"Condições variadas têm levado até hoje os Portugueses a naufragarem numa ou noutra forma de sebastianismo e a desistirem de levar até ao fim uma atitude crítica, isto é, uma atitude que dispense os D. Sebastiões....- a única atitude indomavelmente humana, de iniciativa.
O Português é, como qualquer outro povo, o resultado de uma conjugação de elementos, uma relação, um cruzamento de fios numa rede. O logos, o universal a intelegibilidade (três maneiras de dizer a mesma coisa) , consiste em que esse enredamento se torna compreensível e destrinçável. Se desistimos de o compreender, inventamos um D. Sebastião ou um absoluto que simplesmente suprime o problema, negando a intelegibilidade das coisas....A eficiência dos sebastianismos é sempre a mesma, como é sempre o mesmo o seu vício lógico: logicamente, desiste-se da atitude crítica inventando um mito; praticamente, desiste-se da iniciativa repousando no mesmo mito.....O mundo é uma coisa intelegível, um sistema de relações; a intelegibilidade é a universalidade das leis, e, sob pena de negar a própria intelegibilidade, a própria universalidade, eu não posso desistir de encontrar uma explicação para todas as coisas, não posso negar num caso particular, a intelegibilidade universal; e não posso por limites à minha iniciativa, que a intelegibilidade torna possível. Apenas digo que os Portugueses não podem ser um recanto escuro, uma falha na intelegibilidade do Universo, e denuncio como insuficientemente lógica e humana qualquer doutrina que o afirme."
António José Saraiva in Para a História da Cultura em Portugal Vol. I
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