Política externa tem de principiar por definir nossa posição na Península, reportando-nos ao que foi quando judeus, cristãos e muçulmanos conviviam do Mediterrâneo ao Atlântico; quando em Toledo se celebram num mesmo recinto os três cultos de Cristo, Moisés e Maomé; quando se teve com o Califado um dos poucos períodos da história que pode ombrear com o de Péricles ou o dos T'ang; quando ensinámos à Europa os algarismos, a álgebra, a filosofia grega e a geografia árabe; e quando dela nos conseguimos defender derrotando Carlos Magno, mas deixando infelizmente nas Astúrias todas as sementes visigóticas que deram depois a chamada Reconquista Cristã, que foi Conquista e não foi Cristã, e, juntamente com a réplica almorávica, trouxe para a Ibéria a intolerância e a ferocidade de opiniões que tanto a perturbou.
Agostinho da Silva, Educação em Portugal, Lisboa, Ulmeiro, 1989, p.27
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