui as mudanças das estruturas mentais e dos hábitos sociais, a distribuição da riqueza produzida, a justiça do sistema fiscal, a qualidade da educação, a igualdade de oportunidades, etc.
No entanto, o crescimento económico tem sido, frequentemente, o único barómetro utilizado pelos responsáveis políticos – com eco na comunicação social - para medir o bem-estar e a “saúde” de um território.
De facto, quando se analisa a economia do país ou de uma das suas regiões, os indicadores que sobressaem e aos quais é dada maior relevância são indicadores que se debruçam, quase exclusivamente em critérios de crescimento económico, de criação de riqueza ou relacionados com a produtividade. Esses indicadores são centrados exclusivamente no homem e desligados do meio em que ele se insere.
Estando inseridos num ecossistema dinâmico, se por via da nossa capacidade racional não percebermos a falácia que constitui a lógica dominante subordinada ao crescimento económico a todo o custo, estaremos condenados a aprender por via de mecanismos naturais as consequências de perturbarmos em demasiado o estado de equilíbrio natural.
Assim, como instrumentos para definição de políticas económicas propomos o estudo, adopção e utilização de indicadores alternativos que sejam verdadeiros barómetros para aferir do bem-estar real das populações, numa perspectiva holística, devendo ser divulgados com a mesma importância que normalmente é atribuída aos indicadores tradicionais.
Como exemplo, propomos a adopção do FIB - Felicidade Interna Bruta. Este indicador, adoptado pelo Butão, não se encontra em contraposição ao PIB: este é parte integrante do primeiro, uma vez que o crescimento económico também promove o bem-estar. No entanto, também não pretende valorizar exclusivamente a capacidade produtiva da população. Para o seu cálculo são tidos em conta elementos como o bem-estar psicológico (sendo utilizados indicadores como níveis de stress, actividades espirituais, auto-avaliação da saúde, …), a utilização do tempo, a saúde, a educação, a diversidade cultural, a avaliação do sistema governativo, a diversidade ecológica, etc.).
IV.
Face às limitações do crescimento económico, ao esgotamento dos combustíveis fósseis, ao êxodo das populações e à necessidade de dinamização das economias locais, consideramos que o desenvolvimento rural deverá passar, em grande medida, por políticas que promovam a resiliência.
Nesse sentido, propomos o desenvolvimento e apoio a estruturas que permitam às comunidades locais e regionais ter capacidade para lidar com choques económicos e energéticos externos, mantendo as suas características intrínsecas, o que implica garantir condições de auto-suficiência.
O desenvolvimento local deverá também passar pela relocalização, dinamizando políticas e iniciativas que permitam às diversas regiões e/ou comunidades libertarem-se de uma dependência excessiva da economia global, investindo os seus próprios recursos para produzir uma parcela significativa dos bens e serviços que consomem: água, alimentação, materiais de construção, tecidos, madeira, energia, etc..
Em última análise, com a crescente indisponibilidade de combustíveis fósseis, a nossa capacidade de transportar mercadorias irá, necessariamente, diminuir, tornando o processo inevitável. Assim, devemos começar já a construir as infra-estruturas que permitam o fornecimento local.
Como política de desenvolvimento regional, consideramos importante o apoio a iniciativas que promovam a utilização de moedas locais e/ou regionais: mecanismos de troca que garantam que uma grande parte do consumo seja feito localmente, produzindo riqueza que se redistribuirá ao nível da comunidade/região e reforçando a cooperação económica e social entre os habitantes.
Defendemos que deverá ser dada particular atenção a estas iniciativas nas regiões que sofrem problemas de interioridade e que a sua gestão seja feita por organismos que agreguem todos os agentes económicos regionais.
V.
Uma rede de transportes eficiente assume uma importância vital na economia de qualquer país. Portugal não é excepção. Nas últimas décadas, o país realizou um enorme investimento na construção de uma rede viária, privilegiando o transporte rodoviário.
Apesar das vantagens que uma rede de estradas apresenta para a circulação de pessoas e bens, uma política de transportes potenciadora de bem-estar não se pode esgotar aí. É necessário actuar em áreas como a rede ferroviária nacional e o incentivo à utilização de meios colectivos e alternativos de transporte.
A ferrovia possui uma grande capacidade de transporte, apresenta uma velocidade elevada, realiza o seu tráfego em vias exclusivas e tem um custo operacional baixo em relação ao peso total transportado. Para além disso, é seguro, energeticamente eficiente e é uma alternativa válida a outros meios de transporte mais poluentes, podendo dar uma grande contribuição para a redução do número de automóveis em circulação.
Assim, Portugal deveria realizar uma aposta séria na recuperação, modernização e expansão da sua ferrovia, tornando-a um elemento fundamental da sua política de transportes e de desenvolvimento da economia local e regional.
Tem-se assistido também, nos últimos anos, à criação de uma série de infra-estruturas destinadas ao passeio pedestre e de bicicleta, muitas vezes aproveitando vias-férreas desactivadas. São iniciativas que merecem elogio e que deverão continuar a ser incentivadas.
No entanto, essas vias são normalmente localizadas em áreas periféricas aos centros urbanos. É necessário incentivar a utilização da bicicleta como meio de transporte nas cidades. Um passo fundamental para que tal aconteça é a criação de vias exclusivas para a sua circulação dentro das zonas urbanas, bem como a sua ligação às zonas rurais.
O reforço dos meios de transporte colectivos deverá ser um elemento indispensável de uma política energética e ambiental eficiente. Eles deverão estar disponíveis para todos os potenciais utilizadores, a preços acessíveis (o custo acrescido será, decerto, compensado com a poupança nos gastos de saúde) e inseridos em redes flexíveis e com horários realistas face às necessidades das populações em geral.
Neste âmbito, não nos poderemos limitar a olhar apenas para a rede urbana. É urgente repensar e desenvolver os transportes colectivos que ligam as cidades às áreas rurais, sendo esta questão ainda mais urgente no interior do país.
Por outro lado, todos os transportes colectivos, bem como as viaturas do Estado, deverão, obrigatoriamente, ser eco-eficientes.
VI.
Nos últimos anos, tem crescido de forma exponencial a oferta turística no nosso país. No entanto, os factores de atractividade que Portugal apresenta e que se propõe explorar são consecutiva e dramaticamente alterados, degradando-se a oferta inicialmente proposta. Um triste exemplo é o Algarve turístico, cuja exploração assente num turismo de massas matou a qualidade da oferta inicial, não trazendo necessariamente uma melhoria nas condições de vida das populações locais, tendo em conta os princípios do desenvolvimento sustentável e da preservação da cultura e natureza.
Entendemos que o turismo deverá ser encarado como uma consequência do desenvolvimento social, cultural e natural e não uma causa directa e primordial, nunca podendo colocar em causa a sustentabilidade dos recursos nacionais.
A promoção do turismo em Portugal deverá ser sustentada primordialmente pelo interesse regional, criando valor acrescentado baseado nas especificidades de cada região, procurando manter nas comunidades locais a riqueza por ele gerada.
VII.
O potencial universalista de Portugal, dada a diáspora planetária da sua história, cultura e língua deverá também estar presente nas relações económicas internacionais, desde que se abandonem lógicas de colonialismo, exploração e domínio.
A ligação privilegiada de Portugal aos países de língua oficial portuguesa deveria ter reflexos em relações económicas potenciadoras de benefícios mútuos assentes em valores humanos e justos.
Neste contexto, propõe-se a criação de um espaço comunitário partilhado pelos países de língua oficial portuguesa com uma circulação de bens, pessoas e conhecimento facilitada.
VIII.
Entendemos que as relações económicas externas de Portugal não poderão deixar de ter em conta violações sistemáticas de direitos humanos.
Assim, no contexto do comércio internacional, consideramos ser imprescindível a existência de uma política nacional (que envolva todos os agentes económicos e não apenas o Estado) que introduza, nas operações de importação, critérios de respeito pelos direitos humanos e pelo ambiente por países terceiros, bem como garantias de que na origem dos produtos ou serviços não estão presentes situações de exploração de mão-de-obra infantil.
IX.
Todas as mudanças profundas nos sistemas sociais, económicos e culturais só são possíveis quando acompanhadas por uma educação e formação capazes e abrangentes, que inclua o incentivo à inovação e iniciativa.
No campo económico, propomos que, desde cedo, se incluam nos currículos escolares matérias relacionadas com o empreendedorismo, de forma a educar pessoas capazes de ter iniciativa e de mobilizar recursos (incluindo os humanos) para alcançar objectivos decorrentes de uma ideia. Deverá ser disponibilizada formação aos responsáveis educativos para serem capazes de desenvolverem estas ideias segundo a perspectiva do campo de estudos de cada um.
No ensino universitário, a lógica de especialização actualmente vigente, bem como o desaparecimento dos currículos dos cursos de Economia de disciplinas como a Sociologia, a História, a Filosofia, entre outras, tem contribuído para a criação de profissionais sem uma visão holística da sociedade.
Propõe-se, assim, a adopção nos cursos universitários de Economia de disciplinas obrigatórias que permitam compreender a sociedade em que nos inserimos, a sua evolução e os diversos factores que a influenciam, fornecendo uma visão abrangente dos problemas e das possíveis soluções.
Portugal, pela suas características naturais, pela capacidade inovadora que ao longo da sua história tem revelado, pela excelência dos seus recursos humanos e pelo trabalho que tem vindo a iniciar nos últimos anos, apresenta todas as condições para se assumir como um dos líderes no desenvolvimento de energias renováveis, criando um nicho de desenvolvimento económico assente nos sectores com elas relacionados.
Uma aposta clara no desenvolvimento de energias alternativas (solar, eólica, marmotriz, geotérmica, magnética, etc.) às assentes em combustíveis fósseis, com uma ambição internacional, permitiria a criação de emprego especializado e altamente qualificado, a criação de riqueza, o desenvolvimento da educação e da investigação, a redução da dependência energética, uma melhoria da nossa balança de transacções com o exterior e a liderança no campo do saber. Esta aposta deverá passar pelo apoio a projectos de investigação, desenvolvimento e investimento provenientes dos diversos agentes. O apoio necessário não se esgota em questões de financiamento, mas deverá incluir também apoio técnico, de orientação e de incentivo ao empreendedorismo.
Deverão ainda ser fortemente apoiadas as iniciativas individuais ou comunitárias que contribuam para a redução do consumo energético ou para a auto-suficiência neste campo.
II.
A implantação de energias alternativas no nosso país deverá ser criteriosa. A sua utilização indiscriminada poderá ter efeitos contrários aos desejados, pelo que deverão existir regras bem definidas para a sua implementação. O recurso à energia eólica, por exemplo, deverá ter em conta os locais ambientalmente mais sensíveis, face ao impacto que os equipamentos a ela associados apresentam na paisagem, na flora e na fauna locais (alteração de corredores de migração de aves, impacto dos grandes caminhos de acesso aos parques, consequências ao nível da flora que, em alguns casos, só existe nos cimos das serras, etc.). Assim, deverá ser claramente previsto em lei a proibição da criação de campos eólicos em parques naturais e áreas protegidas, sem qualquer excepção.
A energia nuclear proveniente da “fusão a quente” deverá ser taxativamente recusada. Para além do risco de acidentes graves, mantêm-se as questões relacionadas com os resíduos. Enquanto a sua eliminação não for possível, todas as soluções encontradas serão insatisfatórias, uma vez que apenas adiam o problema, não o resolvendo.
III.
A crescente confusão entre os conceitos de desenvolvimento económico e de crescimento económico que está presente nos discursos oficiais, na comunicação social e na opinião pública em geral é um reflexo de alguns dos valores que predominam na sociedade actual.
O crescimento económico é medido a partir da produção comercializável, sendo que a sua avaliação é feita com base nos agregados da contabilidade nacional, como o Produto Interno Bruto (PIB) ou o Rendimento Nacional. Mas este indicadores pouco ou nada nos dizem sobre o desenvolvimento económico, cuja avaliação inclui as mudanças das estruturas mentais e dos hábitos sociais, a distribuição da riqueza produzida, a justiça do sistema fiscal, a qualidade da educação, a igualdade de oportunidades, etc.
No entanto, o crescimento económico tem sido, frequentemente, o único barómetro utilizado pelos responsáveis políticos – com eco na comunicação social - para medir o bem-estar e a “saúde” de um território.
De facto, quando se analisa a economia do país ou de uma das suas regiões, os indicadores que sobressaem e aos quais é dada maior relevância são indicadores que se debruçam, quase exclusivamente em critérios de crescimento económico, de criação de riqueza ou relacionados com a produtividade. Esses indicadores são centrados exclusivamente no homem e desligados do meio em que ele se insere.
Estando inseridos num ecossistema dinâmico, se por via da nossa capacidade racional não percebermos a falácia que constitui a lógica dominante subordinada ao crescimento económico a todo o custo, estaremos condenados a aprender por via de mecanismos naturais as consequências de perturbarmos em demasiado o estado de equilíbrio natural.
Assim, como instrumentos para definição de políticas económicas propomos o estudo, adopção e utilização de indicadores alternativos que sejam verdadeiros barómetros para aferir do bem-estar real das populações, numa perspectiva holística, devendo ser divulgados com a mesma importância que normalmente é atribuída aos indicadores tradicionais.
Como exemplo, propomos a adopção do FIB - Felicidade Interna Bruta. Este indicador, adoptado pelo Butão, não se encontra em contraposição ao PIB: este é parte integrante do primeiro, uma vez que o crescimento económico também promove o bem-estar. No entanto, também não pretende valorizar exclusivamente a capacidade produtiva da população. Para o seu cálculo são tidos em conta elementos como o bem-estar psicológico (sendo utilizados indicadores como níveis de stress, actividades espirituais, auto-avaliação da saúde, …), a utilização do tempo, a saúde, a educação, a diversidade cultural, a avaliação do sistema governativo, a diversidade ecológica, etc.).
IV.
Face às limitações do crescimento económico, ao esgotamento dos combustíveis fósseis, ao êxodo das populações e à necessidade de dinamização das economias locais, consideramos que o desenvolvimento rural deverá passar, em grande medida, por políticas que promovam a resiliência.
Nesse sentido, propomos o desenvolvimento e apoio a estruturas que permitam às comunidades locais e regionais ter capacidade para lidar com choques económicos e energéticos externos, mantendo as suas características intrínsecas, o que implica garantir condições de auto-suficiência.
O desenvolvimento local deverá também passar pela relocalização, dinamizando políticas e iniciativas que permitam às diversas regiões e/ou comunidades libertarem-se de uma dependência excessiva da economia global, investindo os seus próprios recursos para produzir uma parcela significativa dos bens e serviços que consomem: água, alimentação, materiais de construção, tecidos, madeira, energia, etc..
Em última análise, com a crescente indisponibilidade de combustíveis fósseis, a nossa capacidade de transportar mercadorias irá, necessariamente, diminuir, tornando o processo inevitável. Assim, devemos começar já a construir as infra-estruturas que permitam o fornecimento local.
Como política de desenvolvimento regional, consideramos importante o apoio a iniciativas que promovam a utilização de moedas locais e/ou regionais: mecanismos de troca que garantam que uma grande parte do consumo seja feito localmente, produzindo riqueza que se redistribuirá ao nível da comunidade/região e reforçando a cooperação económica e social entre os habitantes.
Defendemos que deverá ser dada particular atenção a estas iniciativas nas regiões que sofrem problemas de interioridade e que a sua gestão seja feita por organismos que agreguem todos os agentes económicos regionais.
V.
Uma rede de transportes eficiente assume uma importância vital na economia de qualquer país. Portugal não é excepção. Nas últimas décadas, o país realizou um enorme investimento na construção de uma rede viária, privilegiando o transporte rodoviário.
Apesar das vantagens que uma rede de estradas apresenta para a circulação de pessoas e bens, uma política de transportes potenciadora de bem-estar não se pode esgotar aí. É necessário actuar em áreas como a rede ferroviária nacional e o incentivo à utilização de meios colectivos e alternativos de transporte.
A ferrovia possui uma grande capacidade de transporte, apresenta uma velocidade elevada, realiza o seu tráfego em vias exclusivas e tem um custo operacional baixo em relação ao peso total transportado. Para além disso, é seguro, energeticamente eficiente e é uma alternativa válida a outros meios de transporte mais poluentes, podendo dar uma grande contribuição para a redução do número de automóveis em circulação.
Assim, Portugal deveria realizar uma aposta séria na recuperação, modernização e expansão da sua ferrovia, tornando-a um elemento fundamental da sua política de transportes e de desenvolvimento da economia local e regional.
Tem-se assistido também, nos últimos anos, à criação de uma série de infra-estruturas destinadas ao passeio pedestre e de bicicleta, muitas vezes aproveitando vias-férreas desactivadas. São iniciativas que merecem elogio e que deverão continuar a ser incentivadas.
No entanto, essas vias são normalmente localizadas em áreas periféricas aos centros urbanos. É necessário incentivar a utilização da bicicleta como meio de transporte nas cidades. Um passo fundamental para que tal aconteça é a criação de vias exclusivas para a sua circulação dentro das zonas urbanas, bem como a sua ligação às zonas rurais.
O reforço dos meios de transporte colectivos deverá ser um elemento indispensável de uma política energética e ambiental eficiente. Eles deverão estar disponíveis para todos os potenciais utilizadores, a preços acessíveis (o custo acrescido será, decerto, compensado com a poupança nos gastos de saúde) e inseridos em redes flexíveis e com horários realistas face às necessidades das populações em geral.
Neste âmbito, não nos poderemos limitar a olhar apenas para a rede urbana. É urgente repensar e desenvolver os transportes colectivos que ligam as cidades às áreas rurais, sendo esta questão ainda mais urgente no interior do país.
Por outro lado, todos os transportes colectivos, bem como as viaturas do Estado, deverão, obrigatoriamente, ser eco-eficientes.
VI.
Nos últimos anos, tem crescido de forma exponencial a oferta turística no nosso país. No entanto, os factores de atractividade que Portugal apresenta e que se propõe explorar são consecutiva e dramaticamente alterados, degradando-se a oferta inicialmente proposta. Um triste exemplo é o Algarve turístico, cuja exploração assente num turismo de massas matou a qualidade da oferta inicial, não trazendo necessariamente uma melhoria nas condições de vida das populações locais, tendo em conta os princípios do desenvolvimento sustentável e da preservação da cultura e natureza.
Entendemos que o turismo deverá ser encarado como uma consequência do desenvolvimento social, cultural e natural e não uma causa directa e primordial, nunca podendo colocar em causa a sustentabilidade dos recursos nacionais.
A promoção do turismo em Portugal deverá ser sustentada primordialmente pelo interesse regional, criando valor acrescentado baseado nas especificidades de cada região, procurando manter nas comunidades locais a riqueza por ele gerada.
VII.
O potencial universalista de Portugal, dada a diáspora planetária da sua história, cultura e língua deverá também estar presente nas relações económicas internacionais, desde que se abandonem lógicas de colonialismo, exploração e domínio.
A ligação privilegiada de Portugal aos países de língua oficial portuguesa deveria ter reflexos em relações económicas potenciadoras de benefícios mútuos assentes em valores humanos e justos.
Neste contexto, propõe-se a criação de um espaço comunitário partilhado pelos países de língua oficial portuguesa com uma circulação de bens, pessoas e conhecimento facilitada.
VIII.
Entendemos que as relações económicas externas de Portugal não poderão deixar de ter em conta violações sistemáticas de direitos humanos.
Assim, no contexto do comércio internacional, consideramos ser imprescindível a existência de uma política nacional (que envolva todos os agentes económicos e não apenas o Estado) que introduza, nas operações de importação, critérios de respeito pelos direitos humanos e pelo ambiente por países terceiros, bem como garantias de que na origem dos produtos ou serviços não estão presentes situações de exploração de mão-de-obra infantil.
IX.
Todas as mudanças profundas nos sistemas sociais, económicos e culturais só são possíveis quando acompanhadas por uma educação e formação capazes e abrangentes, que inclua o incentivo à inovação e iniciativa.
No campo económico, propomos que, desde cedo, se incluam nos currículos escolares matérias relacionadas com o empreendedorismo, de forma a educar pessoas capazes de ter iniciativa e de mobilizar recursos (incluindo os humanos) para alcançar objectivos decorrentes de uma ideia. Deverá ser disponibilizada formação aos responsáveis educativos para serem capazes de desenvolverem estas ideias segundo a perspectiva do campo de estudos de cada um.
No ensino universitário, a lógica de especialização actualmente vigente, bem como o desaparecimento dos currículos dos cursos de Economia de disciplinas como a Sociologia, a História, a Filosofia, entre outras, tem contribuído para a criação de profissionais sem uma visão holística da sociedade.
Propõe-se, assim, a adopção nos cursos universitários de Economia de disciplinas obrigatórias que permitam compreender a sociedade em que nos inserimos, a sua evolução e os diversos factores que a influenciam, fornecendo uma visão abrangente dos problemas e das possíveis soluções.
2 comentários:
- Paulo Borges disse...
-
Excelente! Parabéns ao Carlos Ramos e a todos os membros do grupo! Trabalho sério e profundo.
- 14 de abril de 2010 às 10:23
- Serafina disse...
-
Parabéns, Carlos. Boa reflexão do vosso grupo. Deixei aqui as propostas do Serge Latouche, que podem ser úteis para futuras reflexões.
Abraço,
Laura - 16 de abril de 2010 às 21:26
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Manifesto
2010 é o ano em que passa um século sobre a implantação da República em Portugal e no início de 2011 realizar-se-ão eleições presidenciais. Independentemente da questão do regime, 2010 impõe-se como um marco fundamental para lançar uma reflexão pública sobre o país e o mundo que temos e queremos. Reflexão tanto mais urgente quanto há sinais cada vez mais evidentes do crescente divórcio entre o Estado e a sociedade, traduzido em eleições onde a abstenção triunfa sistematicamente, fruto do descrédito galopante da classe política, da própria política e do deserto de ideias em que vivemos, mas também do comodismo e indiferentismo dos portugueses, que muito criticam, mas dificilmente buscam conceber alternativas e pô-las em prática.
Aqui se apresenta a proposta de um cidadão português que, no decurso da sua docência universitária, obra publicada e intervenção cultural, tem seguido com interesse e preocupação os rumos recentes de Portugal e do mundo. Convicto de que urge refundar Portugal, eis uma lista de prioridades para o país e o mundo melhor a que temos direito e que todos temos o dever de construir. Agradecem-se os contributos críticos, de modo a que a proposta se aperfeiçoe e complete e sirva de plataforma para a discussão pública e a intervenção cultural e cívica que visa, pelos meios que se verificarem ser os mais oportunos.
I – Portugal é uma nação que, pela diáspora planetária da sua história e cultura, pela situação geográfica e pela língua, com 240 milhões de falantes em toda a comunidade lusófona, tem a potencialidade de ser uma nação cosmopolita, uma nação de todo o mundo, que estabeleça pontes, mediações e diálogos entre todos os povos, culturas e civilizações. Este perfil vocaciona-nos para o cultivo dos valores mais universalistas, promovendo o diálogo com todas as culturas mundiais. Os valores mais universalistas são aqueles que promovam o melhor possível para todos, uma cultura da paz, da compreensão e da fraternidade à escala planetária, visando não apenas o bem da espécie humana, mas também a preservação da natureza e do bem-estar de todas as formas de vida animal, como condição da própria qualidade e dignidade da vida humana.
II – O nosso potencial universalista tem sido sistematicamente ignorado pelas nossas orientações governativas, desde a época dos Descobrimentos até hoje. Se no passado predominou a pretensão de dilatar a Fé e o Império, hoje predomina a sujeição da nação aos novos senhores do mundo, as grandes esferas de interesses político-económicos. Portugal está ao serviço da globalização de um paradigma de desenvolvimento económico-tecnológico que explora desenfreadamente os recursos naturais e instrumentaliza homens e animais, donde resulta um enorme sofrimento, um fosso crescente entre homens, classes, povos e nações, a redução da biodiversidade e o arrastar do planeta para uma crise sem precedentes.
III – A assunção do nosso potencial universalista implica uma reforma das mentalidades, com plena expressão ética, cultural, social, política e económica. Nesse sentido se propõem as seguintes medidas urgentes, que visam implementar entre nós um novo paradigma, convergente com as melhores aspirações humanas e com os grandes desafios deste início do século XXI:
1 – Portugal deve dar prioridade absoluta a um desenvolvimento económico sustentado, que salvaguarde a harmonia ecológica e o bem-estar da população humana e animal. A Constituição da República Portuguesa deve consagrar a senciência dos animais – a sua capacidade de sentir dor e prazer - e o seu direito à vida e ao bem-estar. Portugal deve aprender com a legislação das nações europeias mais evoluídas neste domínio, adaptando-a à realidade nacional.
2 – Portugal deve ensaiar modelos de desenvolvimento alternativos, que preservem e promovam a diversidade cultural, biológica e ecoregional. Há que promover a sustentabilidade económica do país, desenvolvendo as economias locais. Devem-se substituir quanto possível as energias não-renováveis (petróleo, carvão, gás natural, energia nuclear), por energias renováveis e alternativas (solar, eólica, hidráulica, marmotriz, etc.), superando o paradigma, a vulnerabilidade e as dependências de uma economia baseada no petróleo e nos hidrocarbonetos. Deve-se particularmente explorar as potencialidades energéticas dos nossos mais de 900 km de costa.
3 - Devem-se ensaiar formas de organização económica cujo objectivo fundamental não seja apenas o lucro financeiro. Deve-se assegurar o predomínio da ética e da política sobre a economia, de modo a que a produção e distribuição da riqueza vise o bem comum do ecossistema e dos seres vivos, a satisfação das necessidades básicas dos homens e a melhoria geral da sua qualidade de vida, bem como o acesso de todos à educação e à cultura.
4 - Deve-se investir num programa pedagógico de redução das necessidades artificiais que permita oferecer alternativas ao produtivismo e consumismo, fazendo do trabalho e do desenvolvimento económico não um fim em si, com o inevitável dano da harmonia ecológica, da biodiversidade e do bem-estar de homens e animais, mas um mero meio para a fruição de um crescente tempo livre de modo mais gratificante e criativo. Deve-se fiscalizar mais rigorosamente o crédito ao consumo, de forma a evitar o crescente endividamento das famílias.
5 – Há que criar um serviço público de saúde eficiente e acessível a todos, que inclua a possibilidade de optar por medicinas e terapias alternativas, de qualidade e eficácia comprovada, como a homeopatia, a acupunctura, a osteopatia, o shiatsu, o yoga, a meditação, etc. Estas opções, bem como os medicamentos naturais e alternativos, devem ser igualmente comparticipadas pelo Estado.
6 – Importa informar e sensibilizar a população para os efeitos nocivos de vários hábitos alimentares - nomeadamente o consumo excessivo de carne - , para o meio ambiente, a saúde pública e o bem-estar de homens e animais. Sendo uma das principais causas do aquecimento global, do esgotamento dos recursos naturais e do sofrimento dos animais, há que restringir e criar alternativas à agropecuária intensiva. Deve-se divulgar a possibilidade de se viver saudavelmente com uma alimentação não-carnívora, vegetariana ou vegan e devem-se reduzir os impostos sobre os produtos de origem natural e biológica.
7 - Portugal, a par do desenvolvimento económico sustentado, deve investir sobretudo nos domínios da saúde, da educação e da cultura, não só tecnológica, mas filosófica, literária, artística e científica. O Orçamento do Estado deve reflectir isso, reduzindo os gastos com a Defesa, o Exército e as obras públicas de fachada. Urge moralizar e reduzir os salários e reformas de presidentes, ministros, deputados e detentores de cargos na administração pública e privada, a par do aumento dos impostos sobre os grandes rendimentos.
8 - Redignificar, com exigência, os professores e todos os profissionais ligados à educação e à cultura. A educação e a cultura não devem estar dependentes de critérios economicistas e das flutuações do mercado de emprego. Os vários níveis de ensino visarão a formação integral da pessoa, não a sacrificando a uma mera funcionalização profissional. A par disto, há que sensibilizar as famílias para não abandonarem as crianças em frente dos computadores e dos maus programas de televisão. A televisão pública deve melhorar o seu nível, investindo mais em programas de informação e formação.
Nos vários níveis de ensino deve ser introduzida uma disciplina que sensibilize para o respeito pela natureza, a vida humana e a vida animal, bem como outra que informe sobre a diversidade de paradigmas culturais, morais e religiosos coexistentes nas sociedades contemporâneas. Nos mesmos níveis de ensino deve estar presente a cultura portuguesa e lusófona, bem como as várias culturas planetárias. Um português culto e bem formado deve ter uma consciência lusófona e universal, não apenas europeia-ocidental.
A meditação, com benefícios científicamente reconhecidos - quanto ao equilíbrio e saúde psicofisiológicos, ao aumento da concentração e da memória, à melhoria na aprendizagem, à maior eficiência no trabalho e à harmonia nas relações humanas - , deve ser facultada em todos os níveis dos currículos escolares, em termos puramente laicos, sem qualquer componente religiosa.
9 - Portugal deve assumir-se na primeira linha da defesa dos direitos humanos e dos seres vivos em todos os pontos do planeta em que sejam violados, sem obedecer a pressões políticas ou económicas internacionais. Portugal deve ser um lugar de bom acolhimento para todos os emigrantes e estrangeiros que o procurem para trabalhar e viver.
10 – Portugal deve aprofundar as relações culturais, económicas e políticas com as nações de língua portuguesa, incluindo a região da Galiza, Goa, Damão, Diu, Macau e os outros lugares da nossa diáspora onde se fala o português, sensibilizando a comunidade lusófona para as causas universais, ambientais, humanitárias e animais.
11 - Portugal deve promover a Lusofonia e os valores universalistas da cultura portuguesa e lusófona no mundo, dando o seu melhor exemplo e contributo para converter a sociedade planetária na possível comunidade ético-cultural e ecuménica visada entre nós por Luís de Camões, Padre António Vieira, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva. Portugal deve assumir-se como um espaço multicultural e de convivência com a diversidade, um espaço privilegiado para o tão actual desafio do diálogo intercultural e inter-religioso, alargado ao diálogo entre crentes e descrentes. Deve precaver-se contudo de tentações neo-imperialistas e de qualquer nacionalismo lusófono ou lusocêntrico. A Lusofonia não deve abafar outras línguas e culturas que existam no seu espaço.
12 - Verifica-se haver em Portugal e na Europa em geral uma grave crise de representação eleitoral, patente na elevada abstenção e descrédito dos políticos, dos partidos e da política, os quais, segundo a opinião geral, apenas promovem o acesso ao poder de indivíduos e grupos que sacrificam o bem comum a interesses pessoais e particulares, com destaque para os das grandes forças económicas. As eleições são assim sistematicamente ganhas por representantes de minorias, relativamente à totalidade dos cidadãos eleitores, que governam isolados da maioria real das populações, que os consideram com alheamento, desconfiança e desprezo, tornando-se vítimas passivas das suas políticas. O actual sistema eleitoral também não promove a melhor justiça representativa, não facilitando a representação de uma maior diversidade de forças políticas e limitando-a às organizações partidárias, o que contribui para a instrumentalização do aparelho de Estado, dos lugares de decisão político-económica e da comunicação social pelos grandes partidos.
Esta é uma situação que compromete seriamente a democracia e que a história ensina anteceder todas as tentativas de soluções ditatoriais. Há que regenerar a democracia em Portugal, reformando o estado e o sistema eleitoral segundo modelos que fomentem a mais ampla participação e intervenção política da sociedade civil, facilitando a representação de novas forças políticas e possibilitando que cidadãos independentes concorram às eleições. Deve-se recuperar a tradição municipalista portuguesa e promover uma regionalização e descentralização administrativa equilibradas, assegurando mecanismos de prevenção e controlo dos despotismos locais.
Há que colocar a política ao serviço da ética e da cultura e mobilizar a população para a intervenção cívica e política em torno dos desafios fundamentais do nosso tempo, com destaque para a protecção da natureza, o bem-estar dos seres vivos e uma nova consciência planetária. Há que mobilizar os cidadãos indiferentes e descrentes da vida política, a enorme percentagem de abstencionistas e todos aqueles que se limitam a votar, para a responsabilidade de reflectirem, discutirem e criarem o melhor destino a dar à nação. Há que, dentro dos quadros democráticos e legais, promover formas alternativas de intervenção cultural, social e cívica, que permitam antecipar tanto quanto possível a realidade desejada, sem depender dos poderes instituídos.
Convicto de que estas medidas permitirão que Portugal recupere o pioneirismo e criatividade que o caracterizou no impulso dos Descobrimentos, mas agora sem escravizar e explorar outros povos, apelo a que todos dêem o vosso contributo para a discussão, aperfeiçoamento e divulgação deste Manifesto. De todos nós depende que ele se constitua na plataforma de um movimento cívico e cultural de reflexão e acção, que nos arranque ao comodismo e passividade em que estamos instalados.
Por um Outro Portugal!
Aqui se apresenta a proposta de um cidadão português que, no decurso da sua docência universitária, obra publicada e intervenção cultural, tem seguido com interesse e preocupação os rumos recentes de Portugal e do mundo. Convicto de que urge refundar Portugal, eis uma lista de prioridades para o país e o mundo melhor a que temos direito e que todos temos o dever de construir. Agradecem-se os contributos críticos, de modo a que a proposta se aperfeiçoe e complete e sirva de plataforma para a discussão pública e a intervenção cultural e cívica que visa, pelos meios que se verificarem ser os mais oportunos.
I – Portugal é uma nação que, pela diáspora planetária da sua história e cultura, pela situação geográfica e pela língua, com 240 milhões de falantes em toda a comunidade lusófona, tem a potencialidade de ser uma nação cosmopolita, uma nação de todo o mundo, que estabeleça pontes, mediações e diálogos entre todos os povos, culturas e civilizações. Este perfil vocaciona-nos para o cultivo dos valores mais universalistas, promovendo o diálogo com todas as culturas mundiais. Os valores mais universalistas são aqueles que promovam o melhor possível para todos, uma cultura da paz, da compreensão e da fraternidade à escala planetária, visando não apenas o bem da espécie humana, mas também a preservação da natureza e do bem-estar de todas as formas de vida animal, como condição da própria qualidade e dignidade da vida humana.
II – O nosso potencial universalista tem sido sistematicamente ignorado pelas nossas orientações governativas, desde a época dos Descobrimentos até hoje. Se no passado predominou a pretensão de dilatar a Fé e o Império, hoje predomina a sujeição da nação aos novos senhores do mundo, as grandes esferas de interesses político-económicos. Portugal está ao serviço da globalização de um paradigma de desenvolvimento económico-tecnológico que explora desenfreadamente os recursos naturais e instrumentaliza homens e animais, donde resulta um enorme sofrimento, um fosso crescente entre homens, classes, povos e nações, a redução da biodiversidade e o arrastar do planeta para uma crise sem precedentes.
III – A assunção do nosso potencial universalista implica uma reforma das mentalidades, com plena expressão ética, cultural, social, política e económica. Nesse sentido se propõem as seguintes medidas urgentes, que visam implementar entre nós um novo paradigma, convergente com as melhores aspirações humanas e com os grandes desafios deste início do século XXI:
1 – Portugal deve dar prioridade absoluta a um desenvolvimento económico sustentado, que salvaguarde a harmonia ecológica e o bem-estar da população humana e animal. A Constituição da República Portuguesa deve consagrar a senciência dos animais – a sua capacidade de sentir dor e prazer - e o seu direito à vida e ao bem-estar. Portugal deve aprender com a legislação das nações europeias mais evoluídas neste domínio, adaptando-a à realidade nacional.
2 – Portugal deve ensaiar modelos de desenvolvimento alternativos, que preservem e promovam a diversidade cultural, biológica e ecoregional. Há que promover a sustentabilidade económica do país, desenvolvendo as economias locais. Devem-se substituir quanto possível as energias não-renováveis (petróleo, carvão, gás natural, energia nuclear), por energias renováveis e alternativas (solar, eólica, hidráulica, marmotriz, etc.), superando o paradigma, a vulnerabilidade e as dependências de uma economia baseada no petróleo e nos hidrocarbonetos. Deve-se particularmente explorar as potencialidades energéticas dos nossos mais de 900 km de costa.
3 - Devem-se ensaiar formas de organização económica cujo objectivo fundamental não seja apenas o lucro financeiro. Deve-se assegurar o predomínio da ética e da política sobre a economia, de modo a que a produção e distribuição da riqueza vise o bem comum do ecossistema e dos seres vivos, a satisfação das necessidades básicas dos homens e a melhoria geral da sua qualidade de vida, bem como o acesso de todos à educação e à cultura.
4 - Deve-se investir num programa pedagógico de redução das necessidades artificiais que permita oferecer alternativas ao produtivismo e consumismo, fazendo do trabalho e do desenvolvimento económico não um fim em si, com o inevitável dano da harmonia ecológica, da biodiversidade e do bem-estar de homens e animais, mas um mero meio para a fruição de um crescente tempo livre de modo mais gratificante e criativo. Deve-se fiscalizar mais rigorosamente o crédito ao consumo, de forma a evitar o crescente endividamento das famílias.
5 – Há que criar um serviço público de saúde eficiente e acessível a todos, que inclua a possibilidade de optar por medicinas e terapias alternativas, de qualidade e eficácia comprovada, como a homeopatia, a acupunctura, a osteopatia, o shiatsu, o yoga, a meditação, etc. Estas opções, bem como os medicamentos naturais e alternativos, devem ser igualmente comparticipadas pelo Estado.
6 – Importa informar e sensibilizar a população para os efeitos nocivos de vários hábitos alimentares - nomeadamente o consumo excessivo de carne - , para o meio ambiente, a saúde pública e o bem-estar de homens e animais. Sendo uma das principais causas do aquecimento global, do esgotamento dos recursos naturais e do sofrimento dos animais, há que restringir e criar alternativas à agropecuária intensiva. Deve-se divulgar a possibilidade de se viver saudavelmente com uma alimentação não-carnívora, vegetariana ou vegan e devem-se reduzir os impostos sobre os produtos de origem natural e biológica.
7 - Portugal, a par do desenvolvimento económico sustentado, deve investir sobretudo nos domínios da saúde, da educação e da cultura, não só tecnológica, mas filosófica, literária, artística e científica. O Orçamento do Estado deve reflectir isso, reduzindo os gastos com a Defesa, o Exército e as obras públicas de fachada. Urge moralizar e reduzir os salários e reformas de presidentes, ministros, deputados e detentores de cargos na administração pública e privada, a par do aumento dos impostos sobre os grandes rendimentos.
8 - Redignificar, com exigência, os professores e todos os profissionais ligados à educação e à cultura. A educação e a cultura não devem estar dependentes de critérios economicistas e das flutuações do mercado de emprego. Os vários níveis de ensino visarão a formação integral da pessoa, não a sacrificando a uma mera funcionalização profissional. A par disto, há que sensibilizar as famílias para não abandonarem as crianças em frente dos computadores e dos maus programas de televisão. A televisão pública deve melhorar o seu nível, investindo mais em programas de informação e formação.
Nos vários níveis de ensino deve ser introduzida uma disciplina que sensibilize para o respeito pela natureza, a vida humana e a vida animal, bem como outra que informe sobre a diversidade de paradigmas culturais, morais e religiosos coexistentes nas sociedades contemporâneas. Nos mesmos níveis de ensino deve estar presente a cultura portuguesa e lusófona, bem como as várias culturas planetárias. Um português culto e bem formado deve ter uma consciência lusófona e universal, não apenas europeia-ocidental.
A meditação, com benefícios científicamente reconhecidos - quanto ao equilíbrio e saúde psicofisiológicos, ao aumento da concentração e da memória, à melhoria na aprendizagem, à maior eficiência no trabalho e à harmonia nas relações humanas - , deve ser facultada em todos os níveis dos currículos escolares, em termos puramente laicos, sem qualquer componente religiosa.
9 - Portugal deve assumir-se na primeira linha da defesa dos direitos humanos e dos seres vivos em todos os pontos do planeta em que sejam violados, sem obedecer a pressões políticas ou económicas internacionais. Portugal deve ser um lugar de bom acolhimento para todos os emigrantes e estrangeiros que o procurem para trabalhar e viver.
10 – Portugal deve aprofundar as relações culturais, económicas e políticas com as nações de língua portuguesa, incluindo a região da Galiza, Goa, Damão, Diu, Macau e os outros lugares da nossa diáspora onde se fala o português, sensibilizando a comunidade lusófona para as causas universais, ambientais, humanitárias e animais.
11 - Portugal deve promover a Lusofonia e os valores universalistas da cultura portuguesa e lusófona no mundo, dando o seu melhor exemplo e contributo para converter a sociedade planetária na possível comunidade ético-cultural e ecuménica visada entre nós por Luís de Camões, Padre António Vieira, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva. Portugal deve assumir-se como um espaço multicultural e de convivência com a diversidade, um espaço privilegiado para o tão actual desafio do diálogo intercultural e inter-religioso, alargado ao diálogo entre crentes e descrentes. Deve precaver-se contudo de tentações neo-imperialistas e de qualquer nacionalismo lusófono ou lusocêntrico. A Lusofonia não deve abafar outras línguas e culturas que existam no seu espaço.
12 - Verifica-se haver em Portugal e na Europa em geral uma grave crise de representação eleitoral, patente na elevada abstenção e descrédito dos políticos, dos partidos e da política, os quais, segundo a opinião geral, apenas promovem o acesso ao poder de indivíduos e grupos que sacrificam o bem comum a interesses pessoais e particulares, com destaque para os das grandes forças económicas. As eleições são assim sistematicamente ganhas por representantes de minorias, relativamente à totalidade dos cidadãos eleitores, que governam isolados da maioria real das populações, que os consideram com alheamento, desconfiança e desprezo, tornando-se vítimas passivas das suas políticas. O actual sistema eleitoral também não promove a melhor justiça representativa, não facilitando a representação de uma maior diversidade de forças políticas e limitando-a às organizações partidárias, o que contribui para a instrumentalização do aparelho de Estado, dos lugares de decisão político-económica e da comunicação social pelos grandes partidos.
Esta é uma situação que compromete seriamente a democracia e que a história ensina anteceder todas as tentativas de soluções ditatoriais. Há que regenerar a democracia em Portugal, reformando o estado e o sistema eleitoral segundo modelos que fomentem a mais ampla participação e intervenção política da sociedade civil, facilitando a representação de novas forças políticas e possibilitando que cidadãos independentes concorram às eleições. Deve-se recuperar a tradição municipalista portuguesa e promover uma regionalização e descentralização administrativa equilibradas, assegurando mecanismos de prevenção e controlo dos despotismos locais.
Há que colocar a política ao serviço da ética e da cultura e mobilizar a população para a intervenção cívica e política em torno dos desafios fundamentais do nosso tempo, com destaque para a protecção da natureza, o bem-estar dos seres vivos e uma nova consciência planetária. Há que mobilizar os cidadãos indiferentes e descrentes da vida política, a enorme percentagem de abstencionistas e todos aqueles que se limitam a votar, para a responsabilidade de reflectirem, discutirem e criarem o melhor destino a dar à nação. Há que, dentro dos quadros democráticos e legais, promover formas alternativas de intervenção cultural, social e cívica, que permitam antecipar tanto quanto possível a realidade desejada, sem depender dos poderes instituídos.
Convicto de que estas medidas permitirão que Portugal recupere o pioneirismo e criatividade que o caracterizou no impulso dos Descobrimentos, mas agora sem escravizar e explorar outros povos, apelo a que todos dêem o vosso contributo para a discussão, aperfeiçoamento e divulgação deste Manifesto. De todos nós depende que ele se constitua na plataforma de um movimento cívico e cultural de reflexão e acção, que nos arranque ao comodismo e passividade em que estamos instalados.
Por um Outro Portugal!
Contribuidores
- Ana Moreira
- Ana Rodrigues
- Bernardo Almeida
- Dr Carlos Gonçalves
- Duarte D. Braga
- Duarte
- Estudo Geral
- Fernando Emídio
- Gil
- Glimpse
- Helena Caetano
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- Isabel Santiago
- João Beato
- João Lopes Aguiar
- José Magalhães
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- Luis Resina
- Luis Resina
- MJC
- Margarida
- Maria de Lourdes Teixeira Puga Alvarez
- Maribel Sobreira
- Maurícia Teles da Silva
- Minda
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- P.F. Antunes
- Paulo Borges
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- Pedro Sena
- Rui Matoso
- Rute Pinheiro
- Sérgio Mago
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- lurdes
- maria alvarez
- paula
2 comentários:
Excelente! Parabéns ao Carlos Ramos e a todos os membros do grupo! Trabalho sério e profundo.
Parabéns, Carlos. Boa reflexão do vosso grupo. Deixei aqui as propostas do Serge Latouche, que podem ser úteis para futuras reflexões.
Abraço,
Laura
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