Um espaço para reinventar Portugal como nação de todo o Mundo, que estabeleça pontes, mediações e diálogos entre todos os povos, culturas e civilizações e promova os valores mais universalistas, conforme o símbolo da Esfera Armilar. Há que visar o melhor possível para todos, uma cultura da paz, da compreensão e da fraternidade à escala planetária, orientada não só para o bem da espécie humana, mas também para a preservação da natureza e o bem-estar de todas as formas de vida sencientes.

"Nós, Portugal, o poder ser"

- Fernando Pessoa, Mensagem.

"Se, desde o 25 de Abril de 1974, o Estado esteve, [...] ao serviço do cidadão, a partir de finais do século passado evidencia-se que, [...] o cidadão encontra-se ao serviço dos interesses do Estado."



Mais do que viver do passado religioso e marinheiro, como o Estado Novo o fez ao longo de 48 anos, Portugal alimenta-se do futuro desde o 25 de Abril de 1974; primeiro do futuro socialista, terra sem mal e exemplo paradigmático para a Europa em 1975, e, depois, desde 1980, ano do acordo de pré-adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia, da ambição de sermos exclusivamente Europa, tão normais quanto qualquer outro cidadão europeu - isto é, "técnicos" assépticos, inodoros, incolores e, de preferência, sem opinião que não a do chefe. Porém, como Eduardo Lourenço teorizou desde a década de 80, tornámo-nos europeus no exacto momento em que este continente se abandonou a um plano inclinado decadentista, expressor de uma mortalidade anunciada a prazo, para o qual o federalismo mais sabe a uma necessidade de garantia de sobrevivência de povos fracos comandados por chefes janotas e espertotes do que a uma refundação do antigo poder imperial. Recentemente, o Estado Português, imitando a Europa durante escassos trinta anos, garantia saúde, educação, reforma e esforço de empregabilidade aos portugueses pobres. Sabem-se agora os portugueses conhecedores de uma outra Europa, a hidra decadentista que lhes corta maternidades, escolas e lhes suga a reforma. Esta é hoje a real ideia de Europa na mente dos portugueses, com excepção da elite de 5000 dirigentes do Estado, que continuam a visionar a Europa como terra do ouro e do mel, ambicionando fazer carreira numa das mordomias europeias. O actual Estado português constitui-se como a expressão ideológica e económica desta nova Europa que os portugueses pobres desconheciam, na qual este, o Estado mais do que garantia de direitos cívicos, exige do cidadão o estrito cumprimento de deveres técnicos - a sua democracia, mais do que formal, goza de um estatuto meramente aparente, confundindo-se o grau de liberdade do cidadão com o nível em que se instala na hierarquia financeira. Não existe democracia quando não existe uma "consciência e uma moral comuns", isto é, valores comunitários de partilha e de solidariedade como âmago da vivência social. Diferentemente, a nossa actual democracia é composta por jogos de interesses oligárquicos, de grupos, de baronatos, de pressões políticas e financeiras, orientados por técnicos arranjistas que costuram leis fragmentárias tendo em conta, não o Bem Comum, mas o resultado do conflito institucional entre o interesse financeiro do Estado e os interesses grupais emergentes.

Se, desde o 25 de Abril de 1974, o Estado esteve, melhor ou pior, ao serviço do cidadão, a partir de finais do século passado evidencia-se que, por necessidades financeiras do Estado, o processo foi invertido: o cidadão encontra-se ao serviço dos interesses do Estado.

Miguel Real, A Morte de Portugal, Campo das Letras, 2007, pp.23-24

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"Se, desde o 25 de Abril de 1974, o Estado esteve, [...] ao serviço do cidadão, a partir de finais do século passado evidencia-se que, [...] o cidadão encontra-se ao serviço dos interesses do Estado."



Mais do que viver do passado religioso e marinheiro, como o Estado Novo o fez ao longo de 48 anos, Portugal alimenta-se do futuro desde o 25 de Abril de 1974; primeiro do futuro socialista, terra sem mal e exemplo paradigmático para a Europa em 1975, e, depois, desde 1980, ano do acordo de pré-adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia, da ambição de sermos exclusivamente Europa, tão normais quanto qualquer outro cidadão europeu - isto é, "técnicos" assépticos, inodoros, incolores e, de preferência, sem opinião que não a do chefe. Porém, como Eduardo Lourenço teorizou desde a década de 80, tornámo-nos europeus no exacto momento em que este continente se abandonou a um plano inclinado decadentista, expressor de uma mortalidade anunciada a prazo, para o qual o federalismo mais sabe a uma necessidade de garantia de sobrevivência de povos fracos comandados por chefes janotas e espertotes do que a uma refundação do antigo poder imperial. Recentemente, o Estado Português, imitando a Europa durante escassos trinta anos, garantia saúde, educação, reforma e esforço de empregabilidade aos portugueses pobres. Sabem-se agora os portugueses conhecedores de uma outra Europa, a hidra decadentista que lhes corta maternidades, escolas e lhes suga a reforma. Esta é hoje a real ideia de Europa na mente dos portugueses, com excepção da elite de 5000 dirigentes do Estado, que continuam a visionar a Europa como terra do ouro e do mel, ambicionando fazer carreira numa das mordomias europeias. O actual Estado português constitui-se como a expressão ideológica e económica desta nova Europa que os portugueses pobres desconheciam, na qual este, o Estado mais do que garantia de direitos cívicos, exige do cidadão o estrito cumprimento de deveres técnicos - a sua democracia, mais do que formal, goza de um estatuto meramente aparente, confundindo-se o grau de liberdade do cidadão com o nível em que se instala na hierarquia financeira. Não existe democracia quando não existe uma "consciência e uma moral comuns", isto é, valores comunitários de partilha e de solidariedade como âmago da vivência social. Diferentemente, a nossa actual democracia é composta por jogos de interesses oligárquicos, de grupos, de baronatos, de pressões políticas e financeiras, orientados por técnicos arranjistas que costuram leis fragmentárias tendo em conta, não o Bem Comum, mas o resultado do conflito institucional entre o interesse financeiro do Estado e os interesses grupais emergentes.

Se, desde o 25 de Abril de 1974, o Estado esteve, melhor ou pior, ao serviço do cidadão, a partir de finais do século passado evidencia-se que, por necessidades financeiras do Estado, o processo foi invertido: o cidadão encontra-se ao serviço dos interesses do Estado.

Miguel Real, A Morte de Portugal, Campo das Letras, 2007, pp.23-24

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